Dois novos livros sobre o Positivismo, de minha autoria:
(1) "Positivismo, Sociologia e Política"
(2) "Positivismo, Augusto Comte e Epistemologia das Ciências Humanas e Naturais"
Eles são edições eletrônicas, publicados pela Editoria Poiesis e podem ser adquiridos na Amazon do Brasil.
Este blogue é dedicado a apresentar e a discutir temas de Filosofia Social e Positivismo, o que inclui Sociologia e Política. Bem-vindo e boas leituras; aguardo seus comentários! Meu lattes: http://lattes.cnpq.br/7429958414421167. Pode-se reproduzir livremente as postagens, desde que citada a fonte.
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28 abril 2016
Livros sobre o Positivismo: Política e Epistemologia
18 abril 2015
Augusto Comte: Ciências Sociais modificando as Ciências Naturais
No trecho abaixo, em vez de sugerir qualquer cientificismo ou materialismo, Augusto Comte é extremamente explícito a respeito da influência que as ciências superiores (Sociologia e Moral) devem ter sobre as inferiores (Matemática, Astronomia, Física, Química e até a Biologia), seja sistematizando-as, seja impondo o espírito de conjunto, seja, portanto, mudando algumas concepções.
Na época em que foi escrito esse texto - 1848 -, para Comte a "ciência final" era ainda apenas a Sociologia; mas, nos dois anos seguintes, ele acrescentou uma outra ciência positiva fundamental, a Moral, responsável pelo estudo do que chamaríamos hoje de "psicologia". É claro que, mesmo com essa inclusão teórica posterior, o sentido da passagem abaixo não muda em nada.
Por fim, é importante realçar que a idéia de que as Ciências Sociais devem exercer uma atividade teórica modificadora sobre as Ciências Naturais não é nova: é da primeira metade do século XIX. E mais: essa idéia pertence ao próprio pai do Positivismo - que, aliás, foi também o pai da Sociologia, da Moral Positiva e, portanto, da História da Ciência. Diga-se de passagem que esse trecho põe por terra a metade de todos os manuais de Epistemologia das Ciências Humanas.
Eis o trecho:
Na época em que foi escrito esse texto - 1848 -, para Comte a "ciência final" era ainda apenas a Sociologia; mas, nos dois anos seguintes, ele acrescentou uma outra ciência positiva fundamental, a Moral, responsável pelo estudo do que chamaríamos hoje de "psicologia". É claro que, mesmo com essa inclusão teórica posterior, o sentido da passagem abaixo não muda em nada.
Por fim, é importante realçar que a idéia de que as Ciências Sociais devem exercer uma atividade teórica modificadora sobre as Ciências Naturais não é nova: é da primeira metade do século XIX. E mais: essa idéia pertence ao próprio pai do Positivismo - que, aliás, foi também o pai da Sociologia, da Moral Positiva e, portanto, da História da Ciência. Diga-se de passagem que esse trecho põe por terra a metade de todos os manuais de Epistemologia das Ciências Humanas.
Eis o trecho:
La série générale [des sciences positives abstraites] constitui ainsi le résumé le plus concis des plus vastes méditations abstraites; et, réciproquement, toutes les saines études spéciales aboutissent à autant de développements partiels de cette hiérarchie universelle. Quoique chaque partie exige des inductions distinctes, chacune reçoit de la précédente une influence déductive, qui restera toujours aussi indispensable à sa constitution dogmatique qu'elle le fut d'abord à son essor historique. Toutes les études préliminaires préparent ainsi la science finale, laquelle désormais réagira sans cesse sur leur culture systématique, pour y faire enfim prévaloir le véritable esprit d'ensemble, toujours lié au vrai sentiment social.
(Auguste Comte, "Discours préliminaire – première partie: esprit fondamental du Positivisme", in: Système de politique positive, v. 1, 1851, p. 44-45. É possível contextualizar esse trecho no conjunto do livro consultando-os aqui.)
14 abril 2015
Charge de 1871: "Um jovem positivista"
Abaixo uma charge publicada na revista Punch, Londres, n. 61, de 30 de dezembro de 1871, p. 269. O título é "Um jovem positivista" ("A young positivist"). Obtive-a a partir do portal Positivists (mais exatamente, aqui), que, por sua vez, obtivera-a por meio do Google Books.
O autor do desenho é George du Marier, um desenhista britânico de origem francesa. (Para uma pequena biografia sua, ver aqui; para uma galeria de suas ilustrações, ver aqui.)
A piada é muito engraçada; uma tradução livre seria a seguinte:
Pároco: Que é um
milagre?
Garoto: Num sei.
Pároco: Bem, se o
Sol estivesse a brilhar no meio da noite, você diria que se trata do quê?
Garoto: Da Lua.
