24 julho 2019

50 anos da alunissagem

No dia 5 de Dante de 231 (20 de julho de 2019) comemorou-se um feito único e, de fato, até então impossível (embora não propriamente inimaginável): o cinqüentenário da alunissagem, isto é, da chegada do homem à Lua.

Homem na Lua

Não há dúvida de que esse feito foi um marco na história da Humanidade, devido a inúmeros motivos:

- ele foi a realização de um sonho antiquíssimo, com milênios de história e presente nas mais variadas civilizações (um uso filosófico disso pode ser lido no clássico de Fontenelle, Diálogo sobre a pluralidade dos mundos, indicado por Augusto Comte para leitura, na Biblioteca Positivista);

- o feito em si mesmo foi imenso: atravessar o espaço e pisar em nosso único satélite natural, nosso companheiro eterno em nosso percurso sideral;

- ele foi o coroamento de gigantescos, ou melhor, hercúleos esforços coletivos empreendidos para sua realização durante uma década: em recente relato, um dos três astronautas na missão da Apolo 11, Michael Collins, afirma que se envolveram 400.000 pessoas no projeto (!);

- embora em si mesma a alunissagem não traga nenhum benefício objetivo para o ser humano, a década que os Estados Unidos levaram para chegar à Lua resultou no desenvolvimento e no aprimoramento de inúmeras tecnologias úteis para o ser humano.

Há um aspecto adicional: a alunissagem deu-se no contexto da Guerra Fria, isto é, na disputa político-ideológica entre Estados Unidos e União Soviética, que marcou o mundo entre 1947 e 1989-1991. De modo mais específico, a década de 1960 caracterizou-se pela chamada détente, em que a disputa militar dos anos de Truman e, especialmente, Stálin, foi substituído pela disputa ideológica e econômica. 

A chamada "corrida espacial" tinha um aspecto acima de tudo simbólico e sua realização, embora tenha-se dado em meio à Guerra Fria, foi em si mesma uma disputa pacífica; em certo sentido, podemos mesmo fazer um paralelo da corrida espacial com as Olimpíadas, em que, desde a Grécia Antiga, as rivalidades militares são substituídas por e paralisadas em benefício da competição esportiva, de caráter pacífico. A frase proferida por Neil Armstrong, ao pisar em solo lunar, com justiça ficará para a história, indicando tratar-se de um feito de toda a Humanidade: "Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a Humanidade!".

Se, em definitivo, a corrida espacial foi vencida pelos estadunidenses, convém lembrar que os momentos iniciais foram vencidos pelos soviéticos, com o envio sucessivo e em primeiro lugar de satélite artificial, envio de animais ao espaço e envio de homens ao espaço - todas essas três realizações em órbita na Terra.

Os nomes da realização estadunidense são os do Presidente John Kennedy, que lançou a alunissagem como um desafio coletivo, e os dos astronautas Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins.

John Kennedy

Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin

Já os nomes soviéticos são do Primeiro-Ministro Nikita Kruschchov, da pequena cadela Laika (que morreu no espaço) e do cosmonauta Yuri Gagárin.

Nikita Kruschov
Yuri Gagarin

Laika

O Google fez uma bela homenagem a esse feito, com um vídeo contendo um belo depoimento de Michael Collins; além disso, vários jornais fizeram séries de reportagens sobre o evento (as da Folha de S. Paulo podem ser lidas a partir daqui).

Uma bela história (mas também triste), meio ficcional, meio biográfica, da alegre cadela Laika foi escrita na forma de história em quadrinhos por Nick Abadzis (a versão brasileira pode ser comprada aqui).

Capa do livro-gibi Laika, de Nick Abadzis

22 julho 2019

300.000 visitas!

No primeiro semestre de 231 (2019) este blogue Filosofia Social e Positivismo bateu a marca de 300.000 visitas!

A evolução das marcas reforça a relevância do blogue e, de maneira muito mais importante, do Positivismo: ele iniciou-se em 2007; em 2015 atingiu 100.000 visitas; em 2017 chegou a 200.000 visitas e, no início de 2019, passou de 300.000 visitas. 

Além disso, esta é a publicação de n. 413. Como não se trata de um blogue jornalístico, mas voltado a reflexões sociais, políticas, filosóficas, científicas e históricas, cremos que temos tido uma audiência relevante e importante.

Assim, seguimos rumo às 400.000 visitas e a sempre mais!

