06 janeiro 2013

Comte pela integração das ciências humanas e naturais, contra o materialismo


Afirma-se amiúde que o “positivismo” (e, por extensão, Augusto Comte) teria reduzido a Sociologia (e, de modo mais amplo, as Ciências Humanas) às Ciências Naturais; o nome inicialmente dado à Sociologia – “Física Social” – seria uma prova cabal disso.

Nada mais errado. Embora essa redução sistemática de uma ciência à outra seja observada com todas as letras em um dos principais autores do chamado Círculo de Viena – Rudolf Carnap disse-o claramente no artigo “Fundamentos lógicos da unidade da ciência” (http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/roman_0048-8593_1978_num_8_21_5208) –, Augusto Comte repudiava com todas as forças tal postura, chamando-a de “materialista” e “usurpadora da dignidade de cada ciência”.

Para Comte, cada ciência tem seu objeto específico. Sua escala enciclopédica indica que, da Matemática à Moral, há um crescimento de complexidade e uma diminuição de simplicidade e de generalidade; ou seja: na escala que compreende, nesta ordem, Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral, os objetos são cada vez mais complicados, mais específicos – e mais humanos. Essa escala, sem dúvida, é uma elaboração ideal e abstrata, que permite a compreensão das relações entre as influências naturais e humanas. Cada ciência sofre as influências das ciências anteriores, mas tem seus próprios objetos, “irredutíveis” aos anteriores.

Comte denomina a tendência a reduzir uma ciência superior a uma inferior – ou seja, a explicar os fenômenos superiores exclusivamente pelos inferiores – de “materialismo”. Inversamente, explicar um fenômeno inferior por um superior é “espiritualismo”. Exemplos fáceis de cada uma dessas posturas: explicar o funcionamento das sociedades humanas pela biologia é uma forma de materialismo (como feito, por exemplo, pela sociobiologia de Edward Wilson e pela “memética” de Richard Dawkins); ou explicar a cultura e as idéias pelos fatores econômicos ou “infra-estruturais”, como feito por Marx. Exemplo do espiritualismo: afirmar que a dilatação anômala da água (em que ela contrai-se à medida que diminui a temperatura, mas entre 4° C e 0° C ela expande-se, em vez de contrair-se), que permite a vida em climas frios, ocorre para que o ser humano viva; é fácil de perceber o quanto essa postura é própria às teologias (para quem “deus criou o mundo para o homem”).

As universidades, embora devessem estimular o pensamento “crítico”, muitas vezes são poços de preconceitos e de repetições de senso comum. Assim, em textos de apresentação à Sociologia e às Ciências Sociais, escolhidos ao acaso e com orientações teóricas variadas, o “positivismo” é caracterizado como redutor da Sociologia às Ciências Naturais, pela aplicação de métodos e raciocínios da Física (e da Matemática, da Astronomia, da Química e da Biologia) à Sociologia, além de propor uma indefinida “unidade da ciência”. Dois exemplos variados são estes: Ignácio Cano, “Nas trincheiras do método” (http://www.scielo.br/pdf/soc/v14n31/05.pdf); Anthony Giddens, “Sociologia” (http://www.grupoa.com.br/site/humanas/3/138/0/5557/5558/0/sociologia.aspx). (É digno de nota que I. Cano repete o erro, mesmo advogando a validade, principalmente metodológica, do que chama de “positivismo”.)

Pois bem: não apenas A. Comte critica o materialismo na Sociologia como critica qualquer outra forma de materialismo, incluindo aqueles sofridos pelas ciências inferiores; inversamente, também critica os espiritualismos. Os trechos abaixo evidenciam-no de maneira cristalina.

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“Chaque science inférieure ne doit être préalablement cultivée qu’autant que l’esprit humain en a besoin pour s’élever solidement à la science suivante, jusqu’à ce qu’il soit ainsi parvenu à l’étude systématique de l’Humanité, sa seule station finale. Telle est la loi générale du vrai régime préliminaire. Quoiqu’elle n’ait pu être démontrée que de nos jours, elle fut constamment pressentie des véritables organes de cette grande préparation, ainsi embellie d’un puissant attrait pour leur cœur comme pour leur esprit. Ce noble instinct est très-sensible chez la plupart des savants si dignement appréciés par Fontenelle, et même encore chez ceux que jugea Condorcet. Les moindres d’entre eux s’honoraient de coopérer à la haute mission que Descartes et Bacon avaient assignée à la science moderne pour préparer la saine philosophie, base nécessaire de la vraie rénovation sociale” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 471).

“Depuis que cette préparation est suffisante, que la construction philosophique a surgi, et que la situation occidentale en réclame l’active consécration, toute tendance à dominer les études supérieures par les inférieures doit être autant flétrie comme preuve d’immoralité que comme signe d’incapacité.

