01 janeiro 2024

Celebração da Festa da Humanidade (170/2024)

No dia 1º de Moisés de 170 (1.1.2024) celebramos a Festa da Humanidade.

Tal celebração foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Jxnmz) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/60V4k).

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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Celebração da Festa da Humanidade – 170 (2024)[1] 

-        Ela é a mais importante festa do Positivismo, celebrando o verdadeiro ser supremo, a nossa verdadeira providência, o objeto contínuo de nossa devoção, nossos pensamentos e nossas ações

o   A celebração da Festa da Humanidade é ao mesmo tempo fácil e difícil

o   Há muito a ser falado em homenagem à nossa deusa – e, por isso mesmo, corremos o risco de sermos ingratos ao deixarmos de mencionar algum aspecto mais ou menos central, ou mesmo algum aspecto secundário

o   A data específica da Festa da Humanidade – dia 1º de Moisés, primeiro dia do ano – também é plena de referências e possibilidades:

§  Após a celebração da Festa Geral dos Mortos, na véspera, em que celebramos a subjetividade que vem antes de nós, celebramos hoje a grande continuidade humana

§  No calendário positivista concreto, o dia de hoje é consagrado a Prometeu, figura mitológica que, embora mitológica, integrando o panteão grego, aceitou sacrificar-se pelo bem da Humanidade

·         Com Prometeu temos o culto fetichista do fogo – culto que é espontaneamente rememorado todos os anos, com os fogos de artifício celebrando a esperança, a renovação e a permanência da vida, a busca de paz e prosperidade[2]

·         Além disso, cada vez mais o espetáculo dos fogos de artifício assumem um caráter mais de luzes e menos de barulho, indicando ao mesmo tempo a iluminação e o respeito aos nossos auxiliares animais e aos seres humanos mais frágeis (os autistas)

§  No calendário positivista abstrato, hoje se inicia o mês dedicado precisamente à Humanidade, com o vinculo mais universal possível, o religioso

o   Em face das inúmeras possibilidades, temos que nos resignar em falar de algumas coisas e em deixar algumas outras de lado

§  Aquilo que não citamos, não é citado por desleixo, mas por impossibilidade prática

-        Comecemos então nossa pequena celebração relembrando as palavras pronunciadas pelo apóstolo positivista inglês Richard Congreve na Igreja Positivista de Londres em todas as suas Festas da Humanidade – palavras repetidas por Miguel Lemos aqui no Brasil e, depois, também por Alfredo de Moraes Filho, de modo que nos orgulhamos de restabelecer e integrar uma tradição cultual que tem mais de 150 anos: 

Prece à Humanidade (Richard Congreve)

Com todos os centros de nossa fé onde quer que existam, com todos os seus discípulos esparsos, com os fiéis de todas as outras religiões ou crenças quaisquer, monoteístas, politeístas ou fetichistas, subordinando todas as distinções secundárias ao laço exclusivo de uma aspiração religiosa comum; com toda a raça humana, isto é, com o homem, onde quer que se ache e qualquer que seja a sua condição, subordinando também todas as distinções secundárias ao laço único de nossa comum Humanidade; com as raças animais que foram, durante a longa e trabalhosa ascensão humana, os nossos companheiros e auxiliares, como ainda o são; — estejamos hoje, nesta festa da Humanidade, unidos por uma consciente simpatia.

E não somente com os nossos contemporâneos que devemos hoje estar em comunhão simpática, mas também e sobretudo com essa parte preponderante de nossa espécie que representa o Passado. Comemoramos com reconhecimento os serviços de todas essas gerações que nos legaram o fruto de seus labores, desejando transmitir esta herança aumentada aos nossos sucessores. Nós aceitamos o jugo dos mortos.

Comemoramos também com gratidão todos os serviços de nossa Mãe comum, a Terra, o planeta que nos serve de morada, e com ela o orbe que forma o Sistema Solar, o nosso Mundo. Não separemos desta última comemoração a do meio em que colocamos esse sistema, o Espaço, que foi sempre tão propício ao homem, e que está destinado, mediante uma sábia aplicação, a prestar-lhe ainda maiores serviços, pois que ele se torna a sede reconhecida da abstração, a sede das leis superiores que coletivamente constituem o Destino do homem, e como tal introduzido em toda a nossa educação intelectual e moral.

Do presente e do passado estendamos as nossas simpatias ao porvir, às gerações futuras que com sorte mais feliz nos sucederão sobre a Terra; tenhamo-las sempre presentes ao nosso espírito a fim de completar a concepção da Humanidade, tal como nos foi revelada pelo Fundador de nossa Religião, pela plena aceitação da continuidade que constitui o seu mais nobre característico.

A memória, do maior dos servidores da Humanidade, Augusto Comte, e a dos seus três anjos – Rosália, Clotilde e Sofia – ocorre naturalmente nesta sua máxima festa, consagrada à glorificação de todos os que a têm servido.

