20 julho 2025

Teixeira Mendes: Relações entre absolutismo, egoísmo, materialismo, metafísica

No trecho abaixo Teixeira Mendes relaciona o absolutismo, o egoísmo, a metafísica e o materialismo, opondo-os ao relativismo, ao amor, ao altruísmo e à positividade; em outras palavras, ele relaciona os aspectos afetivos, intelectuais e práticos do ser humano. O poder de síntese nesses trechos é impressionante e os esclarecimentos que fornecem recomendam altamente a sua divulgação: daí os republicarmos agora.

O trecho abaixo foi publicado no opúsculo "O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista" (Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 47-49; 2ª ed. de 2025, p. 30-31.).

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Assim procedendo, o espírito materialista, que se compraz em substituir verbalmente a variedade real dos fenômenos pela unidade fantástica do mais grosseiro. Impossibilita a inteligência de resolver o único problema mental que interessa à Humanidade. Porque, dado o fatal relativismo dos nossos conhecimentos, nada podemos e nada precisamos saber em absoluto. Só o que é acessível ao espírito humano é conceber um mundo ideal representando o mundo real com o grau de aproximação exigido pelo conjunto das nossas necessidades morais, intelectuais e práticas. E, para isso, o conjunto da revolução científica evidencia que a razão teórica deve limitar-se a prolongar a razão popular, instituindo, como o bom senso vulgar, por toda parte, a hipótese mais simples e mais simpática, de acordo com o conjunto dos dados adquiridos. Tal é o característico do espírito positivo, sempre real, útil, claro, preciso, orgânico, relativo e simpático.

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Deixando-nos seduzir pelo absolutismo metafísico, tanto materialista como espiritualista, ficamos expostos aos arrastamentos nos vários pendores egoístas, e tornamo-nos incapazes de modificar, em proveito da Humanidade, quer a Terra, quer a sociedade e os indivíduos. Os horrores da guerra atual constituem a mais cruel demonstração das devastações é que o absolutismo materialista é capaz de conduzir os governos e os povos. Sem as descobertas científicas, seriam impossíveis as modernas máquinas de morticínio e destruição. Mas essas máquinas só foram construídas pelo ascendente dos pendores egoístas a que o absolutismo materialista pretende reduzir a natureza humana. Sem o predomínio de tais pendores, exaltados pelo materialismo pseudocientífico como únicos reconhecidos em nossa constituição moral, não se chegaria à monstruosa pretensão de tudo esperar obter da força bruta, quer de um indivíduo, quer de milhares ou milhões de indivíduos, orgulhosos e desvanecidos com a sua cultura, mental e industrial, tanto pessoal como nacional. Desconhece-se assim, com a mais negra ingratidão, que a ciência em e a indústria não existiriam sem a inateidade dos pendores altruístas, cujos efeitos os nossos antepassados sistematizaram pelas crenças teológicas, atribuindo-os à graça divina.

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Ao passo que, constatada a existência inata dos pendores altruístas, todas as manifestações egoístas, desde a cobiça até o orgulho e a vaidade – quer se trate da fraude, do roubo, do homicídio perpetrados por um indivíduo, quer se trate das revoluções e das guerras – cessam de ser títulos de glória. Em vez de estimulá-las, sente-se que cumpre acautelar-nos contra elas, a fim de evitar que elas comprometam a existência social e a existência moral.

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Se o Amor é uma força moral real, como o calor, a luz, a eletricidade etc., são forças físicas reais, só nos resta descobrir as leis naturais que regem os pendores egoístas e os pendores altruístas, para atingir à felicidade ao alcance real da Humanidade, mediante a subordinação cada vez mais completa de tudo à fraternidade universal. E se o Amor não existisse naturalmente, não haveria a combinação capaz de o fazer surgir, a existência terrena estaria, enquanto durasse, votada a dominação da força bruta, sob o jugo do egoísmo servido por uma inteligência sempre rudimentar. Isto é, a Humanidade não existiria nem as famílias e as cidades.

(Raimundo Teixeira Mendes, O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista. Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 47-49; 2ª ed. de 2025, p. 30-31.).

Teixeira Mendes: O ódio não é manifestação do amor

No trecho abaixo, Raimundo Teixeira Mendes faz um belíssimo elogio do amor e da sua importância na vida humana, seja coletiva, seja individual. Mas o principal aspecto que nos motiva a republicar esse trecho é a afirmação simples, poderosa e tristemente atualíssima de que o ódio não é manifestação do amor.

Esse trecho foi publicado no opúsculo "O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista" (Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 40-41; 2ª ed. de 2025, p. 26.)

