No dia 23 de Descartes de 170 (29.10.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua décima terceira conferência, dedicada à evolução histórica própria ao Ocidente (em particular, tratando do duplo movimento moderno).
Na parte do sermão abordamos a atuação de Miguel Lemos e Teixeira Mendes.
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://www.youtube.com/watch?v=pYyA6e-ptbg) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/579410534647835/).
Os tempos da prédica foram estes:
00 min 00 s - início da prédica
02 min 14 s - exortações iniciais
11 min 41 s - efemérides
21 min 40 s - leitura comentada do Catecismo positivista
01 h 02 min 53 s - entendendo a atuação de Miguel Lemos e Teixeira Mendes
01 h 49 min 00 s - sobre o preconceito de Sérgio Buarque do "secreto horror à realidade"
02 h 01 min 47 s - exortações finais
02 h 08 min 50 s - invocação final
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
Adendo de 31.10.2024:
A partir da prédica indicada acima, nosso amigo Hernani Gomes da Costa lembrou-se de dois elogios mútuos de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Como esses elogios são belos e mesmo impressionantes, em vez de apenas os reproduzirmos no roteiro abaixo, decidimos publicá-los em uma postagem toda própria. É esta a nova postagem: Miguel Lemos e Teixeira Mendes apreciam-se mutuamente.
* * *
Prédica positiva
(23.Descartes.170/29.10.2024)
1. Invocação inicial
2. Exortações iniciais
2.1.1. Sejamos altruístas!
2.1.1.1.
Em
particular 1: doemos sangue!
2.1.1.2.
Em
particular 2: mutirão para obter endereços eletrônicos
2.1.2. Façamos orações!
2.1.3. Façamos o Pix da Positividade!
(Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)
3. Efemérides
3.1. Dia 22 de Descartes (28.10): transformação de Edgar
de Proença Rosa (2001)
3.2. Dia 23 de Descartes (29.10): centenário
de nascimento de E. Kant (1724)
3.3. Dia 27 de Descartes (2 de
novembro): dia de finados
3.4. Dia 28 de Descartes (3 de
novembro): transformação de J.-F. E. Robinet (1899)
3.5. Menção honrosa à tese de doutorado
em Antropologia de Vaida Norvilaite, na New School for Social Research (Nova
Iorque), intitulada “The Afterlife of Positivism: Intellectual Ethnography of
Auguste Comte’s Church of Humanity in Brazil”
4. Leitura comentada do Catecismo positivista
4.1. Leitura da décima terceira
conferência, dedicada à tríplice transição ocidental e ao duplo movimento
moderno
5. Sermão: entendendo a atuação de
Miguel Lemos e R. Teixeira Mendes
5.1. O tema de hoje é tanto uma pequena homenagem aos apóstolos da
Humanidade no Brasil quanto uma apreciação
de sua atuação
5.1.1. Embora a apreciação de suas ações
seja por si só uma homenagem, parece-me que é importante explicitamente os
homenagear
5.1.2. Esse tema veio-me à mente por duas
vias:
5.1.2.1.
Por
um lado, em diversos momentos já ouvi ou li comentários no sentido (negativo)
de que os apóstolos teriam sido meros repetidores de Augusto Comte
5.1.2.2.
Por
outro lado, quanto mais leio os textos dos apóstolos, em particular de Teixeira
Mendes, mais e melhor conheço e entendo Augusto Comte e o Positivismo e mais
percebo a elevação moral, intelectual e prática dos próprios apóstolos
5.2. Comecemos então com a homenagem
5.2.1. Alguns dados biográficos muito
sumários:
5.2.1.1.