Sous cet aspect décisif, l’abus du calcule n mathématique constitue réellement la première phase spécial du matérialisme systématique, assez caractérisé, en general, dans mons discours préliminaire. L’usurpation de la physique par les géomètres, de la chimie par les physiciens, et de la biologie par les chimistes, deviennnent ensuite de simples prolongements successifs d’un vicieux régime, dont le principe est toujours le même, et qui ne peut être radicalement rectifié qu’en son germe inaperçu. Il développe partout un pareil abus de la juste influence déductive que chaque science préliminaire exerce nécessairement sur la suivante, d’après son indépendance et sa généralité plus grandes.

Cette apréciation définitive caractérise à la fois l’extrême importance et la source normale de la rectification mathématique dont il s’agit ici. Ainsi liée aux plus hautes questions philosophiques, et même aux principaux besoins sociaux, elle ne peut émaner que de l’universelle discipline instituée par la religion sociologique. La science finale reposant sur l’ensemble des sciences préliminaires, toutes la menaçent d’usurpations analogues à celle que chacune d’elles subit de la précédente. Mais ici la résistance est spontanément assurée par la difficulté et l’importance des questions, trop évidemment supérieures à de telles vues déductives, quoiqu’elles puissent et doivent les utiliser beaucoup. La sociologie se trouve ainsi conduite, en reconnaissant le besoin des diverses études préparatoires, à se réserver toujours leur usage systématique, qu’elle seule peut apprécier. Par là, elle écarte irrévocablement un ténébreux matérialisme, sans recourrir à un vain spiritualisme. La fluctuation, logique et scientifique, de toute notre philosophie naturelle entre la rétrogradation et l’anarchie se résout alors par l’application convenable de ce principe universel : chaque science doit diriger l’emploi normal de la précédente pour sa propre constitution” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 472-473)