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Tudo quanto precede evidencia que o ódio não pode ser jamais manifestação de amor. Manifestação do amor é só a dedicação, seja para quem for, pelos bons e mesmo pelos maus, conforme a máxima de Clotilde de Vaux que lembramos na nossa carta: “os maus precisam muitas vezes mais de piedade do que os bons”. O ódio é manifestação do orgulho, da vaidade, do instinto destruidor e até do instinto conservador ou nutritivo.

O amor leva-nos a subordinar a nossa existência, à existência dos entes amados; “a só amar-nos por amor de outrem”, como disse São Bernardo. Portanto, o que leva-nos a aplicar ao conseguimento do bem do ente amado, os meios que a nossa inteligência nos indicar, se esses meios estiverem a nosso alcance. Nestas condições, podemos ser forçados – ou nos acreditarmos forçados – a recorrer aos pendores egoístas como a qualquer outro instrumento. Mas servindo nos desses pendores egoístas para satisfazer os votos do altruísmo, os sentimentos e os atos resultantes do egoísmo não se transformam em manifestações do amor. O egoísmo fica sempre egoísmo; da mesma sorte que a nutrição é nutrição sempre, a visão é visão simples etc.

Esta observação é capital; porque ela patenteia quanto o uso de precaver-vos contra solicitações egoístas, isto é, contra as tentações, como se diz na linguagem teológica. De fato, o Amor nos prescreveu sempre servir-nos dos pendores egoístas, reduzindo-os ao estritamente indispensável e sempre prevenidos contra os sofismas a que a energia deles arrasta a fraqueza da inteligência. Assim, no exemplo figurado, que necessidade temos, para defender a sociedade, de odiar os desgraçados, isto é, os que fazem mal? Em que semelhante defesa fica comprometida em aliar-se com a piedade para com todos?

(Raimundo Teixeira Mendes, O Positivismo e a questão social. A propósito da propaganda anarquista. Série da IPB, n. 383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915, p. 40-41; 2ª ed. de 2025, p. 26.)

16 julho 2025

Monitor Mercantil: Afinal, o que é a República?

No dia 16.7.2025, o jornal carioca Monitor Mercantil publicou nosso artigo intitulado "Afinal, o que é a República?".

O texto do jornal encontra-se publicado aqui: https://monitormercantil.com.br/afinal-o-que-e-a-republica/.

Reproduzimos abaixo o texto.

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Afinal, o que é a República?

Lembre a fórmula elaborada por Augusto Comte: “Viver para os outros” Por Gustavo Biscaia de Lacerda

Em diversas ocasiões, já falamos, nesta coluna, sobre a República e o republicanismo; nessas ocasiões, apresentamos alguns conceitos gerais a fim de comentarmos situações concretas da vida política brasileira. Entretanto, vale a pena abordarmos diretamente alguns dos princípios gerais e abstratos do republicanismo.

Os dois primeiros princípios da República são dados por seu nome. Por um lado, a República consiste no governo não monárquico; por outro lado, ela afirma o primado do bem público.

Embora muitos pensadores, especialmente de países monarquistas (como a Inglaterra ou a Espanha), finjam que apenas o bem público basta para caracterizar a República, o fato é que esses dois aspectos são estreitamente relacionados.

A monarquia consiste em que o governante é escolhido em uma família específica; essa família tem que ter seus privilégios afirmados pela divindade, ou seja, de maneira caprichosa e profundamente arbitrária. No final das contas, a monarquia é um resquício (implícito ou explícito) das sociedades de castas; assim, na modernidade, a monarquia é radicalmente contra a dignidade individual e os méritos individuais e coletivos.


Os liberais e os pensadores juridicistas gostam de reduzir a República a formalidades políticas e jurídicas. Embora sempre haja necessidade de um certo formalismo, o verdadeiro caráter da República consiste no primado do bem público, ou seja, em seu conteúdo social.

Esse aspecto social precisa ser afirmado; caso contrário, o formalismo juridicista sequestra a República e reduz-se a regras vazias, de modo geral adequadas à manipulação das elites, das oligarquias e da burguesia.

Além do caráter social, a República caracteriza-se pela preponderância da opinião pública. A respeito da opinião pública, nossa época vive uma situação profundamente confusa, incoerente e desnorteada. Não são os meios de comunicação de massa, nem as redes sociais, nem muito menos as “pesquisas de opinião” (ou melhor, as pesquisas de humor momentâneo) que constituem a “opinião pública”: todas essas expressões, ou ondas, são apenas agregados de paixões, mais ou menos incoerentes e, da pior maneira possível, mais ou menos irracionais.

A noção de opinião pública — como, aliás, tudo na chamada teoria política, incluindo a “democracia”, a “legitimidade” ou a “soberania” — tem que ser, necessariamente, idealizada e normativa; assim, não faz sentido, e não é digno, considerar que agregados empíricos incoerentes sejam entendidos como a opinião pública.

