No dia 1º de Moisés de 171 (1.1.2025) realizamos a celabração da Festa da Humanidade.
Aproveitando o ensejo dessa importantíssima comemoração, apresentamos alguns dos que consideramos serem os desafios do Positivismo no século XXI.
A celabração foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/RnXVQPQ87XE) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/571441322456943/).
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
Celebração da Festa da Humanidade – 171/237
(2025)
1. Início:
1.1. Invocação
inicial
1.2. Leitura
de poemas de Generino dos Santos (Vergine
Madre) e Martins Fontes (O poema da
Humanidade, O homem Humanidade)
2. Hoje
é dia 1º de Moisés, dia da Festa da Humanidade
2.1. O
dia de hoje inicia o ano 171 da era normal, ou 237 da transição revolucionária
2.2. A
Festa da Humanidade é a mais importante celebração positivista, pois é quando
celebramos o verdadeiro ser supremo, o ser supremo que dá nome à religião real,
humanista, relativa, pacífica, altruísta, fraterna: a Religião da Humanidade
2.2.1.Assim,
é motivo da mais profunda alegria e satisfação percebermos que é um hábito
universal (ou melhor, cada vez mais universal) a celebração da fraternidade
universal justamente neste dia, em que iniciamos um novo ciclo
2.3. No
calendário positivista, a Festa da Humanidade segue-se sempre à Festa Geral dos
Mortos e, nos anos bissextos, também à Festa das Mulheres Santas
2.3.1.Essa
seqüência permite-nos ao mesmo tempo nos lembramos dos nossos entes queridos,
recuperarmos nossas energias e retomarmos nossos esforços em favor de nossos
familiares, nossos compatriotas, nossos amigos, nossos colegas e a todos os
seres humanos
2.3.2.Na
noite de ontem tivemos a felicidade de ouvirmos e assistirmos a uma belíssima
celebração da Festa das Mulheres Santas por nosso amigo Hernani Gomes da Costa
(aqui: https://www.youtube.com/watch?v=O8t7kh4jS8U&t=11s)
2.4. A
renovação periódica de nossos votos e de nossas energias não é somente uma
coincidência astronômica, devida à volta anual do nosso belo e querido Grão
Fetiche – o planeta Terra – ao redor do Sol, na translação, mas é uma
necessidade moral e social
2.4.1.Com
certeza que a translação importa-nos muito e influencia poderosamente a vida de
cada um de nós, mas é em termos superiores que a renovação cíclica é
importante, ou seja, em termos biológicos, sociológicos e morais
2.4.2.Em
termos biológicos, trata-se de que alternamos sempre períodos de atividade e de
descanso, diária, semanal e anualmente; a vida humana é atividade, mas
precisamos parar com freqüência para descansar e recuperar as energias
2.4.3.Em
termos morais, além do descanso físico necessário, precisamos com freqüência parar
também para refletirmos se nosso comportamento é adequado, ou seja, se é convergente, se é útil e também se é eficiente;
se os sentimentos que inspiram e orientam nossas ações são altruístas e se
estimulam o altruísmo de nossos irmãos na Humanidade
2.4.3.1.
A necessidade de pausas para reflexão é tão
grande que nosso mestre, Augusto Comte, recomendava que nos ocupássemos de tais
reflexões três vezes por dia (na forma da oração positiva), uma vez por semana
(no culto semanal) e várias vezes por ano (na forma dos cultos doméstico e
público)
2.4.4.Indo
diretamente ao ponto: a necessidade moral do culto deve-se a que os impulsos
egoístas em si mesmos são tantos e tão intensos e as dificuldades práticas da
vida são também tantas, tão intensas e tão propensas ao egoísmo que é
necessário reafirmar constantemente o altruísmo, por todos os meios possíveis e
disponíveis – e mesmo todos esses meios são com freqüência insuficientes para
nossas necessidades
2.4.5.Daí
também a necessidade sociológica de renovações cíclicas de nossas forças, de
nossos sentimentos altruístas e de nossas reflexões convergentes: a celebração
coletiva por um lado orienta o conjunto da sociedade e, a partir disso, por
outro lado, orienta e reforça em cada um de nós nosso altruísmo e nossa
convergência
2.5. A
Festa da Humanidade, então, a partir da lembrança agradecida de nossos
antepassados e nossos antecessores, retomadas nossas forças morais,
intelectuais e práticas, é uma festa de esperança, alegria e altruísmo
3. Justificada
a importância do culto à Humanidade, passemos à celebração da própria
Humanidade
4. A
Humanidade é o verdadeiro ser supremo; é ao mesmo tempo uma idealização intelectual e artística que
estimula e orienta nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas atividades
práticas, e uma realidade que se
desenvolve ao longo do tempo, que nos fornece tudo o que temos e que permite
que sejamos tudo o que somos
4.1. A
Humanidade, portanto, é a verdadeira providência: ela dá-nos alimentos,
valores, idéias e orientação; ela dá-nos acolhimento, pertencimento e todas as
possibilidades de que gozamos; ela dá-nos alegria, felicidade, metas; ela
dá-nos palavras, imagens, riquezas; ela dá-nos nossas famílias, nossos amigos,
nossos trabalhos, nossas pátrias, nossos concidadãos; ela dá-nos os meios de
conhecer e utilizar o Grão Fetiche, nosso lar comum, e também o Grão Meio, o
espaço abstrato que nos permite pensar para agir conforme o altruísmo
4.2. As
tendências metafísicas prevalecentes em nossa época, ou seja, as tendências
destrutivas e críticas estabelecem como algo próprio dos “bens pensantes” a
consideração de que a Humanidade não presta, de que os seres humanos são
desprezíveis: alegadamente esse exercício dos “bens pensantes” teria por
objetivo a valorização do ser humano e o progresso!
