No dia 3 de novembro realizou-se mais uma Live AOP, tendo como convidado Maxmiliano M. Pinheiro, que apresentou a conferência intitulada "Positivismo e política trabalhista: o pacto com os subalternos".
Sem concordarmos com tudo o que foi dito, o fato é que se tratou de uma exposição extremamente interessante, que recupera os aspectos largamente positivos da ação dos positivistas no Brasil - aspectos de modo geral negligenciados, quando não negados e/ou deturpados.
A gravação da conferência está disponível aqui (no canal Positivismo, do Youtube). Reproduzimos abaixo as anotações que serviram de base para a exposição de Maxmiliano Pinheiro.
* * *
Positivismo
e política trabalhista: o pacto com os subalternos
Maxmiliano
Martins Pinheiro
1- A questão proletária em Augusto Comte e a missão de
Raimundo Teixeira Mendes
- A importância da conciliação de classes em Comte: o pacto com
os subalternos.
- O patriciado e o proletariado como classes na sociologia
comtiana: a função social conforme o princípio aristotélico.
- A defesa de um projeto trabalhista como prerrogativa para a
hierarquia social: teoria positiva do salário e políticas sociais (moradia e
instrução pública).
- O positivismo e as correntes revolucionárias do século XIX:
méritos e deméritos do comunismo e do socialismo.
- Aspectos da sociologia política de Comte: estática e dinâmica
sociais, separação entre poderes temporal e espiritual.
- Raimundo Teixeira Mendes e a causa abolicionista: censuras
implacáveis à escravidão no Brasil e elaboração de um plano de regulação do
trabalho.
- O projeto trabalhista de Teixeira Mendes em 1889: modo de
elaboração, garantias contempladas na lei e propósitos em torno da elevação
material e moral do proletariado brasileiro.
- O abandono do projeto trabalhista de Teixeira Mendes:
prenúncio de resistência das elites nacionais.
2- A influência positivista no trabalhismo após a Primeira
República
2.1- Era Vargas (1930-45)
- Fatores históricos: entrada do Brasil no processo de
industrialização capitalista nos anos 1930, movimentos sindicais e esforços
para a construção do capitalismo social.
- Manifestações positivistas ao longo da Primeira República:
contribuição de Júlio de Castilhos para o direito trabalhista (regulamentação
do trabalho nos serviços de drenagem das lagoas dos Patos e Mirim), Borges de
Medeiros, a greve de 1917 e o decreto n. 2.432 que estabelecia garantias aos
funcionários públicos, a apresentação do projeto de legislação trabalhista do
deputado João Pernetta em 1919.
- Getúlio Vargas: o trabalhismo como principal herança
positivista após a Revolução de 1930
- A atuação de Lindolfo Collor no Ministério do Trabalho
(1931-32):
- Defesa das regras do direito privado e do sindicalismo à luz
da sociologia comtiana: o primeiro decorre das necessidades do coletivo da
sociedade, enquanto o segundo exprime o instrumento de negociação dos direitos
entre as classes sociais.
- A noção do sindicalismo de Lindolfo Collor ilustra o “pacto
com os subalternos”, visto que concebe o direito sindical como um contrato que
se erigiu acima do indivíduo-patrão e do indivíduo-operário, regulando os
interesses e obrigações dos patrões e dos trabalhadores.
- Medidas de proteção social defendidas por Lindolfo Collor:
prerrogativa do salário-mínimo, previdência social, regulação do trabalho do
menor e da mulher, e a controversa Lei da Sindicalização de 1931 – algumas
modificações em comparação ao projeto de Teixeira Mendes.
- Razões da renúncia de Lindolfo Collor ao Ministério do
Trabalho: falta de apoio de Vargas, instabilidade política assentada na
resistência das oligarquias locais e no recrudescimento dos militares através
do tenentismo, e oposição do empresariado que não aceitava o sindicato e a
intervenção estatal.
2.2- A ressignificação positivista do “pacto com os subalternos”
no período de redemocratização do Brasil (1945-64):
- Criação dos partidos getulistas PSD e PTB como instrumentos de
conciliações entre as classes dominantes e trabalhadoras; a UDN como oposição
dos segmentos descontentes.
- PSD: partido da elite rural e das antigas interventorias
regionais que incluíam figuras positivistas como João Neves da Fontoura e
Protásio Vargas; UDN: partido heterogêneo que incluía as elites excluídas
durante o Estado Novo, empresários, militares e figuras positivistas como
Borges de Medeiros e Flores da Cunha (migrando para o PTB no final de sua carreira).
- PTB: partido que teve maior influência positivista devido à
sua afirmação presidencialista e ao fato de configurar uma alternativa dos
trabalhadores e dos sindicatos frente ao comunismo. Impactos do positivismo nas
lideranças gaúchas ao longo do século XX: o governo tem o dever fundado na
natureza da sociedade de promover a justiça social atendendo às justas
reivindicações do proletariado. Presença de Alberto Pasqualini: intelectual que
aglutinou no PTB o lema positivista da incorporação do proletariado à sociedade
moderna, o trabalhismo inglês, a doutrina social católica e a
social-democracia.
- Getúlio Vargas e a redemocratização: reverberação positivista
do “pacto com os subalternos”, conciliando as aspirações de um partido de
centro-esquerda (PTB), com outro nitidamente conservador (PSD), ofuscando a
hegemonia de esquerda e possibilitando um sistema eleitoral bem-sucedido que
garantiu a sucessiva vitória de três presidentes (Dutra, Vargas, JK).
- Seu último governo é marcado por uma política conciliatória de
forças políticas divergentes, confiando ministérios ao PSD (principalmente),
UDN e PTB. As grande inovações de Vargas foram o fortalecimento da Petrobrás, o
aumento significativo do salário-mínimo, e a escolha de João Goulart como ministro
do trabalho, que estabelecia negociações diretas com sindicalistas. Tais
deliberações causaram um grande mal-estar entre empresários e militares.
- João Goulart (1961-64): herda um governo conturbado e de forte
instabilidade política tanto pela renúncia de Jânio Quadros, como pela
implacável resistência entre os diversos setores conservadores da sociedade
brasileira (latifundiários, militares, empresários, imprensa, parlamentares)
contra ele.
- Assume definitivamente a presidência após a vitória
plebiscitária do presidencialismo. Consegue criar o Estatuto do Trabalhador
Rural e impulsiona as reformas de base que pleiteavam a reforma agrária, a
reforma política com extensão do direito de voto aos analfabetos e praças de
pré, reforma universitária, reforma constitucional, e consulta à vontade
popular por meio de plebiscitos. Cumpre elucidar que a reforma agrária, a
reforma política e a consulta plebiscitária não eram estranhas ao positivismo,
observando sua trajetória no Brasil.
- Vários fatores contribuem para o golpe de 1964 que retirou
Jango da presidência: forte ingerência estadunidense, reação dos latifundiários
contra relação às Ligas camponesas e ao Estatuto do Trabalhador Rural,
influência cada vez maior dos militares na política, oposição sistemática e
implacável dos empresários e de boa parte do parlamento (UDN e PSD),
cerceamento da imprensa contra o governo, entre outros.
- Enfim, o governo Jango configura o fim do elo entre o positivismo dos republicanos e a tendência nacionalista que, sob a égide do getulismo, norteou a política brasileira durante décadas. Trata-se do desfecho do “pacto com os subalternos”, uma política conciliatória entre as elites e trabalhadores, que encontrou sustentabilidade no positivismo comtiano, assim como em outras vertentes políticas.
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