7 de setembro –
Comemoração de José Bonifácio
Gustavo Biscaia de Lacerda
(José
Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência do Brasil, pintado
por Benedito Calixto; fonte: Wikipédia.)
No dia 7 de setembro, como se sabe, comemoramos no Brasil a Independência nacional; assim, é uma data importante, na medida em que celebra a constituição do país como unidade política autônoma. Para os positivistas, essa data – como todas as demais que comemoramos – tem um duplo aspecto, abstrato e concreto: abstrato em relação ao aspecto histórico-sociológico em pauta, concreto a respeito dos tipos humanos envolvidos na questão. Os indivíduos que agiram concretamente em 1822, nos anteriores e nos subseqüentes, resumem em si as dificuldades, as possibilidades e as soluções para os problemas envolvidos; lembrando o método histórico de Augusto Comte, suas ações foram preparadas pelas conjunturas anteriores – ou seja, pelas ações daqueles que vieram antes – e, por sua vez, prepararam as conjunturas posteriores.
Assim, embora tenha sido d. Pedro de
Alcântara – futuro d. Pedro I – quem proclamou a Independência nacional
brasileira em 7 de setembro de 1822, a ação do descendente dos reis de Portugal
só foi possível porque foi preparada por seu conselheiro, o cientista e
estadista nascido na cidade paulista de Santos, José Bonifácio de Andrada e
Silva: por esse motivo, os positivistas comemoramos em 7 de setembro a figura
desse grande brasileiro.
Passemos, então, a
apresentar alguns dos elementos da teoria positivista da independência nacional
brasileira, conforme exposta por Raimundo Teixeira Mendes, exposta
principalmente na biografia que ele escreveu de Benjamin Constant Botelho de
Magalhães (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892])[1].
Seguindo a teoria
comtiana, Teixeira Mendes observa alguns aspectos a respeito da expansão
territorial européia desde o século XV e os processos de independência dos
séculos XVIII e XIX. De acordo com A. Comte, as grandes nações modernas
surgiram devido à decadência do ascendente religioso existente na Idade Média,
seja porque os reis passaram a manter o controle territorial via força das
armas, sem reguladores morais, seja porque a própria ausência da regulação
moral deixou os reis entregues a si próprios, preocupados apenas com a expansão
territorial: em outras palavras, prolongando a política guerreira em termos
internacionais (ainda que desenvolvendo a política pacífica internamente). Ao
mesmo tempo, a expansão marítima e comercial levou os europeus a procurarem
novos territórios fora da Europa, conduzindo aos ciclos das grandes navegações
e da colonização das Américas.
Por outro lado, para
Comte as pátrias da sociedade pacífico-industrial devem ser pequenas, com áreas
variando entre as dos Países Baixos (41,5 mil km2) e de Portugal (92,4
mil km2). Essa pequena extensão corresponderia a um vínculo político
forte, que deve basear-se na associação livre dos cidadãos irmanados pela
atividade pacífica e por história e valores comuns; além disso, e de modo mais
importante, a pequena extensão territorial permite um conhecimento mais direto
dos cidadãos entre si, o que aumenta a confiança mútua e também a
responsabilidade dos gestores públicos e privados dos diversos tipos de
capital.
No que se refere ao
continente americano, os europeus realizaram a colonização da América desde o
século XVI de diferentes maneiras e com variados objetivos, mas no fim do
século XVIII as antigas colônias já se encontravam relativamente estruturadas e
conscientes de si. Nesse período, as metrópoles passaram a cobrar cada vez mais
tributos das colônias, ao mesmo tempo que a impor mais e mais restrições às
suas vidas autônomas: controle das alfândegas, restrições às liberdades de
pensamento e discussão etc. Aliás, em parte o aumento das exigências
metropolitanas deveu-se exatamente à estruturação e à riqueza das colônias, sem
que, em contrapartida às taxações adicionais, as metrópoles preocupassem-se com
o desenvolvimento das terras d’além-mar: para Londres, Lisboa e Madri, a
América era fonte de riquezas e eventualmente foco de conflitos, mas não
parceira na vida nacional da Europa.
A despeito dos
esforços de muitos dos habitantes das colônias americanas com vistas a manterem
a unidade política, as ações metropolitanas eram claramente no sentido de
aumentarem as restrições e as taxações, resultando em tirania. Como se sabe, a
primeira colônia da América a declarar-se e a fazer-se independente, nesse
quadro, foram os Estados Unidos[2];
nesse período, as idéias críticas de A. Sidney, J. Locke e de outros pensadores
contratualistas – metafísicos, de acordo com as concepções comtianas – foram
instrumentais para a crítica ao governo metropolitano. A luta pela
independência estadunidense, bem como o seu sucesso, influenciaram bastante
tanto os outros países europeus quanto as demais colônias americanas.
