06 outubro 2022

Sobre a confiança

Na noite de 25 de Shakespeare de 168 (4 de outubro de 2022) apresentamos a nossa prédica positiva. Como de hábito, após a leitura comentada de um trecho do Catecismo Positivista (que, na ocasião, deu continuidade à terceira conferência, sobre a teoria geral do culto), fizemos comentários sobre um tema livre - e escolhemos a confiança.

Assim, reproduzimos abaixo as anotações que serviram de guia para a exposição oral do que poderia ser um esforço de elaboração de uma teoria positiva da confiança. Como sempre, comentários e observações são bem-vindos!

A prédica está disponível no canal Positivismo do Youtube; nossa proposta de teoria positiva da confiança aparece a partir dos 49 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=FhtaKpLuOmE.

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-        A confiança integra a primeira lei da filosofia primeira (que é a lei fundamental): trata-se da hipótese mais simples, mais simpática e mais estética

-        Que é a confiança?

o   Em primeiro lugar, é o sentimento e a crença (subjetivos) de uma pessoa e/ou um grupo de que outra pessoa e/ou outro grupo fala a verdade, que suas ações correspondem (e corresponderão) ao que fala à é a sinceridade

o   Em segundo lugar, de modo central, a confiança é o sentimento subjetivo de que é possível deixar parte do próprio bem-estar sob a responsabilidade de outra pessoa e/ou outro grupo, pois essa outra pessoa e/ou grupo não nos causarão mal

§  Esse segundo aspecto, que se baseia no primeiro, é a confiança propriamente dita

§  O caráter vinculatório da confiança indica que ela é, acima de tudo, social

o   É importante lembrar que a confiança baseia-se não apenas na sinceridade, mas também no seu caráter habitual (ou na sua consistência): quanto mais tempo e em mais ocasiões a confiança provar-se correta, maior será a confiança mútua

-        Como uma extensão e uma aplicação sociopolítica da lei-mãe da filosofia primeira, podemos dizer que uma república saudável – ou melhor, uma sociocracia – baseia-se na “confiança generalizada”:

o   A confiança generalizada é a crença socialmente compartilhada de que as pessoas agem de boa-fé e que, portanto, em suas interações mútuas cotidianas não procurarão causar malefícios

§  É importante lembrar que Augusto Comte afirmava, por um lado, que a confiança exige sempre a dignidade e o respeito e, por outro lado, que os deveres sociais exigem a confiança

o   A “simpatia” da lei-mãe da filosofia primeira tem aqui vários sentidos: é o altruísmo, é a generosidade, é o respeito mútuo

-        Esses diversos aspectos da confiança conduzem o seu caráter social a integrar (e até constituir) primeiramente a família, depois as mátrias e por fim a Humanidade

o   Vale notar que o caráter social da confiança exige comportamentos concretos, seja por meio de palavras, seja por meio de atos: a mera crença subjetiva, o mero sentimento subjetivo são insuficientes, como subjetivos, para estabelecer a confiança: ela é um sentimento e uma crença subjetivos, mas baseia-se em comportamentos objetivos

§  Cada um (pessoa e/ou grupo) deve inspirar confiança, em vez de só afirmar (o merecimento d)a confiança à “Não basta a mulher de César ser virtuosa; ela tem que parecer virtuosa”

o   Quanto maior a sociedade, mais difícil é desenvolver-se a confiança, seja porque, de qualquer maneira, ela tem um aspecto de relações pessoais, diretas, seja porque ela exige uma relativa harmonia entre pessoas e/grupos: a dificuldade, então, está na consistência da sinceridade e da ausência de malefícios

o   O compartilhamento de crenças específicas e o compartilhamento de experiências de vida ajudam a estabelecer a confiança; inversamente, diferentes crenças e diferentes experiências de vida dificultam a confiança

o   Apesar disso, diferentes crenças e/ou experiências não impedem, por si sós, a confiança: é possível, e geralmente é necessário, desenvolver a confiança para além da diversidade de crenças e de experiências à mas são necessários cada vez mais esforços conscientes nesse sentido

o   Se forem estimulados os aspectos particularistas, as experiências e as crenças exclusivas etc., a confiança diminuirá e, portanto, os conflitos aumentarão

§  Os conflitos retroalimentam a desconfiança


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