Este blogue é dedicado a apresentar e a discutir temas de Filosofia Social e Positivismo, o que inclui Sociologia e Política. Bem-vindo e boas leituras; aguardo seus comentários! Meu lattes: http://lattes.cnpq.br/7429958414421167. Pode-se reproduzir livremente as postagens, desde que citada a fonte.
30 julho 2024
Moysés Westphalen: "Fracassada política indigenista do Brasil"
"Positivistas exaltam nome do Patriarca da Independência"
09 julho 2024
Sobre os manuais de autoajuda
No dia 23 de Carlos Magno de 170 (9.7.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua duodécima conferência, dedicada ao exame da evolução histórica da Humanidade, em particular do fetichismo e do politeísmo.
No sermão apresentamos algumas considerações filosóficas, morais e sociológicas sobre os chamados "manuais de autoajuda".
Antes do sermão insistimos que na semana passada o nosso canal Positivismo, no Youtube, foi censurado. (Ver aqui e aqui.)
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/sxcYl) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/05OYN).
Os horários de cada parte são os seguintes:
0 min 0 s: início
14 min 40 s: indicação das efemérides
18 min 10 s: aviso de férias
19 min 41 s: notícia sobre a censura sofrida
30 min 21 s: leitura comentada do Catecismo Positivista
1 h 05 min 57 s: início do sermão
2h 15 min 28 s: exortações finais
2 h 23 min 10 s: término
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas (e atualizadas) abaixo.
* * *
Sobre os manuais de autoajuda
(Prédica de 23 de Carlos Magno de 170/9.7.2024)
1. Exortações e comentários iniciais:
1.1. Exortações:
1.1.1. Sejamos altruístas!
1.1.2. Façamos orações!
1.1.3. Façamos trocas:
1.1.3.1. Idéias, sentimentos, experiências: conversemos!
1.1.3.2. Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)
1.2. Efemérides:
1.2.1. 28 de Carlos Magno: 14 de julho, início da grande crise ocidental (Revolução Francesa)
1.3. Aviso:
férias entre 24 de Carlos Magno (10 de julho) e 22 de Dante (5 de agosto)
2. Censura do canal Positivismo (Youtube.com/ThePositivism), pelo Youtube
2.1. Ocorrida nos dias 2 e 3 de julho, em um total de 18 vídeos e proibindo também a realização de eventos ao vivo
2.2. Aparentemente, foi uma censura automática, realizada pela suposta “inteligência artificial”
2.2.1. Alegadamente, porque os nossos vídeos infringiram os “parâmetros da comunidade”
2.2.2. Os parâmetros alegados para censura são: estímulo à violência, estímulo a crimes, instruções para violência e para crimes, pornografia infantil, estímulo à violência autoinflingida: evidentemente, nenhum desses parâmetros aplica-se ao nosso canal
2.2.3. Mas como se trata de um processo obscuro, em que não se sabe como começa nem como é processado, infelizmente não se pode descartar censura realizada por adversários (retrógrados e/ou revolucionários)
3. Leitura comentada do Catecismo positivista
3.1. “Conclusão” do livro, duodécima conferência: evolução histórica da religião, em particular do fetichismo e do politeísmo
4. Sermão da semana: sobre os manuais de autoajuda
4.1. Esse tema foi sugerido por diversos motivos, que aparentemente são díspares mas que, bem vistas as coisas, estão estreitamente relacionados:
4.1.1. Por um lado, os chamados “manuais de autoajuda” são uma forma de literatura que há algumas (duas ou três) décadas faz muito sucesso e que, ao fazer sucesso, indica uma necessidade coletiva e individual – o que exige considerações da parte da Religião da Humanidade
4.1.2. Por outro lado, muitos livros sugeridos para leitura pelo Positivismo já foram considerados como sendo de “autoajuda” – o que, evidentemente, também deve ser motivo de reflexão
4.2. O que são os chamados “manuais de autoajuda”?
4.2.1. São livros escritos basicamente por estadunidenses (ou por autores influenciados pela mentalidade própria aos Estados Unidos) que buscam oferecer orientação para a vida dos leitores
4.2.2. Como o rótulo geral sugere, é uma literatura que pretende fornecer orientação individual, em que os leitores não precisam interagir com ninguém e podem atuar com autonomia; além disso, essa orientação individual é dada na forma de conselhos, regras, procedimentos etc.
4.2.3. Esses conselhos são para as mais variadas áreas: sentimentos e emoções, carreiras e negócios, condução de relacionamentos e criação de filhos, administração financeira etc.