No que se refere aos
colonos portugueses na América, Teixeira Mendes caracteriza-os como sendo populares
que buscavam em terras d’além-mar o melhoramento de suas condições. Além disso,
como a igreja era subordinada ao rei, a maior fonte de prestígio estava,
precisamente, no rei: essas duas circunstâncias uniram-se para que “[...] a
nação brasileira se formou na ausência quase total de qualquer das classes
dirigentes do regime católico-feudal e, portanto, livre das enérgicas
tendências retrógradas de tais classes” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 3).
Nesse quadro, o
exemplo das colônias inglesas na América do Norte e o garroteamento imposto por
Portugal ao Brasil tiveram como primeira conseqüência a Inconfidência Mineira e
a conseqüente morte solitária do Tiradentes. No caso de Tiradentes, Teixeira
Mendes comenta que ele não era o líder da insurgência nem se destacava por suas
habilidades políticas, mas a coragem e o desprendimento que exibiu no processo
criminal e na sua execução tornaram-no um símbolo da independência do país. Por
outro lado, observa Teixeira Mendes que, no ano em que a Inconfidência foi
tornada pública, iniciava-se também a Revolução Francesa, passando a França a
influenciar mais diretamente os rumos do Brasil doravante: fosse com o
Positivismo a partir de meados do século XIX, fosse mais diretamente no início
do século XIX, quando Napoleão Bonaparte invadiu a Península Ibérica,
acarretando a migração forçada da família real portuguesa para o Brasil.
A vinda da família
real e da corte para a América trouxeram consigo várias medidas que equipararam
os dois países em termos políticos e que aliviaram as pressões sofridas pela
antiga colônia. Mesmo assim, problemas de longa data acarretaram em Pernambuco,
em 1817, sublevações republicanas, o “[...] que veio identificar ainda mais o
sentimento popular da independência com as aspirações republicanas da parte
mais avançada da nação” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 6).
Assim, as medidas
tomadas ao longo da década de 1810 resultaram em que “A separação política das
duas porções da raça portuguesa parecia conjurada pela satisfação dada às
aspirações nacionais, quer do povo, quer da massa dirigente. Quebradas as
opressões mais intoleráveis, a monarquia lusitana apresentava o aspecto de uma
livre federação sob a presidência de uma realeza tradicionalmente venerada”
(TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 6-7).
A revolução do Porto,
de 1820, reverteu esse quadro, trazendo consigo o retorno do Brasil ao statu quo ante, na condição de colônia
estreitamente controlada: com isso, o movimento independentista
reapresentou-se.
Para Teixeira Mendes, face
às condições sociais e políticas vividas pelo Brasil desde meados do século
XVIII, a independência do Brasil era questão de encontrar-se um líder capaz de
empolgar a nação e realizar o movimento. Após a inconfidência mineira, a vinda
da família real tornou aceitáveis as condições em que vivia o Brasil, mas o
retorno do rei a Portugal reverteu o quadro: nesse momento apresenta-se a
figura de José Bonifácio. “José Bonifácio, o tipo mais eminente da raça
portuguesa naquele tempo, reconhecendo a gravidade da situação, pôs-se à testa
dos patriotas. Um pensamento o domina. Frustrada a união política dos
portugueses de ambos os hemisférios, o velho cidadão preocupa-se com salvar
pelo menos a unidade da América portuguesa. Essa unidade se lhe oferece no seu
duplo aspecto: manutenção da integridade política das pátrias brasileiras e
fusão completa das três raças que as constituem, de modo a formar com elas uma
nação homogênea” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 7).
No que se refere à
unidade política do Brasil, Teixeira Mendes nota que a colonização do Brasil
foi “empírica” e “não-sistemática”, ou seja, foi feita de maneira irregular, de
acordo com as possibilidades, as necessidades e as oportunidades; com isso, os
vários núcleos de povoamento tinham poucos contatos entre si e nenhum deles
centralizava e coordenava, de fato, todos eles[3];
muitas províncias comunicavam-se mais repetida e facilmente com a Europa que
com o Rio; finalmente, algumas províncias eram suspicazes em relação a outras,
como no caso de Pernambuco em relação à Corte (devido ao movimento republicano
de 1817); por fim, em todo o território havia tropas militares de origem
européia. O problema de José Bonifácio, nesse sentido, era tornar o Brasil
independente e ao mesmo tempo manter todas as províncias unidas, a despeito dos
poucos e frágeis laços que as uniam entre si.