Oh! O mais sábio e o mais nobre dos Mestres! Possamos nós, que nos proclamamos teus discípulos, animados pelo teu exemplo, sustentados pela tua doutrina, guiados pelas tuas teorias, vencer todos os obstáculos, que a indiferença ou a hostilidade semeia no nosso caminho; possamos nós no meio desta época revolucionária, sem nos deixar degradar por qualquer esperança de recompensa, nem nos desviar por qualquer insucesso dos nossos esforços, num espírito de submissa veneração, levar por diante a grande empresa a que consagraste a tua vida, a empresa da regeneração humana, por meio e no seio do culto sistemático da Humanidade.

 -        Como observou com grande simplicidade e correção o Almirante Moraes, “A concepção religiosa da Humanidade supõe duas noções fundamentais – a teoria dos entes coletivos e a personificação suprema da Humanidade no tipo materno, a fim de que o mesmo se torne um verdadeiro centro de nossa unidade moral e social”

o   A teoria dos entes coletivos indica que a Humanidade é um ser composto e que, como tal, ela desenvolveu-se ao longo do tempo

§  Os primeiros embriões da Humanidade aconteceram – como acontecem continuamente, todos os dias – nas famílias, que criaram as condições de existência dos seres humanos, proporcionando o abrigo material, intelectual e, acima de tudo, moral e afetivo

§  Com o aumento do tamanho das famílias e suas contínuas inter-relações, surgiram associações maiores, como as tribos e os clãs, passando afinal para as pátrias

§  As pátrias, por sua vez, têm por base a divisão do trabalho prático

§  À medida que as pátrias cresceram e desenvolveram-se, seus grandes pensadores sempre prenunciaram os vínculos universais, independentemente de tempo e espaço, de nacionalidade e de etnia

§  Depois dos tempos das guerras, em que as famílias e as pátrias bateram-se longamente, o tempo da paz universal, da cooperação e da convergência chegou há cerca de 170 anos, quando se afirmou afinal a plena universalidade humana, necessariamente pacífica

o   Por outro lado, embora a Humanidade seja verdadeiramente a única realidade para o ser humano, ela só pode existir e atuar por meio de agentes concretos, os seus servidores

§  Assim, a Humanidade é o conjunto dos seres humanos convergentes passados, futuros e presentes

§  A Humanidade atua e beneficia todos, mas nem todos os seres humanos integram-na efetivamente: aqueles que não são convergentes, aqueles que não cooperam de fato para o benefício coletivo não integram, ou melhor, não podem ter a esperança de um dia merecerem integrar a Humanidade

o   Um ser digno de veneração, de conhecimento, de atividade, de gratidão tem que ser, por si só, moralmente superior

§  Para o ser humano, a moralidade é maior e mais elevada nas mulheres, que, a esse respeito (como em muitos outros), são superiores aos homens

§  A definição positiva de moralidade é o desenvolvimento da ternura, isto é, o desenvolvimento do altruísmo, do amor, e a pureza, ou seja, a compressão do egoísmo

§  Assim, a figura da Humanidade é necessariamente de uma mulher, o que equivale a dizer que o Grão Ser positivo é uma deusa

§  A Humanidade é uma mulher na faixa de 30 anos, carregando em seu colo um bebê, ou seja, o futuro

§  Com isso, todos temos uma figura amorosa facilmente reconhecível, capaz de organizar e orientar nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas atividades

-        Do que vimos rapidamente, a Humanidade é uma concepção intelectual e moral; ela é nossa verdadeira providência

o   A Humanidade é nossa verdadeira providência porque é ela que fornece tudo ao ser humano em todos os momentos de suas vidas: sentimentos, idéias, colaboração no tempo, colaboração no espaço, recursos variados

§  Os seres humanos individuais restituem à Humanidade muito pouco do que recebem ao longo de suas vidas – e só se pode falar de verdade em restituições se elas forem úteis

§  A Humanidade, então, é a verdadeira “filha de seu filho”: cada um de nós só existe devido a ela, mas, inversamente, ela precisa dos esforços (altruístas) de cada um de nós para existir, manter-se e desenvolver-se

o   A providência humana atua sempre cada vez mais ao longo do tempo, na continuidade, que meramente na colaboração simultânea da solidariedade

o   A providência humana é múltipla:

§  Acima de tudo, ela é moral, ao dar-nos valores, ao indicar-nos o que é bom e correto

§  Ela é afetiva, ao dar-nos os sentimentos que constituem o fundo de nossas existências e que tornam nossas vidas dignas de serem vividas

§  Ela é intelectual, ao fornecer-nos idéias e conceitos, conhecimentos e habilidades, a começar pelas línguas com que nos comunicamos e todas as concepções que permitem que entendamos o mundo e atuemos nele

