No trecho abaixo, Raimundo Teixeira Mendes faz um belíssimo elogio do amor e da sua importância na vida humana, seja coletiva, seja individual. Mas o principal aspecto que nos motiva a republicar esse trecho é a afirmação simples, poderosa e tristemente atualíssima de que o ódio não é manifestação do amor.
Esse trecho foi publicado no opúsculo "O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista" (Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 40-41; 2ª ed. de 2025, p. 26.)
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Tudo quanto precede evidencia que o ódio não pode ser jamais manifestação de amor. Manifestação do amor é só a dedicação, seja para quem for, pelos bons e mesmo pelos maus, conforme a máxima de Clotilde de Vaux que lembramos na nossa carta: “os maus precisam muitas vezes mais de piedade do que os bons”. O ódio é manifestação do orgulho, da vaidade, do instinto destruidor e até do instinto conservador ou nutritivo.
O amor leva-nos a subordinar a nossa
existência, à existência dos entes amados; “a só amar-nos por amor de outrem”,
como disse São Bernardo. Portanto, o que leva-nos a aplicar ao conseguimento do
bem do ente amado, os meios que a nossa inteligência nos indicar, se esses
meios estiverem a nosso alcance. Nestas condições, podemos ser forçados – ou
nos acreditarmos forçados – a recorrer aos pendores egoístas como a
qualquer outro instrumento. Mas servindo nos desses pendores egoístas para
satisfazer os votos do altruísmo, os sentimentos e os atos resultantes do
egoísmo não se transformam em manifestações do amor. O egoísmo
fica sempre egoísmo; da mesma sorte que a nutrição é nutrição sempre, a visão é
visão simples etc.
Esta observação é capital; porque ela
patenteia quanto o uso de precaver-vos contra solicitações egoístas, isto é,
contra as tentações, como se diz na linguagem teológica. De fato, o Amor
nos prescreveu sempre servir-nos dos pendores egoístas, reduzindo-os ao
estritamente indispensável e sempre prevenidos contra os sofismas a que a
energia deles arrasta a fraqueza da inteligência. Assim, no exemplo figurado,
que necessidade temos, para defender a sociedade, de odiar os desgraçados, isto
é, os que fazem mal? Em que semelhante defesa fica comprometida em aliar-se com
a piedade para com todos?
(Raimundo Teixeira Mendes, O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista. Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 40-41; 2ª ed. de 2025, p. 26.)
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