Filosofia Social e Positivismo
Este blogue é dedicado a apresentar e a discutir temas de Filosofia Social e Positivismo, o que inclui Sociologia e Política. Bem-vindo e boas leituras; aguardo seus comentários! Meu lattes: http://lattes.cnpq.br/7429958414421167. Pode-se reproduzir livremente as postagens, desde que citada a fonte.
27 novembro 2025
Sugestões para a Black Friday Altruísta
Fazemos abaixo sugestões despretensiosas para doações na Black Friday Altruísta:
- Igreja Positivista Virtual: chave pix ApostoladoPositivista@gmail.com
26 novembro 2025
A bandeira nacional – amor, ordem, progresso
No dia 21 de Frederico de 171 (25.11.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Segunda Parte - Conduta dos positivistas em relação aos retrógrados).
No sermão abordamos a proposta de inclusão da palavra "amor" na bandeira nacional republicana brasileira, conforme o projeto de lei n. 5883/2025, de autoria do Deputado Federal Chico Alencar.
Também abordamos uma série de eventos adicionais que ocorreram nos dias imediatamente anteriores à prédica e que merecem referência:
- a marca de 600.000 visitas a este blogue Filosofia Social e Positivismo
- a proposta de Black Friday Altruísta
- a promulgação da Lei n. 15.263/2025, a "Lei da Linguagem Simples"
- o trânsito em julgado da ação contra o fascista ex-Presidente da República e seus asseclas.
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (https://youtube.com/live/RD64riy8P4g) e Igreja Positivista Virtual (https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/2665640560436238).
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
A bandeira nacional – amor, ordem,
progresso
(21 de Frederico de 171/25.11.2025)
1. Abertura da prédica
2. Datas e celebrações:
2.1. Dia 20 de Frederico (24.11): transformação de Henrique Oliveira (2002 – 23 anos)
2.2. Dia 21 de Frederico (25.11): nascimento de Miguel Lemos (1854 – 171 anos)
3. No dia 25 de novembro – hoje! – o nosso blogue Filosofia Social e Positivismo ultrapassou a marca de 600.000 visualizações! (A marca anterior, de meio milhão, foi atingida em 18 de março de 2025, ou seja, há seis meses)
4.1. No dia 28 de novembro ocorrerá aqui no Brasil, espelhando os Estados Unidos, a Black Friday, que é um dia de grandes descontos comerciais; para os consumidores é de fato uma grande oportunidade, mas é ao mesmo tempo um grande estímulo ao consumismo e ao egoísmo
4.2. Assim, propomos que, além dos gastos com a Black Friday, façam-se também doações e auxílios: será a Black Friday Altruísta
4.3. Além disso, é claro que apelamos para que, na Black Friday Altruísta, também se façam doações para a Igreja Positivista Virtual, via Pix Positivo (ApostoladoPositivista@gmail.com)
5. Promulgação da Lei n. 15.263/2025 (chamada de “Lei da Linguagem Simples”), em 14 de novembro de 2025
5.1. Há dois motivos principais para celebração dessa lei:
5.1.1. Trata-se de um verdadeiro marco republicano e de um avanço sociopolítico importante, que respeita como cidadã a população comum e o papel de comunicação da linguagem;
5.1.2. Em decorrência dos aspectos acima, no seu Art. 5º, inc. XI, essa lei rejeita a linguagem identitária, equivocadamente chamada de “linguagem neutra” e que apresenta uma quantidade enorme de problemas morais, intelectuais e práticos
5.2. Vale notar que a simplicidade da linguagem, com vistas à compreensão do comum do povo e à comunicação efetiva, sempre foi uma preocupação dos positivistas: assim, tanto Miguel Lemos e Teixeira Mendes escreviam com grande clareza e propuseram uma simplificação da língua portuguesa quanto nós, em nossas prédicas e em nossas anotações, procuramos ser o mais claros possível
6. Trânsito em julgado da ação contra golpistas e encarceramento oficial e definitivo de Jair Bolsonaro, pelo prazo de 27 anos e três meses
6.1. De uma perspectiva da normalidade social e política, o fato de o terceiro ou quarto ex-Presidente da República ser encarcerado é motivo de preocupação e tristeza
6.2. Dito isso, na medida em que esse ex-Presidente em particular passou todo o seu mandato tramando um golpe de Estado, desprezando a população, prevendo uma violenta guerra civil, estimulando o ódio, a violência e o clericalismo, além de muitos outros atos detestáveis; na medida também em que esse ex-Presidente foi encarcerado após o trânsito em julgado de um processo judicial feito às claras, com o respeito escrupuloso ao devido processo legal, cremos que é realmente motivo de comemoração ele ter sido encarcerado e sua pena de 27,25 anos finalmente ter início
7. Leitura comentada do Apelo aos conservadores
7.1. Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:
7.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela
7.1.2. O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige
7.1.3. Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra
7.2. Outras observações:
7.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores
7.2.2. O capítulo em que estamos é a “Segunda Parte”, cujo subtítulo é “Conduta dos conservadores em relação aos retrógrados”
7.3. Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!