Esclarecimento sobre a ausência de publicações em 231 (2019)

Caros leitores: 

Como o ano de 231 (2019) já se encontra avançado e até o momento a quantidade de publicações neste blogue Filosofia Social e Positivismo tem sido bastante reduzida, um pequeno esclarecimento faz-se necessário.

Em primeiro lugar, devemos notar que uma série de compromissos profissionais exigiram de nós uma atenção concentrada no primeiro semestre do ano, obrigando-nos a, lamentavelmente, deixar em segundo plano considerações mais amplas de caráter social.

Mas, em segundo lugar, desde a campanha eleitoral para Presidente da República no Brasil que teve curso em 2018 e a subseqüente eleição de Jair Bolsonaro para ocupar esse cargo, o país vem passando por um maremoto de notícias, concepções e mudanças de políticas públicas que conduzem a nação para a retrogradação. Estímulos ao militarismo, ao irracionalismo, à intolerância, ao servilismo internacional, à manipulação de estatísticas públicas, além de muitos outros problemas têm sido constantes desde outubro de 2018 e, ainda mais, a partir de janeiro de 2019. Isso gerou em nós um sobressalto constante, que virtualmente não teve fim desde o início do ano e que, portanto, dificulta sobremaneira a reflexão mais calma sobre a realidade nacional - que é, em última análise, um dos objetivos deste blogue.

Tal situação calamitosa confirma, a nosso ver, as profundas análises elaboradas por Augusto Comte no século XIX a respeito da dinâmica sociopolítica ocidental desde a Revolução Francesa e que foram sintetizadas na seguinte formulação: "enquanto o progresso for anárquico, a ordem será retrógrada". Os governos do PT, à frente dos autointitulados "progressistas", basearam-se em princípios equivocados, como as políticas identitárias, que consagram o mais brutal egoísmo grupal, corporativo e "étnico"; da mesma forma, foram incapazes de implementar um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social; também não se pode esquecer do saque sistemático de empresas públicas e da política também sistemática de divisão do país (na estratégia do "nós contra eles" e do "nunca antes neste país"), além do revanchismo político, do elogio a autoritarismos e totalitarismos de esquerda (que, por isso mesmo, seriam "progressistas") etc. 

Face a isso, os grupos "à direita" (isto é, conservadores, retrógrados, reacionários) obtiveram notável sucesso em campanhas de desinformação e de manipulação da opinião pública, baseando-se em mitos e nas mais baixas paixões políticos, nos mais odiosos preconceitos sociopolíticos. Deixando-se levar intelectualmente pelo ex-astrólogo cultor da desinformação Olavo de Carvalho (o que, por si só, já indica a indigência intelectual do atual governo) e baseando-se socialmente em seitas evangélicas ultraindividualistas, retrógradas e intolerantes; em grupos militaristas; em empresários contrários às garantias mínimas para populações desamparadas, o incompleto desenvolvimento intelectual (conforme ele mesmo admitiu) do atual Presidente da República dá livres asas à desorganização nacional.

Em outras palavras, aqueles que se denominam "progressistas" pautaram-se por princípios incapazes de levar adiante o efetivo progresso do país; contra isso, organizou-se com grande sucesso uma violenta reação que prega um conceito de ordem que, basicamente, é apenas o retorno a um passado mítico, intolerante, irracionalista e individualista.

Essas vistas de Augusto Comte foram expostas com grande clareza em sua obra política Apelo aos conservadores, de 1856. Nesse livro, o fundador do Positivismo evidencia e explica como é necessária e como é possível uma política que una de maneira profunda e duradoura a ordem ao progresso. Em outras palavas, é necessário unir esses dois termos, para transcender cada um deles tomados individualmente: trata-se de ordem E progresso, não apenas da ordem às custas do progresso, como querem os retrógrados (a "direita"), nem apenas do progresso contra qualquer ordem, como querem os ditos progressistas (a "esquerda").

Há uma tradução brasileira do Apelo, de 1899; ela é extremamente fiel à letra e ao espírito de Comte, mas, como é antiga, é de difícil acesso. Por outro lado, é possível ler em minha tese de doutorado ("O momento comtiano", defendida em 2010 e disponível aqui) uma exposição detalhada dos argumentos de Augusto Comte.

César Benjamin: "Amazônia: cuidado, frágil"

Nos últimos anos, o dono e editor da Editora Contraponto, César Benjamin, por estímulo da Fundação João Mangabeira, tem publicado uma série de estudos temáticos (ou melhor, "setoriais"), em que se dedica a refletir sobre aspectos da realidade nacional. O objetivo desses estudos é apresentar um panoramas dos setores estudados, com vistas a propor estratégias e planos de desenvolvimento nacional.