De uma perspectiva mais digna, mais ideal e melhor elaborada em termos normativos, a opinião pública deve ser entendida como a opinião expressa por órgãos autônomos da sociedade civil, que estimulam a fraternidade universal, afirmam a participação popular, defendem o bem-estar coletivo. Por outro lado, os órgãos da opinião pública devem rejeitar o ódio, o irracionalismo das paixões cegas, o particularismo, o militarismo, a violência.

A autonomia da opinião pública e seu universalismo moral requerem que ela seja separada do Estado, o que, por sua vez, exige a laicidade do Estado e, portanto, por definição, põe em suspeita todos os intelectuais vinculados ao Estado e também todos os intelectuais estreitamente ligados a partidos políticos, a concepções particularistas e/ou defensoras da violência e do militarismo.

Todas essas concepções condensam-se na fórmula elaborada pelo fundador da Sociologia, Augusto Comte: “Viver para os outros”. Essa máxima é bastante profunda do ponto de vista moral e filosófico, e não é possível explorá-la aqui; mas sua orientação política para o bem público, para o bem coletivo, parece bastante evidente.

Entretanto, o “viver para os outros” — que, afinal, é uma fórmula moral — exige um complemento mais propriamente político: o “viver às claras”. Ainda para Augusto Comte, o “viver às claras” consiste, basicamente, em que todos devemos adotar em nossas vidas parâmetros de conduta que sejam publicamente defensáveis, a partir de concepções racionais e altruístas.

Enquanto os simples cidadãos devem adotar tais parâmetros de modo que suas condutas possam ser avaliadas por seus familiares, amigos e colegas — ou seja, pelas pessoas mais próximas —, todas as pessoas que ocupam posições de poder e influência devem ter suas vidas sempre passíveis de escrutínio público.

A mais elementar dignidade humana rejeita as devassas tão comuns à nossa época, em que as figuras públicas não são objeto de escrutínio, mas de degradação e humilhação; ainda assim, na República, a separação entre o público e o privado não deve ser entendida nos termos absolutos próprios à concepção liberal-burguesa. Dessa forma, não apenas os atos públicos, como também a vida privada dos poderosos, deve ser alvo de exame público.

A vinculação entre o “viver para os outros” e o “viver às claras” no âmbito da República é tão grande que, com as suas habituais profundidade e perspicácia, Augusto Comte nota que todos os poderosos que se recusarem a viver às claras deverão ser suspeitos de não viverem, de fato, para os outros — isto é, para o bem comum.

Na verdade, ele afirmou literalmente isso:

Malgrado as precauções interessadas dos legisladores metafísicos, o instinto ocidental não tardará a ver a publicidade normal dos atos privados como a garantia necessária do verdadeiro civismo. […] Todos os que se recusarem a viver às claras tornar-se-ão justamente suspeitos de não quererem realmente viver para os outros.

(Augusto Comte, Sistema de política positiva, v. IV, 1854, p. 312)

Sem esgotar as suas possibilidades, o que indicamos acima resume bastante da República: não monarquia, primado do bem comum, caráter social, afirmação da opinião pública, “viver para os outros”, “viver às claras”; além disso, fraternidade universal, pacifismo. Isso é muito mais, e muito mais profundo, do que o que se costuma entender por republicanismo nos discursos liberal-burgueses — seja das nossas elites políticas, seja dos intelectuais academicistas.

Esses conceitos foram propostos e, na medida do possível, aplicados no Brasil durante a Primeira República. Devido à necessidade que Getúlio Vargas tinha de legitimar os golpes que deu em 1930 e em 1937, a Primeira República foi sistematicamente desprezada a partir de 3 de outubro de 1930, sendo que, de modo geral, todos os políticos e intelectuais posteriores repetiram o discurso getulista.

Todavia, com um pouco de imaginação e coragem política, é fácil ver como todos os princípios republicanos indicados acima são não apenas passíveis de aplicação direta na realidade brasileira atual, como são cada vez mais urgentemente necessários.

Gustavo Biscaia de Lacerda é sociólogo da UFPR e doutor em Sociologia Política.

04 julho 2025

A. Comte dignificando as mulheres

As citações abaixo apresentam diversas avaliações de Augusto Comte a respeito das mulheres. Contra o senso comum acadêmico e o senso comum politicamente correto (a começar pelo das feministas), o fundador da Sociologia evidencia valorizar extremamente as mulheres, indicando chegeram elas a ser superiores aos homens.

Os trechos que reproduzimos correspondem a escritos de Augusto Comte publicados nos anos de 1848 a 1855, ou seja, após o venturoso relacionamento de Comte com Clotilde Vaux no "ano sem par" (entre 1845 e 1846) e até pouco antes de sua morte (em 1857). Eles contrastam fortemente com os escritos de Comte anteriores ao "ano sem par".