8. Exortações
8.1. Sejamos altruístas!
8.2. Façamos orações!
8.3. Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse
8.4. Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)
9. Celebração da bandeira nacional e amor, ordem e progresso
9.1. Na semana passada, quando planejamos estes comentários sobre a bandeira nacional, queríamos que eles fossem breves
9.1.1. Na verdade, o que nos interessava inicialmente era apenas fazer uma rápida e simples homenagem à bandeira, a Teixeira Mendes (que a elaborou) e a Décio Villares (que a pintou originalmente), por ocasião do Dia da Bandeira (15 de Frederico/19 de novembro)
9.1.2. Entretanto, como surgiu no debate público uma vez a proposta de inclusão da palavra “amor” na bandeira – agora, na forma de um projeto de lei, elaborado pelo Deputado Federal Chico Alencar –, consideramos que algumas considerações são necessárias
9.1.3. Dessa forma, estes breves comentários terão três partes:
9.1.3.1. Homenagem a Teixeira Mendes e Décio Villares
9.1.3.2. Crítica à atuação de Chico Alencar e seu “Movimento Amor na Bandeira”
9.1.3.3. Considerações sobre o mérito da inclusão do “amor” na bandeira
9.2. Homenagem a Teixeira Mendes e a Décio Villares
9.2.1. Teixeira Mendes foi o autor da concepção da bandeira e Décio Villares foi o artista que pintou o protótipo; o astrônomo Manuel Pereira Reis ajudou na idealização do céu de 15 de novembro de 1889
9.2.1.1. A bandeira nacional republicana é a face mais visível e onipresente da atuação dos positivistas – mas, bem entendido, não é a única –, correspondendo ao símbolo por excelência do Brasil
9.2.2. A bandeira republicana é verdadeiramente histórica e altruísta, que realiza o “conservar melhorando” e o “Ordem e Progresso”, ao inserir sobre a base imperial elementos da República, ou seja, o desenvolvimento histórico sobre a permanência social
9.2.3. A bandeira republicana é verdadeiramente nacional, contra a proposta liberal de Rui Barbosa e de seus asseclas, e que queriam adotar uma cópia servil da bandeira dos EUA
9.2.4. A bandeira republicana é progressista, ao afinal de contas incluir o “Ordem e Progresso”
9.2.5. Teixeira Mendes e os positivistas abordaram esses temas em várias ocasiões, de maneira pública e clara, como se pode ver por exemplo nestas três publicações:
9.2.5.1. Raimundo Teixeira Mendes (port.), Benjamin Constant. Esboço de uma apreciação sintética da vida e da obra do fundador da República Brasileira (Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1936, 3ª ed.): https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/18902d7e-c4aa-4199-aa85-d81e3a4d82f6
9.2.5.2. Raimundo Teixeira Mendes (port.), A bandeira nacional (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1958, 3ª ed.): https://archive.org/details/n.110abandeiranacional
9.2.5.3. Luiz Hildebrando de Horta Barbosa (port.): “A bandeira republicana e sua história” (Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro, jan.1951): https://archive.org/details/luiz-hildebrando-de-horta-barbosa-bandeira-republicana-e-sua-historia/mode/2up
9.3. Sobre a proposta feita por Chico Alencar de mudar a bandeira nacional:
9.3.1. Antes de mais nada, é necessário reconhecermos que, lamentavelmente, temos que fazer algumas considerações críticas em um momento em que desejávamos apenas sermos afirmativos e plenamente generosos
9.3.2. O Deputado Federal Chico Alencar (do Partido Socialismo e Liberdade, eleito pelo estado do Rio de Janeiro) protocolizou em 18 de novembro de 2025 (portanto, na véspera do Dia da Bandeira) o Projeto de Lei n. 5.883/2025, propondo que se mude a bandeira nacional, incluindo a palavra “Amor” antes do “Ordem e Progresso”[1]
9.3.2.1. A proposta do Deputado Alencar é generosa; há vários anos ele manifesta-se nesse sentido e, considerando a nossa agressiva época, a proposta é razoável e até merece apoio
9.3.2.2. Alencar integra um “Movimento Amor na Bandeira”, de composição bastante heterogênea, existente desde pelo menos 2021 e que, lamentavelmente, exclui conscientemente os positivistas[2]
9.3.3. Deixando para entrar daqui a pouco no mérito da questão, o fato é que, lamentavelmente, para fazerem e justificarem sua proposta de alteração da bandeira, Alencar e seu movimento difundem conscientemente muitos erros, preconceitos e desinformações, seja sobre o Positivismo, seja sobre os positivistas, seja sobre a história do Brasil
9.3.3.1.1. Alencar e esse grupo referem-se obrigatoriamente ao Positivismo, a Augusto Comte, a Teixeira Mendes e à história nacional, mas muitas das observações que eles fazem sobre o Positivismo e os positivistas estão totalmente erradas e que correspondem a esforços sistemáticos de desinformação da parte de diversos grupos sociais e políticos (de esquerda mas também de direita!)