Pároco: Mas se
tivessem-lhe dito que era o Sol, o
que você diria que é?
Garoto: Uma
mentira.
Pároco: Eu não conto mentiras. Suponha que eu tivesse-lhe dito que era o Sol; o que
você diria então?
Garoto: Que você
não estava sóbrio!
Conforme o portal Positivists informa, após a publicação original dessa charge, o diálogo foi republicado várias vezes ao longo dos anos, em inúmeros periódicos ao redor do mundo - mas sem a ilustração e também sem a referência à Epistemologia positivista.
Eis as outras publicações que o portal Positivists identificou, entre 1872 e 1899, dos Estados Unidos à Nova Zelândia e à Austrália, passando pela Inglaterra:
- [Sem título] na seção "Novidades e fofocas" (“News and Gossip”) de Morning Chronicle, Halifax, Nova Scotia, 26 de janeiro de 1872, p. 2. Google
- Indianapolis People, Indiana, domingo, 28 de janeiro de 1872, p. 7. Archive
- New Albany Weekly Ledger, quarta-feira, 31 de janeiro de 1872, p. 2. Archive
- Matéria “London Punch contains this account of ‘A Young Positivist'”, The St. Cloud journal, St. Cloud, Minnesota, 8 de fevereiro de 1872, p.1. Archive
- “Parson to a young lad” em Mariposa Gazette, California, v. 17, n. 40, 29 de março de 1872. California Digital Newspaper Collection
- Frederick Locker, “What is a Miracle”, em Patchwork, London: Smith, Elder, 1879. p. 67.Forgotten Books
- “A Clergyman, interrogating a Sunday-School class of Boys, said”, na seção “Omnium-Gatherum” de Waikato Times, Nova Zelândia, v. XLII, n. 3.433, 30 de junho de 1894, p. 4. Archive
- “The Young Idea” em The West Australian Sunday Times, Perth (Austrália), domingo, 1º de outubro de 1899. National Library of Australia
23 janeiro 2013
Objetividade e subjetividade, análise e síntese, absolutismo e relativismo
A despeito de ser extremamente denso e exigir a compreensão preliminar de toda a filosofia da história, da ciência e da religião de Comte, o trecho
abaixo é notável e esclarecedor, com sua avaliação das relações entre as sínteses absoluta e relativa – a primeira característica da teologia e da metafísica,
a segunda, do Positivismo –, assim como das relações entre a subjetividade
relativa (de caráter sintético) e a objetividade científica (de caráter
analítico).
Augusto
Comte indica que a teologia e a metafísica, ambas absolutas e buscando as
causas, tiveram sua importância histórica, mas suas sínteses eram subjetivas,
embora afirmassem-se objetivas. A passagem para a síntese relativa implica o
abandono da pesquisa das causas e a busca das leis naturais; ao mesmo tempo,
deve-se abandonar qualquer esperança de síntese objetiva, assumindo-se que a
síntese é necessariamente subjetiva.
Com isso, a
relação entre subjetividade e objetividade – e, daí, entre síntese e análise –
muda. O desenvolvimento da objetividade científica foi necessário para mostrar
o quanto a busca do absoluto é infrutífera; mas essa própria objetividade – que
é sempre analítica – deve ser sempre subordinada à subjetividade relativa, de
caráter sintético: essa subordinação consiste no fornecimento dos materiais
intelectuais a serem coordenados pela síntese relativa.
* * *
“Mieux on médite
sur la marche primitive de notre intelligence, plus on reconnaît qu'elle n'exigeait
d'autre rectification radicale que de substituer l'étude des lois à la recherche
des causes. Son vice fondamental, d'ailleurs inévitable et même indispensable,
ne consistait point dans son caractère subjectif, mais dans sa nature absolue. La
longue coexistence de ces deux attributs n'a point empêché la subjectivité de
manifester ses hautes propriétés, intellectuelles et surtout morales. Toute
synthèse doit être subjective, puisque l'objectivité reste toujours analytique.
Mais la prépondérance de la subjectivité est encore plus indispensable à la
subordination fondamentale de l'esprit envers le cœur. Cette double nécessité,
qui jusqu'ici prévalut sans être aperçue, a été confusément sentie par les
principaux métaphysiciens modernes, depuis l'avortement décisif des nombreuses
tentatives de systématisation objective. Ainsi poussés vers l'unité subjective,
ils ne l'ont manquée que pour l'avoir restreinte à l'homme individuel, au lieu
de la fonder sur l'humanité.
La
subjectivité initiale n'avait donc besoin que de devenir relative; mais cette
transformation radicale a exigé tout le préambule objective accompli
graduellement depuis Thalès jusqu'à Bichat. Car il fallait pour cela faire
universellement prévaloir l'étude des lois naturelles, qui ne pouvait commencer
qu'envers les moindres phénomènes, d'où elle s'est ensuite étendue lentement
aux plus éminents. L'achèvement de cette immense préparation conduit maintenant
à fonder la vraie subjectivité, en substituant la sociologie à la théologie.
