19 outubro 2023

Sobre os calendários positivistas

No dia 10 de Descartes de 169 (17.10.2023) realizamos nossa prédica positiva, em que demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista - concluindo a "Oitava conferência", dedicada à filosofia das ciências superiores, especialmente a Moral.

No sermão abordamos os calendários positivistas, em que expusemos alguns dos seus aspectos gerais.

Antes das atividades regulares da prédica, manifestamos nosso profundo lamento pelo início da guerra entre o grupo Hamas e Israel, deflagrada no dia 7 de outubro de 2023 - guerra violentíssima, que acirra ódios antigos e que serve apenas para minar os esforços de pacificação geral do Oriente Médio.

A prédica foi transmitida no canal Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/CqhFo). O sermão começou em 1h 12' 20".

*   *   *


Sobre os calendários positivistas 

-        Do Positivismo, isto é, da doutrina criada por Augusto Comte, da Religião da Humanidade, de modo geral as pessoas conhecem pouca coisa[1]

o   Mesmo esse pouco consiste em elementos aparentemente anedóticos

o   O calendário positivista é uma dessas coisas: as anotações abaixo apresentam algumas explicações breves sobre ele – ou melhor, sobre eles, pois há dois calendários positivistas e dois sistemas de contagem de anos

-        Antes de mais nada, é importante termos clareza de que os calendários têm dois objetivos complementares: (1) marcar a passagem do tempo (2) de acordo com as necessidades e conveniências do culto

-        Os calendários que Augusto Comte elaborou são solares (e não lunares), correspondentes aos dois movimentos da Terra: a volta ao redor de si mesma (rotação) e a volta ao redor do Sol (translação), resultando em um ano de 365 dias (Sistema de política positiva, v. IV, p. 131-137).

o   Os calendários são compostos por 13 meses, cada um com quatro semanas de sete dias; um dia complementar é dedicado à Festa Universal dos Mortos; nos anos bissextos mais um dia complementar é dedicado à Festa das Mulheres Santas

§  A quantidade de 13 meses, além de ser deduzida das semanas de sete dias e dos meses de quatro semanas, é a quantidade mínima capaz de representar os diversos aspectos morais, intelectuais, sociológicos e históricos celebrados no culto público

o   As semanas dos calendários positivistas começam sempre na segunda-feira (lunedia, como dizia Miguel Lemos) e terminam sempre aos domingos; o dia complementar e o dia bissexto são “neutros”

§  Assim, por exemplo, a Festa da Humanidade, no dia 1º de Moisés, ocorre sempre em uma segunda-feira

§  Evidentemente, essa fixidez não é compartilhada pelo calendário júlio-gregoriano, o que muitas vezes gera confusão entre os dias das semanas entre os calendários positivistas (que são fixos e eternos) e o júlio-gregoriano (que varia enormemente quase em tudo)

·         A crítica feita acima ao calendário júlio-gregoriano não tem por objetivo desprezar ou desrespeitar os importantíssimos esforços de Júlio César e do papa Gregório XIII com as reformas que estabeleceram o calendário que leva seus nomes; o que procuramos notar é que, por um lado, apesar desses esforços, ainda assim esse calendário apresenta muitos problemas e que, por outro lado, é possível e é necessário elaborar-se outro padrão de calendário, mais simples, mais regular e mais eficiente (e que, aliás, permita a celebração dos esforços anteriores)

o   Aliás, é importante notar que Augusto Comte preocupou-se em manter a concordância do início do ano com o conjunto do Ocidente; em outras palavras, o dia 1º de Moisés (ou 1º da Humanidade) ocorre sempre no dia 1º de janeiro

-        Como observamos antes, Augusto Comte criou dois calendários, o abstrato e o concreto; ambos são históricos e sociológicos

-        O calendário abstrato visa diretamente ao culto público

o   O calendário abstrato é plenamente universal e organiza-se em termos de funções sociológicas estáticas e dinâmicas (Sistema de política positiva, v. IV, p. 137-154)

§  laços fundamentais: seis meses (Humanidade, casamento, paternidade, filiação, fraternidade, domesticidade)

§  estados preparatórios: três meses (fetichismo, politeísmo, monoteísmo)

§  funções normais: quatro meses (mulher, sacerdócio, patriciado, proletariado)

o   Além dos aspectos históricos, sociológicos e morais indicados acima, o calendário abstrato apresenta um total de 81 festas ao longo dos meses

-        O calendário concreto – o mais conhecido, popularmente chamado de “calendário histórico” – visa ao culto e à marcação do tempo, mas também tem funções didáticas (Sistema de política positiva, v. IV, p. 137-154, 398-399)

o   É fundamental dizê-lo com clareza, antes de mais nada: o calendário concreto não é meramente uma coleção ou uma enciclopédia de nomes de pessoas famosas, nem, portanto, esses nomes teriam sido selecionados conforme as idiossincrasias de nosso mestre

o   O seu aspecto didático consiste em apresentar ao grande público os principais agentes da evolução humana, de modo a afirmar e desenvolver a noção de continuidade histórica própria ao ser humano

§  Evidentemente, a noção de continuidade histórica vai contra a revolta contra a história e a sociedade, tão própria à nossa época metafísica e revolucionária

§  Ao desenvolver o sentimento de continuidade histórica e ao esclarecer o público (primeiro ocidental, depois mundial) sobre os principais agentes da evolução humana, é claro que o calendário histórico combate o espírito crítico e revolucionário de nossa época e auxilia a caminhada rumo ao estado normal

o   O calendário concreto foi elaborado basicamente para referir-se à evolução histórica do Ocidente (até a eclosão da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789), devendo ampliar-se para toda a Humanidade no futuro

§  Essa “ampliação” significa que novos nomes serão incluídos, não apenas do tempo que se passou desde meados do século XIX, mas também de outras civilizações

§  Novamente: os nomes do calendário não são um catálogo geral de nomes, mas indivíduos que atuaram de maneira positiva (construtiva, relativa, fraterna, altruísta, não-crítica, não-absoluta, não-beligerante, não-egoística) para o desenvolvimento da Humanidade, em algum aspecto

o   Grosso modo, ele representa a teocracia inicial e mais as três grandes fases da evolução ocidental:

§  síntese absoluta inicial na teocracia: um mês (Moisés)

§  a Antigüidade (inteligência com Grécia; atividade prática com Roma): quatro meses (Homero, Aristóteles, Arquimedes, César)

§  a Idade Média (afetividade): dois meses (São Paulo, Carlos Magno)

§  a Modernidade (crise própria à transição da teologia, da guerra e do absoluto para a positividade, o pacifismo e o relativismo): seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico II, Bichat)

§  O fetichismo não é representado aí porque não há possibilidade de indicação histórica de nenhum nome fetichista (do passado remoto, bem entendido)

-        Nos dois calendários, há o dia suplementar, que é a Festa Universal dos Mortos, e o dia bissexto, a Festa Geral das Mulheres Santas

o   Esses dias são “neutros”, no sentido de que não correspondem a dias da semana nem integram nenhum mês

o   Com a “neutralidade” desses dois dias, os calendários positivistas tornam-se eternos e regulares: todo ano, todo mês e toda semana sempre começarão em uma segunda-feira (ou lunedia), toda semana e todo mês sempre acabarão em um domingo