9.3.3.1.2. Assim, não é por acaso que desde novembro de 2021 até a data de hoje (25.11.2025) eles recusaram-se a ouvir os positivistas; da minha parte, em diversas ocasiões tentei entrar em contato, com pouco ou nenhum sucesso
9.3.3.1.2.1. Vale notar que nos últimos dias nossa amiga Sandra Fernandes tentou entrar em contato com a assessoria parlamentar do Deputado Chico Alencar, especialmente via Whattsapp; ela teve um limitado sucesso – limitado, mas, considerando que eu mesmo não tive sucesso nenhum até então, já foi alguma coisa
9.3.3.1.2.2. Dito isso, após muitos e muitos esforços de contato, realizados nos mais variados canais (correio eletrônico, Whattsapp via texto, Whattsapp via gravação de voz, Instagram, Facebook), no meio da tarde de hoje (dia 25.11.2025) tivemos afinal uma resposta da assessoria de Chico Alencar – resposta genérica, com a pergunta “como podemos ajudar?”, mas, enfim, após quatro anos e uma semana, alguma resposta
9.3.3.1.2.3. Parece-nos que o argumento definitivo que convenceu a assessoria do Deputado Chico Alencar a entrar em contato conosco foi, lamentavelmente, o do “lugar de fala”
9.3.3.2. De qualquer maneira, em virtude da apresentação do PL 5883/2025 e antes de que, afinal, os assessores do Deputado Chico Alencar entrassem em contato conosco, redigimos um artigo para o jornal Monitor Mercantil, que foi publicado justamente no dia de hoje, ou seja, 25.11.2025
9.3.3.2.1. Esse artigo intitula-se “Cancelamento do positivismo: da academia à bandeira nacional” e está disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/11/monitor-mercantil-cancelamento-do.html
9.3.4. Como se lê na internet[3], a breve justificativa do Projeto de Lei n. 5883/2025 é a seguinte:
A forma original do Pavilhão Nacional foi
idealizada por Teixeira Mendes, com a colaboração de Miguel Lemos. O professor
Manuel Pereira Reis foi o responsável pela organização das estrelas em nossa
bandeira, e o desenho foi executado por Décio Villares. Muitos talentos e uma
só posição filosófica: o Positivismo.
Essa corrente filosófica ganhou muita força
no cenário intelectual e republicano brasileiro à época da Proclamação da
República, o que acarretou a adoção do dístico que hoje vemos estampado na
Bandeira Nacional, na forma aprovada pelo Decreto n° 4, de 19 de novembro de
1889.
Nesse momento histórico da Nação, o lema
positivista - o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim -
foi resumido na expressão “Ordem e Progresso”, conforme escreveu Teixeira
Mendes em sua apreciação filosófica sobre a Bandeira.
Tal redução fez perder a essência do lema
original, que procura resumir o positivismo como a religião do amor, a religião
da ordem ou a religião do progresso. Em outras palavras: o amor procura a ordem
e leva ao progresso; a ordem consolida o amor e dirige o progresso; o progresso
desenvolve a ordem e conduz ao amor.
A presente proposição pretende resgatar a
essência do lema original do Positivismo nos dizeres da Bandeira Nacional, pelo
que peço o apoio dos nobres Pares.
9.3.4.1. De maneira notável, a proposta acima conjuga afirmações corretas com afirmações profundamente erradas, tanto em termos teórico-filosóficos quanto empírico-históricos e até morais
9.3.5. De maneira específica, quais os erros difundidos pelo “Movimento Mudar a Bandeira” e, por extensão, por Chico Alencar?