4.3. É importante indicar a origem estadunidense devido a alguns traços gerais bastante salientes
4.3.1. Esses traços não estão sempre presentes, mas são muito comuns
4.3.2. Esses traços são pelo menos três:
4.3.2.1. Por um lado, o já indicado elemento individualista da literatura: os conselhos dados são não somente para indivíduos consumirem, mas o viés adotado é especificamente individualista, no sentido de que se busca a satisfação estritamente individual, egoísta, apesar e mesmo contra a sociedade e a sociabilidade
4.3.2.1.1. A felicidade individual é um objetivo supremo e em desconsideração com o bem comum
4.3.2.1.2. Da mesma forma, a noção de self-made man com frequência é subjacente (ou até explícita)
4.3.2.1.3. Nesse sentido, aliás, é uma pequena contradição o nome geral dado a essa literatura – “manuais de autoajuda” –, na medida em que a própria noção de manual, que são livros escritos por outros para auxiliar coletivamente, é contrária à idéia de individualismo egoísta
4.3.2.2. Por outro lado, o aspecto comercial dos conselhos dados: os conselhos dados são vendidos
4.3.2.2.1. O caráter comercial disso é tão intenso que, com freqüência, considera-se que quanto mais caros, melhores seriam tais conselhos
4.3.2.3. Em terceiro lugar, seja como parte das técnicas de venda, seja como integrante da mentalidade teológica geral da cultura estadunidense, há com frequência também um forte elemento miraculoso nos conselhos dados: são sempre conselhos “revolucionários”, com efeitos milagrosos ou mágicos
4.4. Como indicamos antes, muitos dos livros recomendados por Augusto Comte para leitura apresentam um aspecto que, por vezes, são entendidos como sendo de “autoajuda”
4.4.1. Em que consiste essa “autoajuda”? Consiste nas sugestões, nas recomendações, nos conselhos práticos dados pelo autor para a condução cotidiana da vida do leitor
4.4.1.1. Quais livros da Biblioteca Positivista apresentam esse aspecto? Podemos indicar pelo menos os seguintes:
4.4.1.1.1. A arte de amar, de Ovídio
4.4.1.1.2. A imitação de Cristo, de Tomás de Kempis
4.4.1.1.3. Autobiografia, de Benjamin Franklin
4.4.1.1.4. Máximas e reflexões, de Vauvenargues
4.4.1.1.5. Da sobriedade, de Cornaro
4.4.1.1.6. A arte de prolongar a vida, de Hufeland
4.4.1.2. A recomendação de livros assim e a consideração de que eles seriam livros de autoajuda sugerem, ou exigem, reflexões tanto sobre esses livros quanto sobre a literatura de autoajuda em geral
4.4.2. O objetivo da inclusão desses livros na Biblioteca Positivista é bastante claro: trata-se de oferecer conselhos e orientações práticos para que os indivíduos possam conduzir suas vidas e que possam lidar com questões cotidianas; em outras palavras, trata-se de ser útil, em um sentido bem prosaico
4.4.3. Em outras palavras, essas recomendações são (1) feitas pelo sacerdócio positivo (2) para estimular e auxiliar a reflexão individual
4.4.4. Vale a pena entender essa “utilidade individual”:
4.4.4.1. Por um lado, isso evidencia que a Religião da Humanidade reconhece e busca satisfazer também as necessidades individuais
4.4.4.2. Por outro lado, essa “utilidade” não esgota o conceito de utilidade para o Positivismo: como sabemos, ela refere-se às necessidades humanas em sentido amplo, começando pelas mais gerais (morais e coletivas), passando pelas intelectuais e chegando às mais específicas (materiais e individuais)
4.4.4.3. Além disso, esse “individual” não é entendido como isolado ou contrário à noção de coletividade; aliás, bem ao contrário, trata-se de entender que, se a felicidade individual é legítima, sua satisfação só resultará em harmonia coletiva (e individual!) se for entendida como complementar ao bem-estar coletivo – e, como sabemos, essa complementaridade justamente só ocorre quando a felicidade individual é orientada para o bem-estar coletivo, ou seja, quando é orientada pelo altruísmo
4.4.5. Assim, embora até se possa considerar que alguns livros recomendados pelo Positivismo sejam de “autoajuda”, tais livros não têm em si mesmos os aspectos individualistas, egoístas, antissociais próprios à atual literatura de autoajuda, nem são recomendados com esse espírito
4.4.5.1. Aliás, também não recomendamos livros a partir de um espírito comercialista, nem espetacular nem miraculoso