17 dezembro 2012

Auguste Comte (for) today



It can be asked whether Auguste Comte (and Positivism) can be considered useful for today’s issues – political, philosophical, social. It’s a very interesting question, whose answer is manifold. First of all, it’s not clear at all what is “Positivism”; second, Comtean ideas are not known, so it’s quite difficult to argue if they are useful; third, there is the problem of how to “use” “ancient” philosophies today.
The first problem involves the fact that the word “Positivism” is a very misleading one, referring to individuals, groups, social and intellectual movements etc., some of them so different one to another that is hard to consider them having something in common other than the label “Positivism”. In a study published more than 30 years ago (Positivism and Sociology), Peter Halfpenny distinguished 12 different meanings to such expression.
For example, there is the philosophical – and religious – Positivism, which is the oeuvre of Comte, who initiate his thoughts in science and philosophy of sciences, then passed to the foundation of the social science – “Sociology” – and, then, founded a secular religion, the “Religion of Humanity”. There is also the Sociological Positivism, which owes very much to Comtean’s one, but is quite different from it: the works of Emile Durkheim and his French Sociological School is the best example of it.
But the most popular versions of Positivism, especially in the Angle-Saxon world, are those strictly related to the philosophy of science and to some very empiricist version of it. The ideas of the Vienna Circle, also known as Logical Empiricism, also known as Logical Positivism, also known as Neo-Positivism, are this third branch of “Positivism”. Developed during the 1920-1930’s by philosophers, physicists, mathematicians and other natural scientists like Otto Neurath, Rudolph Carnap etc., they intended to draw a clearcut line between science and metaphysics. According to them, every statement which cannot be reducible to a matter of fact cannot be considered meaningful, despite it can be considered an expression of feelings: what is reducible to matters of fact (and, so, meaningful) is scientific and acceptable; what’s not, is metaphysical and must be proscribed from the true philosophical reasoning.
Such order of reflexions reinforced some tendencies of Anglo-Saxon thoughts, especially in the USA – namely, some ultra-empiricist ways of research. Broader philosophical reasonings are frequently detached from matters of fact (because of their abstract nature) and, so, they’re considered metaphysical; conversely, the fact-gathering activity is among the supreme scientific ones: that’s how in the American academy “Positivism” has become synonym of empiricism, quantitativism – and, many times, also of anti-historicism, antiphilosophy and “methodologism”.
Studies concerning the relationships among Comtean ideas and the other varieties of “Positivism” are yet to be done (despite some researchers have done some, like Angèle Kremer-Marietti). But it’s important to note that Comte has developed a broader philosophy and he was against the ultra-empiricist approach of science – for he, science is above all the set of abstract laws; his philosophical concerns lead him to a constitution of a relativistic, humane religion, which criticized even the “scientifism”, i. e., the absolute tendencies of today’s (and XIX Century’s) science. So, many characteristics of the so-called Positivism are distant from Comtean Positivism, being considered by it absolute and metaphysical.
Despite the important differences among the many types of Positivism, the common label is an easy way to referring to them all; by metonym, some can think that they’re “all the same”, leading to a posture of avoiding a more (or a minimum) adequate knowledge of each one. As Comtean Positivism is as “Positivism” as Logical Positivism, with the problem of conducting to a mystic (religious) version of it, there is no need to read Comte’s works, which, above all, are extensive and manifold: that’s the usual way for not reading Comte and, at the same time, being capable of criticizing it. Or, as said in Portuguese: “não li e não gostei” (“I haven’t read it and haven’t liked it”).
A third sort of reasons for considering Comte inadequate for today is XIX Century rooting. For being “scientificist”, “empiricist”, “antimetaphysical”, “deterministic” etc. it would be outdated, outfashioned; his Religion of Humanity would be just another trait to reaffirm its inadequacy for today, revealing the crazy dreams of a madman. But those two orders of motives are just prejudicials, for not only the deep rooting of someone in his own time has never stopped the study of someone’s works, but also the (alleged) someone’s problematic state of mind has never stopped the study of someone’s work. Every day the ideas of philosophers and thinkers of different times are studied, not only in Philosophy and History of Ideas, but also as a means of comprehending today’s ideas and searching for new ideas and understandings: that’s why we study the books written by Plato onwards (and thinkers even more ancient) or the ideas of thinkers of other civilizations (as Anthropology does).
If the time distance is not a real problem, the (again: alleged) craziness of some thinker is even a minor problem. We could multiply the examples of thinkers, in all areas of human activities, who suffered of many mental illnesses, but only one name can end all discussions: Nietzsche was a perfect mental sickman, but not only no one tells his philosophy is not worthy of being studied, as his mental illness is no (moral, intellectual, logical) obstacle to study his philosophy.
As it concerns Comte, at the age of 30 he had a nervous breakdown, due to familiar troubles; he took two years to be healthy again, but that was his only episode of “mental illness”. What happens is that from 1848 on he developed his “Religion of Humanity”, against the main philosophical and scientific trends of his time; the very words he used, beginning with “Religion”, but also “cult”, “dogma”, “catechism”, “priest” etc., are proofs of the religious character of his late work, but none of them are proofs of dementia, craziness or anything similar. The question is that his religion was a general system of morality, ruling individual and collective behavior, based on secular, humane, relativistic basis. Of course, for Comte, “religion” and “theology” are not synonyms – and that’s one of the reasons for confusion. (Another source of confusion, not exactly innocent, is the reaffirmation of scientistic, absolute ethos, which is reaffirmed event today, even with the name of “Positivism”.)
We just examined three reasons why Comte is not studied today; all of them are based on prejudices and confusions, resulting in that his works are not even read. But what should we expect from that reading, after all?
Far from suggesting all the possibilities, we present below a non-exhaustive list of aspects Comtean thinking is very interesting for today.
1)      Affirmation of importance of a balanced development, taking care of the environment
2)      Autonomy of civil society vis-à-vis the State
3)      Complete and radical humanism; secular ethics
4)      Comprehensive, all-encompassing (“holistic”) perspective on society and the human being
5)      Conception of subjective immortality
6)      Concomitant affirmation of criteria of social justice and individual responsability
7)      Critics of individualism, in all its forms (methodological, theoretical and moral individualism, methodological, theoretical and moral egoism)
8)      Epistemology and Philosophy of Sciences
9)      Freedoms of thought, expression, reunion and so on
10)  Importance of ideas and values in social life
11)  Perspective that combines the universal and the particular
12)  Perspective that goes beyond traditional dichotomies: order-progress, materialism-idealism, agent-structure
13)  Reenchantment of the world
14)  Role of public opinion on public affairs
15)  Scientific perspective on reality
16)  Social utopia
17)  Valorization of subjectivity in the knowledge (scientific, artistic, philosophic ones)
All those aspects are presented in all Comte’s works, especially in his late career ones – precisely those of his religious phase: System of positive policy, Positivist catechism, Appeal to conservative, A general view of Positivism, and also his extensive, 8-volume correspondence.
In the last two decades or so, a number of academic researchers, mainly French, has explored many aspects of Comtean thought: Angèle Kremer-Marietti, Emmanuel Lazinier, Julliete Grange, Annie Petit, Michel Bourdeau, Laurent Fedi, Mike Gane, Mary Pickering, Olaf Simons, Sérgio Tiski, Gustavo Biscaia de Lacerda – and many more. In the internet, it’s possible to know something on Comte and Comtean Positivism in some sites: Maison d’Auguste Comte (http://www.augustecomte.org), Auguste Comte et le Positivisme (http://membres.multimania.fr/clotilde) and, more recently, Positivism (http://positivists.org/).