9.3.5.1. Do ponto de vista teórico-filosófico, afirma-se que o “Ordem e Progresso” seria uma corrupção da máxima fundamental do Positivismo, “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”
9.3.5.2. Do ponto de vista empírico-histórico, afirma-se que o autor da bandeira, Raimundo Teixeira Mendes, ao “resumir” a fórmula completa, teria suprimido o “amor” por medo dos militares que proclamaram a República
9.3.5.3. Há problema político geral na atuação do “Movimento Mudar a Bandeira”, que consiste em propor a mudança da bandeira ignorando, ou melhor, desprezando as concepções daqueles que elaboraram filosoficamente essa bandeira
9.3.5.4. Ainda no âmbito empírico-histórico, há o pressuposto de que a Proclamação da República foi meramente uma quartelada realizada por brucutus, militares ansiosos em desprezar e submeter os civis
9.3.5.5. Assim, a proposta de mudança da bandeira, em sua justificativa e em seus procedimentos, faz uma barafunda de muitas coisas ruins e algumas boas: ignorância e desprezo pelo Positivismo e pelos positivistas; ignorância sobre a Proclamação da República, seus membros, seus ideais; mistificação sobre a monarquia; rejeição ao militarismo (em particular ao de 1964)
9.3.6. O que há de errado nas afirmações acima?
9.3.6.1. A máxima “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim” é, sim, a máxima fundamental do Positivismo e tem um caráter geral, ou seja, religioso
9.3.6.1.1. É claro que a frase “O amor por princípio...”, sendo religiosa, é mais densa e profunda que o simples “Ordem e progresso”
9.3.6.1.2. Todavia, o “Ordem e progresso” não é um resumo da outra frase, tendo existência por si só, ao representar ideais sociopolíticos
9.3.6.1.3. Como se pode ler no Apelo aos conservadores (que é de 1855), ainda que estreitamente vinculadas, as duas frases têm âmbitos diferentes e, daí, redações diferentes, relativas a situações diferentes
9.3.6.1.4. O “Ordem e Progresso” não sendo um resumo do “Amor por princípio”, sua formulação não corresponde a uma supressão do “amor”
9.3.6.1.5. A conclusão é bastante direta: o “Ordem e progresso”, portanto, não é uma corrupção teórica do “Amor por princípio...”
9.3.6.2. Por outro lado, quando ocorreu a Proclamação da República, Teixeira Mendes projetou por iniciativa pessoal e independentemente do governo provisório uma bandeira; esse projeto foi em seguida encaminhada ao governo provisório republicano por intermédio de Benjamin Constant
9.3.6.2.1. A proposta de Teixeira Mendes tinha clara e conscientemente, desde o início, apenas o “Ordem e Progresso”
9.3.6.2.2. Como Benjamin Constant era uma pessoa gentil, pacífica, convergente e extremamente respeitada, a proposta de Teixeira Mendes foi aceita
9.3.6.2.3. Portanto, a proposta de Teixeira Mendes não foi elaborada por um covarde submetido a brucutus em meio a uma quartelada, que, por seu turno, teriam vetado (por algum motivo escalafobético e indeterminado) o “amor” na bandeira
9.3.6.3. É importante reforçar algo que temos dito nas últimas semanas:
9.3.6.3.1. A Proclamação da República, ao contrário dos mitos difundidos pelos monarquistas, pelos liberais conservadores e pelos marxistas, não correspondeu a uma quartelada realizada por brucutus sequiosos de humilhar o povo, os civis e de impor sua vontade arbitrária
9.3.6.3.2. A República correspondeu, sim, à realização de anseios populares, de toda a população brasileira, afirmados havia décadas (na verdade, mais de um século), para o progresso social e político, contra o violento, agressivo, retrógrado e crescente passivo social e político do Império
9.3.6.3.3. O mito da República como quartelada corresponde à crítica dos monarquistas, serviu para legitimar os golpes de Getúlio Vargas em 1930 e 1937, os golpes fascistas de 1937 e 1964 e para a crítica marxista geral contra tudo o que não é marxista, desde 1922
9.3.6.3.4. Como se vê, a crítica à República – ou seja, ao ideal republicano em geral e ao movimento que resultou em 15 de novembro de 1889 na Proclamação da República – tem graves conseqüências práticas e, por isso, tenho-o abordado nas últimas semanas, como se vê aqui e aqui
9.3.6.4. No que se refere aos positivistas sermos ouvidos sobre a proposta de alteração da bandeira, trata-se de ao mesmo tempo (1) de uma questão de respeito filosófico, (2) de respeito à cidadania, (3) de respeito à história política nacional e (4) de adequada elaboração de uma proposta de lei
9.3.6.4.1. A recusa do “Movimento Mudar a Bandeira” em ouvir os positivistas a respeito da proposta e dos graves e profundos problemas que vimos indicando, muito mais que nos desprezar, tem o efeito de envenenar na raiz a proposta feita, na medida em que nega na prática os sentimentos que alega promover: trata-se, portanto, de incoerência e hipocrisia