Enquanto a carreira de Comte anterior a 1845 foi entendida pelo próprio pensador em termos que hoje chamaríamos de "cientificista", os seus escritos posteriores a essa data são religiosos. Ora, é notável, para não dizer chocante ou até escandoloso, que a fase religiosa de Comte seja considerada como produto de "loucura" ou de "decadência mental". Essa avaliação degradante é ruim por si mesma; quando relacionada à opinião de Comte sobre as mulheres, tem o contraditório resultado de que, nos termos do senso comum acadêmico e feminista, a valorização das mulheres por Augusto Comte corresponde a uma decadência mental. (Evidentemente, é melhor para o senso comum acadêmico (e feminista) desprezar a fase religiosa de Augusto Comte e os seus intensos elogios às mulheres, por meio do expediente de selecionar, como em um buffet intelectual, o que julgam "correto" no pensamento do fundador da Sociologia.)

Os trechos abaixo não esgotam nem as avalições de A. Comte sobre as mulheres nem os elogios a elas; são apenas alguns trechos que recolhemos com rapidez para responder a uma odiosa provocação academicista, contra Augusto Comte, feita no Facebook. Tendo sido feita com rapidez, não consultamos nem o Sistema de política positiva, nem a correspondência trocada entre Augusto Comte e Clotilde de Vaux, nem o conjunto da correspondência de Augusto Comte; caso tivéssemos pesquisado nesses outros documentos, a quantidade de citações seria bem maior.

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Citações disponíveis no portal Auguste Comte et le Positivisme, sobre a mulher (http://confucius.chez.com/clotilde/analects/femme.xml)

- “Uma convicção familiar fará profundamente sentir a todo positivista que nossa verdadeira felicidade, tanto privada quanto pública, depende sobretudo do aperfeiçoamento moral e que este resulta principalmente da influência da mulher sobre o homem” (Sistema de política positiva, v. I, 1851, p. 259).

- “Superiores pelo amor, mais dispostas a sempre subordinar ao sentimento a inteligência e a atividade, as mulheres constituem espontaneamente os seres intermediários entre a Humanidade os homens” (Sistema de política positiva, v. II, 1852, p. 63).

- “A revolução feminina deve agora completar a revolução proletária, como esta consolida a revolução burguesa, emanada inicialmente da revolução filosófica” (Catecismo positivista, Prefácio).

 

Trechos do Discurso sobre o conjunto do Positivismo (1848), quarta parte: “Influência feminina do Positivismo” (tradução brasileira, edição de 1945)

- “Esse sexo [o feminino] é certamente superior ao nosso [masculino], quanto ao atributo mais fundamental da espécie humana, a tendência a fazer prevalecer a sociabilidade sobre a personalidade. Por esse título moral, independentemente de toda destinação material, ele merece sempre a nossa terna veneração, como o tipo mais puro e mais direto da humanidade, que nenhum emblema representará dignamente sob forma masculina” (p. 11).

- “Em virtude do conjunto desta quarta parte [do livro Discurso sobre o conjunto do Positivismo], o elemento mais sistemático do poder moderador não tem meios afinidade com o elemento mais simpático do que com o mais sinérgico. Só tal adesão feminina permite aos filósofos completarem a organização da força moral, fundada primeiro na aliança popular. Instituindo hoje o impulso regenerador que deve terminar a revolução, esse concurso decisivo inaugurará já a ordem final [...]” (p. 51).

 

Trechos do Catecismo positivista (1852; tradução brasileira, quarta edição, 1934)

- “Por mais sólidos que sejam os fundamentos lógicos e científicos da disciplina intelectual que a filosofia positiva institui, esse regime severo é demasiado antipático aos espíritos atuais para que ele possa prevalecer jamais sem o apoio irresistível das mulheres e dos proletários” (Prefácio, p. 11).

- “A MULHER – Pois que o culto íntimo se torna, assim, a primeira base de todas as nossas práticas sagradas, rogo-vos, meu pai, que me expliqueis diretamente a verdadeira natureza dele.

O SACERDOTE – Ele consiste, minha filha, na adoração cotidiana das melhores personificações que nos seja dado assinalar à Humanidade, à vista do conjunto de nossas relações privadas.

Toda a existência do Ser supremo fundando-se no amor, único laço que reúne voluntariamente os seus elementos separáveis, o sexo afetivo constitui naturalmente o representante mais perfeito, e ao mesmo tempo o principal ministro do Grande Se. A arte jamais poderá representar a Humanidade de modo condigno senão sob a forma feminina” (4ª Conferência, p. 120).

 

Trechos do Apelo aos conservadores (1855; tradução brasileira, 1898)

- “Essas aspirações são diretamente realizadas e desenvolvidas na religião positiva, na qual, a existência do Grão-Ser [a Humanidade], fundando-se sempre no amor, o sexo amante fornece a melhor personificação desse Ser. A mulher, que oferece, a todos os respeitos, o verdadeiro tipo de nossa espécie, constitui um mediador necessário entre o homem e a Humanidade, como o sacerdócio se interpõe entre os dois sexos” (p. 54).