§  Ela é artística, ao oferecer-nos as imagens e as idealizações que sugerem e indicam como e quanto o ser humano e o mundo podem e devem ser melhores

§  Ela é prática, ao oferecer-nos a infraestrutura de que desfrutamos, as técnicas que empregamos para melhorar o mundo

o   Assim, é à Humanidade que devemos todos nós ser gratos

§  Quem agradece às divindades temporárias exercita a gratidão, o que é um exercício moral importante em si mesmo

§  Mas quem atualmente agradece às divindades temporárias na prática comete o erro moral e intelectual da ingratidão, ao desconsiderar (ou desprezar) a verdadeira providência e valorizar seres fictícios, para quem, aliás, o ser humano de nada vale

-        Para concluir esta celebração da Festa da Humanidade, as invocações lidas na Igreja Positivista do Brasil são mais uma vez tão belas quanto oportunas: 

Em nome da Humanidade:

O amor por princípio, e a ordem por base; o progresso por fim.

Tens, Senhora, tão grande potestade,

Que quem a graça quer e a Ti não corre

Sem asas voar lhe quer a vontade.

A tua benignidade não socorre

A quem T’implora só; com caridade

Freqüentemente à súplica precorre.

Em Ti misericórdia;

Em Ti piedade;

Em Ti magnificência;

Em Ti concorre

Tudo quanto no mundo

Há de bondade.

Ó Virgem-mãe, filha do teu filho!

A Ti, mais do que a nós mesmos,

Amemos sem cessar;

E a nós somente

O puro amor de Ti

Nos faça amar.

Ergamos os nossos corações à Humanidade e lhe testemunhemos o reconhecimento de que nos sentimos repletos pelos ensinamentos que acabamos de receber. Que estes frutifiquem em nossas almas e que, ao deixarmos esta prédica, levemos a resolução feita de dedicar todos os nossos esforços a auxiliar em nós e nos outros a vitória final do altruísmo sobre o egoísmo.

Rendamos graças especiais ao nosso Mestre, Augusto Comte, e à sua imaculada inspiradora, Clotilde de Vaux, aos quais devemos a sistematização da Humanidade e de sua sublime doutrina.

Que a tua palavra de vida, ó santa Humanidade, seja não somente bem aceita e compreendida, mas antes de tudo aplicada com zelo a todos os atos de nossa vida privada e pública.

Assim seja.



[1] Algumas fontes consultadas para auxiliar na elaboração desta celebração:

- Richard Congreve: “Prece à Humanidade” (Rio, 1936).

- Augusto Comte: “A Humanidade – extratos do Catecismo positivista” (Rio, 1936).

- Alfredo de Moraes Filho: “Humanidade– a deusa do futuro” (Rio, 1982). A sugestão desse discurso foi feita por  meu amigo Hernani Gomes da Costa.

[2] A lembrança dos fogos de artifício como um culto espontâneo do fogo também foi feita por meu amigo Hernani.

31 dezembro 2023

Festa Universal dos Mortos

"Os vivos são sempre e cada vez mais, necessariamente, governados pelos mortos" (Augusto Comte)



Cinco livros positivistas agora disponíveis na internet

Acabaram de ser incluídos no portal Internet Archive cinco livros positivistas, apresentando vários temas: a carreira de Augusto Comte, o relacionamento de Augusto Comte e Clotilde de Vaux, celebrações da Festa da Humanidade, sacramentos positivistas.

- Raimundo Teixeira Mendes: O ano sem par

- José Longchampt: Epítome da vida e dos escritos de Augusto Comte

- Richard Congreve: Prece à Humanidade

- Richard Congreve: Sacraments of the Religion of Humanity

- Alfredo de Moraes Filho: Humanidade, a deusa do futuro


26 dezembro 2023

Elementos da teoria positiva da arte

No dia 24 de Bichat de 169 (26.12.2023) fizemos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua nona conferência, dedicada ao conjunto do regime positivo.

Na parte do sermão abordamos elementos da teoria positiva da arte.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/vyxnD) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/yKNay). O sermão começou em 53 min 50 s.