9.3.6.4.2. A degradação geral e contemporânea dos sentimentos republicanos, fraternos e altruístas é evidenciada tanto pela recusa do “Movimento Mudar a Bandeira” em ouvir os positivistas quanto pelo fato de que o argumento decisivo para que a assessoria do Deputado Chico Alencar entrasse afinal em contato conosco fosse o do “lugar de fala” – que, por sua vez, é um instrumento para promover, de maneira velada e politicamente aceitável, a censura e o crime de blasfêmia
9.3.7. Para concluirmos esta seção:
9.3.7.1. É importante afirmarmos com clareza que nada do que comentamos acima invalida em si a proposta feita pelo Deputado Chico Alencar; nada do que comentamos acima nos põe em princípio contra essa proposta
9.4. Sobre o mérito da inclusão do “Amor” na bandeira
9.4.1. É uma proposta generosa, que corresponde a necessidades humanas em geral e a exigências políticas nacionais e universais urgentes
9.4.1.1. Nesse sentido, devemos reconhecer que o Deputado Chico Alencar, apesar dos pesares, elaborou uma proposta altruísta e que empiricamente se aproxima do Positivismo e da positividade
9.4.2. Deixando convictamente o degradante mito de que o “Ordem e Progresso” é falho ou que é corrompido e, portanto, deixando de lado o mito de que o “Ordem e Progresso” deve por si só ser abandonado, a inclusão do “amor” de fato aproxima a bandeira mais do ideal positivista e orienta de maneira mais direta os sentimentos individuais e coletivos
9.4.3. Convém notar que, ainda que ambiguamente, a inclusão do amor permite que algumas das interpretações historicamente erradas sobre o “Ordem e Progresso” sejam postas de lado, em particular aquelas que, à direita e à esquerda, afirmam que só pode haver progresso se houver antes a ordem (sendo que a ordem deve ser autoritária, capitalista etc.)
9.4.4. A bandeira de Teixeira Mendes é inteiramente positivista e ortodoxa, mas, ao mesmo tempo, ela é uma criação inteiramente sua; as indicações de Augusto Comte sobre as bandeiras republicanas e positivistas definitivas seguem outros parâmetros, com a inclusão do “Viver às claras” e “Viver para outrem” em vez do “Ordem e Progresso”; nesse sentido, a inclusão do “amor” não vai contra a ortodoxia positivista
10. Término da prédica
Referências
- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893).
- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.
- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934).
- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), “A República foi mesmo só mais um golpe?” (Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 17.11.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/11/monitor-mercantil-republica-foi-so-um.html.
- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), “Cancelamento do Positivismo: da academia à bandeira nacional” (Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 25.11.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/11/monitor-mercantil-cancelamento-do.html.
- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), “Recuperar e revalorizar a 1ª República” (Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 13.10.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/10/recuperar-e-revalorizar-1-republica.html.
- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), Prédica positiva “A República foi mesmo só mais um golpe?” (Igreja Positivista Virtual, Curitiba, 14.Frederico.171/18.11.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/11/a-republica-foi-so-um-golpe.html.
- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), Prédica positiva “Recuperar e revalorizar a 1ª República” (Igreja Positivista Virtual, Curitiba, 14.Descartes.171/21.10.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/10/recuperar-e-revalorizar-i-republica.html.
- Luís Lagarrigue (esp.), A poesia positivista (Santiago do Chile, 1890): https://archive.org/details/luis-lagarrigue-a-poesia-positivista-1890_202509.
- Luiz Hildebrando de Horta Barbosa (port.): “A bandeira republicana e sua história” (Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro, jan.1951): https://archive.org/details/luiz-hildebrando-de-horta-barbosa-bandeira-republicana-e-sua-historia/mode/2up.
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), A bandeira nacional (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1958, 3ª ed.): https://archive.org/details/n.110abandeiranacional.
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), Benjamin Constant. Esboço de uma apreciação sintética da vida e da obra do fundador da República Brasileira (Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1936, 3ª ed.): https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/18902d7e-c4aa-4199-aa85-d81e3a4d82f6.
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.
[1] Os dados da proposta
podem ser lidos aqui: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2585479.
[2] Cf. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/11/campanha-quer-escrever-amor-na-bandeira-do-brasil-e-combater-odio-politico.shtml
(Folha de S. Paulo, 18.11.2021).




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