-        Augusto Comte definiu duas contagens de tempo: uma correspondente à transição revolucionária e outra correspondente à era normal (Sistema de política positiva, v. IV, p. 399-400)

o   A transição revolucionária começa com a eclosão da Revolução Francesa, em 1789; essa contagem indica o quanto de tempo já se passou desde que teve início a transição final em direção ao Positivismo

§  Assim, é uma contagem de tempo relativo a uma fase transitória e crítica

o   A contagem de tempo da era normal evita a origem revolucionária da outra contagem, mas respeita a ligação do passado com o futuro

§  Assim, ela inicia-se em 1855, ou seja, logo após a conclusão da redação do Sistema de política positiva (em 1854)

-        O ano de 2023 na contagem júlio-gregoriana corresponde a:

o   A 235 da transição revolucionária

o   A 169 da era normal

§  A era normal corresponde ao período em que o Positivismo já está plenamente constituído como religião, ou seja, como regulação individual e coletiva das forças humanas

§  É por isso que a era normal começa em 1855

o   No v. IV da Política (p. 375), Augusto Comte observa: “Os padres da Humanidade devem então se ver como já situados no futuro que eles anunciam e preparam, ao desenvolverem, em relação aos povos e a seus chefes quaisquer, costumes tão distantes da sedição quanto do servilismo”

§  É pelo motivo indicado pela primeira frase acima, destacada em itálico, que eu dato os eventos do corrente ano, em termos positivistas, como sendo 169 (era normal) e não 235 (transição revolucionária)

 

Calendário histórico: quadro sociolátrico resumido em 81 festas anuais

 

MESES

FESTAS

CALEND. Júlio-Gregoriano

LAÇOS FUNDAMENTAIS

1º mês: a Humanidade

1º dia do ano: Festa sintética do Grande Ser

1.jan

Festas hebdomadárias da União Social

Religiosa

7.jan

Histórica

14.jan

Nacional

21.jan

Comunal

28.jan

2º mês: o Casamento

Completo

4.fev

Casto

11.fev

Desigual

18.fev

Subjetivo

25.fev

3º mês: a Paternidade

Completa

Natural

4.mar

Artificial

11.mar

Incompleta

Espiritual

18.mar

Temporal

25.mar

4º mês: a Filiação

Completa

Natural

1.abr

Artificial

8.abr

Incompleta

Espiritual

15.abr

Temporal

22.abr

5º mês: a Fraternidade

Completa

Natural

29.abr

Artificial

6.maio

Incompleta

Espiritual

13.maio

Temporal

20.maio

6º mês: a Domesticidade

Permanente

Completa

27.maio

Incompleta

3.jun

Passageira

Completa

10.jun

Incompleta

17.jun

ESTADOS PREPARATÓRIOS

7º mês: o Fetichismo

Espontâneo

Nômade (Festa dos Animais)

24.jun

Sedentário (Festa do Fogo)

1.jul

Sistemático

Sacerdotal (Festa do Sol)

8.jul

Militar (Festa do Ferro)

15.jul

8º mês: o Politeísmo

Conservador

(Festa das Castas)

22.jul

Intelectual (Salamina)

Estético (Homero, Ésquilo, Fídias)

29.jul

Teórico (Tales, Pitágoras, Aristóteles; Hipócrates, Arquimedes; Apolônio, Hiparco)

5.ago

Social

(Cipião, César, Trajano)

12.ago

9º mês: o Monoteísmo

Teocrático

(Abraão, Moisés, Salomão)

19.ago

Católico

(São Paulo; Carlos Magno; Alfredo; Hildebrando; Godofredo; São Bernardo)

26.ago

Islâmico (Lepanto)

(Maomé)

2.set

Metafísico

(Dante; Descartes; Frederico)

9.set

FUNÇÕES NORMAIS

10º mês: a Mulher – providência moral

Mãe

16.set

Esposa

23.set

Filha

30.set

Irmã

7.out

11º mês: o Sacerdócio – providência intelectual

Incompleto

(Festa da Arte)

14.out

Preparatório

(Festa da Ciência)

21.out

Definitivo

Secundário

28.out

Principal (Festa dos Anciãos)

4.nov

12º mês: o Patriciado – providência material

Banco

(Festa dos Cavaleiros)

11.nov

Comércio

18.nov

Fabricação

25.nov

Agricultura

2.dez

13º e último mês: o Proletariado – providência geral

Ativo

(Festa dos Inventores: Gutenberg, Colombo, Vaucanson, Watt, Montgolfier)

9.dez

Afetivo

16.dez

Contemplativo

23.dez

Passivo (São Francisco de Assis)

30.dez

Dia complementar: Festa universal dos MORTOS (31.dez).

Dia bissexto: Festa geral das MULHERES SANTAS.

 

CALENDÁRIO POSITIVISTA

DIA

TIPO principal

Adjunto

DIA SEMANA

J.-G.

1º mês: Moisés – a teocracia inicial

1

Prometeu

Cadmo

Lunedia

1.jan

2

Hércules

Teseu

Martedia

2.jan

3

Orfeu

Tirésias

Mercuridia

3.jan

4

Ulisses

 

Jovedia

4.jan

5

Licurgo

 

Venerdia

5.jan

6

Rômulo

 

Sábado

6.jan

7

Numa

 

Domingo

7.jan

8

Belo

Semirâmis

Lunedia

8.jan

9

Sesôstris

 

Martedia

9.jan

10

Manu

 

Mercuridia

10.jan

11

Ciro

 

Jovedia

11.jan

12

Zoroastro

 

Venerdia

12.jan

13

Os druidas

Ossian

Sábado

13.jan

14

Buda

 

Domingo

14.jan

15

Fo-hi

 

Lunedia

15.jan

16

Lao-tsé

 

Martedia

16.jan

17

Meng-tsé

 

Mercuridia

17.jan

18

Os teocratas do Tibete

 

Jovedia

18.jan

19

Os teocratas do Japão

 

Venerdia

19.jan

20

Manco Capac

Kamehameha

Sábado

20.jan

21

Confúcio

 

Domingo

21.jan

22

Abraão

José do Egito

Lunedia

22.jan

23

Samuel

 

Martedia

23.jan

24

Salomão

 

Mercuridia

24.jan

25

Isaías

Davi

Jovedia

25.jan

26

São João Batista

 

Venerdia

26.jan

27

Arun-al-Rachid

Abderamã III

Sábado

27.jan

28

Maomé

 

Domingo

28.jan

2º mês: Homero – a poesia antiga

1

Hesíodo

 

Lunedia

29.jan

2

Tirteu

Safo

Martedia

30.jan

3

Anacreonte

 

Mercuridia

31.jan

4

Píndaro

 

Jovedia

1.fev

5

Sófocles

Eurípedes

Venerdia

2.fev

6

Teócrito

Longo

Sábado

3.fev

7

Ésquilo

 

Domingo

4.fev

8

Escopas

 

Lunedia

5.fev

9

Zeuxis

 

Martedia

6.fev

10

Ictino

 

Mercuridia

7.fev

11

Praxíteles

 

Jovedia

8.fev

12

Lisipo

 

Venerdia

9.fev

13

Apeles

 