No que se refere à
unidade étnica, Teixeira Mendes define assim o problema: “Examinada na sua
composição, a população incorporada à civilização ocidental, dividia-se em duas
castas: uma de senhores, outra de escravos. E a população indígena, que
escapara às devastações, vagava errante pelo interior em tribos mais ou menos
desmoralizadas pelos contatos ocidentais” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 7).
Nesses termos, as
dificuldades estavam em acabar com a divisão entre senhores e escravos, que,
econômica e jurídica, perpetuava-se no tempo e era consagrada pelo catolicismo,
chegando a constituir duas diferentes castas
sociais. Da mesma forma, era necessário incorporar os índios à sociedade
nacional sem os erradicar fisicamente nem os degradar moral e culturalmente, ou
seja, permitindo ao mesmo tempo as trocas culturais e a digna autonomia das
tribos indígenas.
Para Teixeira Mendes,
a solução obtida por José Bonifácio para esses dois problemas foi a instalação
da monarquia constitucional no Brasil. Essa monarquia seria encabeçada pelo
príncipe regente, herdeiro presuntivo do rei: o respeito tradicional à
monarquia bragantina garantiria de um lado a unidade política e, por outro
lado, a reprodução no país da doutrina constitucionalista européia seria a
forma por que as liberdades públicas seriam consagradas. Ainda assim, a essa
proposta a resistência pernambucana tanto à monarquia quanto à centralização no
Rio de Janeiro seria uma dificuldade.
A monarquia
constitucional também permitiu “solucionar”, ou melhor, encaminhar o outro problema,
qual seja, o da unidade étnica. Teixeira Mendes faz duas observações sobre José
Bonifácio a esse respeito: por um lado, o político santista não concebia uma
república com escravos; por outro lado, ele tinha projetado a emancipação
gradual mas rápida dos escravos brasileiros; da mesma forma, ele projetara a
incorporação dos índios com base na ciência, em vez de com base na catequese
teológica. Uma república não poderia ser escravista (mesmo que por pouco
tempo): a monarquia podia. Dessa forma, sem poder de fato acabar (pelo menos
imediatamente) com o tráfico negreiro e com a escravidão, a monarquia serviu
para manter ambas as práticas[4].
Mesmo com essas
importantes limitações, Teixeira Mendes julga que José Bonifácio merece o
título de estadista – na verdade, o único estadista brasileiro até 1891-1892 –,
em virtude de ele ter compreendido os problemas brasileiros mais profundos: “Foi
assim que José Bonifácio patenteou ter sido até hoje o único estadista de nossa
pátria. Depois dele se procura em vão quem tenha apanhado em toda a sua
plenitude o conjunto do problema brasileiro. As suas soluções foram empíricas e
por isso quiméricas ou insuficientes; mas é força convir que as luzes de então
dificilmente comportavam outras. Infelizmente só poude o patriota realizar a
parte mais secundária de seus projetos, instituindo a unidade política das
pátrias brasileiras” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 8).
Na biografia de
Benjamin Constant, a narrativa de Teixeira Mendes segue tratando das
vicissitudes da política imperial – isto é, expondo-as e avaliando-as –, nos
seus três grandes períodos (o I Império, o interregno regencial e o II
Império). Ela é interessante, seja devido à exposição factual, seja devido aos
comentários avaliativos sobre cada um desses momentos; todavia, não trataremos
deles, na medida em que desejávamos apresentar, nesta seção, a interpretação
que fez Teixeira Mendes da teoria comtiana da história e sua aplicação na
história brasileira, a respeito do contexto e dos problemas enfrentados no
período da independência nacional.
De qualquer forma,
cabem ainda alguns comentários a respeito da “teoria das pátrias brasileiras”,
conforme proposta por Teixeira Mendes. Nas exposições acima, aqui e ali usou-se
essa expressão – “pátrias brasileiras” –; o plural aí não é acidente: o
vice-Diretor da Igreja Positivista, ao empregá-la, considera duas acepções,
pelo menos. A primeira é histórico e descritivo, correspondente à pluralidade
de províncias brasileiras, surgidas ao longo da colonização: essas várias
províncias, como indicamos há pouco, surgiram e desenvolveram-se de maneira “empírica”
e “não sistemática”, conforme a avaliação de T. Mendes, mantendo entre si e
entre elas e as capitais (fosse metropolitana, no caso de Lisboa, fosse
colonial, nos casos de Salvador e, depois, do Rio de Janeiro) vínculos bastante
frouxos: em vez de ligações verdadeiramente orgânicas entre as províncias e
entre elas e a capital, o que existiria no Brasil seria mais uma “colcha de
retalhos” política.