A seriedade e a profundidade com que são escritos, aliados à preocupação social e com o desenvolvimento do país, merecem que sejam difundidos e, acima de tudo, meditados e implementados.

O mais recente desses estudos intitula-se "Amazônia: cuidado, frágil" e foi publicado em abril de 2019. A sua leitura rapidamente evidencia o quanto esse tema em particular envolve o conjunto da nação e a necessidade de atenção aprofundada a seu respeito.

Todos os estudos de C. Benjamin publicados pela Fundação João Mangabeira evidenciam a possibilidade e a necessidade de que se reflita a respeito do desenvolvimento do Brasil, isto é, que se tenha de fato um projeto positivo de desenvolvimento e que se retome um certo otimismo sobre o futuro do país - otimismo que há anos, quando não décadas, não existe mais. Esse desenvolvimento, claro está, deve ser social e ambientalmente responsável e inclusivo, conjugando os esforços do Estado, da sociedade civil e também dos empresários. Em outras palavras, são propostas claramente alinhadas ao Positivismo.

Assim, para quem tiver interesse - e exortamos todos a que tenham interesse! -, ele está disponível aqui.


11 julho 2019

Agência Brasil: "Bolsonaro diz que indicará evangélico para STF"

O atual Presidente da República, como é amplamente sabido, é uma pessoa reacionária, grosseira, mesquinha e vingativa; entre as inúmeras demonstrações de sua incivilidade e de seu anti-republicanismo, podemos lembrar que nunca escondeu sua defesa da tortura como "política social".

Dito isso, a declaração indicada na matéria abaixo, em que o Presidente da República reitera uma observação feita diversas vezes antes, indica o quanto ele não entende (e não quer entender) os princípios da República e em particular o da laicidade, a despeito de ele presidir essa mesma República.

A República é laica e essa laicidade é a condição de todas as liberdades de que gozamos e de que queremos gozar. Não importa se um brasileiro em particular é candoblecista, satanista, católico, evangélico, ateu, muçulmano, agnóstico ou positivista: a laicidade há que ser preservada como um valor fundamental.

Além de cometer esse erro - esse crime, na verdade -, o Presidente da República evidencia que não entende (e não quer entender) que a obrigação fundamental dos ministros do Supremo Tribunal Federal é respeitar e aplicar a Constituição da República Federativa do Brasil atualmente em vigor, promulgada em 5 de outubro de 1988. A filiação religiosa dos ministros é completamente secundária nesse sentido; o respeito à Constituição obriga os ministros, como magistrados da República, a pôr em segundo plano suas convicções religiosas em benefício da Constituição caso haja conflito entre ambas.

(Apesar disso, é importante notar que tanto o Presidente da República quanto muitos dos seus mais fervorosos apoiadores evangélicos primam por desrespeitar essa regra elementar da cidadania republicana, isto é, da cidadania.)

A notícia abaixo foi originalmente publicada pela Agência Brasil em 10.7.2019 aqui; não reproduzi toda a notícia porque há trechos, especialmente no final, que não dizem respeito ao tema da laicidade.

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Bolsonaro diz que indicará evangélico para Supremo Tribunal Federal

Presidente participou de culto na Câmara dos Deputados


Publicado em 10/07/2019 - 10:32
Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil  Brasília


O presidente Jair Bolsonaro afirmou que indicará um ministro evangélico para o Supremo Tribunal Federal (STF), pois, para ele, a busca pelo “resgate dos valores familiares” deve estar presente em todos os poderes do país. “Entre as duas vagas que terei para indicar para o Supremo um deles será terrivelmente evangélico”, disse, durante sua participação em um culto da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, na manhã de hoje (10).
No mês passado, ao criticar a decisão do STF de criminalizar a homofobia como forma de racismo, Bolsonaro já havia sugerido a indicação de um evangélico para a Corte. Até 2022, o presidente da República poderá indicar nomes para pelo menos duas vagas, que serão aberta com a aposentadoria compulsória dos ministros Marco Aurélio e Celso de Mello.
Hoje, Bolsonaro elogiou a atuação dos parlamentares evangélicos nos últimos anos. “Vocês sabem o quanto a família sofreu nos últimos governos. Vocês foram decisivos na busca da inflexão do resgate dos valores familiares”, disse. “Quantos tentam nos deixar de lado dizendo que o Estado é laico. O Estado é laico mas nós somos cristãos. Ou para plagiar a minha querida Damares, nós somos terrivelmente cristãos”, disse, em referência à declaração da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
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