Ainsi rendue relative, la prépondérance du véritable point de vue humain
devient beaucoup plus directe, et même plus complète que lorsqu'elle présidait
implicitement au régime absolu. Cette transformation définitive est encore plus
salutaire au cœur qu'à l'esprit, d'après l'harmonie durable qu'elle institue
entre eux. L'objectivité, qui ne put rien systématiser, prend enfin son office
caractéristique, de fournir partout les matériaux des constructions réservées à
la subjectivité” (Comte, Système de
politique positive, v. I, p. 581-582).
* * *
Tradução para o português:
A subjetividade inicial, então, não tinha necessidade
senão de tornar-se relativa; mas essa transformação radical exigiu todo o
preâmbulo objetivo realizado gradualmente após Tales [de Mileto] até [Xavier]
Bichat. Afinal, era necessário para isso fazer prevalecer universalmente o estudo
das leis naturais, que não poderia começar senão a respeito dos menores
fenômenos, de que ela lentamente se estendeu em seguida aos mais eminentes. A conclusão
dessa imensa preparação conduz agora a fundar a verdadeira subjetividade, ao
substituir pela Sociologia a teologia. Assim tornada relativa, a preponderância
do verdadeiro ponto vista humano torna-se bastante mais direto e mesmo mais
completo que quando ele presidia implicitamente o regime absoluto. Essa
transformação definitiva é ainda mais salutar ao coração que ao espírito,
segundo a harmonia durável que ela institui entre eles. A objetividade, não
pode nada sistematizar, assume afinal seu ofício característico, de fornecer
por toda parte os materiais das construções reservadas à subjetividade" (Comte, Système de politique positive,
v. I, p. 581-582).
* * *
Tradução para o português:
"Mais se
medita sobre a marcha primitiva de nossa inteligência, mais se reconhece que
ela não exigiria outra retificação radical senão a de substituir pelo estudo
das leis a pesquisa das causas. Seu vício fundamental, aliás inevitável e mesmo
indispensável, não consistiu de maneira nenhuma em seu caráter subjetivo, mas
em sua natureza absoluta. A longa coexistência desses dois atributos não
impediu de modo nenhum a subjetividade de manifestar suas altas propriedades,
intelectuais e sobretudo morais. Toda síntese deve ser subjetiva, pois a objetividade
permanece sempre analítica. Mas a preponderância da subjetividade é ainda mais
indispensável à subordinação fundamental do espírito ao coração. Essa dupla
necessidade, que até aqui prevaleceu sem ser percebida, foi confusamente
sentida pelos principais metafísicos modernos, depois do abortamento decisivo
de numerosas tentativas de sistematização objetiva. Assim impelidos em direção
à unidade subjetiva, eles não falharam senão em restringi-la ao homem
individual, em vez de fundá-la sobre a Humanidade.
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16 janeiro 2013
Nível de dedução, secura afetiva e orgulho
No trecho abaixo Comte afirma que os
diferentes graus de abstração (ou, de modo equivalente, os graus de indução) de cada ciência têm diferentes
conseqüências morais para os respectivos cientistas. Em particular, Comte chama
a atenção para o fato de que, ao ser principalmente uma atividade intelectual,
a ciência estimula a secura do coração, isto é, estimula os cientistas a
tornarem-se frios e/ou anti-sociais.
Mas, mais do que isso, quanto maior o
grau de dedução aplicado, mais o orgulho é estimulado: afinal de contas, como
na dedução o indivíduo trabalha isoladamente, cria-se a impressão de que os
resultados obtidos têm origem estritamente individual, sem o concurso prévio ou
concomitante de outras pessoas (e habilidades). Por outro lado, a indução exige
a coleta de dados empíricos, o que lhe confere um certo caráter coletivo – o
que acarreta um certo nível de sociabilização. A Química, ao aproximar-se mais da
Sociologia e da Moral, além de conter um grande elemento de indução, está relativamente
menos sujeita a esses vícios que a Matemática, a Astronomia e a Física.
Desse modo, o trecho abaixo mais uma vez
evidencia o quanto é errado afirmar que o Positivismo (e Comte) é “intelectualista”,
“academicista”, “objetivista” – ou, em variações próprias às Ciências Humanas e
Sociais, “anti-reflexivo”, “anti-subjetivista”, “anti-compreensivo” e outras
tolices semelhantes.