Sábado

10.fev

14

Fidias

 

Domingo

11.fev

15

Esopo

Pilpai

Lunedia

12.fev

16

Plauto

 

Martedia

13.fev

17

Terêncio

Menandro

Mercuridia

14.fev

18

Fedro

 

Jovedia

15.fev

19

Juvenal

 

Venerdia

16.fev

20

Luciano

 

Sábado

17.fev

21

Aristófanes

 

Domingo

18.fev

22

Ênio

 

Lunedia

19.fev

23

Lucrécio

 

Martedia

20.fev

24

Horácio

 

Mercuridia

21.fev

25

Tíbulo

 

Jovedia

22.fev

26

Ovídio

 

Venerdia

23.fev

27

Lucano

 

Sábado

24.fev

28

Virgílio

 

Domingo

25.fev

3º mês: Aristóteles – a filosofia antiga

1

Anaximandro

 

Lunedia

26.fev

2

Anaxímenes

 

Martedia

27.fev

3

Heráclito

 

Mercuridia

28.fev

4

Anaxágoras

 

Jovedia

1.mar

5

Demócrito

Leucipo

Venerdia

2.mar

6

Heródoto

 

Sábado

3.mar

7

Tales

 

Domingo

4.mar

8

Sólon

 

Lunedia

5.mar

9

Xenófanes

 

Martedia

6.mar

10

Empédocles

 

Mercuridia

7.mar

11

Tucídides

 

Jovedia

8.mar

12

Arquitas

Filolau

Venerdia

9.mar

13

Apolônio de Tiana

 

Sábado

10.mar

14

Pitágoras

 

Domingo

11.mar

15

Aristipo

 

Lunedia

12.mar

16

Antístenes

 

Martedia

13.mar

17

Zeno

 

Mercuridia

14.mar

18

Cícero

Plínio, o Jovem

Jovedia

15.mar

19

Epiteto

Arriano

Venerdia

16.mar

20

Tácito

 

Sábado

17.mar

21

Sócrates

 

Domingo

18.mar

22

Xenócrates

 

Lunedia

19.mar

23

Filon de Alexandria

 

Martedia

20.mar

24

S. João Evangelista

 

Mercuridia

21.mar

25

S. Justino

Sto. Irineu

Jovedia

22.mar

26

S. Clemente de Alexandria

 

Venerdia

23.mar

27

Orígenes

Tertuliano

Sábado

24.mar

28

PLATÃO

 

Domingo

25.mar

4º mês: Arquimedes – a ciência antiga

1

Teofrasto

 

Lunedia

26.mar

2

Herófilo

 

Martedia

27.mar

3

Erasístrato

 

Mercuridia

28.mar

4

Celso

 

Jovedia

29.mar

5

Galeno

 

Venerdia

30.mar

6

Avicena

Averróis

Sábado

31.mar

7

HIPÓCRATES

 

Domingo

1.abr

8

Euclides

 

Lunedia

2.abr

9

Aristeu

 

Martedia

3.abr

10

Teodósio de Bitina

 

Mercuridia

4.abr

11

Heron

Ctesíbio

Jovedia

5.abr

12

Papus

 

Venerdia

6.abr

13

Diofante

 

Sábado

7.abr

14

APOLÔNIO

 

Domingo

8.abr

15

Eudexo

Arato

Lunedia

9.abr

16

Píteas

Nearco

Martedia

10.abr

17

Aristarco

Beroso

Mercuridia

11.abr

18

Eratóstenes

Sosígenes

Jovedia

12.abr

19

Ptolomeu

 

Venerdia

13.abr

20

Albatênio

Nassir-Edin

Sábado

14.abr

21

HIPARCO

 

Domingo

15.abr

22

Varrão

 

Lunedia

16.abr

23

Columela

 

Martedia

17.abr

24

Vitrúvio

 

Mercuridia

18.abr

25

Estrabão

 

Jovedia

19.abr

26

Frontino

 

Venerdia

20.abr

27

Plutarco

 

Sábado

21.abr

28

PLÍNIO, O VELHO

 

Domingo

22.abr

5º mês: César – a civilização militar

1

Milcíades

 

Lunedia

23.abr

2

Leônidas

 

Martedia

24.abr

3

Aristides

 

Mercuridia

25.abr

4

Címon

 

Jovedia

26.abr

5

Xenofonte

 

Venerdia

27.abr

6

Fócion

Epaminondas

Sábado

28.abr

7

TEMÍSTOCLES

 

Domingo

29.abr

8

Péricles

 

Lunedia

30.abr

9

Filipe

 

Martedia

1.maio

10

Demóstenes

 

Mercuridia

2.maio

11

Ptolomeu Lago

 

Jovedia

3.maio

12

Filopêmen

 

Venerdia

4.maio

13

Políbio

 

Sábado

5.maio

14

ALEXANDRE

 

Domingo

6.maio

15

Júnio Bruto

 

Lunedia

7.maio

16

Camilo

Cincinato

Martedia

8.maio

17

Fabrício

Régulo

Mercuridia

9.maio

18

Aníbal

 

Jovedia

10.maio

19

Paulo Emílio

 

Venerdia

11.maio

20

Mário

Os Gracos

Sábado

12.maio

21

CIPIÃO

 

Domingo

13.maio

22

Augusto

Mecenas

Lunedia

14.maio

23

Vespasiano

Tito

Martedia

15.maio

24

Adriano

Nerva

Mercuridia

16.maio

25

Antonino

Marco Aurélio

Jovedia

17.maio

26

Papiniano

Ulpiano

Venerdia

18.maio

27

Alexandre Severo

Aécio

Sábado

19.maio

28

TRAJANO

 

Domingo

20.maio

6º mês: São Paulo – o catolicismo

1

S. Lucas

S. Tiago

Lunedia

21.maio

2

S. Cipriano

 

Martedia

22.maio

3

Sto. Atanásio

 

Mercuridia

23.maio

4

S. Jerônimo

 

Jovedia

24.maio

5

Sto. Ambrósio

 

Venerdia

25.maio

6

Sta. Mônica

 

Sábado

26.maio

7

STO. AGOSTINHO

 

Domingo

27.maio

8

Constantino

 

Lunedia

28.maio

9

Teodósio

 

Martedia

29.maio

10

S. Crisóstomo

S. Basílio

Mercuridia

30.maio

11

Sta. Pulquéria

Marciano

Jovedia

31.maio

12

Sta. Genoveva de Paris

 

Venerdia

1.jun

13

S. Gregório Magno

 

Sábado

2.jun

14

HILDEBRANDO

 

Domingo

3.jun

15

S. Bento

Sto. Antônio

Lunedia

4.jun

16

S. Bonifácio

Sto. Austino

Martedia

5.jun

17

Sto. Isidoro de Sevilha

S. Bruno

Mercuridia

6.jun

18

Lanfranc

Sto. Anselmo

Jovedia

7.jun

19

Heloísa

Beatriz

Venerdia

8.jun

20

Arquitetos da Idade Média

S. Benezet

Sábado

9.jun

21

S. BERNARDO

 