09 dezembro 2012

Comemorações de 225 (2013)


Comemorações do ano 225 (2013)
Tipo*
Vida
CALENDÁRIOS
Wikipédia**
Positivista
júlio-gregoriano
Bocácio
1313-1375
2.Dante
17.julho
Chardin
1643-1713
1.Gutenberg
13.agosto
Clairaut
1713-1765
10.Bichat
12.dezembro
Diderot
1713-1784
12.Descartes
19.outubro
Grétry
1741-1813
23.Shakespeare
2.outubro
Hildebrando
1013-1085
14.São Paulo
3.junho
Lacaille
1713-1782
5.Gutenberg
17.agosto
Lagrange
1736-1813
13.Bichat
15.dezembro
Sterne
1713-1768
18.Shakespeare
17.setembro
FONTE: “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos.
NOTAS:
  1. Os nomes em itálico indicam os tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.
  2. Os nomes em letras maiúsculas indicam chefes de semana ou de mês.
  3. As datas de vida reproduzem as indicadas por Miguel Lemos no “Apêndice” ao Apelo aos consevadores; algumas delas podem ter sofrido correção desde 1899, a partir de pesquisas historiográficas.
  4. Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (francês e inglês, mas também espanhol).

19 novembro 2012

Pequena homenagem ao Dia da Bandeira

Pequena homenagem prestada pelo amigo e jornalista João Carlos Silva Cardoso para o Dia da Bandeira, aproveitando a existência da Praia da Bandeira na Ilha do Governador, na cidade do Rio de Janeiro.

O original da notícia encontra-se aqui.

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Toponímia Insulana

Topônimo [Do grego top(o)- "lugar, localidade" + onoma - "nome"] S.m.: Nome próprio de lugar.
Assim, "toponímia" é o estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugar.
Nossa proposta é apresentar ao internauta (insulano ou não) o "quem é quem" (ou o "o quê é o quê")
nos nomes dos logradouros da Ilha do Governador.
Colaborações para: joaocarlossilvacardoso@uol.com.br

Categoria: Bairros e Cidades
Postado por J.C.Cardoso em 19/11/2012 05:04

Praia da Bandeira (Cocotá [oficialmente, Praia da Bandeira]) - CEP: 21910-380
A Bandeira Nacional foi elaborada em 19/11/1889, por Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), alguns dias após a proclamação da República (em 15/11 do mesmo ano).
Popularmente, o verde representa as matas, as florestas; ao passo que o amarelo, o ouro e as riquezas minerais. Por outro lado, considerando que a bandeira imperial foi feita após a Independência, em 1822, o retângulo verde representaria a casa monárquica dos Bragança (família paterna de D. Pedro I) e losango amarelo representaria a casa dos Habsburgo (da família da imperatriz dona Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I).
A esfera azul representa, é claro, o céu da noite em que ocorreu a mudança de regime, 15/11, não uma representação exata, mas apenas uma idealização.
O "Ordem e Progresso" é da autoria do filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), fundador do Positivismo. Essa frase, que na Bandeira deve ser em maiúsculas verdes, indica um projeto sociopolítico de garantir que condições fundamentais da sociedade sejam sempre respeitadas e daí obter o progresso. Embora comum, essa frase não é a versão resumida da fórmula positivista completa ("O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim"). Enquanto a frase completa resume um complexo programa religioso, a da Bandeira apresenta valores políticos, capazes de serem compartilhados por todos os cidadãos e nações. Assim, a Bandeira não é "só" um símbolo de cores e formas: ela também apresenta um projeto de cidadania.
Esquema oficial, segundo a Lei n.º 5.700, de 1º/09/1971.
1.Para cálculo das dimensões, tomar-se-á por base a largura desejada, dividindo-se esta em 14 partes iguais. Cada uma das partes será considerada uma medida ou módulo.
2.O comprimento será de 20 módulos.
3.A distância dos vértices do losango amarelo ao quadro externo será de um módulo e sete décimos.
4.O círculo azul no meio do losango amarelo terá o raio de 3,5 módulos.
5.O centro dos arcos da faixa branca estará dois módulos à esquerda do ponto do encontro do prolongamento do diâmetro vertical do círculo com a base do quadro externo.
6.O raio do arco inferior da faixa branca será de oito módulos; o raio do arco superior da faixa branca será de 8,5 módulos.
7.A largura da faixa branca será de meio módulo.
8.As letras da legenda Ordem e Progresso serão escritas em cor verde. Serão colocadas no meio da faixa branca, ficando, para cima e para baixo, um espaço igual em branco. A letra P ficará sobre o diâmetro vertical do círculo. As letras da palavra Ordem e da palavra Progresso terão 1/3 de módulo de altura. A largura dessas letras será de três décimos de módulo. A altura da letra da conjunção E será de três décimos de módulo. A largura dessa letra será de 1/4 de módulo.
9.As estrelas serão de cinco dimensões: de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta grandezas. Devem ser traçadas dentro de círculos cujos diâmetros são: de três décimos de módulo para as de primeira grandeza; de 1/4 de módulo para as de segunda grandeza; de 1/5 de módulo para as de terceira grandeza; de 1/7 de módulo para as de quarta grandeza; e de 1/10 de módulo para a de quinta.
As cores são: verde (RGB = 0/168/89 e CMYK = 100/0/100/0), amarelo (RGB = 255/204/41 e CMYK = 0/20/100/0), azul (RGB = 62/64/149 e CMYK = 100/100/0/0) e branco (RGB = 255/255/255 e CMYK = 0/0/0/0)

Texto de Gustavo Biscaia de Lacerda, doutor em Sociologia Política (UFSC) e cientista político da UFPR, exclusivamente para o Toponímia Insulana.
Dados das cores: Wikipedia
Bandeira: Flags of the World
Foto: www.multimania.fr/clotilde/disciple/brasil/m_br.xml

12 novembro 2012

MPF pede retirada de "deus seja louvado" das cédulas


O original da notícia encontra-se aqui.