* * *
“Outre la
sécheresse inhérente à toute occupation où le cœur a trop peu de part, les
travaux scientifiques tendent spécialement à développer l’orgueil, en disposant
à une appréciation exagérée du mérite individuel. Ce double danger naturel ne
peut être assez contenu que par une vraie discipline religieuse, qui fasse
toujours prévaloir dignement l’esprit d’ensemble et le sentiment social. Il
s’étend et s’aggrave de plus en plus dans l’anarchie atuelle. Mais, en
déployant ces ravages moraux, le régime académique manifeste aussi leur inégale
influence sur les diverses classes de savants, qui s’en trouvent d’autant moins
affectés que leurs études se rapprochent davantage du but nécessaire de
l’évolution positive. Or cette incontestable différence, déjà sensible entre
les divers sciences cosmologiques, tient à la fois aux méthodes et aux
doctrines. D’abord, les études supérieures font mieux sentir que les inférieures
la destination finalement sociale de toutes nos saines spéculations, et même le
seul point de vue vraiment universel que comportent nos conceptions positives.
Mais, par une réaction plus cachée, leur propre caractère logique restreint
davantage ces dangers moraux, en faisant prévaloir graduellement l’induction
sur la déduction. En effet, c’est surtout celle-ci que excite l’orgueil
scientifique, par des conceptions que chaque esprit croit tirées de lui-même,
sans apprécier le concours extérieur. Au contraire, l’induction rappelle
toujours une source objective, et même une certaine coopération sociale. C’est
principalement dans les études déductives que règne aujourd’hui l’usage, non
moins irrationnel qu’immoral, d’enseigner chaque science sans aucune indication
historique, comme si celui que l’expose l’avait entièrement créée. Tous ces
vices de la culture académique seront essentiellement rectifiés par le régime
encyclopédique. Mais l’état le plus normal permettra néanmoins de sentir
toujours que les dangers moraux du travail scientifique tiennent davantage à la
déduction qu’à l’induction. Quoique cette différence naturelle se manifeste
déjà quand on aborde la cosmologie terrestre, elle se trouve aujourd’hui trop
dissimulée, en physique, par les usurpations algébriques. C’était donc envers
la chimie que je devais en indiquer l’appréciation générale, rendue maintenant
si sensible d’après l’irrationnelle dispersion des travaux scientifiques” (Comte,
Système de politique positive, v. I,
p. 532-534).
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Induzir para deduzir - e limitações das deduções
O trecho abaixo expõe uma avaliação
preliminar da Química, comparando-a à Física em termos de avanços
metodológicos. O resultado parece desabonador para a Química, pois não há
grandes avanços (isto é, novidades), mas, mutatis
mutandis, apenas desenvolvimentos e aperfeiçoamentos do que se fez na
Física.
Entretanto, a passagem da Física à
Química indica o verdadeiro caráter da dedução e da indução: somente se induz
para melhor deduzir. Entretanto, deve-se fazer duas observações importantes:
por um lado, o excesso de deduções obscurece as origens indutivas da ciência; por
outro lado, a dedução na Química já está separada da que ocorria inicialmente
na Matemática, ou seja, já se percebem (ou deve-se perceber) as limitações de
tais deduções.
* * *
“L’importance
réelle de cette étude, inversement à la précédente, est moins logique que
scientifique. Car la méthode positive n’y fait aucun nouveau pas général, et se
borne à y développer davantage les différents procédés inductifs constitués par
la physique. Seulement, la complication supérieure des spéculations chimiques y
fait mieux ressortir la nature et la destination de l’induction, en laissant
une moindre influence à la déduction, alors dégagée irrévocablement de ses
formes mathématiques initiales. Dans ce passage de la physique à la chimie,
l’esprit sent avec plus d’évidence que la logique pleinement positive doit être
moins déductive qu’inductive. Car on n’induit jamais que pour déduire ;
tandis que la déduction prolongée fait souvent méconnaître l’induction d’où
elle émane toujours” (Comte, Système de
politique positive, v. I, p. 532).
Exagerada importância filosófica da Física
O trecho abaixo é bastante interessante,
pois Augusto Comte afirma que a Física não tem a importância filosófica que se
atribui – ou atribuía – a ela. Citações anteriores e subseqüentes, aliás,
indicam que para Comte outras ciências são filosoficamente mais estimulantes e
importantes, a exemplo da Astronomia e da Química.
Qual a origem da exagerada aptidão
filosófica da Física? Para Comte, ela reside em uma coincidência temporal: a
Física começou a desenvolver-se ao mesmo tempo em que se desenvolviam as
perspectivas de conjunto, levando-se a considerar-se a íntima relação entre
ambas.