Miguel
Lemos nasceu em Niterói em 25.11.1854 e faleceu em Petrópolis em 10.8.1917; em
1874 matriculou-se na Escola Central (depois Escola Politécnica) do Rio de
Janeiro, onde teve contato com o Positivismo; em 1876, juntamente com Benjamin
Constant, Teixeira Mendes, Oliveira Guimarães e outros, fundou o Centro
Positivista Brasileiro; em 1877, em virtude de uma manifestação contrária ao
diretor da Escola Politécnica (Visconde do Rio Branco), ele e Teixeira Mendes
foram suspensos por dois anos, indo então para Paris, estudar com Pierre
Laffitte; aí, após alguns anos, recebeu a investidura de aspirante ao
sacerdócio em 1881 e voltou ao Brasil, onde transformou em 11 de maio de 1881 a
modesta Sociedade Positivista do Brasil em Igreja e Apostolado Positivista
Brasileiro, muito mais arrojado; iniciou uma intensa propaganda e atividade
religiosa, política e social, lançando a pedra fundamental do prédio da IPB em
1887; sendo o Diretor da IPB, a partir da década de 1890 sua atividade
diminuiu, cedendo espaço para Teixeira Mendes, seu amigo, cunhado e
Vice-Diretor da IPB; em 1903 afastou-se formalmente da direção da Igreja,
devido a problemas de saúde, e faleceu em 1917
5.2.1.2.
Raimundo
Teixeira Mendes nasceu em 5 de janeiro de 1855 em Caixas (Maranhão) e faleceu
em 28.6.1927 no Rio de Janeiro; mudou-se para a capital em 1867, para concluir
o primário e fazer o ensino secundário; em 1874 matriculou-se na também Escola
Central, onde teve contato com o Positivismo via Benjamin Constant e, em 1875,
já afirmava publicamente sua adesão à doutrina; também conheceu Miguel Lemos em
1874-1875 e tornaram-se amigos e colegas de doutrina; em 1876 foi cofundador da
Sociedade Positivista Brasileira e matriculou-se na faculdade de Medicina; em
1877 foi com Miguel Lemos para Paris; a partir daí, especialmente nas décadas
iniciais, seguiu os passos do amigo e líder; em 1881 voltou ao Brasil e, após
alguns meses atuando na Sociedade Positivista Brasileira, refundou-a como IPB,
na função de Vice-Diretor, até a sua morte, em 1927; em 1903, quando Miguel
Lemos viu-se obrigado a deixar a posição de Diretor, Teixeira Mendes recusou-se
a assumir a posição do amigo, em vista da superioridade moral, intelectual e
prática que percebia nele
5.2.1.3.
Vale
notar que ambos eram amigos íntimos e que um gozava da mais plena confiança do
outro; casaram-se com duas irmãs; em inúmeros momentos (como nas linhas
iniciais de As últimas concepções de
Augusto Comte), Teixeira Mendes fala do “chefe e amigo” Miguel Lemos
5.2.1.4.
Uma
belíssima biografia de ambos é o livro Os
dois apóstolos, do paranaense João Pernetta, escrito em 1927-1929 em três
volumes, logo após a transformação de Teixeira Mendes
5.2.2. Desde quando conheceram o
Positivismo, ambos já eram pessoas superiores; mas a atividade como apóstolos
da Humanidade elevou-os ainda mais
5.2.2.1.
O
homem superior pela inteligência é um gênio; um homem superior pelo caráter é
um herói, um estadista ou, talvez, um gênio prático; um homem superior pelos
sentimentos é um santo: indiscutivelmente Miguel Lemos e, ainda mais, Teixeira
Mendes eram santos – sem embargo de suas altas qualidades intelectuais e
práticas
5.2.2.2.
Não
fazemos essas observações para bajulá-los postumamente, mas porque eles
realmente eram superiores: basta ler seus escritos (mas, claro, é necessário de
fato ler esses escritos)
5.2.3. Assim, o respeito e o culto à sua
memória não é algo banal, mecânico, dogmático ou, ainda, fanático: é o respeito
devido a pessoas que se dedicaram intensamente a atividades públicas de alto
valor, com altruísmo e responsabilidade e sendo exemplos para todos
5.2.3.1.
Assim,
a melhor maneira de percebermos o seu valor é por meio da sua atuação pública,
ou seja, por meio dos seus escritos
5.2.3.2.