Domingo

10.jun

22

S. Francisco Xavier

Sto. Inácio de Loyola

Lunedia

11.jun

23

S. Carlos Borromeu

Frederico Borromeu

Martedia

12.jun

24

Sta. Teresa

Sta. Catarina de Siena

Mercuridia

13.jun

25

S. Vicente de Paula

Abade de l'Épée

Jovedia

14.jun

26

Bourdalone

Claude Fleury

Venerdia

15.jun

27

Guilherme Penn

George Fox

Sábado

16.jun

28

BOSSUET

 

Domingo

17.jun

7º mês: Carlos Magno – a civilização feudal

1

Teodorico Magno

 

Lunedia

18.jun

2

Pelágio

 

Martedia

19.jun

3

Óton, o Grande

Henrique, o Passarinheiro

Mercuridia

20.jun

4

Sto. Henrique

 

Jovedia

21.jun

5

Villiers

La Vallete

Venerdia

22.jun

6

D. João de Lepanto

Jean Sobieski

Sábado

23.jun

7

ALFREDO

 

Domingo

24.jun

8

Carlos Martel

 

Lunedia

25.jun

9

O Cid

Tancredo

Martedia

26.jun

10

Ricardo Coração de Leão

Saladino

Mercuridia

27.jun

11

Joana D’Arco

Marina

Jovedia

28.jun

12

Albuquerque

Walter Raleigh

Venerdia

29.jun

13

Baiardo

 

Sábado

30.jun

14

GODOFREDO

 

Domingo

1.jul

15

S. Leão, o Grande

Leão IV

Lunedia

2.jul

16

Gerbert

Pedro Damião

Martedia

3.jul

17

Pedro, o Eremita

 

Mercuridia

4.jul

18

Suger

Sto. Elói

Jovedia

5.jul

19

Alexandre III

Thomas Becket

Venerdia

6.jul

20

S. Francisco de Assis

S. Domingos

Sábado

7.jul

21

INOCÊNCIO III

 

Domingo

8.jul

22

Sta. Clotilde

 

Lunedia

9.jul

23

Sta. Batilde

Matilde de Toscana

Martedia

10.jul

24

Sto. Estevão da Hungria

 

Mercuridia

11.jul

25

Sta. Isabel da Hungria

Mateus Corvino

Jovedia

12.jul

26

Branca de Castela

 

Venerdia

13.jul

27

S. Fernando III

Afonso X

Sábado

14.jul

28

S. LUÍS

 

Domingo

15.jul

8º mês: Dante – a epopéia moderna

1

Os trovadores

 

Lunedia

16.jul

2

Bocácio

Chaucer

Martedia

17.jul

3

Rabelais

Swift

Mercuridia

18.jul

4

Cervantes

 

Jovedia

19.jul

5

La Fontaine

Robert Burns

Venerdia

20.jul

6

Defoe

Goldsmith

Sábado

21.jul

7

ARIOSTO

 

Domingo

22.jul

8

Leonardo da Vinci

Ticiano

Lunedia

23.jul

9

Miguel Ângelo

Paolo Veronese

Martedia

24.jul

10

Holbein

Rembrandt

Mercuridia

25.jul

11

Poussin

Lesueur

Jovedia

26.jul

12

Velázquez

Murillo

Venerdia

27.jul

13

Teniers

Rubens

Sábado

28.jul

14

RAFAEL

 

Domingo

29.jul

15

Froissart

Joinville

Lunedia

30.jul

16

Camões

Spenser

Martedia

31.jul

17

Os romanceiros espanhóis

 

Mercuridia

1.ago

18

Chateaubriand

 

Jovedia

2.ago

19

Walter Scott

Cooper

Venerdia

3.ago

20

Manzoni

 

Sábado

4.ago

21

TASSO

 

Domingo

5.ago

22

Petrarca

 

Lunedia

6.ago

23

Tomás de Kempis

Luís de Granada

Martedia

7.ago

24

Madame de Lafayette

Mme. de Stäel

Mercuridia

8.ago

25

Fénélon

S. Francisco de Sales

Jovedia

9.ago

26

Klopstock

Gessner

Venerdia

10.ago

27

Byron

Elisa Mercœur e Shelley

Sábado

11.ago

28

MILTON

 

Domingo

12.ago

9º mês: Gutenberg – a indústria moderna

1

Marco Polo

Chardin

Lunedia

13.ago

2

Diogo Cœur

Gresham

Martedia

14.ago

3

Gama

Magalhães

Mercuridia

15.ago

4

Napier

Briggs

Jovedia

16.ago

5

Lacaille

Delambre

Venerdia

17.ago

6

Cook

Tasman

Sábado

18.ago

7

COLOMBO

 

Domingo

19.ago

8

Benvenuto Cellini

 

Lunedia

20.ago

9

Amontons

Wheatstone

Martedia

21.ago

10

Harrison

Pedro Leroy

Mercuridia

22.ago

11

Dollond

Graham

Jovedia

23.ago

12

Arkwright

Jacquard

Venerdia

24.ago

13

Conte

 

Sábado

25.ago

14

VAUCANSON

 

Domingo

26.ago

15

Stevin

Torricelli

Lunedia

27.ago

16

Mariotte

Boyle

Martedia

28.ago

17

Papin

Worcester

Mercuridia

29.ago

18

Black

 

Jovedia

30.ago

19

Jouffroy

Fulton

Venerdia

31.ago

20

Dalton

Thilorier

Sábado

1.set

21

WATT

 

Domingo

2.set

22

Bernardo de Palissy

 

Lunedia

3.set

23

Guglielmini

Riquet

Martedia

4.set

24

Duhamel du Monceau

Bourgelat

Mercuridia

5.set

25

Saussure

Bouguer

Jovedia

6.set

26

Coulomb

Borda

Venerdia

7.set

27

Carnot

Vauban

Sábado

8.set

28

MONTGOLFIER

 

Domingo

9.set

10º mês: Shakespeare – o drama moderno

1

Lope de Vega

Montalvan

Lunedia

10.set

2

Moreto

Guillem de Castro

Martedia

11.set

3

Rojas

Guevara

Mercuridia

12.set

4

Otway

 

Jovedia

13.set

5

Lessing

 

Venerdia

14.set

6

Goethe

 

Sábado

15.set

7

CALDERÓN

 

Domingo

16.set

8

Tirso

 

Lunedia

17.set

9

Vondel

 

Martedia

18.set

10

Racine

 

Mercuridia

19.set

11

Voltaire

 

Jovedia

20.set

12

Alfieri

Metastásio

Venerdia

21.set

13

Schiller

 

Sábado

22.set

14

CORNEILLE

 

Domingo

23.set

15

Alarcón

 

Lunedia

24.set

16

Mme. de Motteville

Mme. Roland

Martedia

25.set

17

Mme. de Sevigné

Lady Montague

Mercuridia

26.set

18

Lesage

Sterne

Jovedia

27.set

19

Madame de Staal

Miss Edgeworth

Venerdia

28.set

20

Fielding

Richardson

Sábado

29.set

21

MOLIÈRE

 

Domingo

30.set

22

Pergolesi

Palestrina

Lunedia

1.out

23

Sacchini

Grétry

Martedia

2.out

24

Gluck

Lully

Mercuridia

3.out

25

Beethoven

Hændel

Jovedia

4.out

26

Rossini

Weber

Venerdia

5.out

27

Bellini

Donizetti

Sábado

6.out

28

MOZART

 