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12/11/2012 14h58 - Atualizado em 12/11/2012 15h15

MPF em SP pede retirada da frase 'Deus seja louvado' das notas de reais

Procuradoria pediu à Justiça que termine à União a retirada da expressão.
Ação pede prazo de 120 dias para que notas sejam impressas sem frase.

Do G1, em São Paulo
185 comentários
Expressão 'Deus seja louvado' em nota de R$ 20 (Foto: Fábio Tito/G1)Expressão 'Deus seja louvado' em nota de R$ 20
(Foto: Fábio Tito/G1)
A Procuradoria da República no Estado de São Paulo pediu à Justiça Federal que determine a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas de reais.
A ação pede, em caráter liminar, que seja concedido à União o prazo de 120 dias para que as cédulas comecem a ser impressas sem a frase, anunciou nesta segunda-feira (12) a procuradoria. Dessa forma, a medida não gerará gastos aos cofres públicos, diz o Ministério Público Federal em São Paulo.
“O Estado brasileiro é laico e, portanto, deve estar completamente desvinculado de qualquer manifestação religiosa”, cita a procuradoria, como um dos principais argumentos da ação.
Uma das teses da ação é que a frase “Deus seja louvado” privilegia uma religião em detrimento das outras. Como argumento, o texto cita princípios como o da igualdade e o da não exclusão das minorias.
Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha', 'Deus Não existe"
Procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias
O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, reconhece que a maioria da população segue religiões de origem cristã (católicos e evangélicos), mas lembra que o país é um Estado laico. “Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha', 'Deus Não existe'”, argumenta.

A ação também pede à Justiça Federal que estipule multa diária de R$ 1,00 caso a União não cumpra a decisão. A multa teria caráter simbólico, “apenas para servir como uma espécie de contador do desrespeito que poderá ser demonstrado pela ré, não só pela decisão judicial, mas também pelas pessoas por ela beneficiadas”.

RepresentaçãoA procuradoria disse que recebeu, em 2011, uma representação questionando a frase nas notas. No inquérito, a Casa da Moeda informou ao órgão que cabe ao Banco Central a emissão e a “definição das características técnicas e artísticas das cédulas”.

A inclusão da expressão nas cédulas aconteceu em 1986, por determinação do então presidente José Sarney, de acordo com informações do Ministério da Fazenda passadas à procuradoria. Em 1994, com o Plano Real, a frase foi mantida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, supostamente por ser “tradição da cédula brasileira”, apesar de ter sido inserida há poucos anos, diz.
Ainda segundo a procuradoria, para o BC o fundamento legal para a existência da frase nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”.

O procurador Dias lembra, em nota, que não existe lei autorizando a inclusão da expressão religiosa nas cédulas brasileiras.

05 novembro 2012

"Um festival positivista"

"Um festival positivista" - nota publicada no The New York Times, de 16 de janeiro de 1881. O vínculo original encontra-se disponível aqui.

31 outubro 2012

Permanência do espírito absoluto disseminando o ateísmo

O espírito absoluto que reinava - e, a bem da verdade, ainda reina - nas ciências naturais faz delas um âmbito privilegiado para o desenvolvimento do ateísmo. Ora, o ateísmo é uma forma de teologia, embora pela via negativa: rigorosamente, o ateísmo nega a única resposta possível ("deus") para a pergunta que continua fazendo ("quem, ou o quê, criou o universo?"). 

A perspectiva relativa, ou positiva, é deixar de lado tal gênero de indagações: em vez de negar a única resposta possível, deve-se deixar de lado a própria pergunta; o tipo de raciocínio desenvolvido na pergunta teológica ("por quê?"; a investigação das causas) deve ser substituído pelo tipo de raciocínio próprio à positividade e à relatividade ("como?"; a investigação das relações entre os fatos observáveis, ou seja, das leis).

Assim, a manutenção do espírito absoluto nas ciências naturais de uma única vez apresenta três conseqüências nefastas: mantém as investigações de caráter teológico, estimula o ateísmo e, por fim, rejeita o espírito relativo e positivo.

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“C’est là surtout que réside l’athéisme proprement dit, plus hostile aujourd’hui à la vraie philosophie qu’aucun autre théologisme, comme l’explique mon Discours préliminaire. Le matérialisme y puise aussi ses principales forces intellectuelles, quoique la biologie dévellope davantage ses dangers moraux” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 456).