Importa
notar que eles atuaram entre o final do século XIX e o começo do século XX
(entre 1881 e 1927): nesse período, a atuação pública dava-se por meio de
manifestações orais (presenciais) e por meio de escritos (livros, artigos,
panfletos, manifestos); os meios de comunicação de massa além dos jornais ainda
não existiam (ou, no caso do rádio, ainda não eram disseminados)
5.2.4. Um comentário que é lateral mas que
eu não poderia jamais deixar de fazer: mutatis
mutandis, todos os elogios que
fazemos a Miguel Lemos e a Teixeira Mendes são também devidos aos grandes
irmãos Lagarrigues (Jorge, João Henrique, Frederico e Luís), que atuaram no
Chile e em Paris
5.3. Consideremos a sua atuação pública,
começando pela seguinte observação: é um profundo erro considerá-los como (1) somente
“repetindo Augusto Comte” e (2) que por isso eles teriam pouco valor
5.3.1. Essas duas noções baseiam-se em um
preconceito academicista e intelectualista segundo o qual o valor de um pessoa,
ou melhor, de um intelectual vincula-se à produção intelectual original
5.3.2. O que Miguel Lemos e Teixeira
Mendes fizeram foi atuar verdadeiramente como um “poder espiritual”,
difundindo, explicando e aplicando o Positivismo
5.3.2.1.
Nos
dias atuais, o que o Positivismo chama de “poder espiritual” é chamado pelo
academicismo de “intelectuais”
5.3.2.2.
Entretanto,
a noção de intelectuais é caracteristicamente individualista (um intelectual é alguém
percebido como um indivíduo isolado, não um membro mais ou menos destacado de
uma corporação) e anticlerical (essa noção foi elaborada desprezando os cleros em
termos históricos e em termos conjunturais, a partir de 1895, com o Caso
Dreyfus)
5.3.2.3.
O
conceito positivista de poder espiritual é muito superior ao de “intelectual”,
pois é historicamente mais amplo, socialmente mais profundo e moralmente mais
correto
5.3.2.4.
Enquanto
os intelectuais são indivíduos que falam em nome de ideais abstratos ou em
defesa de questões específicas, o poder espiritual atua como conselheiro,
consagrador e regulador, além de organizador, mantenedor e intérprete da opinião
pública, avaliador/fiscal e educador
5.3.3. Então, o que alguns desmerecem
afirmando que Miguel Lemos e Teixeira Mendes foram meros repetidores de Comte, na verdade foi, sim, feliz, necessária e
exatamente isso – e muito, muito mais:
5.3.3.1.
Antes
de mais nada, a educação, isto é, a atividade pedagógica baseia-se em larga
medida na repetição: para aprender alguma coisa, temos que repetir e/ou temos
que ler e ouvir repetidamente vários conceitos
5.3.3.1.1.
Para
não gerar equívocos desnecessários e cansativos: essa repetição não é
necessariamente maquinal, não é necessariamente privada de criatividade, não é
necessariamente a repetição dos mesmos termos e das mesmas expressões e não
ocorre sem a autonomia individual (a “agência” individual)
5.3.3.2.
Em
segundo lugar, na absoluta maior parte das vezes essa “mera repetição” deu-se
em meio a explicações da obra de Augusto Comte, ou seja, teve um caráter
verdadeiramente pedagógico
5.3.3.2.1.
Nesses
casos, era necessário repetir os conceitos para poder explicar adequadamente Augusto
Comte ou, inversamente, era necessário repetir as citações de Augusto Comte
para poder explicar os conceitos
5.3.3.2.2.
Além
disso, no caso das citações repetidas, a repetição era necessária para
comprovar que os conceitos apresentadas eram conformes as idéias de Augusto Comte,
ou seja, que suas interpretações eram corretas
5.3.3.3.
Como
um verdadeiro poder espiritual, além
do aspecto estritamente pedagógico, os apóstolos aplicaram as concepções de
Augusto Comte à realidade social carioca, brasileira, sul-americana, ocidental
e mundial
5.3.3.3.1.
Temos
que ter clareza de que, para aplicar algum conceito, convém conhecer esse
conceito: assim, a repetição com freqüência impunha-se como condição para a
aplicação
5.3.3.3.2.
A
respeito da aplicação prática dos conceitos positivistas, é necessário termos
clareza de três aspectos intimamente vinculados: (1) uma doutrina só tem valor
efetivo quando ela é aplicada e aplicável na realidade; (2) a aplicação só ocorre quando há
agentes responsáveis por essa aplicação; (3) a aplicação envolve sempre e necessariamente
a criatividade (além de exigir coragem prática e intelectual)
5.3.3.4.