4.2.1.Essa
consideração “crítica” – que não é, como se deseja e como se propagandeia,
crítica no sentido de “consciente” e “realista”, mas apenas e cinicamente destruidora – desvaloriza o ser humano,
nega o altruísmo, afirma apenas o egoísmo e também nega o progresso, isto é, o
desenvolvimento histórico do ser humano
4.2.2.Se,
por um lado, fazemos celebrações cíclicas,
temos que nos lembrar que o desenvolvimento ao
longo do tempo é verdadeiro, é real: embora
nossas celebrações sejam cíclicas, a história da Humanidade não é a repetição
cíclica das mesmas tendências – e, em particular, não é a repetição
cíclicas das mesmas más tendências
4.3. A
Humanidade, além disso, é um ser composto,
que por sua vez é objetivo e subjetivo:
4.3.1.A
Humanidade existe e age por meio de seus órgãos vivos, os servidores da Humanidade, que também foram chamados por Augusto
Comte de “agentes” da Humanidade, com
isso querendo indicar que cada um de nós, a partir das condições sociais em que
surgimos e vivemos, temos agência, ou
seja, capacidade de ação
4.3.2.Cada
um de nós existe concretamente, de maneira objetiva; ao mesmo tempo, nossas
ações, bem como nossos sentimentos e nossas idéias, são condicionados e
orientados pelo conjunto do que recebemos de nossos antepassados e de nossos
antecessores; isso implica a subordinação sociológica das nossas vidas e
evidencia o aspecto subjetivo de nossas existências
4.3.3.Se,
durante nossas vidas objetivas, somos servidores da Humanidade, nem por isso a
integramos: devemos tudo a ela e todos os nossos esforços são em seu favor, mas
a incorporação à Humanidade implica o
merecimento, ou seja, um esforço ativo e consciente, ao longo de nossas vidas,
considerando as situações objetivas e subjetivas, sociológicas e individuais de
cada um: apenas sete após a transformação individual de cada um, em que
passamos da vida objetiva para a imortalidade subjetiva, é que se decide se
cada servidor da Humanidade pode ser efetivamente incorporado a ela e, assim,
se merece ou não um culto público específico
4.4. Como
dissemos antes, a Festa da Humanidade, então, é e deve ser uma celebração de
paz, alegria, felicidade, esperança e altruísmo
4.4.1.Nossa
época metafísica e crítica infelizmente entende manifestações de alegria,
esperança, altruísmo como formas de alienação, de autoengano, de negação dos
problemas e das dificuldades: essa é uma forma lamentável, triste e degradante
de entender o ser humano
4.4.2.A
Festa da Humanidade não finge nem nega as dificuldades próprias ao ser humano;
mas, ainda assim, a celebração clara, direta, pura dos sentimentos generosos é
necessária: são o amor, a esperança, a alegria que tornam a vida digna de ser
vivida e compartilhada e que, assim, justificam os esforços que realizamos para
enfrentar as dificuldades e os problemas; além disso, como comentamos antes, em
face da maior energia do egoísmo e do estímulo que a vida prática dá ao
egoísmo, precisamos sempre reafirmar constantemente os sentimentos generosos –
máxime quando celebramos diretamente o verdadeiro Grande Ser
5. Após
celebrarmos a Humanidade, queremos aproveitar a ocasião para tratarmos de uma
outra ordem de reflexões; celebrar a Festa da Humanidade inclui também considerar
o que o futuro reserva-nos, seja em termos de previsões cosmológicas,
sociológicas e morais, seja, a partir disso, em termos de projetos futuros
5.1. Há
algumas semanas, um rapaz que tem estudado o Positivismo, em um grupo do
Whattsapp fez uma pergunta, talvez como uma questão sincera, talvez como uma
crítica disfarçada; quaisquer que tenham sido os motivos, a questão tem que ser
enfrentada: quais são os desafios que o Positivismo deve enfrentar no século
XXI?