4.5. Convém entendermos sociologicamente o surgimento dos livros de autoajuda, isto é, da literatura que atualmente é assim denominada e que se apresenta dessa forma
4.5.1. Antes de mais nada, temos que ter em mente que todo sistema filosófico, moral, religioso precisa de livros de divulgação e vulgarização, não somente para exposição popular e simplificada da doutrina, mas também para aplicação prática das suas idéias
4.5.1.1. Assim, não somente é correta, mas, mais do que isso, é necessária a elaboração de livros, documentos e manuais práticos para a aplicação cotidiana de princípios
4.5.1.2. Dessa forma, bem vistas as coisas, toda doutrina tem livros desse tipo, desde sempre: pensemos nos relatos mais antigos, seja de Direito, como o Código de Hamurábi, seja de... Matemática, como as tabuletas e os papiros egípcios, babilônicos, hindus etc.; ou Como tirar proveito dos seus inimigos e Como distinguir um bajulador de um amigo, ambos de Plutarco; ou, então, na chamada literatura “espelho do príncipe”, que eram conselhos dados pelos sacerdotes católicos para orientação prática dos governantes; ou então, ainda no âmbito do catolicismo, livros como os Exercícios espirituais, de Santo Inácio, ou A arte de aproveitar-se das próprias faltas, segundo São Francisco de Sales, de José Tissot
4.5.1.3. Talvez seja um sinal muito ruim considerarmos que esses livros de aplicação prática individual sejam atualmente considerados de autoajuda, devido ao intelectualismo e ao hermetismo que se considera que devem ter os “verdadeiros” livros filosóficos e morais
4.5.2. Indicamos antes que a atual literatura de autoajuda é de origem estadunidense e que, em virtude disso, ela apresenta pelo menos três características muito marcantes, o individualismo antissocial do self-made man, o comercialismo e o caráter espetacular
4.5.2.1. Todavia, esses três aspectos, embora sejam de fato caracteristicamente estadunidenses, é importante indicar que eles são contemporâneos; assim, eles são característicos do que se chama própria e especificamente de “literatura de autoajuda”
4.5.2.2. Os Estados Unidos têm uma tradição de obras de orientação pessoal, como a já clássica Autobiografia de Benjamin Franklin – que, aliás, como indicamos, também está na Biblioteca Positivista – e os livros de Orison Swett Marden
4.5.2.2.1. No caso do livro de Franklin, é notável que ele tenha sido escrito sem referências teológicas, o que indica a emancipação do antigo embaixador dos Estados Unidos
4.5.2.2.2. Já os livros de Orison Marden combinam bom senso comum e forte teologismo
4.5.3. Como indicamos há pouco, os livros de regras e conselhos pessoais, então, apresentam desde sempre o caráter de complementos de atuação do sacerdócio, no sentido claro de oferecer sugestões práticas para o dia-a-dia das pessoas
4.5.4. A atual literatura de autoajuda, todavia, inverte e rejeita esse caráter de complementaridade com o sacerdócio: claramente esses livros desconsideram o fato de que são, e devem ser, apenas apoios, apenas secundários
4.5.4.1. A separação dos livros de autoajuda em relação ao sacerdócio tem que ser entendida em relação com a decadência (necessária) do sacerdócio teológico, por um lado, e com a constituição do que se pode chamar de “sacerdócio cientificista/metafísico” (que, por sua vez, ocorre na forma das universidades, por um lado, e, por outro lado, da psiquiatria, das psicoterapias e, ainda pior, das psicosseitas (como no caso exemplar da psicanálise))
4.5.4.2. Embora os antigos sacerdócios tivessem o grave defeito de basearem-se na teologia, suas recomendações eram gratuitas e abertas a todos e as falhas decorrentes da teologia eram corrigidas pelo bom senso prático do sacerdócio
4.5.4.3. As universidades ambigüamente rejeitam o antigo sacerdócio, mas, ao mesmo tempo, rejeitam e impedem a constituição de um novo sacerdócio positivo
4.5.4.3.1. Essa rejeição/impedimento ocorre na forma da rejeição de afirmarem-se como sacerdócio, na forma da cultura especializante, na forma do absolutismo cientificista
4.5.4.4. Em relação à psiquiatria: ela não é metafísica, pelo menos não em princípio; sendo um ramo da Medicina, ela tem um forte aspecto científico; entretanto, falta-lhe com freqüência a consideração e o respeito ao aspecto humano da prática, seja em termos de respeito à subjetividade, seja em termos de respeito à dignidade humana
4.5.4.4.1. Esse é um problema geral da Medicina contemporânea – aspecto que, aliás, Augusto Comte criticava e lamentava