- “Por seu turno, as mulheres apreciarão a moralidade da única fé capaz de identificar a felicidade e o dever, colocando aquele e esta no exercício contínuo dos instintos simpáticos, mediante o impulso conexo da vida privada e da vida pública. Sem renunciarem às convicções provenientes de sua educação e de seus hábitos, elas reconhecerão que a imortalidade subjetiva, fundada sobre o altruísmo, é superior a uma ressurreição objetiva em que prevalece o egoísmo” (p. 121).

02 julho 2025

Necessidade urgente de tolerância

No dia 14 de Carlos Magno de 171 (1.7.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte - "doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores").

No sermão abordamos novamente as relações entre simpatia, relativismo e tolerância, dando ênfase à tolerância; na verdade, esse novo sermão poderia chamar-se "a necessidade urgente de tolerância".

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/b3Nkg-YTHs4) e Igreja Positivista Virtual (Facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual e Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual).

Reproduzimos abaixo as anotações que serviram de base para a exposição oral.

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Simpatia, relativismo, tolerância – II

(14.Carlos Magno.171/1.7.2025) 

1.       Invocação inicial

2.       Exortações iniciais

2.1.    Sejamos altruístas!

2.2.    Façamos orações!

2.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

2.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.       Datas e celebrações:

3.1.    Dia 18 de Carlos Magno (5.7): transformação de Richard Congreve (1899 – 126 anos)

3.2.    Recesso entre 8 e 29 de julho; retorno em 5 de agosto

4.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

4.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

4.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

4.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

4.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

4.2.    Outras observações:

4.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

4.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

4.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

5.       Sermão sobre simpatia, relativismo, tolerância – parte II

5.1.    Na prédica do dia 7 de Carlos Magno de 171 (24.6.2025) fizemos algumas reflexões sobre os vínculos, necessários, entre simpatia, relativismo e tolerância

5.1.1. Embora tenhamos desenvolvido vários aspectos, parece-nos que não tratamos o suficiente desse tema; assim, retomamo-lo agora, ainda que não seja para extensos desenvolvimentos

5.2.    Antes de passarmos a esses novos desenvolvimentos, é importante retomarmos alguns aspectos do que comentamos na prédica da semana passada; eis como concluímos essa prédica anterior:

5.2.1. Simpatia, relativismo e tolerância são atributos afetivos, intelectuais e práticos

5.2.2. Como nosso mestre não se cansava de repetir, a verdadeira religião tem um aspecto sintético, de conjunto, que, no presente caso, relaciona intimamente a simpatia, o relativismo e a tolerância, como se vê na fórmula “agir por afeição e pensar para agir” e, ainda mais, na fórmula sagrada, “o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”

5.2.3. A simpatia consiste em uma boa vontade, em uma generosidade para com os demais; ela conduz-nos a respeitar os outros, o que, por seu turno, estimula o relativismo e conduz à tolerância

5.2.4. O relativismo afasta as concepções absolutas, que são sempre estáticas, isolacionistas e particularistas; assim, ele conduz à simpatia e também estimula a tolerância

5.2.5. A tolerância, por seu turno, baseia-se na simpatia e estimula o relativismo

5.2.5.1.             No Apelo aos conservadores (p. 27) nosso mestre resume as relações entre relativismo, organicidade e simpatia da seguinte maneira:

“A conexidade íntima destas duas propriedades [relativismo e organicidade] permite apreciar como é que elas se ligam à qualidade final [simpatia], única contestada hoje pelos positivistas incompletos. Porquanto, é tão impossível ficarmos relativos sem tornarmo-nos simpáticos, como ficarmos orgânicos sem tornarmo-nos relativos, sobretudo a respeito do campo principal de nossas concepções [a ciência da Moral], em que só o amor nos dispõe a construir e nos permite apreciar [o ser humano]”.

5.2.6. Esses três termos – simpatia, relativismo e tolerância – são, ou melhor, devem ser próprios não somente aos positivistas, mas são possíveis e necessários para todos os seres humanos – que, assim, devem deixar de lado o ódio, a antipatia e o ressentimento; o absolutismo; a intolerância e o desrespeito

5.3.    O objetivo da nossa exposição ao indicarmos as relações entre simpatia, relativismo e tolerância foi enfatizar em particular a tolerância

5.3.1. A ênfase na tolerância é necessária devido a diversos motivos, todos eles vinculados a problemas contemporâneos:

5.3.1.1.             Em primeiro lugar, como já indicamos, alguns jovens positivistas, em seu ardor apostólico, acabam adotando comportamentos que podem resultar em intolerância