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Elementos da teoria positiva da arte 

-        O Positivismo afirma com todas as letras a importância da subjetividade

o   Por exemplo, bastante pensarmos na centralidade do “método subjetivo”

-        A subjetividade no Positivismo assume vários âmbitos:

o   Por um lado, ela tem uma possibilidade social (é basicamente nesse sentido que falamos da “síntese subjetiva” e que fundamenta a moralidade positiva) e uma possibilidade individual (que é estudada pela ciência da Moral e modificada pelo culto positivo e pelas técnicas associadas à Moral)

o   Por outro lado, a subjetividade pode ser entendida como a afetividade (ou sentimentos, ou amor, ou altruísmo) e/ou como a inteligência, cada uma das quais tem suas próprias leis

-        Da mesma forma, Augusto Comte concentra-se na sistematização e na regularização do que é verdadeiro, do que é bom e do que é belo

o   Todos esses âmbitos são ordenados e regularizados pela moral, que se mantém suprema sobre todos eles

o   Eis como esses âmbitos relacionam-se com as grandes produções humanas:

§  O verdadeiro é investigado pela filosofia, a partir das bases científicas

§  O que é bom é desenvolvido pela política e aplicado pela indústria

§  O que é belo é elaborado pela arte

o   Por “artes” entendemos as “belas-artes”

§  Essa observação é necessária para distinguir as “belas-artes” das chamadas “artes práticas”, cujo âmbito é o da indústria e que consiste em todas as aplicações práticas dos conhecimentos científicos

-        Os livros de Augusto Comte, bem como dos positivistas, desenvolvem longamente as questões relativas à verdade e ao bom, dedicando-se menos a respeito do belo, cuja importância, entretanto, não apenas não é negada como é todo momento exaltada

o   Há uma certa deficiência em relação ao belo e à poesia e, não por acaso, também em relação ao culto positivo e à liturgia positiva

-        Augusto Comte trata da arte em dois momentos principais:

o   No capítulo quatro do Discurso (preliminar) sobre o conjunto do Positivismo, intitulado “Aptidão estética do Positivismo”; esse livro foi originalmente publicado em 1848 e depois, em 1851, inserido com alterações tópicas como introdução geral ao volume primeiro do Sistema de política positiva; esse capítulo tem 46 páginas

o   No capítulo quarto do volume segundo do Sistema de política positiva, intitulado “Teoria positiva da linguagem humana” e publicado em 1852; a teoria da arte é reapresentada e desenvolvida em meio às reflexões sobre a linguagem; esse capítulo também tem 46 páginas

o   Além desses dois capítulos, há reflexões feitas de passagem sobre as artes, as produções artísticas e os gênios artísticos em todos os capítulos que Augusto Comte escreveu, em particular em sua fase religiosa e em particular quando aborda o culto positivo, em seus inúmeros aspectos

-        Neste sermão abordaremos apenas alguns aspectos da teoria positiva da arte

o   Nos dois capítulos indicados acima, como sempre acontece, as reflexões desenvolvidas por Augusto Comte são densas e conjugam aspectos artísticos, filosóficos, morais e sociológicos

§  Dessa forma, o que exporemos aqui é bastante elementar, mesmo quase superficial

o   Adicionalmente, devemos notar que, pessoalmente, nossa atenção sempre se voltou para questões políticas, sociológicas, filosóficas, científicas e epistemológicas

§  Em outras palavras, pessoal e lamentavelmente, ao longo de nossa carreira profissional não nos concentramos tanto nos aspectos mais diretamente artísticos do Positivismo

-        Três aspectos elementares sobre as artes:

o   Antes de mais nada, as artes (como as linguagens) atuam no sentido de passar para fora o que existe no interior do ser humano

§  Enquanto as linguagens realizam essa tarefa a respeito de tudo o que existe no interior do ser humano (isto é, da subjetividade individual), as artes externalizam em particular os sentimentos

o   Em segundo lugar, a arte integra a subjetividade, mas seu âmbito é diferente daqueles já apresentados (os sentimentos e a inteligência): trata-se da imaginação

§  O Positivismo regula a imaginação, da mesma forma que regula os sentimentos e a inteligência

§  Mas, à parte a arrogância e a secura próprias à inteligência, o fato é que a imaginação exige ainda mais a regulação

o   Em terceiro lugar, o ser humano historicamente é antes artístico que filosófico ou industrial

§  Para Augusto Comte, a linguagem humana é inicialmente cantada, assim como as representações de objetos são todas elas artísticas

-        Para regularizar as artes – e também a imaginação –, Augusto Comte estabelece os seguintes princípios, metas e objetivos:

o   A função da arte é idealizar a realidade para realizar o aperfeiçoamento moral do ser humano

§  Sendo repetitivo, é necessário reiterar: o objetivo da arte é permitir o aperfeiçoamento humano, a partir das idealizações

·         Elaborações degradantes, meramente humilhantes, estimuladoras do ódio etc.: nada disso merece o título de “artísticas” e devem ser desprezadas

·         O objetivo da arte não é estimular os sentidos, nem meramente estimular quaisquer sentimentos, nem ser sistematicamente “crítica”

§  As idealizações artísticas devem estimular os bons sentimentos; mas isso não necessariamente significa retratar apenas os bons sentimentos:

·         Por exemplo, as peças de Shakespeare retratam a inveja, o ciúme, a burrice, a tristeza, a mesquinhez (Otelo; Ricardo III; Rei Lear; Macbeth; Hamlet) – e claramente aprendemos que tudo isso é ruim, errado ou, pelo menos, que deve ser evitado