* * *
“Son
importance dogmatique ne saurait pourtant rester exactement au niveau de son office
historique. Car, elle a influé sur l’ensemble de la préparation moderne au delà
de sa vraie portée encyclopédique. J’ai déjà expliqué la marche nécessaire qui
plaça son essor distinct après celui de toutes les autres sciences
préliminaires. Dès lors, il dut coïncider avec la première ébauche des vraies
vues encyclopédiques, qui, auparavant impossibles, fautes de bases suffisantes,
purent ainsi surgir à travers la culture dispersive. Cette coïncidence mal
appréciée fit nécessairement attribuer à la physique plus d’aptitude
philosophique que n’en comporte une telle science. L’état normal de la
philosophie naturelle ne saurait conserver aucune trace de ce grand incident
historique, dû seulement à une situation exceptionnelle” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 531-532).
Busca das causas e persistência do absoluto na Física
É interessante notar que a prática
científica não está isenta de absoluto e, portanto, de teologia e/ou de metafísica.
Para Augusto Comte, isso é péssimo, pois deturpa o espírito positivo e dificulta
não apenas a compreensão da ciência como, de modo mais importante, dificulta a
compreensão da realidade. Evidentemente, tal situação é perfeitamente passível de correção, por meio da adoção do relativismo e da perspectiva humana e histórica (logo, subjetiva).
Em outros trechos Comte indicou a
permanência dos hábitos mentais absolutistas na Matemática; na citação abaixo
ele refere-se à Física.
* * *
“De vaines
protestations habituelles, mal empruntées à Bacon, semblent y indiquer une
sérieuse renonciation à la recherche des causes, pour vouer la science à la
seule découverte des lois. Mais ce langage, même sincère, n’y sert, le plus
souvent, qu’à dissimuler une irrationnelle tendance aux notions absolues.
L’anarchie ne saurait jamais suffire ni durer, en science guère plus
qu’ailleurs. Quels que soient ses désirs d’émancipation totale, l’esprit
moderne reviendra, sous de nouvelles formes, au régime métaphysique, tant qu’il
n’aura point accepté la nouvelle discipline philosophique qui surgit
aujourd’hui de toute l’évolution positive” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 521).
Limitação da ciência como espelho do mundo
A respeito da teoria corpuscular,
deve-se notar que as teorias têm um caráter lógico (da mesma forma que a noção
de inércia, na Mecânica); atribuir muita realidade a tais noções é exagerar a
capacidade de representação das teorias, o que as desnatura.
Esse trecho, nesse sentido, tem um certo
caráter histórico, isto é, de história das idéias científicas e físicas. Isso é
interessante, mas estritamente limitado. Mais útil é observar que, para Comte,
as idéias e as hipóteses não refletem perfeitamente a realidade externa, nem o
poder fazer. Em outras palavras, Comte
reconhece com todas as letras as limitações da imagem da ciência como um
espelho do mundo exterior.
* * *
“C’est
aussi à cette science qu’appartient surtout la théorie corpusculaire ou
atomistique, que achève de fonder sa propre constitution logique, où elle
convient autant que l’inertie en mécanique. Notre tendance à douer d’une
existence objective nos constructions subjectives dénature encore l’une et
l’autre conception, en y supposant une exacte représentation de la réalité
extérieure. Quoique la saine philosophie dissipe cette illusion primitive, elle
conserve, en les rectifiant, de précieuses institutions logiques, qui en sont,
au fond, indépendantes.
L’intime
structure des substances réelles nous demeure nécessarairement inconnue. Mais,
en étudiant leurs propriétés, nous sommes rationnellement autorisés à
introduire envers elle toutes les hypothèses qui pourront faciliter nos
pensées, pourvu que ces artifices soient toujours conformes à la nature des
phénomènes correspondants. [...] Mais une telle appréciation philosophique, en
expliquant la légitimité relative de l’hypothèse atomistique, interdit aussi
son extension absolue, et indique même les limites de son usage normal” (Comte,
Système de politique positive, v. I,
p. 520).
Indução e dedução na Física
Do ponto de vista da teoria da ciência e
da teoria do conhecimento, o trecho abaixo é bastante importante. Sua intenção
é avaliar a relação da Física com os métodos gerais da indução e da dedução;
inversamente, ele indica o quanto a indução foi desenvolvida pela Física e
quais os limites que a dedução – mas também a indução – apresentam.
Evidentemente, o trecho abaixo deve ser lido em cotejo com trechos anteriores
(sobre as ciências prévias: Matemática e Astronomia), bem como com trechos
posteriores (sobre as ciências seguintes: Química, Biologia e, nos volumes
seguintes do Sistema de política positiva,
Sociologia e Moral).
Os resultados a chega A. Comte com seu exame
histórico e teórico da Física são os seguintes. A Física é a ciência que mais e
melhor desenvolve bastante a indução, seja porque ela é a ciência que primeiro
realiza experiências, seja porque as ciências posteriores são muito complicadas
e dificultam as generalizações.