5.3.1.2.             Em segundo lugar, uma das características da nossa época, ou melhor, uma das faces contemporâneas da anarquia característica da nossa época é o ódio que opõe os “conservadores” (na verdade reacionários) aos “progressistas” (na verdade, revolucionários destruidores); esse ódio reverte-se em intolerância mútua

5.3.1.3.             Em terceiro lugar, de maneira afirmativa, há diversas manifestações em favor da tolerância, seja em obras de orientação moral e espiritual, seja em livros de filosofia

5.3.2. Vejamos cada um desses casos práticos

5.4.    Na prédica da semana passada, notamos que por vezes o ardor apostólico pode tender à intolerância

5.4.1. O Positivismo, ou melhor, a Religião da Humanidade afirma claramente o amor, a simpatia, o respeito mútuo, bem como a fraternidade; ao mesmo tempo, como sabemos e como reforçamos na semana passada, a Religião da Humanidade também se baseia no relativismo: tudo isso conduz à tolerância, entendida como respeito e também como paciência com os demais

5.4.2. Se a Religião da Humanidade estimula a tolerância, de que maneira o ardor pode conduzir, ou tender, no âmbito do Positivismo, à intolerância?

5.4.2.1.             Parece-nos que por dois caminhos diferentes, que podem vincular-se entre si ou que podem atuar um separadamente do outro:

5.4.2.1.1.                   A partir da falta de experiência de vida, resultando em uma falta de compreensão de como o ser humano age, vive e pensa, do ritmo das mudanças, do necessário entendimento prático da subjetividade humana: trata-se, no final, de impaciência com excessiva ênfase

5.4.2.1.2.                   Um inadvertido viés intelectualista, em detrimento dos aspectos afetivos e práticos do Positivismo, pode conduzir à intolerância: um dos grandes defeitos do intelectualismo é sua incapacidade de reconhecer a realidade concreta, resultando aí que o que não segue os ditames puramente intelectuais (com freqüência de caráter dedutivo) é entendido como errado e, em seguida, como inaceitável

5.5.    Passando para temas contemporâneos, não é segredo para ninguém que, lamentavelmente, a política ocidental nos últimos 15 anos caracteriza-se por uma intensa polarização filosófica, política e moral, opondo os “conservadores” a “progressistas”, ou melhor, reacionários e retrógrados, de um lado, a revolucionários destruidores, de outro lado; essa polarização converte-se com freqüência e facilidade em intolerância mútua

5.5.1. Um artigo de Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia, publicado em 2024 na Folha de S. Paulo chamou-me a atenção, devido à gravidade do problema descrito: os adolescentes e adultos jovens atuais foram educados nesse ambiente de confronto, de modo que, para eles, a vida em sociedade em geral e a vida política em particular é apenas e tão-somente isso (confronto, disputa e violência)

5.5.1.1.             O artigo em questão tem por título “Formamos guerreiros políticos, não democratas” (Folha de S. Paulo, 15.10.2024)

5.5.2. O artigo inteiro vale a leitura, mas os parágrafos abaixo resumem muito do que nos interessa:

“[...] Em 2013, quando o Brasil entrou em surto político, esses alunos tinham entre oito e nove anos. Quando a extrema direita começou a crescer no mundo, eles tinham 11 ou 12. Quando Bolsonaro assumiu, completavam 15 anos. Como poderiam ter outra noção de normalidade política se, desde que se entendem por gente, só viram conflitos abertos entre grupos que se comportam como facções, sectarismo, dogmatismo, ódio autorizado e a luta pela superioridade moral?

São pelo menos 11 anos em que a mensagem política dominante é: "Estamos em guerra, escolha um lado e lute pela sua sobrevivência". Formamos uma geração inteira de guerreiros e depois queremos que eles negociem democraticamente diferenças, usem razão e boa vontade para mediar divergências, entendam que chegar a compromissos com adversários e engolir alguns sapos em nome da tolerância são valores da democracia?

[...]

Se tudo é política e política é guerra, todo mundo é militante e todo militante é um combatente. Se for militar, que venha armado.

Em um quadro como esse, como esperar que tolerância, pluralismo e respeito ao melhor argumento ainda sejam valores para essa nova geração?”.