·         Outro exemplo: as peças de Ésquilo e de Sófocles apresentam grandes valores humanos, a partir de dramas intensos, sacrifícios etc. (Prometeu acorrentado; Sete contra Tebas; Édipo-rei)

o   A idealização da realidade dá-se com base nos resultados indicados pela ciência e pela moral e por meio do aumento de alguns traços, positivos (com a concomitante supressão ou diminuição de outros traços, negativos)

§  Não por acaso, essa regra é a mesma empregada no culto íntimo, com as orações positivistas

§  Essas modificações evidenciam que a arte baseia-se necessariamente em procedimentos de abstração

o   Assim, a arte (e, de modo geral, a imaginação) deve respeitar a realidade – embora não de maneira servil

o   Além dessas indicações específicas para a imaginação e para a arte, há inúmeras outras orientações para a harmonia mental em toda a obra de Comte, em particular sumariadas nas 15 leis de filosofia primeira

o   Vale a pena lembrar que as elaborações científicas também consistem em idealizações: mas são idealizações da realidade, não dos sentimentos

-        Augusto Comte considera que há três passos na elaboração artística:

o   (1) a imitação, (2) a idealização, (3) a expressão

o   A imitação consiste em reproduzir o que já existe, seja em termos da realidade, seja em termos da produção artística já existente

§  Para Comte, embora o verdadeiro poeta seja sempre inovador, não se deve levar demasiadamente a sério as preocupações com a imitação, pois todos sempre imitam em algum grau

o   A idealização é a elaboração mental, ao mesmo tempo afetiva e intelectual; assim, ela é puramente interna, isto é, subjetiva

o   A expressão é o passo em que a obra de arte efetivamente toma corpo, a partir da idealização subjetiva; em outras palavras, é a parte objetiva da produção artística

-        A partir dos princípios de classificação (generalidade decrescente, particularidade crescente), Augusto Comte classifica as artes da seguinte maneira:

o   (1) Poesia, (2) Música, (3) Pintura, (4) Escultura, (5) Arquitetura

§  Como se vê, para Comte as artes fundamentais são cinco, que vão da mais geral para a mais técnica

§  A poesia é a arte mais geral, que fundamenta e orienta todas as demais

o   Essas artes são as artes fundamentais; outras modalidades de arte são derivações (ou extensões) ou combinações dessas cinco

§  Alguns exemplos:

·         O teatro é uma extensão da poesia

·         A ópera – que era uma preferência pessoal de Augusto Comte – é uma combinação da poesia e da música (e da pintura)

·         A dança é uma combinação da música e da escultura (e, antes, da poesia)

-        Como comentamos na prédica da semana passada (em que abordamos o progresso e a esperança em face do cinismo atual), atualmente é imperativo revalorizarmos as utopias

o   Para Augusto Comte, as utopias são uma verdadeira expressão poética moderna

o   As utopias devem orientar-se para o futuro, sem que, todavia, os artistas positivistas ignorem a idealização do passado (e mesmo do presente)

o   Para Comte, as utopias antecipam em cerca de dois séculos os programas políticos a serem aplicados

§  Evidentemente, para revalorizarmos as utopias, devemos revalorizar (pelo menos de maneira sincera e explícita) a noção de progresso e passar a desprezar sistematicamente as degradantes “distopias”, que são produções do século XX e particularmente apoiadas pela “indústria cultural”

§  A rejeição das distopias na verdade integra uma recomendação mais geral de Augusto Comte, no sentido de que, para bem apreciarmos as (boas) obras de arte, é necessário rejeitarmos as mediocridades artísticas

o   As utopias têm um aspecto suplementar inaudito em termos políticos e sociológicos:

§  Na medida em que as previsões sociológicas apresentam um caráter geral, os seus detalhes específicos ficam faltando – e é aí que as utopias desempenham um papel central, ao apresentar e completar os detalhes

§  Deveria ser evidente – mas o cinismo moral e a metafísica intelectual característicos de nossa época e de nossa civilização impedem que seja de fato evidente – que esse a complementação das previsões sociológicas pelas utopias deve ocorrer sempre estimulando o altruísmo e os bons sentimentos

o   Em certo sentido, podemos dizer que os artistas positivistas são sistematicamente utópicos

§  Assim, em termos literários, o Positivismo aproxima-se do romantismo e mesmo do classicismo

·         Todavia, “teóricos” e historiadores da literatura acham-se autorizados, a partir de uma certa coincidência temporal, meramente cronológica, a afirmar que o Positivismo seria representado ou afirmado nas escolas literárias realista e/ou naturalista, com o cinismo, o ceticismo, o pessimismo, o darwinismo social, a degradação moral e social etc. tão próprios a essas escolas

o   É claro que essa aproximação só é possível com base em procedimentos preguiçosos, molengas e preconceituosos