O espírito positivo é mais indutivo que
dedutivo, ou seja, é necessário submeter os raciocínios às observações; assim,
quanto mais distante da metafísica, mais indutivo é o raciocínio. Todavia, convém
notar que a pura indução conduz ao “empiricismo”, que é um erro lógico e
teórico.
* * *
“Son
efficacité logique correspond à cette importance scientifique. On lui doit surtout
l’essor décisif du véritable esprit d’induction, ensuite développé et completé
par tout le reste de la philosophie positive. Quoiqu’il naisse d’abord en
astronomie, et déjà même en mathématique, ces deux sciences sont trop simples
pour en caractériser assez la nature et la destination. D’un autre côté, les
sciences suivantes sont tellement compliquées, qu’il n’y pourrait être
nettement apprécié, si la physique ne l’avait préalablement élaboré. Elle seule
offre le juste degré de difficulté qui convient à la saine manifestation de la
logique inductive. Quoique la déduction y conserve beaucoup d’efficacité, déjà
elle cesse là de prévaloir, parce que l’institution des vrais principes
commence alors à devenir plus embarrassante que le développement des justes
conséquences.
Pour mieux
sentir combien la physique concourt ainsi à l’élaboration fondamentale de la
méthode positive, il faut reconnaître que le véritable esprit philosophique est
beaucoup plus caractérisé par l’induction que par la déduction. Celle-ci,
d’après son uniformité nécessaire, s’adapte indifféremment à tout régime
intellectuel. Elle était déjà très-active sous le règne de la métaphysique. Si
la science où elle prévaut le plus constitue pourtant le vrai berceau de la
positivité, c’est uniquement parce que l’extrême simplicité des phénomènes
mathématiques permet d’y établir sans effort des principes solides. Une
induction facile, et souvent inaperçue, réduit alors presque tout le travail
logique au seul enchaînement des consequénces. Quoique les autres sciences
fassent nécessairement un grand usage de la déduction, la complication
graduelle des phénomènes y détermine une prépondérance croissante de
l’induction. Celle-ci manifeste mieux le principal caractère de l’esprit
positif, la subordination normale du raisonnement à l’observation. On peut même
dire que, à mesure que nos théories quelconques s’éloignent davantage de l’état
métaphysique, l’induction y remplace de plus en plus la déduction, qui d’abord
y régnait souverainement. La raison moderne est donc caractérisée surtout par
la construction de la logique inductive, à peine entrevue dans l’antiquité.
D’après sa nature plus objective, cette méthode exige une longue suite
d’élaborations spéciales, où l’essor de chacun de ses modes essentiels ressort
de l’étude des phénomèmes correspondants. Toutefois, sa prépondérance exagérée
deviendrait bientôt pernicieuse, en consacrant le pur empirisme, tendance
ordinaire des règles inductives que sont abstraitement conçues. Mais le vrai
régime positif écarte naturellement ce danger, par cela même qu’il ne sépare
jamais la logique de la science. Car, en n’étudiant chaque partie de la méthode
inductive qu’avec les doctrines qui l’ont spécialement suscitée, on sent
aussitôt que son usage doit toujours être conforme aux notions fondamentales
que cette science reçoit de la précédente. À mesure que le phénomènes se
compliquent, ces dogmes préalables acquièrent naturellement plus de poids
logique, parce que les antécédents se multiplient. Quoiqu’ils ne suffisent jamais
aux solutions effectives, ils y fournissent toujours des indications générales,
qui servent à diriger convenablement les inductions spéciales. Ainsi, par sa
constitution encyclopédique, la vraie culture positive évite également les deux
écueils opposés, le mysticisme et l’empirisme, entre lesquels flotte
nécessairement toute étude où la déduction et l’induction ne sont pas sagement
combinées” (Comte, Système de politique
positive, v. I, p. 516-518).
08 janeiro 2013
Astronomia e fenômenos que escapam à previsão estimulando a sabedoria e o amor
O longo trecho abaixo continua apresentando
elementos da extensa e interessante avaliação que A. Comte fez das qualidades lógicas,
sociais e morais da Astronomia.
Mas estes parágrafos apresentam uma
observação fundamental: a idéia de que muitos
fenômenos e acontecimentos podem ocorrer (e de fato ocorrem) além das previsões das leis científicas – o exemplo dado é o do choque de um cometa
no planeta Terra. Com essa observação, fica novamente patente que, para Comte, embora só possamos regular a
vida humana por meio das previsões científicas (feitas, por sua vez, por meio
das leis naturais), não é possível prever todos os acontecimentos reais – e é
justamente por tais motivos que a sabedoria humana (moral, intelectual, prática)
deve sempre ser valorizada.