5.1.1.Essa
questão tem a ver com o equívoco tema da “atualização” do Positivismo
5.1.1.1.
Esse tema é equívoco porque quem afirma a
necessidade de atualização – algo com que qualquer positivista de modo geral
concorda sem dificuldade nenhuma – com freqüência pressupõe que quem é novo na
Religião da Humanidade e/ou jovem, apenas porque é novo e/ou jovem, saberia o
que é o Positivismo, saberia o que é adequado para o Positivismo e saberia em
que deveria consistir essa atualização – todas essas assunções de uma
arrogância escandalosa
5.1.1.2.
Tratamos dos sentidos possíveis da atualização
do Positivismo e da arrogância demonstrada por muitos novos e/ou jovens
respectivamente em nossas prédicas dos dias 10 de São Paulo de 169 (30.5.2023)
(aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2023/05/sobre-comtismo-e-atualizacao-do.html)
e 3 de Gutenberg de 169 (15.8.2023) (aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2023/08/orgulho-no-estudo-do-positivismo.html)
5.2. Para
tratarmos dos “desafios do Positivismo no século XXI”, devemos considerar os
desafios dos séculos XIX e XX; se não o fizermos, perderemos a historicidade da
reflexão e a ação política não fará sentido
5.3. Na
pág. 480 do cap. 5 (“Apreciação sistemática do presente, a partir da combinação
do futuro com o passado, donde quadro geral da transição extrema”) do vol. IV (“Contendo
o quadro sintético do futuro humano”) da Política positiva Augusto Comte propôs sete medidas políticas gerais que a
Religião da Humanidade e os positivistas deveriam perseguir
5.3.1.Essas
medidas foram inspiradas pelo conjunto da história do Ocidente, em particular
dos séculos XVIII e XIX
5.3.2.De
qualquer maneira, todas essas metas
mantêm-se atualíssimas, com as devidas mudanças devidas à alteração de
contextos (ou seja, mutatis mutandis):
Medidas
|
Âmbito das medidas
|
Comentários
|
1
|
Liberdade especulativa com
o fim dos orçamentos teóricos
|
Temporal
|
Necessários em todos os
lugares
|
2
|
Substituição das Forças
Armadas pela polícia
|
3
|
Instituição do triumvirato
sistemático
|
4
|
Desenvolvimento do culto
histórico
|
Espiritual
|
5
|
Estabelecimento das
escolas positivistas
|
6
|
Ascendente do Positivismo
sobre o comunismo
|
7
|
Decomposição dos grandes
estados
|
Resume as duas séries
anteriores
|
5.3.3.Essas
medidas, claro, são precedidas e acompanhadas pela difusão do Positivismo, o que significa que são precedidas e
acompanhadas pela propaganda da Religião
da Humanidade, com a elaboração de materiais diversos, com a aplicação
prática de nossas concepções, com a participação em debates públicos – e também
com a formação de sacerdotes e apóstolos qualificados moral, intelectual e
praticamente
5.3.3.1.
Bem vistas as coisas, a exigência de difusão do
Positivismo está pressuposta nas metas 4 a 6 acima, em particular talvez na de
n. 5 (escolas positivas)
5.3.4.Além
disso, de maneira mais ampla e mais
difusa, parece-nos que o objetivo de todas essas metas consiste em realizar
e em dar concretude às características gerais do espírito positivo: real, útil, certo, preciso, relativo,
orgânico e simpático, além de fraterno,
histórico e objetivo-subjetivo
5.3.5.Assim,
como uma sugestão pessoal nossa,
poderíamos acrescentar itens 8, 8.1 e 9 à lista acima, ambos no âmbito do poder
Espiritual, da seguinte forma:
-
Item 8: Constituição de um sacerdócio positivo
-
Item 8.1: Difusão e aplicação da Religião da Humanidade
-
Item 9: Realização e aplicação concreta do
espírito positivo
5.4. Considerando
o conjunto do século XX, podemos considerar os seguintes desafios concretos, temporais
e espirituais, que nos foram legados:
-
Temporais:
·
Afirmação radical do pacifismo e proscrição das guerras
de conquista
·
Garantia das liberdades civis e política
·
Afirmação e defesa da dignidade humana
·
Apoio aos processos de descolonização, autonomia
nacional e desenvolvimento nacional
·
Promoção da cooperação internacional pacífica,
fraterna e construtiva
·
Combate aos fascismos e aos sovietismos
-
Espirituais:
·
Combate ao absolutismo academicista e ao
cientificismo
·
Moralização urgente da ciência
·
Afirmação geral da positividade e combate geral
à metafísica (moral, sócio-política)
5.4.1.Não