Os
apóstolos, em particular Teixeira Mendes, realizaram esforços enormes para
explicar e historiar o Positivismo; nesses esforços vê-se o Positivismo em
ação, com o estímulo do altruísmo, com o altruísmo inspirando e orientando a
inteligência e a atividade prática etc.
5.3.3.4.1.
As
publicações da IPB sob a responsabilidade de Miguel Lemos e Teixeira Mendes
compreende bem mais de 500 títulos; em meio a essa impressionante atividade,
considero que bastam apenas alguns volumes para ilustrar o que quero dizer: o Esboço biográfico de Benjamin Constant
(1892), As últimas concepções de Augusto
Comte (1898), Uma visita aos lugares
santos do Positivismo (1899), O ano
sem par (1900), O culto católico
(1903), os escritos Pela Humanidade!
(mais de dez títulos, em português e francês, escritos durante a I Guerra
Mundial)
5.3.3.5.
Além
disso tudo, há também efetivamente obras inovadoras;
podemos considerar aí As últimas
concepções de Augusto Comte (1898), A
filosofia química segundo Augusto Comte (1898), O ano sem par (1900), O culto
católico (1903)
5.4. Uma concepção que se aproxima
bastante da idéia dos apóstolos como “meros repetidores”, mas que por si só é
diferente dela, é o preconceito desenvolvido pelo historiador paulista Sérgio Buarque
de Holanda, para quem os positivistas tinham um “secreto horror à realidade”
5.4.1. Para expor com algum detalhe a
atuação dos apóstolos, retomo algumas considerações feitas em 2014 e publicadas
nos livros Laicidade na I República (Curitiba, Appris, 2016) e, em particular, no cap. 6 de Comtianas brasileiras (Curitiba, Appris, 2018)
5.4.1.1.
Reproduzirei
uma tabela e repetirei algumas reflexões que fiz no final do cap. 6 de Comtianas
5.4.1.2.
O
objetivo dessa repetição é retomar uma reflexão que, embora surgida de outras
preocupações, cabe muito bem aqui
5.4.2. Nos documentos indicados acima, fiz
a análise dos temas de 355 títulos da IPB publicados entre 1881 e 1927,
chegando a 27 categorias principais:
Distribuição
das categorias principais
|
CATEGORIAS PRINCIPAIS
|
N.
|
%
|
1.
|
Abolição da escravidão
|
8
|
2,25
|
2.
|
Aliança religiosa
|
2
|
0,56
|
3.
|
Casamento civil
|
6
|
1,69
|
4.
|
Catolicismo
|
3
|
0,85
|
5.
|
Combate à imigração
|
1
|
0,28
|
6.
|
Comemoração histórica
|
17
|
4,79
|
7.
|
Culto católico
|
1
|
0,28
|
8.
|
Culto positivista
|
54
|
15,21
|
9.
|
Despotismo sanitário
|
25
|
7,04
|
10.
|
Ensino obrigatório
|
12
|
3,38
|
11.
|
História do Positivismo no Brasil
|
26
|
7,32
|
12.
|
Indigenismo
|
10
|
2,82
|
13.
|
Liberdade comercial
|
1
|
0,28
|
14.
|
Liberdade de testar
|
1
|
0,28
|
15.
|
Liberdade espiritual
|
13
|
3,66
|
16.
|
Liberdade profissional
|
3
|
0,85
|
17.
|
Militarismo
|
15
|
4,23
|
18.
|
Organização da República
|
55
|
15,49
|
19.
|
Proclamação da República
|
10
|
2,82
|
20.
|
Incorporação do proletariado
|
1
|
0,28
|
21.
|
Reforma ortográfica
|
5
|
1,41
|
22.
|
Relações internacionais
|
43
|
12,11
|
23.
|
Separação Igreja-Estado
|
14
|
3,94
|
24.
|
Teoria do Brasil
|
2
|
0,56
|
25.
|
Teoria política
|
23
|
6,48
|
26.
|
Teoria médica
|
1
|
0,28
|
27.
|
Teoria psicológica
|
3
|
0,85
|
|
TOTAL
|
355
|
100,00
|
Categorias
principais recorrentes
|
CATEGORIAS PRINCIPAIS
|
N.
|
%
|
1.
|
Organização da República
|
55
|
15,49
|
2.