4.5.4.5. Da mesma forma, as psicoterapias, por si sós, não são necessariamente metafísicas, embora um simples exame das teorias psicoterápicas evidenciem com rapidez e clareza que muitas – muitas! – delas são extremamente metafísicas
4.5.4.5.1. Muitas psicoterapias, apesar de suas concepções metafísicas, apresentam práticas concretamente positivas, o que acaba tornando-as mais aceitáveis (ou menos criticáveis)
4.5.4.5.2. Nas últimas décadas tem-se estabelecido um consenso no sentido de que a psiquiatria e as psicoterapias devem andar de mãos dadas, ou seja, que a parte farmacológica e a parte “empática” são complementares
4.5.4.6. Já as psicosseitas constituem-se em grupos esotéricos e exotéricos, ou seja, são grupos restritos aos iniciados, com procedimentos demorados, com resultados totalmente incertos e, ainda pior, muitas vezes conscientemente caros
4.5.5. Um aspecto muito saliente na atuação do que chamamos aqui de sacerdócio metafísico – à parte o fato de que muitos deles são, efetivamente, metafísicos – é que só acorre a ele quem está doente ou com problemas
4.5.5.1. Importa reforçar: o antigo sacerdócio tinha uma atuação universal e gratuita; ele foi substituído por grupos profissionais que cobram por suas atuações mas que restringem essa atuação a quem enfrenta problemas (e problemas “clínicos”)
4.5.6. Ora, como deveria ser evidente, a atuação do sacerdócio não pode limitar-se a quem tem problemas
4.5.6.1. Inversamente, é necessário que médicos e psicoterapeutas reconheçam adequadamente sua integração ao sacerdócio (e que, a partir daí, orientem suas condutas profissionais)
4.5.6.2. Um sinal bastante claro dessa rejeição (ou, talvez, apenas incompreensão) do caráter sacerdotal dos “profissionais da mente” é o fato de que muitos deles criticam os manuais de autoajuda (1) pensando apenas em quem tem problemas e (2) considerando que apenas os próprios “profissionais da mente” são capazes de oferecer orientação
4.5.6.2.1. Dito isso, convém lembrarmos que há pessoas que realmente precisam de auxílio profissional
4.5.6.3. Por outro lado, bem vistas as coisas, temos que reconhecer que o nosso comentário acima se defronta com uma ambigüidade: por um lado, muitos “profissionais da mente” exigem de fato um exclusivismo daninho; mas por outro lado, é necessário insistir muito que os livros de autoajuda são apenas auxiliares do sacerdócio
4.5.6.3.1. Importa insistir: a atual literatura de autoajuda – ao basear-se no comercialismo, no individualismo extremo, em garantias mágicas de solução – nega o caráter social e histórico do ser humano e rejeita a atuação do sacerdócio
4.5.7. Não somente a atuação do sacerdócio não pode limitar-se a quem tem problemas como há muitas pessoas – na verdade, bem vistas as coisas, a maior parte das pessoas e/ou na maior parte de suas vidas – que buscam orientação a partir da reflexão pessoal, da leitura filosófica e/ou literária
4.5.7.1. Além disso, há outras tantas pessoas que não desejam ter que ir a um médico ou a um terapeuta – ou, então, que não têm dinheiro e/ou tempo para isso
4.5.8. O resultado geral do que comentamos até agora é o seguinte: trata-se de uma desarticulação geral e necessária do antigo sacerdócio, sem que ele tenha sido adequadamente substituído pelo novo; nesse sentido, a passagem da teologia para a ciência limitou-se ao aspecto destruidor da metafísica e até da ciência, sem que a atual constituição dos “profissionais da mente” seja realmente adequada às necessidades sociais
4.5.9. Os livros de autoajuda devem ser entendidos, então, como o resultado da degradação extrema do antigo sacerdócio sem que o sacerdócio positivo tenha tido ainda condições de estabelecer-se amplamente
4.5.9.1. É claro que as características mais negativas corretamente criticadas nos livros de autoajuda – comercialismo, individualismo antissocial e até um mecanicismo mágico – integram plenamente essa decadência do antigo sacerdócio sem substituição pelo novo
4.6.
Em
suma:
4.6.1.
Os
livros de autoajuda correspondem a uma versão contemporânea de uma literatura
historicamente muito comum, necessária e assessória da atuação sacerdotal
4.6.1.1.
Essa
literatura consiste em aplicações práticas e em exemplos concretos de regras
gerais, servindo para orientar a conduta cotidiana dos indivíduos
4.6.1.2.