é difícil de perceber que os desafios acima não medidas específicas; são, propriamente,
“desafios”, isto é, problemas que nos exigem soluções
5.4.2.Da
mesma forma, não é difícil perceber que os desafios acima podem e devem ser enfrentados
por meio de aplicações práticas e específicas, ou até alternativas, dos
objetivos indicados por Augusto Comte para o século XIX
5.5. Considerando
o quarto de século já transcorrido neste século XXI, podemos considerar os seguintes
desafios temporais e espirituais:
-
Temporais:
·
Afirmação urgente da paz e da fraternidade
universais
·
Apoio convicto à transição energética
·
Afirmação e estímulo à coordenação internacional
e aos esforços nacionais para controlar e reverter a crise climática
-
Espirituais:
·
Afirmação e defesa da dignidade humana
·
Combate aos racismos e às discriminações
·
Combate aos identitarismos
5.5.1.Como
dissemos a respeito do item anterior, não é difícil de perceber que os desafios
acima não medidas específicas; são, propriamente, “desafios”, isto é, problemas
que nos exigem soluções
5.5.2.Também
não é difícil perceber que os desafios acima podem e devem ser enfrentados por meio
de aplicações práticas e específicas, ou até alternativas, dos objetivos
indicados por Augusto Comte para o século XIX
5.6. Os
tópicos que sugerimos acima, nos itens 3.3 a 3.5, por um lado são cumulativos
de problemas que surgiram ao longo do tempo (por exemplo, a crise climática, a
transição energética, o combate aos fascismos e aos identitarismos); mas, por
outro lado, são formas atuais de desafios e necessidades antigos (a defesa das
liberdades, a afirmação do altruísmo, do pacifismo, do relativismo)
5.7. Como
observamos antes, reconhecemos claramente que os tópicos acima de modo geral não
são medidas específicas, mas são desafios a serem enfrentados; assim, eles apresentam
um caráter menos específico que as medidas
indicadas por Augusto Comte
5.7.1.Ainda
que sejam menos específicas essas indicações, parece-nos que elas ainda assim
permitem conjugar uma ampla possibilidade de atuação concreta dos positivistas
com preocupações específicas em nossas vidas
5.8. Por
outro lado, importa insistir muito em que a centralidade da (1) reconstituição de um sacerdócio
positivista (1.1) convergente, (1.2) bem formado, (1.3) atuante e (1.4) responsável
impõe-se e antepõe-se a todas as metas acima: tal sacerdócio é condição
preliminar para qualquer atuação posterior
5.8.1.Não
foi por acaso que, no Apelo aos
conservadores, nosso mestre afirmou com clareza e com todas as letras que a
preocupação fundamental de todos os positivistas religiosos deve ser não a
tomada do poder, mas a difusão do Positivismo
5.8.2.Um
sacerdócio bem formado exige muitos aspectos sucessivos e, a partir disso,
concomitantes: (1) ler Augusto Comte
e os positivistas ortodoxos; (2) entender
Augusto Comte e os ortodoxos; (3) viver
as prescrições, orientações e concepções de Augusto Comte; além disso, é
necessário conhecer o mundo e a sociedade em que se vive (mas, sendo bem
franco, essa exigência nem precisaria ser lembrada, na medida em que ela com freqüência
é afirmada mesmo para negar as exigências
anteriores)
5.8.2.1.
Uma frase que era usada na Igreja Positivista do
Brasil resume, pela negativa, o conjunto das indicações acima: como se dizia
lá, “muitas pessoas entram no Positivismo, mas o Positivismo não entra nelas”,
ou seja, são pessoas que passam a freqüentar o ambiente positivista, até passam
a conhecer a doutrina, mas não a aplicam em suas próprias vidas, não sabem
aplicá-la ao mundo e muitas vezes a distorcem sem o menor pudor (seja para
justificar o injustificável, seja mesmo para o cúmulo de negar a Religião da
Humanidade!)
5.9. Os
desafios do Positivismo são muitos, como, de resto, são os desafios que se
impõem à Humanidade: a solução para uns e outros passa pelo mesmíssimo caminho,
que é a difusão do Positivismo e do espírito positivo, com a reconstituição do
sacerdócio positivo, convergente, altruísta e instruído
6. Com
essas reflexões, queremos concluir esta Festa da Humanidade, não apenas pela
lembrança e pela reafirmação de seu amor, mas também pela indicação de que
devemos amá-la e conhecê-la para sempre e melhor servi-la
6.1. Invocação
final