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Tradução para o português:


"É sobretudo aí que reside o ateísmo propriamente dito, mais hostil hoje à verdadeira filosofia que qualquer outro teologismo, como o explica meu Discurso preliminar. O materialismo possui aí suas principais forças intelectuais, ainda que a Biologia desenvolva mais seus perigos morais" (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 456).

Crítica ao espírito absoluto das ciências naturais

Comenta-se com grande freqüência - quando não se acusa - que o Positivismo é cientificista, que introduz nas ciências humanas a lógica das ciências naturais e, principalmente, que faz a apologia da ciência - apologia que, não raro, é considerada acrítica. (Pós-modernos, adeptos da "Teoria Crítica", "hermenêuticos", marxistas, feministas e "reflexivos" são alguns que repetem, com grande satisfação, tais comentários.)

Pois bem: a passagem abaixo evidencia com clareza meridiana o quanto as observações acima são incorretas. (São tão incorretas que é chocante perceber que elas sejam tão repetidas. Cabe aí, sem dúvida, uma sociologia do conhecimento e, ainda mais, uma sociologia da ideologia.)

Para Augusto Comte, embora as ciências naturais sejam a base lógica e teórica do Positivismo, elas não são nem um pouco infensas a críticas nem são totalmente modelos de pensamento. Na verdade, como estão longe da Humanidade, isto é, como estão distantes do que se chama atualmente de "ciências humanas", as ciências naturais estão mais sujeitas a desvios teóricos de origem metodológica e moral. Quais são esses desvios? Por um lado, eles consistem na preservação do espírito absoluto nas ciências; por outro lado, como conseqüência do problema anterior, as ciências naturais são mais dispersivas, são mais avessas a qualquer disciplina intelectual, são menos preocupadas com o bem-estar coletivo: em suma, elas afirmam a ciência pela ciência, como se a ciência pudesse ser uma justificativa para si própria, sem preocupações morais mais profundas.

Por fim, cabe notar que as críticas de Augusto Comte ao absoluto na(s) ciência(s) rejeitam a "separação entre fato e valor" e a completa desvinculação das pesquisas científicas com respeito às questões sociais. Disso se seguem duas observações:

1) Exatamente porque conhecia com profundidade a ciência - sua história, sua lógica, seus encadeamentos - é que Augusto Comte pôde fazer tais críticas, ao contrário dos filósofos que pelo menos desde fins do século XIX tentam criticar a ciência (Nietzsche, Bergson, Macintyre, Sheldon Wolin, Charles Taylor, Adorno & Horkheimer etc. etc. etc.).

2) No Brasil do final do século XIX e do início do século XX, as preocupações morais e sociais do Positivismo eram vistas como obstáculos a pesquisas científicas: os cientistas nacionais - em particular os matemáticos - afirmavam a ciência pela ciência, as pesquisas feitas sem outras preocupações que não aquelas vinculadas a vasculhar cada vez mais sobre aspectos cada vez mais especializados da realidade. A ciência, para tais pesquisadores, seria uma prática voltada para si própria, um conhecimento esotérico. Hoje, no início do século XXI, tal perspectiva não é mais aceita, não é mais vista como legítima: mas o Positivismo continua sendo mal-visto e, por mais espantoso que seja, a ele são creditados os problemas que ele mesmo combatia.

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Plus indépendantes que toutes les autres, moins liées à l’Humanité, et comportant, avec une extension indéfinie, une culture plus facile et plus parfaite, les études cosmologiques sont à la fois les plus rebelles à toute saine discipline et celles que en ont le plus besoin. Après avoir longtemps fourni les sources exclusives de la véritable philosophie, elles constituent aujourd’hui le principal obstacle à sa systématisation finale. L’esprit absolu y trouve indirectement ses seuls appuis sérieux, plus nuisibles au vrai régime logique que les illusions directes d’une métaphysique discréditée. Par une étrange inversion, la nouvelle méthode subjective est, au fond, plus relative que l’ancienne méthode objective, qui doit lui emprunter aujourd’hui un caractére d’abord émané d’elle-même. Les divagations scientifiques de la cosmologie actuelle correspondent trop exactement à ses déviations logiques. Des recherches puériles et incohérents, inspirées par des conceptions antipositives, y dénaturent de plus en plus toutes les notions essentielles, que cette anarchie expose même à une prochaine décomposition” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 455-456).

30 outubro 2012

Nova edição parcial do "Sistema de filosofia positiva"


Uma boa notícia: o Michel Bourdeau, que é um especialista sério no pensamento de Augusto Comte, está co-organizando uma nova edição do "Sistema de filosofia positiva" (vulgarmente conhecido como "Curso de filosofia positiva"). Essa edição, no entanto, é parcial, pois cobre apenas os capítulos 46 a 51 da "Filosofia", correspondentes a algumas lições sobre a Sociologia comtiana (as do v. IV da obra).