Devemos
repetir o óbvio: todos nós precisamos de orientações desse tipo
4.6.1.3.
É
devido a essa necessidade que os livros de autoajuda têm tanto sucesso
4.6.2.
Os
livros de autoajuda – ao basearem-se no comercialismo, no individualismo
extremo, em promessas mágicas de solução – negam o caráter social e histórico
do ser humano e rejeitam a atuação do sacerdócio positivo: esses defeitos, por
si sós, já bastam para vermos com maus olhos essa literatura
4.6.3. Além disso, o sucesso contemporâneo dos livros de autoajuda – incluindo aí os seus aspectos negativos, que infelizmente são parte importante de seu atrativo – corresponde à degradação extrema do sacerdócio teológico, sem que o sacerdócio positivo tenha ainda conseguido estabelecer-se plenamente (e, claro, por definição, sem que o sacerdócio cientificista/metafísico tenha condições de realizar essa tarefa)
04 julho 2024
O canal Positivismo foi - mais uma vez - censurado!
O CANAL POSITIVISMO FOI - MAIS UMA VEZ - CENSURADO!
03 julho 2024
Trechos da correspondência Comte-Clotilde
Extrato da correspondência Comte-Clotilde
(Prédica de 16.Carlos Magno.170/2.7.2024)
1. Exortações
1.1. Sejamos
altruístas!
1.1.1. “30 atos
de bondade” (Sociedade do Bem, Portugal – https://sociedadedobem.org/2016/02/25/30-atos-de-bondade/)
1.2. Façamos
orações!
1.3. Façamos
trocas:
1.3.1. Pensamentos,
idéias, sentimentos: conversemos!
1.3.2. Façam o
Pix da Positividade!
2. Efemérides
2.1. Dia
19 de Carlos Magno (5.7): transformação de Richard Congreve (1899)
2.2. Dia
4 de Carlos Magno (21.6), dia de Santo Henrique: nascimento de Kasparas Leona,
filho da nossa amiga, a antropóloga Vaida Norvilaite
3. Indicação
de livro:
3.1. Gestos de bondade, de Maladee McCarthy
4. Explicação
sobre o sinal positivista
4.1. Amor
(sentimentos): bondade
4.2. Ordem
(inteligência): dedução
4.3. Progresso
(atividade prática): perseverança
5. Orações
transcritas:
5.1. Publicação
no blogue Filosofia Social e Positivismo
(https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/)
5.2. A
partir do opúsculo Comte e Clotilde
(organizado por Teixeira Mendes, em 1903, originalmente em francês)
5.3. Orações:
5.3.1. Orações cotidianas de Augusto Comte
5.3.2. Orações para as refeições (Teixeira Mendes)
5.3.3. Hino ao amor (Teixeira Mendes)
6. Leitura
comentada do Catecismo positivista
7. Extrato
da correspondência entre Augusto Comte e Clotilde de Vaux
7.1. Os
trechos reproduzidos abaixo foram extraídos do opúsculo Comte e Clotilde; como comentado acima, esse livrinho foi organizado
por Teixeira Mendes em 1903 (originalmente em francês e, em 1936, traduzido
para o português)
7.2. A
correspondência completa possui 181 cartas, trocadas entre 30.4.1845 e
18.3.1846 e publicadas no Testamento
de Augusto Comte
7.2.1. O
testamento de nosso mestre é de 22 de Bichat de 67 (24.12.1855)
7.2.2. Também
publicadas no Testamento de nosso
mestre estão as suas orações cotidianas (bem como os acréscimos, as peças
justificativas, as confissões anuais e a adição secreta)
7.2.3. Também no Testamento lemos como, segundo as
próprias palavras de nosso mestre, como é difícil passar da mudança de idéias
(do absoluto para o relativo, da criticidade metafísica para as construções
positivas) para a mudança de sentimentos (da violência, da beligerância, do
egoísmo e do individualismo para a simpatia, para o amor, para a sociabilidade)
e daí para a mudança de comportamentos (do reacionarismo e do revolucionarismo
para a construtividade)
7.3. Os
trechos abaixo compõem as orações cotidianas de Augusto Comte, ou seja, foram
selecionados por nosso mestre para suas efusões matinais
8. Essa
correspondência é belíssima e exemplar
8.1. Ela
evidencia todas as qualidades morais e intelectuais que Augusto Comte atribuía
a Clotilde: sensibilidade, refinamento, entendimento do ser humano
8.2. Ela
evidencia a superioridade moral de Clotilde, que aliava a ternura à pureza
8.3. Ela
indica o quanto Clotilde era u’a moça sofrida na vida e oprimida pela família
8.4. Ela
indica o profundo respeito de Augusto Comte para com Clotilde
8.4.1. Aliás,
mais do que isso: essa correspondência indica que os sentimentos de amor entre
ambos eram verdadeiros, recíprocos e profundos
8.5. Ela
evidencia o quanto a superioridade moral afirmada e proposta pela Religião da
Humanidade não é uma idealização ingênua nem uma pieguice tola
8.6. Em
contraste com o item anterior, ela evidencia o quanto a nossa moralidade
contemporânea, em particular a afirmada pelo feminismo, é vulgar, banal e
grosseira
8.6.1. Nesse
sentido, essa correspondência indica o quanto atualmente se considera que as
relações entre os sexos limitam-se ao sexo e, de modo degradantemente pior, à
violência entre os sexos
9. Vejamos,
então, os trechos selecionados por nosso mestre para suas efusões.