Domingo

7.out

11º mês: Descartes – a filosofia moderna

1

Alberto, o Grande

Jean de Salisbury

Lunedia

8.out

2

Rogério Bacon

Raimundo Lúlio

Martedia

9.out

3

S. Boaventura

Joaquim

Mercuridia

10.out

4

Ramus

Cardeal de Cusa

Jovedia

11.out

5

Montaigne

Erasmo

Venerdia

12.out

6

Campanella

Morus

Sábado

13.out

7

S. TOMÁS DE AQUINO

 

Domingo

14.out

8

Hobbes

Espinosa

Lunedia

15.out

9

Pascal

Giordano Bruno

Martedia

16.out

10

Locke

Malebranche

Mercuridia

17.out

11

Vauvenargues

Mme. de Lambert

Jovedia

18.out

12

Diderot

Duclos

Venerdia

19.out

13

Cabanis

Georges Leroy

Sábado

20.out

14

BACON

 

Domingo

21.out

15

Grócio

Cujácio

Lunedia

22.out

16

Fontenelle

Maupertuis

Martedia

23.out

17

Vico

Herder

Mercuridia

24.out

18

Freret

Winckelmann

Jovedia

25.out

19

Montesquieu

D’Auguesseau

Venerdia

26.out

20

Buffon

Oken

Sábado

27.out

21

LEIBNIZ

 

Domingo

28.out

22

Robertson

Gibbon

Lunedia

29.out

23

Adam Smith

Dunoyer

Martedia

30.out

24

Kant

Fichte

Mercuridia

31.out

25

Condorcet

Fergusson

Jovedia

1.nov

26

José De Maistre

De Bonald

Venerdia

2.nov

27

Hegel

Sofia Germain

Sábado

3.nov

28

HUME

 

Domingo

4.nov

12º mês: Frederico – a política moderna

1

Maria de Molina

 

Lunedia

5.nov

2

Cosme de Médicis, o Velho

 

Martedia

6.nov

3

Comines

Guicciardini

Mercuridia

7.nov

4

Isabel de Castela

 

Jovedia

8.nov

5

Carlos V

Sixto V

Venerdia

9.nov

6

Henrique IV

 

Sábado

10.nov

7

LUÍS XI

 

Domingo

11.nov

8

Coligny

L'Hôpital

Lunedia

12.nov

9

Barneveldt

 

Martedia

13.nov

10

Gustavo Adolfo

 

Mercuridia

14.nov

11

Witt

 

Jovedia

15.nov

12

Ruyter

 

Venerdia

16.nov

13

Guilherme III

 

Sábado

17.nov

14

Guilherme, o Taciturno

 

Domingo

18.nov

15

Ximenes

 

Lunedia

19.nov

16

Sully

Oxenstiern

Martedia

20.nov

17

Walpole

Mazarino

Mercuridia

21.nov

18

Colbert

Luís XIV

Jovedia

22.nov

19

Aranda

Pombal

Venerdia

23.nov

20

Turgot

Campomanes

Sábado

24.nov

21

RICHELIEU

 

Domingo

25.nov

22

Sidney

Lambert

Lunedia

26.nov

23

Franklin

Hampden

Martedia

27.nov

24

Washington

Koscinsko

Mercuridia

28.nov

25

Jefferson

Madison

Jovedia

29.nov

26

Bolívar

Toussaint L'ouverture

Venerdia

30.nov

27

Francia

 

Sábado

1.dez

28

CROMWELL

 

Domingo

2.dez

13º mês: Bichat – a ciência moderna

1

Copérnico

Tycho Brahe

Lunedia

3.dez

2

Kepler

Halley

Martedia

4.dez

3

Huyghens

Varignon

Mercuridia

5.dez

4

Jacques Bernouilli

Jean Bernouilli

Jovedia

6.dez

5

Bradley

Römer

Venerdia

7.dez

6

Volta

Sauveur

Sábado

8.dez

7

GALILEU

 

Domingo

9.dez

8

Viete

Harriott

Lunedia

10.dez

9

Wallis

Fermat

Martedia

11.dez

10

Clairaut

Poinsot

Mercuridia

12.dez

11

Euler

Monge

Jovedia

13.dez

12

D’Alembert

Bernouilli

Venerdia

14.dez

13

Lagrange

Fourier

Sábado

15.dez

14

NEWTON

 

Domingo

16.dez

15

Bergmann

Scheele

Lunedia

17.dez

16

Priestley

Davy

Martedia

18.dez

17

Cavendish

 

Mercuridia

19.dez

18

Guyton-Morveau

Geoffroy

Jovedia

20.dez

19

Berthollet

 

Venerdia

21.dez

20

Berzélio

Ritter

Sábado

22.dez

21

LAVOISIER

 

Domingo

23.dez

22

Harvey

Carlos Bell e Barthez

Lunedia

24.dez

23

Boërhaave

Stahl

Martedia

25.dez

24

Lineu

Bernardo de Jussieu

Mercuridia

26.dez

25

Haller

Vicq-d’Azyr

Jovedia

27.dez

26

Lamarck

Blainville

Venerdia

28.dez

27

Broussais

Morgagni

Sábado

29.dez

28

GALL

 

Domingo

30.dez

Festa geral dos mortos

Festa das mulheres santas

31.dez

 



[1] As presentes anotações baseiam-se na postagem “Calendários positivistas – algumas explicações”, ampliando-a e desenvolvendo-a.

A postagem está disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2019/12/calendarios-positivistas-algumas.html (acesso em 6.10.2023). 

04 outubro 2023

Martins Fontes: "A Mariano de Oliveira"

A Mariano de Oliveira


"Posso te asseverar, e isto me é bem suave

Ao coração, que nem uma só falta grave

Fez-me indigno de ti..."

Epitáfio de um túmulo no Cemitério de São João Batista.


A Jefferson de Lemos


Para o culto doméstico vivias.

E, em perpétua viuvez, trinta e três anos,

Indiferente a júbilos profanos,

Pobre, passaste teus penosos dias.


Sofreste muito e muito amaste. Insanos

Eram teus desesperos e porfias.

E a saudade, nas tuas agonias,

Deu-te o aspecto dos grandes franciscanos.


Falavas mansamente, e sem ressabio

Nenhum, iluminado pelo encanto,

O coração te perfumava o lábio.


Ilustre e bom, claríssimo, portanto,

Para os que te escutaram - foste o Sábio,

Para nós que te amamos - foste um Santo.


(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 80-81.)

Quatro documentos disponíveis na internet

Estão disponíveis no portal Internet Archive (http://www.archive.org) quatro documentos positivistas, recentemente digitalizados. São eles:

- Augusto Comte, "Influência feminina do Positivismo": quarto capítulo do livro Discurso sobre o conjunto do Positivismo, de 1848, incluído em 1851 como uma introdução geral ao Sistema de política positiva; disponível aqui: https://archive.org/details/augusto-comte-influencia-feminina-do-positivismo.

- Augusto Comte, "Aptidão estética do Positivismo": quinto capítulo do livro Discurso sobre o conjunto do Positivismo, de 1848, incluído em 1851 como uma introdução geral ao Sistema de política positiva. As páginas 9 a 12 faltam no documento original. Disponível aqui: https://archive.org/details/augusto-comte-aptidao-estetica-do-positivismo.