§  Muito longe de esgotar os nomes possíveis, podemos indicar como grandes poetas positivistas brasileiros[1]:

·         José Mariano da Silveira, Montenegro Cordeiro, José Martins Fontes, Edgar Proença Rosa, Branca Dulcina Bagueira Sampaio, Paulo de Tarso Monte Serrat

§  Muito longe de esgotar os nomes possíveis, podemos indicar como grandes pintores e escultores positivistas brasileiros:

·         Demétrio Ribeiro, Eduardo de Sá

-        Os sacerdotes da Humanidade devem todos ser bastante sensíveis às artes e, na medida do possível, também devem ser artistas

o   A apreciação artística tem um caráter passivo, evidentemente, ao contrário da produção artística

o   A sensibilidade artística dos sacerdotes da Humanidade – nos termos indicados aqui, é claro – tornar-nos-á plenamente superiores aos sacerdotes teológicos (em particular monoteístas)

-        Assim como os sacerdotes da Humanidade devem manter-se cuidadosamente afastados do poder Temporal (pois constituem o poder Espiritual), os artistas também devem ficar longe do poder

o   Os artistas são integrantes assessórios do poder Espiritual

o   Na verdade, a vedação de integrar o poder Temporal deve ser muito mais rígida no caso dos artistas, devido à sua relação mais frágil com a realidade e com os requisitos morais do poder Espiritual

o   Assim, os artistas subordinam-se moral e intelectual ao sacerdócio, ou seja, aos filósofos positivos



[1] Uma relação mais completa (mas, certamente, também incompleta) é sempre o livro de Ivan Lins, História do Positivismo no Brasil.

Augusto Comte: triplo ofício da arte e resumo da teoria positivista da arte


“A principal função da arte consiste sempre em construir os tipos de que a ciência fornece as bases. Ora, essa operação é sobretudo indispensável para a inauguração do novo regime. Quando a filosofia tiver elaborado suficientemente as suas diversas concepções essenciais, elas permanecerão ainda demasiadamente indeterminadas para bastarem ao seu destino prático. Afinal, o estudo sistemático do passado não pode fornecer-nos diretamente senão o caráter geral do porvir. Mesmo a respeito dos menores fenômenos, a determinação científica não poderia tornar-se completa sem ultrapassar os limites próprios à verdadeira demonstração. Nas pesquisas sociológicas, seus resultados devem então se manter mais abaixo do grau de plenitude, de clareza e de precisão que exigem noções destinadas à mais familiar universalidade. É então à poesia que convém preencher as inevitáveis lacunas da filosofia para inspirar a política. No começo do politeísmo, ela já realizou esse ofício natural em relação às criações imperfeitas da teologia sistemática. Pertence-lhe ainda mais completar uma apreciação objetiva em que a imaginação participa menos. Na conclusão geral deste discurso[1], eu indicarei mais essa indispensável função poética no tema da concepção central do Positivismo. O leitor poderá desde então estender a mesma explicação a todos os outros casos principais.

Para cumprir esse grande ofício, a arte positivista encontrar-se-á naturalmente conduzida a oferecer-nos quadros antecipados da regeneração humana, apreciada sob todos os aspectos suscetíveis de idealização. Essa será sua segunda cooperação geral para o impulso renovador, ao desenvolver sua participação inicial. No fundo, esse novo ofício reduz-se a regularizar as utopias, subordinando sempre a idealidade à realidade, como em toda outra composição poética. A liberdade especulativa que parece proporcionar-lhe a anarquia atual acaba restringindo bastante seu desenvolvimento efetivo, conforme os medos de divagação que ela inspira mesmo aos mais sonhadores, cujos espíritos não poderiam tornar-se insensíveis às necessidades comuns de harmonia mental. Mas, quando o domínio da imaginação limita-se em desenvolver e vivificar o da razão, os mais austeros pensadores sofrem de bom grado um encanto que, longe de alterar a realidade, não faz senão melhor sobressair sua principal característica, bem pouco determinada pela ciência. Assim, ao assinalar às utopias sua verdadeira destinação, o Positivismo estimulará bastante esse gênero moderno de composições poéticas, que, sob a inspiração sociológica, pode tanto concorrer para impulsionar o conjunto do povo ocidental em direção ao estado normal da humanidade. Os cinco modos estéticos[2] participarão todos desse salutar impulso, ao fazer-nos apreciar, antecipadamente, conforme a idealização própria a cada um deles, os encantos e a grandeza da nova existência, pessoal, doméstica e social.