Reproduzo a notícia divulgada no blogue Positivists (http://positivists.org/blog/archives/477):



New edition of Auguste Comte’s ‘Cours de philosophie positive’, Lessons 46-51 (1830-42)


The volume contains Comte’s first six lessons on sociology edited and freshly annotated by Michel Bourdeau, Laurent Clauzade, and Frédéric Dupin.
  1. Political arguments showing the necessity and timeliness of the science of society
  2. Survey of the main philosophical attempts already made in order to create a social science
  3. The most important features of the positive method in the rational study of social phenomena
  4. Necessary relations between social physics and the other parts of positive philosophy.
  5. Preliminary considerations about social static : the general theory of the spontaneous order of human societies
  6. Fundamental laws of social dynamics : the general theory of the natural progress of mankind
Éditions Hermann, Paris, 2012, 480 pages, 17 x 24 cm, 48 €, publishers page for detailed information.

25 outubro 2012

Lógica positiva e moralidade


O caráter moral da lógica positiva é afirmado abaixo: a criação da Sociologia incorpora as idéias de sociabilidade e de altruísmo; tais idéias, de caráter relativo, influenciam a própria moral, que se torna relativa e, portanto, claramente direcionada para o ser humano. O estudo relativo das leis naturais – ou seja, das relações entre fenômenos – deixa para trás a pesquisa absoluta das causas – ou seja, das questões do tipo “de onde viemos?”, “quem criou o universo?” – e permite que se investigue as possibilidades e os graus de mudança no ser humano, o que conduz ao aperfeiçoamento moral.

Como se vê, não há nada de “separação entre fato e valor” aí, muito menos de “tecnocracia” ou de “reificação da realidade”. O que há, de fato, é preocupação com o ser humano e com o conhecimento (útil) da realidade.

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“Mais la supériorité morale de la nouvelle logique religieuse est encore plus directe et plus profonde que sa préeminence intellectuelle ; car la subjectivité positive est nécessairement sociale, en vertu de sa réalité, tandis que la subjectivité théologique fut toujours personnelle, d’après son caractère absolu. Celle-ci concevait l’ensemble des êtres comme créé pour l’homme, tandis que celle-là destine l’humanité à perfectionner la faible portion de l’ordre universel qui comporte notre intervention. Or, si cette appréciation finale surpasse l’autre en rationalité, elle lui est encore plus supérieure en moralité. La première nous ayant seule gouvernés jusqu’ici, il a bien fallu y rattacher la culture des sentiments comme celle des pensées ; et même son règne affectif a dû se prolonger davantage que sa prépondérance spéculative, toujours compromise par l’activité pratique. Mais le privilége de sentimentalité ainsi attribué à l’ancienne logique religieuse ne repose que sur une appréciation empirique, qui, depuis longtemps, a cessé d’être vraie. Le déclin politique du monothéisme permit de sentir partout que sa morale tant vantée consistait nécessairement en un immense égoïsme, directement opposé à toute vraie sociabilité. Dans la nouvelle logique religieuse, la substitution spéculative du relatif à l’absolu et la substitution affective de l’humanité à l’homme sont toujours la suite naturelle l’une de l’autre” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 452-453).

Historicidade da lógica positiva (objetividade+subjetividade)


A passagem abaixo evidencia o quanto a lógica positiva, que combina a objetividade com a subjetividade, é histórica. Mas “histórica” não no sentido de ser passageira, fugaz: histórica no sentido de que exigiu uma série de preparações intelectuais, morais e políticas para constituir-se. Por um lado, foi necessário que a objetividade das ciências naturais conhecesse o mundo e controlasse a subjetividade humana; por outro lado, a criação da Sociologia permite que a subjetividade torne-se relativa e incorpore a afetividade.
Assim, a historicidade da lógica positiva evidencia o quanto o “historicismo radical” contemporâneo, que afirma que há apenas rupturas históricas e que o ser humano é incapaz de acumular idéias e de transmitir valores, é falho.

Ao mesmo tempo, a lógica positiva afirma que os conhecimentos humanos devem ter um caráter sintético: não há “ciências históricas” (ou “ciências do espírito”) em contraposição às “ciências naturais”; há o conhecimento humano, que começa objetivo e analítico e, ao chegar à Sociologia (ou melhor, à Biologia), passa a ser sintético e também claramente subjetivo.

Em vez de “duas culturas” (científica versus humanística) ou “três culturas” (científica versus humanístico-literária versus sociológica), há apenas uma cultura: a síntese subjetiva.