- Juán Enrique Lagarrigue, "A Religião da Humanidade": tradução da quarta edição, feita em 1954 por Américo Duarte de Viveiros; disponível aqui: https://archive.org/details/juan-enrique-lagarrigue-a-religiao-da-humanidade.

- Pierre Laffitte, "Sacramento da destinação de Miguel Lemos": discurso original em francês, realizado em 1881; publicado originalmente na Revue Occidentale (mas sem dados adicionais). Disponível aqui: https://archive.org/details/pierre-laffitte-sacramento-da-destinacao-de-miguel-lemos.

03 outubro 2023

Sobre o método subjetivo

No dia 24 de Shakespeare de 169 (3.10.223) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua "Oitava conferência", dedicada à filosofia das ciências superiores (Sociologia e, ainda mais, a Moral).

No sermão abordamos o método subjetivo.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://encr.pw/3ABoP) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/OlSVZ). O sermão começa em 56' 30".

Abaixo reproduzimos as anotações que serviram de base para a exposição oral do sermão.

*   *   *


Sobre o método subjetivo 

-        A idéia do método subjetivo e sua aplicação sistemática é uma das mais belas, impressionantes e importantes elaborações de Augusto Comte

o   O método subjetivo estava presente, mesmo que implicitamente, desde as primeiras elaborações de nosso mestre, mas foi apenas com a criação da Religião da Humanidade que foi possível elaborá-lo de maneira clara e consciente

o   A vinculação do método subjetivo com a Religião da Humanidade já sugere muitas de suas características

-        A presente exposição terá um aspecto geral mais intelectual que qualquer outra coisa; entretanto, é importante ter em mente que, ao tratar-se do método subjetivo, a origem afetiva de todos os pensamentos deve estar bem clara e subjacente

-        Para apresentar de maneira simples e direta, podemos dizer que o método subjetivo consiste na afirmação da perspectiva humana sobre todas as concepções e reflexões humanas; em outras palavras, ele consiste na perspectiva subjetivista

o   Esse subjetivismo também pode ser entendido como a afirmação de um renovado antropocentrismo

o   Além disso, no caso específico do método subjetivo, tal subjetivismo deve ser entendido como sendo social e não individual, a par da origem sociológica da noção de Humanidade e, daí, da moral positiva

§  Caso esse subjetivismo tivesse um caráter estritamente individual, recairíamos nos mesmos problemas da moral e da inteligência teológicas, que são individualistas, solipsistas e não percebem plenamente o caráter social do ser humano

§  Embora a subjetividade do método subjetivo tenha um caráter social, o método subjetivo não desconsidera nem despreza a subjetividade individual

§  A subjetividade individual é incorporada ao método subjetivo por meio das propriedades específicas da ciência da Moral:

·         a Moral estuda diretamente os sentimentos humanos, em particular nos indivíduos

·         a Moral é a ciência que sintetiza todas as ciências anteriores, conforme eles manifestam-se nos indivíduos

·         a Moral é a ciência que realiza diretamente a transição para as artes práticas, começando pela educação e pelo aconselhamento individuais

-        O método subjetivo pode e deve ser entendido em relação de complementaridade com o método objetivo

o   Se o método subjetivo consiste na aplicação dos parâmetros humanos a todas as concepções, reflexões e atividades humanas, o método objetivo consiste no entendimento da realidade a partir da própria realidade, isto é, a partir de uma perspectiva objetiva

o   O método subjetivo é plenamente universal em sua aplicação, na medida em que se refere a tudo o que é humano: essa universalidade (ou generalidade) é, por definição, subjetiva; já o método objetivo é universalizável em termos objetivos, mas essa universalidade depende dos fenômenos considerados

o   Em outras palavras, os métodos subjetivo e objetivo são complementares em sentidos inversos, considerando os princípios de toda classificação: generalidade crescente ou decrescente, objetiva ou subjetiva; particularidade decrescente ou crescente, subjetiva ou objetiva

o   Novamente: enquanto por definição o método subjetivo é plenamente universal e universalizável, o método objetivo varia em sua generalidade de acordo com o fenômeno em questão

§  A constituição do método objetivo segue a classificação das ciências, do mais objetivamente geral e simples para o objetivamente mais específico e mais complicado: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia, Moral

§  Na escala das ciências, a única ciência que é objetivamente plenamente universalizável é a Matemática (na medida em que ela estuda os números, a extensão e o movimento dos corpos); a partir dela, as demais ciências são mais específicas

-        Todas as concepções humanas sujeitam-se e devem sujeitar-se ao método subjetivo (o que inclui as ciências); entretanto, para que ele possa ter a sua adequada primazia, foi necessário antes corrigi-lo, por meio do desenvolvimento do método objetivo e de sua aplicação à realidade humana

o   A necessária correção do método subjetivo deve-se a diversos motivos conexos:

§  o método subjetivo inicialmente é absoluto (e não relativo);

§  ele inicialmente se pretende e afirma-se objetivo (embora seja sempre subjetivo);

§  ele inicialmente se baseia em concepções individualistas (em vez de concepções sociais);

§  ele inicialmente pretende que o mundo é total e infinitamente plástico e obediente às vontades caprichosas dos seres humanos e/ou de tipos semelhantes ou inspirados no ser humano (em vez de obedecer a leis naturais)

o   O método subjetivo é espontâneo, na medida em que se trata da aplicação das perspectivas humanas para tudo, incluindo as concepções sobre a realidade; essa espontaneidade baseia-se nos sentimentos e na percepção imediata da existência humana

o   O método objetivo também é espontâneo, mas sua espontaneidade é menor e mais fraca, na medida em que ela baseia-se na realidade prática e exige a intermediação da inteligência

o   Há assim um descompasso entre os dois métodos, em que o subjetivo surge antes do objetivo e este demora mais para constituir-se

o   Além disso, considerando a lei dos três estados, a subjetividade inicial é teológica (rigorosamente, ela começa fetíchica, mas depois se torna teológica)

§  Daí a necessidade de correção do método subjetivo pelo método objetivo

§  Daí a importância histórica e filosófica das ciências

·         Importa insistir e enfatizar: a longo prazo, a importância das ciências consiste no esclarecimento e na correção do método subjetivo; em comparação com isso, as outras aplicações da ciência (satisfação da curiosidade, estabelecimento de bases para a tecnologia) são secundárias

o   À medida que o método objetivo avança sobre o conhecimento da realidade, vai descobrindo como a realidade funciona e de que maneira o ser humano atua nessa realidade; descobre também que o ser humano não é onipotente, não é onisciente; que suas vontades têm que se submeter a relações constantes e invariáveis que independem de sua vontade (é o dogma das leis naturais) etc.

o   A longa demora na constituição do método objetivo e sua igualmente demorada oposição ao método subjetivo estimularam muitos dos vícios próprios ao método objetivo:

§  seu caráter dispersivo;

§  seu extremado intelectualismo (em contraposição à afetividade e mesmo à atividade prática);

§  seu caráter analítico e detalhista (em contraposição às visões sintéticas e de conjunto);