Essa segunda assistência geral da arte na grande reconstrução suscitará naturalmente uma terceira, cuja necessidade não é menor hoje, para terminar de livrar [détacher] os ocidentais dos vãos destroços do passado que impedem de sentir o futuro. Bastará dar uma direção comparativa aos quadros antecipados que venho indicando. Depois do início da transição moderna, no século XIV, a arte é sobretudo desenvolvida sob uma intenção crítica[3], que entretanto convém pouco à sua natureza eminentemente sintética. Seu desenvolvimento orgânico pode então conciliar-se plenamente com a luta secundária que exige ainda a situação atual em relação às opiniões, e sobretudo os hábitos, que permanecem do regime caído ou da fase transitória. Essa comoção complementar, relativa às mais íntimas raízes do passado, alterará tanto menos a grande missão da arte positivista que ela realizar-se-á sem jamais exigir uma crítica direta. Nem em relação à teologia, nem somente quanto à metafísica, não termos doravante necessidade de nenhuma discussão, mesmo filosófica, e, com mais forte razão, poética. Tudo reduz-se agora a uma simples concorrência, o mais freqüentemente implícita, entre os modos opostos segundo os quais o catolicismo e os positivistas correspondem às mesmas necessidades morais e sociais. Ora, esse ofício assessório, cujas bases científicas já foram postas, é sobretudo da alçada da arte, pois que ele deve dirigir-se mais ao sentimento que à razão. Eu já indiquei o seu caso mais característico, no fim da quarta parte[4], para a nobre cooperação que reservava à minha santa colega[5] em relação à iniciação positivista de nossas duas populações meridionais[6], principalmente devida à intervenção estética das mulheres.

Nessa terceira função social, a nova poesia religará diretamente sua missão atual ao seu ofício final, ao idealizar o passado, como esta última o futuro. Afinal, o advento do Positivismo exige, a todos os respeitos, uma escrupulosa justiça em relação ao catolicismo. Longe de atenuar o mérito moral e político do regime próprio à Idade Média, a poesia, guiada pela filosofia, deverá inicialmente o glorificar dignamente, a fim de melhor caracterizar a superioridade necessária da ordem final. Ela constituirá, assim, o prelúdio de seu dever normal de reanimar o passado, cujo vínculo natural com o futuro deve tornar-se profundamente familiar, no interesse simultâneo da razão sistemática e do sentimento social.

Ainda que próximo, esse triplo ofício, por meio do qual a arte positivista inaugurará sua incorporação à ordem final, não poderá ser imediato, pois ele exige uma preparação filosófica que não foi ainda realizada, nem pelo público ocidental, nem por seus órgãos estéticos. A geração pacífica que começa, na França, a segunda parte da grande revolução, pode fazer livremente prevalecer o Positivismo, não somente entre os verdadeiros pensadores, mas também entre o povo parisiense encarregado dos comuns destinos do Ocidente, e mesmo entre as mulheres melhor dispostas. Elevada por esse impulso, a geração seguinte poderá então, antes do fim do século iniciado pela Convenção[7], completar espontaneamente essa inauguração mental e moral ao manifestar o novo caráter estético da humanidade regenerada.

 

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O conjunto desta quinta e última[8] parte representa diretamente a filosofia positiva como mais favorável que qualquer outra ao desenvolvimento contínuo de todas as belas-artes. Uma doutrina que chama a humanidade ao aperfeiçoamento universal deveria incorporar-se profundamente a especulações as mais próprias a desenvolver o nosso instinto da perfeição. Ela não os subordina ao estudo sistemático da realidade senão para fornecer à idealidade uma base objetiva, indispensável à sua consistência e à sua dignidade. Mas, assim constituídas, as funções estéticas convêm mais que as funções científicas, seja à natureza e ao alcance da nossa inteligência, seja sobretudo ao seu destino essencial, a organização da natureza humana; pois elas referem-se imediatamente ao princípio afetivo dessa sistematização. Após a cultura direta do sentimento, é a arte que pode habitualmente fornecer os melhores meios para tornar-nos ao mesmo tempo mais ternos e mais nobres.

Sua reação lógica deve mesmo aperfeiçoar nossa aptidão sistemática, ao familiarizar-nos cedo com as verdadeiras características de toda construção humana. A ciência pôde durante longo tempo preferir o regime analítico; ao passo que, mesmo em meio à sua anarquia, a arte visa sempre à síntese, objetivo necessário de todas as nossas contemplações. Quando, contra a sua natureza, ele trabalha para destruir, sua obra qualquer não se realiza ainda senão construindo. O gosto e o hábito das construções estéticas devem assim nos dispor a melhor construir sobre o solo mais refratário da realidade.

Por todos esses títulos, a arte, dirigida pelo sentimento, torna-se, para o Positivismo, a principal base da educação universal, em que a ciência não preside em seguida senão a uma indispensável sistematização objetiva. A vida ativa completa essa preponderância inicial ao imprimir um caráter mais estético que científico às funções regulares do poder moderador[9]. Os três elementos necessários da força moral[10] tornam-se assim os órgãos espontâneos da idealização, doravante inseparável da sistematização.