5.5.3. O quadro descrito pelo autor é totalmente assustador; a situação que ele descreve indica a total inviabilidade futura do país – ou melhor, do Ocidente

5.5.3.1.             Esse quadro consiste na radicalização profunda da situação de “anarquia” vivida e descrita por Augusto Comte, ou seja, pela fragmentação dos parâmetros comuns de vida em sociedade

5.5.4. Fora do âmbito do Positivismo, além do próprio Wilson Gomes, alguns autores (por exemplo, a esquerdista metafísica teuto-estadunidense Susan Neiman, em A esquerda não é woke, que já comentamos em nossas prédicas) têm indicado que a solução para esses gravíssimos problemas passa pelo menos pela afirmação da fraternidade, por um lado, e, por outro lado, pela reversão da ultrapolitização do mundo, rejeitando a concepção de que “tudo é poder” e sua conseqüência necessária, a idéia de que tudo é questão de dominação e mando (e, em particular, de mando arbitrário e caprichoso)

5.5.5. A partir do Positivismo, ou melhor, da Religião da Humanidade temos clareza de que a solução para esses problemas é mesmo a tolerância política; mas essa tolerância não tem como ser desenvolvida e aplicada por si só; ela exige, necessariamente, que mudemos os comportamentos, as concepções e os sentimentos; em outras palavras, a única solução para esses problemas consiste, de fato, em viver a simpatia, em aplicar o relativismo e em praticar a tolerância

5.6.    Um outro tema contemporâneo sobre a tolerância foi inspirado por um artigo também publicado na Folha de S. Paulo (28.6.2025), mas agora da autoria de Hélio Schwartzman, cujo título é: “Brasil acima da lucidez

5.6.1. O artigo em questão comenta inicialmente um livro recém-publicado por um jornalista que aborda a polarização brasileira contemporânea; mas o que importa para nós é que, no final do texto, Hélio Schwartzman refere-se a algo chamado “princípio da caridade”

5.6.2. Esse “princípio da caridade” foi elaborado por um filósofo estadunidense chamado Donald Davidson entre as décadas de 1970 e 1980 e estipula que, ao conversar com alguém ou ao considerar as opiniões de alguém (ou de algum outro grupo), devemos sempre levar a sério as opiniões dessa pessoa ou desse grupo, respeitando-as e procurando entendê-las em seus termos; inversamente, não devemos buscar entendê-las de má vontade nem simplificá-las de maneira daninha

5.6.2.1.             Como o nome dado ao princípio e como a pátria de seu autor sugerem, esse princípio é profundamente estadunidense, ou seja, liberal e cristão

5.6.2.2.             Esses três aspectos ((1) liberalismo (2) cristão e (3) de origem estadunidense) explicam por que é que o autor ignora, quando não despreza, o Positivismo

5.6.3. À parte o fato de que esta é uma prédica da Religião da Humanidade, por que a referência ao Positivismo quando tratamos do “princípio da caridade”? Porque ele é uma atualização, com a roupagem liberal-cristã-estadunidense, de princípios e concepções que o Positivismo já sistematizou faz muito tempo

5.6.4. Consideramos em particular dois aspectos do Positivismo: (1) a tolerância como decorrente da simpatia e do relativismo e (2) a lei-mãe da Filosofia Primeira

5.6.4.1.             Sobre a tolerância no âmbito do Positivismo, já comentamos bastante

5.6.4.2.             Sobre a lei-mãe:

5.6.4.2.1.                   A Filosofia Primeira consiste no conjunto das 15 leis que são absolutamente universais, isto é, relativas a todos os fenômenos percebidos pelo ser humano; assim, essas leis referem-se tanto aos fenômenos em si (ao mundo objetivo) quanto às maneiras como o ser humano interage com e apreende o mundo (a realidade subjetiva)

5.6.4.2.2.                   A lei-mãe, não por acaso, é a primeira e consiste na aplicação dos atributos da positividade ao pensamento humano em geral; assim, ela estabelece que devemos formular sempre a hipótese mais simples, mais simpática e mais estética que considere os dados de que dispomos

5.6.4.2.3.                   Em outras palavras, não devemos raciocinar complicando desnecessariamente o pensamento, o que inclui respeitar a realidade, não envenenar o pensamento e procurar elaborá-lo de maneira a estimular bons sentimentos (e, claro, boas idéias)

5.6.4.2.4.                   Teixeira Mendes, em As últimas concepções de Augusto Comte, apresenta e explica magistralmente a Filosofia Primeira e dedica especial atenção, justamente, à lei-mãe

5.6.4.3.             Então, qual a relação da lei-mãe da Filosofia Primeira com o princípio da caridade? Parece bastante simples e claro; o princípio da caridade é uma versão racionalista (ou seja, intelectualista) e muito limitada da lei-mãe: enquanto a lei-mãe, em termos universalistas e plenamente humanos, afirma a necessidade (1) de pensarmos de modo a desenvolvermos o altruísmo, a boa-fé e o respeito e (2) de expressarmo-nos de maneira a estimular tudo isso e também o pendor artístico, o princípio da caridade, fazendo uma referência estreitamente cristã, limita-se ao respeito, à boa-fé e à tolerância

5.6.4.4.             É evidente que respeito, boa-fé e tolerância são importantíssimos; nesse sentido, o princípio da caridade é corretíssimo; mas, quando comparado com a lei-mãe da Filosofia Primeira (e com o conjunto do Positivismo), logo se percebe que ele é apenas um caso particular e restrito de princípios mais amplos e mais profundos, sendo que a formulação de Donald Davidson – como todas as formulações do liberalismo, especialmente do liberalismo dos EUA – deixa de lado os fundamentos morais, intelectuais e sociais do seu princípio político