Vim agradecer-vos, Senhor, o
vosso encantador mimo. (A sua visita do lunedia[1] 2
de junho de 1845, com a sua mãe e o seu irmão.)
Iniciação fundamental
Junho – Estima. Deixai-me livremente trabalhar no vosso
aperfeiçoamento, pois que é a minha principal maneira de ocupar-me com a vossa
felicidade, que me será sempre cara, sejam quais forem o grau e a forma pelos
quais possa concorrer para ela. (A minha carta de 6 de junho.)
É indigno dos grandes corações
derramar as perturbações que sentem. (A sua Lúcia,
publicada a 20 de junho.)
Julho – Confiança. O meu coração vê finalmente em vós, na realidade
presente, uma perfeita amiga, e, nos meus sonhos de futuro, uma santa esposa.
(A minha carta de 3 de julho.)
Eu vos estendo a mão bem
sinceramente, eu vos sou ternamente devotada, e terei sempre prazer em
proporcionar-vos, nas nossas relações, toda a felicidade de que posso dispor:
vossa de coração. (A sua carta de 4 de julho.)
Agosto – Afeição. O meu surto direto do amor universal se consuma
sob a estimulação contínua do nosso puro apego. (A minha carta de 5 de agosto.)
Adeus, caro e digno amigo; vedes
que eu vos aprecio e creio em vós: contai com o coração de Clotilde de Vaux. (A
sua carta de 11 de agosto.)
A cada suspensão do meu trabalho,
a vossa cara imagem volta docemente a apoderar-se de mim: longe de prejudicar
depois a minha meditação, ela a sustenta e a anima. (A minha carta de 26 de
agosto.)
Crise decisiva
Setembro. Se credes poder aceitar todas as responsabilidades que se
prendem à vida de família, dizei-mo, e decidirei da minha sorte... Eu vos
confio o meu resto de vida. (A sua carta de 5 de setembro.)
Eis o meu plano de vida: a
afeição e o pensamento. (A sua carta de 6 de setembro.)
Sinto-me ainda desgraçadamente
impotente para o que ultrapassa os limites da afeição. Ninguém apreciar-vos-á
como eu o faço; e o que não me inspirais, nenhum homem mais mo inspira; porém o
passado faz-me ainda mal, e foi um erro meu querer arrostá-lo. Sede generoso a
todos os respeitos, como o sois a certos. Deixai-me o tempo e o trabalho,
expor-nos-íamos agora a cruéis pesares. (A sua carta de 8 de setembro.)
Desde a Santa Clotilde,
verdadeiro início das nossas relações seguidas, nenhum pensamento carnal tinha
até então, quer na vossa presença, quer mesmo na vossa ausência, jamais
perturbado a minha íntima adoração. Retomo pois, sem esforço, os meus caros
hábitos de ternura cavalheiresca. (A minha carta de 10 de setembro.)
Sinto quanto vos amo de coração
vendo-vos sofrer. (A sua carta de 13 de setembro.)
Compreendi, melhor do que
ninguém, a fraqueza da nossa natureza, quando ela não é dirigida para um alvo
elevado, que seja inacessível às paixões... Restam-me aos menos fontes de
ensinamento para os outros; é ainda um interesse real na minha vida; quero
explorá-lo... Contai com tudo que eu tenho de bom e de afetuoso no coração. (A
sua carta de 14 de setembro.)
Envio-vos o dom do coração com
simples atavios que lhe deu a natureza; o pensamento é o único artista capaz de
ornar semelhantes nadas. O meu proveito próprio está em ser-vos agradável, e
compenetrar-me da sinceridade do vosso apego, ao qual ligo todo o apreço que
merece. (A sua carta de 25 de setembro.)