A segunda acepção é de
caráter normativo e baseia-se na definição comtiana das “pátrias”, conforme
visto acima: devem ser unidades políticas de tamanho reduzido, em que a
cooperação material (isto é, política e econômica) seja pacífica e plenamente
voluntária e em que seja possível o contato pessoal entre os líderes políticos
e o corpo de cidadãos, entre os chefes industriais e o proletariado e,
portanto, seja efetivamente possível cumprir as responsabilidades sociais do
poder, da riqueza e do controle social dos recursos públicos.
Ao referir-se a “pátrias
brasileiras” em meio às suas narrativas a respeito da formação territorial e
étnica do Brasil, bem como do processo de independência nacional, Teixeira
Mendes evidencia que reconhece a pluralidade das formações sociais e políticas
brasileiras – incluindo aí as tribos indígenas – e que, rejeitando o unitarismo
político, advoga o federalismo ou o confederalismo[5].
A defesa do federalismo ou do confederalismo não é absoluta, no sentido de que
os consideraria válidos a qualquer instante ou a qualquer transe: seguindo o
relativismo comtiano, em sua discussão sobre a independência nacional e sobre
as propostas de José Bonifácio, Teixeira Mendes demonstra que reconhece a
centralização política como o instrumento, de caráter transitório, encontrado
naquele momento para (1) obter-se a independência das pátrias brasileiras, (2)
de maneira pacífica (fosse mais ou menos em relação a Portugal, fosse das
províncias entre si, fosse mesmo do Brasil em relação aos países vizinhos); da
mesma forma, essa centralização seria aceitável desde que respeitasse as
liberdades civis, políticas e sociais (o que foi prometido em 1822, mas
desrespeitado no período posterior a 1823 (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p.
12-13)).
Referências bibliográficas
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A propósito da questão anarquista. Série da Igreja Positivista do Brasil, n.
383. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil.
(Permitida a livre reprodução, desde que citada a fonte.)
[1] As
anotações abaixo reproduzem em grandes traços a seção 3.2 de Lacerda (2014). Em
todo caso, deve-se notar que os positivistas escreveram muitos discursos e
artigos, tanto sobre a independência nacional quanto sobre José Bonifácio.
Assim, a exposição que se seguirá é bastante tímida em relação à produção
positivista a respeito.
[2]
Augusto Comte considerava que, mesmo antes da independência dos EUA, o processo
de fragmentação das grandes nações começou com a luta neerlandesa por sua
independência em relação à Espanha, nos séculos XVI e XVII. De qualquer forma,
o caso dos Estados Unidos é mais ilustrativo, pois tratou-se da separação entre
dois povos de mesma língua, mesma fé e mesma cultura (cf. COMTE, 1929, v. IV,
p. 460-467; LACERDA, 2010, p. 352).
[3] Essa falta de coordenação entre os núcleos de
povoamento, nota de passagem T. Mendes, persistia até pelo menos o momento em
que redigia a biografia de Benjamin Constant, ou seja, até pelo menos 1891-1892:
“[...] o Brasil não possuía então, como realmente não possui hoje, uma
verdadeira capital” (TEIXEIRA MENDES, 1936 [1892], p. 7).
[4]
Mais adiante, Teixeira Mendes nota que os novos países americanos surgiam como
repúblicas, embora fossem repúblicas muito
imperfeitas: com escravidão no caso dos Estados Unidos, com religião de Estado
no caso dos países hispano-americanos (“verdadeiras monarquias constitucionais
sem rei”); além disso, a instituição das repúblicas, novamente no caso da
América hispânica, deu-se com a ocorrência de grandes conflitos com a metrópole
e, depois, de guerras civis (TEIXEIRA MENDES, 1936
[1892], p. 9-10).
[5] O
federalismo seria claramente defendido no projeto de constituição federal
apresentado por Miguel Lemos e Teixeira Mendes em 1890, logo em seguida à
Proclamação da República, no famoso documento intitulado “Bases de uma
Constituição política ditatorial federativa para a república brasileira”.
Sendo mais específicos, nos artigos 1º e 2º, Lemos e Teixeira Mendes defendem
tanto o federalismo quanto o confederalismo: uma federação entre os “estados
ocidentais brasileiros” (as antigas províncias do Império) e os “estados
americanos brasileiros” (as tribos indígenas dispersas pelo território
brasileiro) e uma confederação entre os vários “estados ocidentais brasileiros”.
Cf. Lemos e Teixeira Mendes (1890).
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