§  as inúmeras derivas materialistas/reducionistas;

§  a busca de uma síntese objetiva

§  desenvolvimento da impressão de que a ciência é sempre e naturalmente oposta à filosofia e ao método subjetivo

o   Os inúmeros e sérios vícios próprios ao método objetivo só podem ser corrigidos por meio da aplicação do método subjetivo

§  Mas como a renovação do método subjetivo depende do desenvolvimento do método objetivo, desenvolve-se ao longo do tempo uma situação difícil, um verdadeiro impasse

§  Na medida em que o método subjetivo durante muito tempo é teológico, a oposição entre ele e o método objetivo assume a forma da oposição (metafísica) entre a “fé e razão”

§  A única solução possível para esse impasse é por meio da correção e da renovação do método subjetivo a partir de elementos do método objetivo, seguida da correção do método objetivo pelo método subjetivo: esse duplo movimento só é possível na síntese positiva

o   Quando o método objetivo alcança as ciências superiores, muitos dos principais elementos renovadores do método objetivo já estão elaborados em termos gerais – em particular o dogma das leis naturais –, sendo possível então que o método subjetivo seja diretamente reelaborado e que ele possa, afinal, afirmar seu império sobre toda a realidade humana

o   O resultado geral da correção do método subjetivo pelo método objetivo é, após a afirmação da subjetividade humana, também a afirmação do relativismo de todos os nossos conhecimentos

§  A visão de conjunto também se afirma quando o método objetivo adentra as ciências superiores

o   A partir do subjetivismo relativista, o método subjetivo torna-se plenamente apto a realizar seu império sobre o mundo (incluindo a necessária correção dos vícios próprios ao método objetivo)

-        Convém retomarmos uma afirmação que fizemos no início desta exposição: o método subjetivo é a afirmação da perspectiva humana sobre toda a realidade humana; ou seja, é um renovado antropocentrismo

o   Muitos pensadores consideram que todo antropocentrismo é sempre e necessariamente particularista e excludente, especialmente sobre os seres vivos e o meio ambiente

o   À parte o oximoro implícito em “antropocentrismo excludente”, o fato é que o antropocentrismo próprio ao método subjetivo da Religião da Humanidade não nos autoriza a considerar que o ser humano pode fazer o que quiser, em particular em termos dos seres vivos e do meio ambiente e, ao contrário, que de modo geral temos que ter uma postura de cuidado e respeito para com eles

o   O respeito positivista ao meio ambiente baseia-se tanto na concepção ampliada de Humanidade (que inclui os animais domésticos) quanto os sentimentos afetivos e o respeito para com os seres vivos em geral

§  O compartilhamento da mesma estrutura cerebral entre seres humanos, animais superiores e aves é outro motivo para o respeito positivista para com os seres vivos

§  Além disso, a partir de sua renovação com elementos do método objetivo, o método subjetivo reconhece a subordinação do ser humano ao meio ambiente e, portanto, a necessidade de cuidar das condições ecológicas, do equilíbrio dos ciclos vitais etc.

o   Considerando o método subjetivo em relação às três fases da carreira de Augusto Comte, podemos sugerir o seguinte:

§  Sistema de filosofia positiva (1830-1842): consolidação do método objetivo nas ciências inferiores, estabelecimento do método objetivo nas ciências superiores, em particular na Sociologia e em rudimentos da Moral; elaboração implícita do método subjetivo em bases positivas

§  Sistema de política positiva (1851-1854): elaboração direta do método subjetivo em bases positivas, com a elaboração da Religião da Humanidade

§  Síntese subjetiva (1856): desenvolvimento, aprofundamento e aplicação do método subjetivo ao conjunto da realidade humana

-        Como observamos no início, o que expusemos até agora sobre o método subjetivo tem um caráter mais intelectual que qualquer outra coisa; entretanto, o reconhecimento de que o ser humano é acima de tudo afetivo tem conseqüências também sobre o método subjetivo, que deve incluir, necessariamente, aspectos e concepções afetivas

o   O procedimento específico adotado por Augusto Comte para a plena inclusão da afetividade no método subjetivo é a incorporação do fetichismo inicial ao positivismo final, no que alguns pesquisadores chamaram de “neofetichismo”

o   O resultado disso é que, com isso, o método subjetivo torna-se uma forma de pensar plenamente afetiva (e, inversamente, uma forma de sentir com conseqüências intelectuais)

§  Na verdade, sempre pensamos a partir da inspiração afetiva; o que o método subjetivo faz é reconhecer, estimular, sistematizar e aplicar essa relação

o   Temos aí, por um lado, a instituição da Trindade Positiva: Grão-Meio (o Espaço), Grão-Fetiche (a Terra) e Grão-Ser (a Humanidade)

o   Por outro lado, temos também a lógica positiva: “O concurso normal dos sentimentos, das imagens e dos sinais, para inspirar-nos as concepções que convêm às nossas necessidades morais, intelectuais e físicas”[1]

o   Além disso, no final de sua vida Augusto Comte propôs que a lei dos três estados deve ser entendida como uma lei dos quatro estados

§  Essa lei dos quatro estados estabelece que o estado positivo pode e deve dividir-se em estado científico e estado positivo, em que o estado científico mantém o aspecto analítico e potencialmente absolutista da ciência e o estado positivo caracteriza-se pela síntese relativa

§  Comentário pessoal do meu amigo Hernani Gomes da Costa logo após eu terminar a exposição acima, em 3.10.2023:

§  “Você veio confirmar inteiramente uma suspeita que eu vinha desenvolvendo há muito tempo no sentido de apresentar de um modo diferente a lei dos três estados, considerando-a não mais APENAS por referência exclusiva às suas produções externas, isto é, aos respectivos SISTEMAS teológicos, metafísicos e positivo, mas tendo em vista o processo interno de sua gênese. Isso significa, em outros termos, considerar todas as combinações possíveis dos dois binômios subjetivo-objetivo e relativo-absoluto.

Feita essa nova APRESENTAÇÃO, fica bem claro em que consiste o dito ‘quarto estado’.

O estado subjetivo e absoluto corresponderia ao teologismo, incluindo mesmo aí o fetichismo, o estado objetivo e absoluto corresponderia à metafísica espiritualista, o estado objetivo e relativo, à metafísica materialista, e por fim o estado subjetivo e relativo, ao positivismo.”

26 setembro 2023

Sobre títulos e tratamentos

No dia 17 de Shakespeare de 169 (26.9.2023) fizemos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua "Oitava conferência", dedicada à filosofia das ciências superiores (Sociologia e, acima de tudo, Moral).

Em seguida, fizemos nosso sermão a respeito dos títulos e dos tratamentos pessoais.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://acesse.dev/cLT8S) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/KTD6m). O sermão começa em 46' 47".