Não encontrei ainda senão em vós
a eqüidade unida a amplas exigências do coração... Por que não vos conheci mais
cedo? (A sua carta de Garges[2]!)
Amemo-nos profundamente, cada um
à sua maneira, e poderemos ainda ser verdadeiramente felizes um pelo outro. (A
minha carta de 2 de outubro.)
Transição Final
Outubro – Expansão total. Caminhemos apoiados um ao outro, meu caro
filósofo, deixemos que o tempo nos guie e nos forme. (A sua carta de 2 de
outubro.)
As vossas cartas causam-me sempre
prazer e sempre me fazem bem... Adeus, caro homem, amai-me e ficai certo que
vo-lo retribuo bem. (A sua carta de 18 de outubro.)
A nossa espécie, mais do que as
outras, precisa de deveres para fazer sentimentos. (A sua carta de 25 de
outubro.)
Eis aí o que eu compreendo melhor
do XIX século: é a tendência universal dos seres para a razão em toda a sua
simplicidade. Vendo as mais modestas inteligências participarem naturalmente e
sem esforço de todas as luzes obtidas, sinto cada dia mais que a ciência não
carece senão residir no ápice das sociedades para enriquecê-las na sua massa
inteira: e, palavra, que me consolo de não ter sido iniciada nas maravilhas do
quadrado de hipotenusa. (A sua carta de 30 de outubro.)
Novembro – Abandono sem reserva. Se fosse preciso que não me
amásseis senão um quarto de hora por dia para o vosso repouso, eu desejaria, de
todo o meu coração, que isso se desse desde amanhã. (A sua carta de 2 de
novembro.)
Aqueço-me e visto-me como mulher
delicada, graças a vós. (A sua carta de 8 de novembro.)
A vós, em troca, o pensamento tão
doce de haverdes reanimado um ente aniquilado, e vertido o bálsamo em um
coração ulcerado. (A sua carta de 9 de novembro!)
Oxalá estivesse eu certa de
tornar-vos feliz por vínculos mais íntimos! Eu não hesitaria em formá-los. (A
sua carta de 18 de novembro.)
Sois o melhor dos homens; tendes
sido para mim um amigo incomparável; e sinto-me tão honrada como feliz pelo
vosso apego. (A sua carta de 23 de novembro.)
É, pois, unicamente a vós, minha
Clotilde, que deverei não mais deixar a vida sem ter dignamente experimentado
as melhores emoções da natureza humana. (A minha carta de 24 de novembro.)
Dezembro – Familiaridade contínua. Congracemo-nos habitualmente,
minha Lúcia, em torno dessas sublimes concepções, que ligam diretamente a nossa
afeição mútua ao conjunto da evolução humana. (A minha carta de 9 de dezembro.)
Contai com o apego mais terno que
possa experimentar... Tenho por vós hoje mais do que o coração de uma
parenta... É preciso que não esteja em meu poder o tornar-vos feliz para não o
fazer... Seja qual for a nossa sorte, espero que só a morte quebrará o laço
fundado na minha afeição, a minha estima, e o meu respeito. (A sua carta de 10
de dezembro.)
Esse incomparável ano fez surgir
em mim o único amor, a um tempo puro e profundo, que comportava o meu destino.
A excelência do ente adorado permite à minha madureza, mais bem tratada do que
a minha juventude, de entrever em toda a sua plenitude, a verdadeira felicidade
humana. (A minha carta de 26 de dezembro.)
Estado Normal
Janeiro – Intimidade completa. Tendes o coração de um cavalheiro,
meu excelente filósofo. (A sua carta de 8 de janeiro.)
Todos nós temos ainda um pé no ar
sobre o limiar da verdade... Só posso haurir a minha moral no meu coração, e
edificá-la sobre o puro sentimento. É esse, de resto, o quinhão de uma mulher,
e basta. Ela ganha em caminhar modestamente atrás do préstito dos renovadores,
embora tenha de perder assim um pouco do seu elance... Se eu fosse homem,
teríeis em mim um discípulo entusiasta: ofereço-vos, como indenização, uma
sincera admiradora. (A sua carta de 15 de janeiro.)
O vosso nobre ascendente ligou
profundamente o surto habitual dos meus mais altos pensamentos aos dos meus
mais ternos sentimentos. Não fiqueis pois surpresa que eu queira secretamente
inaugurar este décimo sexto serviço anual por uma lembrança especial da minha
bem-amada. Esta curta efusão deve me preparar melhor para o ministério que vou
desempenhar, fazendo espontaneamente prevalecer a disposição d’alma mais
favorável ao meu ofício filosófico. (A minha carta de 25 de janeiro.)