Uma tal fusão obriga os novos filósofos a sentir profundamente todas as belas-artes. Ainda que habitualmente passiva, essa aptidão deverá poder elevar-se, entre os principais dentre eles, à mais sublime atividade, nas idades de intermitência filosófica e de vivacidade poética. Sem esse difícil complemento, seu ofício não poderia obter o livre ascendente moral que comporta sua natureza e que exige sua destinação. O padre da Humanidade não desenvolverá sua superioridade necessária sobre o padre de Deus senão quando sua razão sistemática combinar-se dignamente com o entusiasmo do poeta comum como com a simpatia feminina e a energia proletária.”

 

Fonte: Augusto Comte. 1929. Aptitude estéthique du Positivisme. In: _____. Discours préliminaire sur l’ensemble du Positivisme[11]. 5e ed. Paris: Société Positiviste, p. 315-320. Tradução de Gustavo Biscaia de Lacerda.



[1] A referência é ao Discurso sobre o conjunto do Positivismo, de que o presente trecho integra o capítulo quinto e antepenúltimo. (Nota do tradutor.)

[2] Os cinco modos estéticos são, conforme o princípio de classificação (generalidade decrescente, particularidade crescente): poesia, música, pintura, escultura e arquitetura. (NT.)

[3] A palavra “crítica” é usada aqui no sentido de “destruidora”, “corrosiva”, conforme o sentido da “metafísica” para Augusto Comte. A esse respeito, cf. Gustavo Biscaia de Lacerda, “O Positivismo e o conceito de ‘metafísica’” (https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2011/03/o-positivismo-e-o-conceito-de.html).

[4] Referência ao capítulo quarto do Discurso preliminar sobre o conjunto do Positivismo, intitulado “Influência feminina do Positivismo”.

Talvez valha a pena indicarmos os títulos dos capítulos desse livro em sua edição de 1851, que é um verdadeiro “manifesto positivista” e uma exposição geral da doutrina e da religião:

- Preâmbulo geral

- Primeira parte: espírito fundamental do Positivismo

- Segunda parte: destinação social do Positivismo [, conforme sua conexão necessária com o conjunto da grande revolução ocidental]

- Terceira parte: eficácia popular do Positivismo

- Quarta parte: influência feminina do Positivismo

- Quinta parte: aptidão estética do Positivismo

- Conclusão geral do discurso preliminar [do discurso sobre o conjunto]: Religião da Humanidade

Os trechos entre colchetes referem-se aos subtítulos presentes na versão original do livro, publicada em 1848. (NT.)

[5] Referência a Clotilde de Vaux (1815-1846). (NT.)

[6] Referência à Espanha (e Portugal) e à Itália. (NT.)

[7] Referência à Convenção Nacional, fase da Revolução Francesa vigente entre 1792 e 1795, durante a qual, para Augusto Comte, após os momentos decisivamente destruidores do Antigo Regime próprios à Assembléia Nacional (1789-1792), desenvolveram-se os episódios mais progressistas da Revolução, em particular sob a liderança de Georges Danton (1759-1794). Evidentemente, o “século iniciado pela Convenção” é o século XIX. Sobre a avaliação positivista da Revolução Francesa e sobre o conceito de “estado normal”, bem como, de modo geral, para a filosofia positivista da história, cf. Augusto Comte, Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1934) e Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1899), além de Gustavo Biscaia de Lacerda, O momento comtiano (Curitiba, UFPR, 2019). (NT.)

[8] Augusto Comte refere-se ao capítulo quinto como sendo o “último”: é o último antes do capítulo final, intitulado “Conclusão geral” (e que, aliás, apresenta pela primeira vez os conceitos de “Humanidade” e de “religião da Humanidade”). (NT.)

[9] Referência ao poder Espiritual, que modifica a conduta de indivíduos e grupos via aconselhamento; ele contrapõe-se de maneira complementar ao poder Temporal, que modifica a conduta de indivíduos e grupos via coerção. Para mais detalhes, cf. os já citados Augusto Comte, Catecismo positivista e Apelo aos conservadores, além de Gustavo Lacerda, O momento comtiano. (NT.)

[10] Os três elementos componentes da força moral (isto é, do poder Espiritual) são: o sacerdócio, de caráter intelectual; o proletariado, de caráter prático; as mulheres, de caráter afetivo. Eles são abordados respectivamente nos capítulos dois, três e quatro do Discurso sobre o conjunto do Positivismo. (NT.)

[11] O Discurso sobre o conjunto do Positivismo foi originalmente publicado em 1848 e, com alterações tópicas, inserido em 1851 como apresentação geral do volume primeiro do Sistema de política positiva. (NT.)