|
Relações internacionais
|
43
|
12,11
|
3.
|
Despotismo sanitário
|
25
|
7,04
|
4.
|
Teoria política
|
23
|
6,48
|
5.
|
Militarismo
|
15
|
4,23
|
6.
|
Separação Igreja-Estado
|
14
|
3,94
|
|
TOTAL
|
179
|
49,29
|
5.4.3. Esses dados indicam que a atuação
dos apóstolos foi bastante variada, abarcando uma grande quantidade de temas e
assuntos; ao mesmo tempo em que se dedicaram com atenção e cuidado aos aspectos
religiosos do Positivismo, também atuaram de maneira cívica, intervindo em
temas que agitavam a opinião pública e nos quais um poder espiritual era
necessário
5.4.3.1.
Cerca
de metade (49,29%) dos opúsculos aborda questões concretas e de caráter cívico
imediato, com profundas implicações para a vida coletiva, para as famílias e
para os indivíduos
5.4.3.2.
Como
indiquei nos livros acima, essa atuação rejeita de maneira cabal o degradante
preconceito manifestado pelo historiador paulista Sérgio Buarque de Holanda (em
Raízes do Brasil, de 1936), segundo
quem os positivistas, assim como os intelectuais da I República, eram “grandes
ledores”, intelectualmente molengas, que tinham “um secreto horror à realidade”
5.4.4. Em face do preconceito criado por Sérgio
Buarque, impõem-se as seguintes reflexões:
5.4.4.1.
Os
positivistas, em particular Miguel Lemos e Teixeira Mendes, desejavam reformar
a sociedade; “Sua preocupação era constituir uma nova
opinião pública, ou, por outra, uma opinião pública renovada. Buscavam
aconselhar, sugerir, orientar, ensinar; transmitiam valores e ideias e
rejeitavam o mando”
5.4.4.2.
Essa
atuação era extremamente realista – mas “realista” no sentido positivo, ou
seja, conhecendo a realidade, entendendo os problemas e, a partir do altruísmo,
da fraternidade universal, da dignidade humana, da atividade pacífica,
colaborativa e construtiva, propondo soluções
5.4.4.3.
Além
disso, cabe refletir:
“qual seria o oposto
do ‘horror à realidade’, isto é, como se poderia entender alguma forma de ‘aceitação
da realidade’? Não é aceitável a proposta, avançada por Sérgio Buarque, de que
consistiria em propor soluções para os problemas denunciados ou mesmo soluções
críveis para tais problemas: os ortodoxos proponham, sim, soluções e eram
soluções críveis, factíveis. Mas o que mais poderia ser a ‘adequação à
realidade’? Aceitar que a ‘questão social’ fosse tratada como ‘caso de polícia’?
Aceitar que as oligarquias explorassem o proletariado urbano, os imigrantes
europeus e asiáticos e, principalmente, mantivessem a discriminação contra os
negros ex-escravos? Aceitar que dizimassem os índios brasileiros? Aceitar a Realpolitik como princípio de regulação entre as unidades políticas, quer fossem
entes da federação (os estados), quer fossem estados nacionais? Poderíamos
continuar a lista ad infinitum.
Os ortodoxos não
tinham nenhum ‘horror à realidade’, secreto ou não. E mesmo que, por hipótese,
eles fossem mais idealistas do que eram, qual o problema? O papel do
intelectual, dizem e teorizam muitos, é propor alternativas ao que ‘aí está’,
é, precisamente, ser utópico. Ora, Augusto Comte defendia o conceito de utopia,
entendendo-o, entre outros elementos, como a antecipação de uma realidade
social possível: os ortodoxos diziam exatamente isso”
5.5.
Para
concluir, a atuação dos apóstolos da Humanidade foi verdadeiramente exemplar,
ou seja, eles atuaram de maneira positiva no Brasil, na América do Sul e no
mundo, além de oferecerem um importante e fortíssimo exemplo de conduta moral,
intelectual, prática, nos âmbitos público e privado, que podem e devem ser
imitados, ou melhor, emulados em todos os lugares
5.5.1. Cremos que reconhecer, valorizar e
emular as contribuições de Miguel Lemos e Teixeira Mendes é a melhor homenagem
que lhes podemos fazer
6. Exortações finais
7. Invocação final