Fevereiro – Perfeita identidade. O vosso coração é o santuário onde
deposito tudo o que constitui a minha vida: os pequenos como os grandes
acontecimentos, tudo dela vos é conhecido; e sabeis que ainda não fiz mal senão
a mim. (A sua carta de 12 de fevereiro.)
Nas minhas horas de sofrimento, a
vossa imagem paira sempre diante de mim. (A sua carta de 23 de fevereiro.)
As almas ardentes e escrupulosas
encontram muitos Gólgotas neste mundo; mas, pelo menos, elas escapam amiúde aos
pesares como aos remorsos. (A sua carta de 24 de fevereiro.)
Março – União definitiva. Os maus precisam muitas vezes mais de
piedade do que os bons. (A sua carta de 2 de março.)
Tenho muitas coisas amigáveis a
dizer-vos. É força cessar por hoje. Recebei a eterna segurança da minha
ternura. (Fim da sua 86ª e última carta, de 8 de março de 1846.)
Para tornar-me um perfeito
filósofo, faltava-me sobretudo uma paixão, ao mesmo tempo profunda e pura, que
me fizesse assaz apreciar a parte afetiva da natureza humana. (A minha carta de
11 de março.)
No meio dos mais graves tormentos
que possam jamais resultar da afeição, não cessei de sentir que o essencial
para a felicidade é sempre ter o coração dignamente cheio. (A minha 95ª e
última carta, de 18 e 20 de março de 1846.)
Vós me haveis de dar um cacho dos
vossos cabelos. (A sua efusão verbal de 20 de março.)
Hoje me fizestes profundamente
sentir o valor da vossa nobre pureza, que nos permitiu, perante a vossa mãe,
conservar ternamente a vossa mão nas minhas, enquanto em contemplava a angélica
fisionomia cuja suave beleza torna-se mais tocante pela sua alteração passageira.
(Fim da minha última carta.)
Não tenho beleza alguma, tenho
apenas um pouco de expressão. (A sua efusão verbal de 22 de março.)
Abril! – Eu quisera bem ir dormir em vossa casa. (O seu voto de 1º
de abril diante de sua mãe.)
Fostes desconhecida, mas eu vos
farei apreciar... Não, jamais nenhuma outra... (A minha efusão verbal de 2 de
abril, perante a sua família, depois da sua extrema unção.)
Não terei tido uma companheira
por muito tempo! (Durante a nossa única noite, de 2 para 3 de abril de 1846!)
Senhora, vós amais a vossa filha
como um objeto de dominação, e não como um objeto de afeição. (A minha
exprobração à sua mãe, perante ela, a 4 de abril.)
Comte, lembra-te que eu sofro,
sem o haver merecido!... (As suas últimas palavras distintas, nitidamente repetidas
cinco vezes seguidas, no domingo à tarde 5 de abril de 1846, por volta das 3
horas da tarde, uma meia hora antes de expirar!!!)
Lembrança preciosa da minha
mocidade, companheiro e guia das horas santas que soaram para mim, evoca sempre
ao meu coração as cerimônias grandes e suaves da capela do convento!... (A sua
inscrição de 1837 na Journée du chrétien
que ela me deu, no domingo 29 de março de 1846, como o seu livro usual no
convento da Legião de Honra, rua Barbette.)[3]
[1] A fim de estabelecer
um paralelismo mais marcado do português com as demais línguas neolatinas no
que se refere aos nomes dos dias da semana, Miguel Lemos propôs a substituição
do “segunda-feira”, “terça-feira” etc. por versões aportuguesadas de lundi, mardi etc. (do francês), de lunes,
martes etc. (do espanhol) etc., da
seguinte maneira:
Segunda-feira: lunedia (dia da Lua)
Terça-feira: martedia (dia de Marte)
Quarta-feira: mercuridia (dia de Mercúrio)
Quinta-feira: venerdia (dia de Vênus)
Sexta-feira:: jovedia (dia de Júpiter).
[2] No final de setembro de 1845 Clotilde fez uma pequena viagem à
vila de Garges-lès-Gonesse (antes de 1941, chamada de Garges-en-France), que
fica nos arredores de Paris (uns 35 km ao norte da capital).
[3] Nota de Raimundo Teixeira Mendes: “O nosso Mestre lia algumas
páginas desse livrinho todos os domingos à tarde, desde a morte de Clotilde.
(Vide Volume Sagrado, Testamento, p. 18.)”