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“Malgré ces divers indices de son aptitude immédiate, la vraie logique religieuse, à la fois objective et subjetive, ne fait certainement que de la naître. Tout son essor caractéristique appartient au prochain avenir. Son élément rationnel, seul cultivé jusqu’ici, ne pouvait être dignement conçu, faute d’une connaissance réelle des lois intellectuelles, seulement appréciables dans l’évolution scientifique de l’humanité. Aussi cette élaboration méthaphysique n’a-t-elle jamais abouti qu’à des préceptes vagues et stériles, même quand elle ne se préoccupait plus de formalités puériles ou vicieuses. Mais la logique affective dut encore moins avancer, puisque les phénomènes correspondants furent toujours regardés comme soustraits à toute loi. Elle ne fut sérieusement cultivée que dans le moyen âge, sous l’impulsion catholique, dont le déclin en suscita encore d’admirables essais, chez les principaux mystiques. A ces premiers rudiments empiriques, le positivisme peut seul faire succéder un vaste essor systématique, puisqu’il s’établit surtout dans l’ancien domaine de la grâce, désormais ramenée à des lois appréciables, sources nécessaires de prévision et d’action. 

[...]

Cette double aptitude fondamental du régime final repose entièrement sur le caractère positif de la nouvelle méthode subjective. Par cela seul que l’ancienne était théologique, ou même métaphysique, elle restait inconciliable avec la méthode objective, qui dut toujours être positive, pour fournir des prévisions réelles, propres à guider une activité efficace. Tandis que la subjectivité poussait l’esprit à l’absolu, l’objectivité le ramenait au relatif. Ce tiraillement continu ne permettait aucun équilibre logique. La cohérence mentale éxigeait d’abord l’homogénéité des méthodes. Or, la pratique ne pouvant renoncer à la marche objective, il fallait bien que la théorie abondonnât la marche subjective, du moins tant que dura l’évolution préparatoire. Ce préambule, désormais complet, a conduit l’essor analytique jusqu’à fournir, par la fondation de la sociologie, la base d’une nouvelle synthèse. Dés lors, la méthode subjective, appuyée sur le sentiment direct du Grand-Être, devient aussi relative que la méthode objective, coordonée d’après la conception générale de l’ordre extérieur. Ainsi s’organise notre vrai régime intellectuel, en rapport avec notre véritable destinée sociale. La pleine harmonie mentale n’aurait pu surgir auparavant, que si la philosophie théologique était devenue réellement objective ; ce qui fut toujours impossible, même sous le polythéisme” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 451-452).

Utilização sistemática da subjetividade como instrumento analítico


Ao contrário de ser apologista da objetividade e do objetivismo, a obra de Comte erige a subjetividade como instrumento contínuo para compreensão da realidade. Aliás, bem mais do que isso: a subjetividade é entendida como um instrumento da “lógica positiva”, constituída pela lógica dos sentimentos, das imagens e dos sinais (esta última sendo a tradicional “lógica”, que atua nas elaborações científicas, filosóficas e técnicas). O que ocorre é que para Comte a subjetividade tem que ser regulada, em termos morais e intelectuais, pela objetividade: em caso contrário, fica sem parâmetro algum.

Nos termos das teorias sociológicas atuais, a combinação das lógicas objetiva e subjetiva permite “compreender” as ações humanas individuais e “explicar” seus encadeamentos. Não há aí nenhuma forma de misticismo.

Assim, é difícil levar a sério as afirmações das escolas “compreensivas”, “críticas”, pós-modernas e por aí vai segundo as quais o Positivismo negaria a subjetividade ou que ele reificaria uma sociedade “sem alma” – mesmo a despeito da fama e do prestígio de que tais escolas gozam. Afirmações desse tipo têm origem ou na ignorância ou na má-fé (ou em ambas).

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“Ainsi se réalise déjà l’annonce placée au début de ce chapitre quant à la conciliation normale entre la logique de l’esprit, guidée surtout par les signes artificiels, et la logique du cœur, fondée sur la connexité directe des émotions. Quoique celle-ci, essentiellement subjective, ne semble d’abord convenir qu’à la culture morale, on vient de reconnaître combien elle peut s’adapter à l’élaboration intellectuelle, et toute la suite de ce traité le constatera de plus en plus. De même, l’autre, principalement objective, n’est pas nécessairement bornée à sa destination rationnelle ; elle comportera désormais une haute efficacité affective. Chacun peut déjà l’appliquer au culte des souvenirs intimes, qui deviennent à la fois plus nets et plus fixes quand on détermine assez le milieu interte avant d’y placer la vivant image. Ni l’esprit ni le cœur ne peuvent développer une paisible activité sans ce concours continu, instinctif ou systématique, entre la logique du sentiment et celle de la raison. J’ai expliqué, dans la préface finale de mon premier traité, comment j’eus le bonheur d’obtenir, dès mon début, cette harmonie décisive. Elle suivit nécessairement ma découverte initiale des lois sociologiques, qui fit dès lors converger toujours mes impulsions politiques et mes tendances scientifiques, d’abord indépendantes. C’est d’un tel équilibre primitif que j’ai tiré le privilège philosophique de consacrer tour à tour ma jeunesse et ma maturité à deux grandes élaborations réciproques, dont chacune semblait réservée à l’autre âge. Ainsi s’explique aussi la puissante réaction mentale que je dus à ma sainte compagne éternelle, et qui constitue une vérification décisive de cette harmonie nécessaire entre les deux méthodes universelles” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 450).