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Sobre títulos e tratamentos pessoais 

-        Em termos de relações pessoais e cívicas, a respeito dos pronomes de tratamento e do uso de títulos honoríficos, o Positivismo aplica alguns princípios muito claros e determinados e a regra é: não os usar

o   A base para tal procedimento é a fraternidade universal e a valorização do mérito individual, em um ambiente republicano

o   Em outras palavras, trata-se de realizar a sociocracia nas relações pessoais e cívicas

-        Em algum lugar – cito de memória, pois não consegui recuperar onde li essa bela passagem –, Augusto Comte observa que todos devemos tratar-nos por “senhor” (messieur, em francês), mas subentendendo nessa expressão o título de “cidadão” (citoyen, em francês)

o   A regra é usar “senhor” e também suas variações, como “senhora”, “senhorita”, “senhores” etc.

o   Adicionalmente ao uso de “senhor”, a prática positivista também indica a profissão de cada cidadão: “operário”, “professor”, “médico”, “apóstolo” etc.

-        Essas expressões (“senhor”, “cidadão”) têm uma vinculação inequívoca com a Revolução Francesa e com o seu duplo programa (a abolição da monarquia e do Antigo Regime; a constituição de novas sociedade e sociabilidade)

o   O emprego da expressão “senhor”, no século XIX, apesar de depurada pela Revolução Francesa, possuía ainda um certo elemento feudal, no sentido de que “messieur” referia-se antes aos nobres – daí a necessidade, de qualquer maneira justificada, de reforçar que o elemento “cidadão” deve estar subentendido

o   Na Revolução Francesa e no início da República no Brasil, era muito comum empregar-se o “cidadão” para referir-se aos vários indivíduos: “cidadão Teixeira Mendes”

-        Em todo caso, o que importa notar é que o emprego de “senhor” é uma forma respeitosa e simples de tratar os demais, sem reproduzir as fórmulas habituais: “vossa/sua excelência”, “vossa/sua alteza” etc. etc.

o   Evidentemente, ainda mais que os pronomes de tratamento, a regra sociocrática rejeita o uso dos títulos nobiliárquicos e das comendas: “barão”, “duque”, “marquês” etc.; “membro da ordem X”, “comendador da ordem Y” etc.

o   Isso estabelece uma grande proximidade – quase um igualitarismo – entre as pessoas, tanto afetiva quanto sociopolítica

§  Essa proximidade era uma realidade vivida na Igreja Positivista do Brasil, tanto na época de Miguel Lemos e Teixeira Mendes quanto depois (até os anos 1990)

-        A presente regra é uma orientação geral; mesmo Augusto Comte usava títulos honoríficos ao dirigir-se a outras pessoas, como a dois de seus executores testamenteiros, o espanhol Don José Flores e o alemão Barão Constant-Rebecque

o   É claro que, mesmo usando essas fórmulas tradicionais, Augusto Comte era muito comedido nesse emprego

o   Da mesma maneira, esse emprego de fórmulas tradicionais evidencia o uso de outra regra positivista: “inflexível quanto aos princípios, conciliante de fato”

-        O uso de outros pronomes de tratamento e de títulos honoríficos serve, tanto no Brasil quanto em outros países, para adular, dar carteirada e literalmente discriminar:

o   É extremamente comum vermos documentos oficiais dirigidos a “Sua Excelência o sr. prof. dr. Joãozinho da Silva”, com uma enorme profusão de títulos e pronomes de tratamentos

o   Essa profusão é particularmente notável nas áreas jurídicas, seja em escritórios de advocacia, seja na Ordem dos Advogados do Brasil, seja no Ministério Público, seja nos muitos tribunais

o   O Decreto n. 9.758/2019 estabeleceu que, no âmbito do poder Executivo federal (Art. 1º, § 2º), só se pode usar “senhor” (Art. 2º) – não por acaso, excetuando expressamente todo o pessoal jurídico (Art. 1º, § 3º, inc. II)

-        Uma observação pessoal: muitas pessoas tratam-me por “professor”

o   Embora, evidentemente, o uso de “professor” para dirigir-se a mim seja feito com total boa vontade, boa fé, respeito e reconhecimento de (alguma) capacidade, o fato é que essa palavra é problemática por pelo menos dois motivos:

§  Por um lado, ela não corresponde à minha profissão (eu sou servidor público, ocupando o cargo de sociólogo)

§  Por outro lado, em termos de atuação positivista, não apenas não corresponde à atuação como, pior, ela diminui: eu sou um apóstolo da Humanidade e um sacerdote

o   Vejamos cada um dos âmbitos de atuação:

§  O professor é alguém que domina um assunto e expõe para seus alunos; então, todo apóstolo e sacerdote tem que ser, necessariamente, um professor; mas um professor não é, necessariamente, nem apóstolo nem sacerdote

§  O apóstolo é quem se dedica à difusão sistemática de uma doutrina; sua preocupação é intelectual mas também, e acima de tudo, moral e social; então um apóstolo é um professor, mas cuja atuação é mais ampla

§  O sacerdote (que apresenta os três graus: noviciado, vicariado, sacerdote pleno) é quem divulga uma doutrina, interpreta-a nos diversos casos e atua como educador, conselheiro, avaliador e consagrador; assim, a função sacerdotal abrange necessariamente as atuações como professor e como apóstolo, mas é superior a elas

-        Uma última observação, que faço apenas para não deixar em silêncio o tema em uma prédica dedicada a tratamentos pessoais:

o   Pessoalmente, sou contrário à chamada “linguagem neutra”, que busca abolir a golpes de marretada os gêneros na língua portuguesa e impor um suposto “gênero neutro”, por meio do emprego da terminação “e” nos casos de palavras masculinas (e exclusivamente masculinas) e/ou pelo emprego de “x”, “@”, “#”[1] etc.

o   Sou contra o emprego desse linguajar porque ele é inócuo; porque desrespeita os falantes e os leitores da língua portuguesa; porque é radicalmente contrário ao caráter histórico (e sociológico) da língua; porque é a manifestação lingüística do ultraparticularismo político e moral do identitarismo



[1] Uma curiosidade: o símbolo # em português chama-se “cerquilha”.

20 setembro 2023

Martins Fontes: "O homem se agita e a Humanidade o conduz"

O homem se agita e a Humanidade o conduz

 

No contínuo eferver das paixões, no tumulto

Trágico da existência, em qualquer circunstância,

Ninguém pode insular-se, ou ficar à distância,

Nem, egoísta, observar, conservando-se oculto.

 

Deve agitar-se, sempre, em social concordância,

Mirando o bem comum, como o quer nosso Culto;

Acima do momento e até do insulto,

Demonstrando, em parcela, o poder da constância.

 

Glória àquele que fez da sua vida um poema,

E tombou no combate, a cantar, a sentir

Que está no sacrifício a grandeza suprema.

 

Nossa benção fraterna há de ter no porvir,

Quem sofreu e se impôs, mas cumpriu este lema:

“Agir por afeição e pensar, para agir”.

 

(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 173.)

Martins Fontes: "Viver às claras"

Viver às claras

 

Declara-te, não só no íntimo, como

Publicamente. No recolhimento,

Redestilando o teu discernimento

Vence os impulsos do menor assomo.

 

Faze o que dizes. E o teu pensamento,

Que entre os modelos do critério tomo,

Amadureça, equivalente ao pomo,

Porém nasça da flor do sentimento.

 

Exposto à luz solar, visto por fora,

Se torne evidentíssimo, insuspeito,

Teu humanismo, que te condecora:

 

Ostenta o coração, livre e perfeito,

Em toda a limpidez, brilhando agora,

Como um emblema de cristal no peito.

 

(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 172.)