Comte nota que, em seu conjunto, a
Astronomia favorece o relativismo e elimina o absoluto, embora inicialmente dê
a impressão contrária. Mais do que isso: a Astronomia apresenta uma série de importantes
conseqüências morais, não apenas em virtude de seus métodos e suas teorias, mas
também ao relevar ao ser humano a situação cósmica da Terra. Eis algumas dessas
conseqüências: a regulação do sentimento de esperança; a evidência da resistência
do meio à ação humana; a necessidade de o ser humano buscar em si mesmo os
meios para superar as adversidades; o descartar o excesso de previsões e
considerar as possibilidades de eventos imprevisíveis (como o possível choque
de cometa na Terra); o evitar o terror imobilizante frente às adversidades. Como
todos os seres humanos estão igualmente submetidos a esses fenômenos e
possibilidades, o cuidado com os demais e o “viver para outrem” evidencia-se
como lei moral suprema.
Por fim: as observações abaixo reiteram a
concepção de ciência de Comte, bem como a posição que, para ele, a inteligência
ocupa na ordem humana. Nada de “cientificismo”, de “intelectualismo”, de “torre
de marfim” ou distância da realidade prática; nada de concepção asséptica da
ciência; bem ao contrário, preocupação com o bem comum, com o desenvolvimento
das idéias para regular a conduta prática e os sentimentos.
* * *
“Ainsi,
toute l’astronomie concourt naturellement à constituer l’esprit relatif dans le
domaine qui, par as simplicité et son indépendance, paraissait le moins l’admettre.
Envers les phénomènes qui concernent l’homme, on n’a jamais pu méconnaître entièrement
les variations intérieures qui n’y permettent pas l’absolu. Mais cet attribut
semblait devoir appartenir toujours aux événements où nous ne sommes que
spectateurs. Or, l’astronomie l’élimine spontanément dans l’étude même de ceux
qui sont inaccessibles à toute modification humaine. Cette constitution décisive
de la rélativité, au début de l’initiation systématique, doit puissamment influer
sur son extension immédiate aux phénomènes plus compliqués, avant que leur
propre appréciation l’y ait directement établie.
Pour mieux
sentir une telle tendance astronomique, il faut aussi l’envisager sous l’aspect
moral. Car la véritable science céleste étend finalement la relativité de nos
idées à nos espérances, et par suite à tous nos sentiments. En manifestant les
diverses conditions planétaires, elle dissipe la sécurité absolue qui nous représentait
comme exemptes de perturbations quelconques. La stabilité essentielle, tant célébrée
envers la terre, par les géomètres modernes, ne se rapporte qu’aux changements
graduels dus aux gravitations secondaires, qui, en effet, ne peuvent y produire
que des oscillations presque indifférentes. Mais, outre la résistance du
milieu, qu’on y néglige toujours, il faut surtout considérer les changements
brusques, qui ne comportent pas de prévision réelle, et contre lesquels nous ne
possédons aucune garantie scientifique. Rien ne peut, par exemple, démontrer,
quoi qu’on ait dit, que notre planète est à l’abri de tout choc cométaire. En
achevant ainsi d’apprécier notre vraie condition astronomique, on constitue
mieux l’énergie et la dignité du caractère humain, qui doit trouver en lui-même
sa principale ressource contre l’ensemble de nos misères. Sans nous préoccuper de
vaines terreurs, nous tendons alors à écarter davantage un excès de prévoyance
et de présomption, qui altère beaucoup notre véritable bonheur, privé et
public. Les affections bienveillantes, dont il dépend surtout, acquièrent ainsi
plus de prix encore que lorsque chacun se confie trop aux garanties extérieures.
Quand même la terre devrait être bientôt bouleversée par un choc céleste, vivre
pour autrui, subordonner la personnalité à la sociabilité, ne cesseraient pas
de constituer jusqu’au bout le bien et le devoir suprêmes. Les vrais
philosophes sentiront toujours, comme les francs prolétaires, que de telles
pensées tendent plutôt à consolider notre bonheur réel, chez ceux du moins qui
savent en utiliser l’aptitude morale” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 506-507).
* * *
Tradução para o português:
* * *
Tradução para o português:
"Assim, toda a Astronomia concorre
naturalmente para constituir o espírito relativo no domínio que, devido à sua
simplicidade e sua independência, pareceria admiti-lo menos. Em relação aos
fenômenos que concernem ao homem, não se pôde nunca desconhecer inteiramente as
variações interiores que não não permitem o absoluto. Mas esse atributo
pareceria dever pertencer sempre aos eventos em que não somos senão
expectadores. Ora, a Astronomia elimina-o espontaneamente no estudo mesmo
desses que são inacessíveis a toda modificação humana. Essa constituição
decisiva da relatividade, no início da iniciação sistemática, devia influenciar
poderosamente sobre sua extensão aos fenômenos mais complicados, antes que sua
própria apreciação tenha sido diretamente estabelecida.