5.6.5. A elaboração do princípio da caridade é motivo de alegria e também de lamento para nós, positivistas:

5.6.5.1.             É motivo de alegria porque esse princípio corresponde a uma nova afirmação de valores e concepções positivos; em outras palavras, trata-se de uma renovada afirmação da positividade

5.6.5.2.             É motivo de lamento porque, embora consista na afirmação da positividade, o princípio da caridade é limitado em seus fundamentos e em seu escopo, além de sua nomenclatura denunciar o ambiente teológico-metafísico em que foi elaborado; assim, não foi por acaso que dissemos que o liberalismo estadunidense ignora, quando não despreza, o Positivismo – o que explica as limitações desse princípio

5.6.5.2.1.                   Muitos intelectuais brasileiros, devidamente repetidores do que se produz nos Estados Unidos, também ignoram e/ou desprezam o Positivismo, aceitando as limitações liberal-cristãs da filosofia estadunidense e fazendo questão de ignorar a importante influência positivista no Brasil, não apenas política (que é a mais famosa) mas também intelectual e principalmente moral

5.7.    O último aspecto sobre a tolerância que desejamos apresentar é um pequeno comentário sobre um livro positivista, o Ensaio de interpretações morais, publicado pelo Prof. David Carneiro em 1937

5.7.1. É um livro pequeno (cerca de 150 páginas) com conselhos e reflexões morais práticas

5.7.2. É um livro que se inspira em uma larga tradição filosófica, de filosofia moral, que inclui A imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, e Máximas e reflexões, de Vauvenargues – aliás, ambos no Calendário e na Biblioteca Positivista

5.7.3. O livro do Prof. David Carneiro é um belo e simpático exemplo de tratado positivista de moral prática, com exemplos de tolerância, temperança, esforço em favor dos demais etc.

5.8.    Em suma:

5.8.1. A tolerância é uma necessidade atual e urgentíssima

5.8.1.1.             A urgência da tolerância é dada pelo atual ambiente de violência, ódio mútuo, disputas incessantes inexpiáveis

5.8.1.2.             Essas disputas correspondem à atualização, nos termos do identitarismo e do tradicionalismo, da “anarquia” indicada e analisada por Augusto Comte e para a qual o Positivismo é a solução

5.8.2. A intolerância cresce na medida em que as novas gerações cresceram e formaram-se em ambientes sociais conflituosos, nos quais a militância política faz questão de afirmar a violência constante e irremissível da sociedade

5.8.3. Por outro lado, muitos pensadores e comentaristas também têm afirmado a urgência da tolerância

5.8.3.1.             Um exemplo disso é o “princípio da caridade”, de Donald Davidson

5.8.3.1.1.                   No âmbito a que se refere, esse princípio é corretíssimo; entretanto, ele é limitado e superficial

5.8.3.1.2.                   Os defeitos morais, intelectuais e práticos do “princípio da caridade” são devidos aos seus aspectos liberal, cristão e estadunidense

5.8.3.1.3.                   Ao contrário do que os liberais estadunidenses propõem, o Positivismo tem fundamentos mais amplos e mais profundos e busca soluções permanentes para as disputas sociais, em vez de uma solução de compromisso (precária e provisória)

5.8.3.2.             Outro exemplo, melhor que o princípio da caridade e superior a ele, é o livro do Prof. David Carneiro, Ensaio de interpretações morais

5.8.4. Assim, a solução para as graves disputas e dissensões sociais que vivemos hoje – incluindo aí a tolerância – passa necessariamente pelo Positivismo, quer admita-se isso, quer não se admita isso

6.       Exortações finais

6.1.    Sejamos altruístas!

6.2.    Façamos orações!

6.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

6.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

7.       Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- David Carneiro (port.), Ensaio de interpretações morais (Rio de Janeiro, Athena, 1937).

- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), Prédica positiva: Simpatia, relativismo, tolerância (Curitiba, Igreja Positivista Virtual, 7.Carlos Magno.171/24.6.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/06/simpatia-relativismo-tolerancia.html.

- Hélio Schwartzman (port.), “Brasil acima da lucidez” (Folha de S. Paulo, 28.6.2025): https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2025/06/brasil-acima-da-lucidez.shtml.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.

- Susan Neiman (port.), A esquerda não é woke (São Paulo, Âyiné, 2024).

- Wilson Gomes (port.), “Formamos guerreiros políticos, não democratas” (Folha de S. Paulo, 15.10.2024): https://www1.folha.uol.com.br/colunas/wilson-gomes/2024/10/formamos-guerreiros-politicos-nao-democratas.shtml.