04 julho 2025

A. Comte dignificando as mulheres

As citações abaixo apresentam diversas avaliações de Augusto Comte a respeito das mulheres. Contra o senso comum acadêmico e o senso comum politicamente correto (a começar pelo das feministas), o fundador da Sociologia evidencia valorizar extremamente as mulheres, indicando chegeram elas a ser superiores aos homens.

Os trechos que reproduzimos correspondem a escritos de Augusto Comte publicados nos anos de 1848 a 1855, ou seja, após o venturoso relacionamento de Comte com Clotilde Vaux no "ano sem par" (entre 1845 e 1846) e até pouco antes de sua morte (em 1857). Eles contrastam fortemente com os escritos de Comte anteriores ao "ano sem par".

Enquanto a carreira de Comte anterior a 1845 foi entendida pelo próprio pensador em termos que hoje chamaríamos de "cientificista", os seus escritos posteriores a essa data são religiosos. Ora, é notável, para não dizer chocante ou até escandoloso, que a fase religiosa de Comte seja considerada como produto de "loucura" ou de "decadência mental". Essa avaliação degradante é ruim por si mesma; quando relacionada à opinião de Comte sobre as mulheres, tem o contraditório resultado de que, nos termos do senso comum acadêmico e feminista, a valorização das mulheres por Augusto Comte corresponde a uma decadência mental. (Evidentemente, é melhor para o senso comum acadêmico (e feminista) desprezar a fase religiosa de Augusto Comte e os seus intensos elogios às mulheres, por meio do expediente de selecionar, como em um buffet intelectual, o que julgam "correto" no pensamento do fundador da Sociologia.)

Os trechos abaixo não esgotam nem as avalições de A. Comte sobre as mulheres nem os elogios a elas; são apenas alguns trechos que recolhemos com rapidez para responder a uma odiosa provocação academicista, contra Augusto Comte, feita no Facebook. Tendo sido feita com rapidez, não consultamos nem o Sistema de política positiva, nem a correspondência trocada entre Augusto Comte e Clotilde de Vaux, nem o conjunto da correspondência de Augusto Comte; caso tivéssemos pesquisado nesses outros documentos, a quantidade de citações seria bem maior.

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Citações disponíveis no portal Auguste Comte et le Positivisme, sobre a mulher (http://confucius.chez.com/clotilde/analects/femme.xml)

- “Uma convicção familiar fará profundamente sentir a todo positivista que nossa verdadeira felicidade, tanto privada quanto pública, depende sobretudo do aperfeiçoamento moral e que este resulta principalmente da influência da mulher sobre o homem” (Sistema de política positiva, v. I, 1851, p. 259).

- “Superiores pelo amor, mais dispostas a sempre subordinar ao sentimento a inteligência e a atividade, as mulheres constituem espontaneamente os seres intermediários entre a Humanidade os homens” (Sistema de política positiva, v. II, 1852, p. 63).

- “A revolução feminina deve agora completar a revolução proletária, como esta consolida a revolução burguesa, emanada inicialmente da revolução filosófica” (Catecismo positivista, Prefácio).

 

Trechos do Discurso sobre o conjunto do Positivismo (1848), quarta parte: “Influência feminina do Positivismo” (tradução brasileira, edição de 1945)

- “Esse sexo [o feminino] é certamente superior ao nosso [masculino], quanto ao atributo mais fundamental da espécie humana, a tendência a fazer prevalecer a sociabilidade sobre a personalidade. Por esse título moral, independentemente de toda destinação material, ele merece sempre a nossa terna veneração, como o tipo mais puro e mais direto da humanidade, que nenhum emblema representará dignamente sob forma masculina” (p. 11).

- “Em virtude do conjunto desta quarta parte [do livro Discurso sobre o conjunto do Positivismo], o elemento mais sistemático do poder moderador não tem meios afinidade com o elemento mais simpático do que com o mais sinérgico. Só tal adesão feminina permite aos filósofos completarem a organização da força moral, fundada primeiro na aliança popular. Instituindo hoje o impulso regenerador que deve terminar a revolução, esse concurso decisivo inaugurará já a ordem final [...]” (p. 51).

 

Trechos do Catecismo positivista (1852; tradução brasileira, quarta edição, 1934)

- “Por mais sólidos que sejam os fundamentos lógicos e científicos da disciplina intelectual que a filosofia positiva institui, esse regime severo é demasiado antipático aos espíritos atuais para que ele possa prevalecer jamais sem o apoio irresistível das mulheres e dos proletários” (Prefácio, p. 11).

- “A MULHER – Pois que o culto íntimo se torna, assim, a primeira base de todas as nossas práticas sagradas, rogo-vos, meu pai, que me expliqueis diretamente a verdadeira natureza dele.

O SACERDOTE – Ele consiste, minha filha, na adoração cotidiana das melhores personificações que nos seja dado assinalar à Humanidade, à vista do conjunto de nossas relações privadas.

Toda a existência do Ser supremo fundando-se no amor, único laço que reúne voluntariamente os seus elementos separáveis, o sexo afetivo constitui naturalmente o representante mais perfeito, e ao mesmo tempo o principal ministro do Grande Se. A arte jamais poderá representar a Humanidade de modo condigno senão sob a forma feminina” (4ª Conferência, p. 120).

 

Trechos do Apelo aos conservadores (1855; tradução brasileira, 1898)

- “Essas aspirações são diretamente realizadas e desenvolvidas na religião positiva, na qual, a existência do Grão-Ser [a Humanidade], fundando-se sempre no amor, o sexo amante fornece a melhor personificação desse Ser. A mulher, que oferece, a todos os respeitos, o verdadeiro tipo de nossa espécie, constitui um mediador necessário entre o homem e a Humanidade, como o sacerdócio se interpõe entre os dois sexos” (p. 54).

- “Por seu turno, as mulheres apreciarão a moralidade da única fé capaz de identificar a felicidade e o dever, colocando aquele e esta no exercício contínuo dos instintos simpáticos, mediante o impulso conexo da vida privada e da vida pública. Sem renunciarem às convicções provenientes de sua educação e de seus hábitos, elas reconhecerão que a imortalidade subjetiva, fundada sobre o altruísmo, é superior a uma ressurreição objetiva em que prevalece o egoísmo” (p. 121).

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