Para melhor sentir uma tal tendência astronômica, é
necessário também a observar sob o aspecto moral. Afinal, a verdadeira ciência
celeste estende finalmente a relatividade de nossas idéias às nossas esperanças
e, em conseqüência, a todos os nossos sentimentos. Ao manifestar as diversas
condições planetárias, ela dissipa a segurança absoluta que nos representava
como isentos de perturbações quaisquer. A estabilidade essencial, tanto
celebrada em relação à Terra, pelos geômetras modernos, não se refere senão às
mudanças graduais devidas às gravitações secundárias, que, com efeito, não
podem produzir senão oscilações quase indiferentes. Mas, além da resistência do
meio, que se negligencia sempre, é necessário sobretudo considerar as mudanças
bruscas, que não comportam previsão real e contra as quais não possuímos nenhuma
garantia científica. Nada pode, por exemplo, demonstrar – o que quer que tenha
sido dito – que nosso planeta está ao abrigo de todo choque cometário. Ao
concluir assim a apreciação de nossa verdadeira condição astronômica,
constitui-se melhor a energia e a dignidade do caráter humano, que deve
encontrar em si mesmo seu principal recurso contra o conjunto de nossas
misérias. Sem nos preocuparmos com vãos terrores, tendemos então a descartar
mais um excesso de previsão e de presunção, que altera bastante nossa verdadeira
felicidade, privada e pública. Os afetos da benquerença, de que ela depende
sobretudo, adquirem assim mais valor ainda que quando cada um confia demais nas
garantias exteriores. Quando mesmo a Terra devesse ser logo perturbada por um
choque celeste, viver para outrem, subordinar a personalidade à sociabilidade,
não cessariam de constituir até o fim o bem e o dever supremos. Os verdadeiros
filósofos sentirão sempre, como os francos proletários, que tais pensamentos
tendem antes a consolidar nossa felicidade real, entre aqueles que ao menos
sabem utilizar a sua aptidão moral" (Comte, Système de politique
positive, v. I, p. 506-507).
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Conseqüências lógicas, sociais, políticas e morais da Astronomia
Na passagem abaixo Comte indica que a
Astronomia fornece a primeira base para a disciplina moral, ao apresentar espetáculos
exteriores com uma ordem regular e permanente. Entretanto, por si só a
Astronomia conduz ao fatalismo, o que deve ser evitado e combatido. Ainda
assim, a ordem astronômica permite que se combata o orgulho e as divagações da
razão “pura”, de caráter metafísico: afinal, a ordem é imutável e ninguém pode
furtar-se à sua influência, por mais imperfeita que ela seja. Comte indica que
a ausência de leis, ou seja, de ordem, é um delírio metafísico; caso pudéssemos
construir toda a ordem, não nos submeteríamos a ordem alguma: essa é base da
vontade absoluta, cujas derivações políticas consistem nas concepções de que a
realidade social é infinitamente plástica e infinitamente sujeita à manipulação
humana movida pela pura “vontade” (individual ou coletiva).
Assim, o trecho abaixo evidencia que a Sociologia
nomotética de Comte não afasta, de maneira alguma, uma abordagem “compreensiva”,
conforme estreitamente defendido por Weber. Da mesma forma, Comte indica os
fatores sociais que levaram ao desenvolvimento histórico da ciência (no caso,
da Astronomia) e, inversamente, quais as conseqüências que tal desenvolvimento acarretou
para a sociedade. (Convém notar que essa importância histórica e social é um
dos motivos por que Comte apresenta a Astronomia como uma ciência à parte;
outro motivo é a fundação da observação sistemática, com a conseqüência da
fundação da indução e da elaboração de hipóteses e de teorias.)
Indo além, Comte indica da mesma forma
as conseqüências morais que o desenvolvimento da Astronomia (ou, por outra, o
desenvolvimento da observação celeste) têm para a moralidade humana: ela
institui a noção de regularidade externa que se impõe a todos. Como indicado
acima, essa noção, caso levada muito adiante, conduz ao fatalismo, isto é, à
noção de que não há possibilidade alguma de modificação e/ou de intervenção humana:
no caso da Astronomia isso é verdade, mas não o é para as demais ciências.
* * *
“L’immuabilité
d’un tel ordre constitue la première base systématique de la religion finale,
pour régler et rallier, non-seulement nos opinions et nos actions, mais aussi
nos affections elles-mêmes. Sans méconnaître sés imperfections réelles, c’est
par lui que nous commencerons toujours à sentir le besoin d’une nécessité extérieure,
comme condition fondamentale de toute discipline humaine. Ce premier
apprentissage de la soumission offre pourtant un grave danger, tant qu’il se
borne aux phénomènes immodifiables, où la résignation dégénère en fatalisme. Mais
cette tendance initiale, qui troubla beaucoup l’évolution originale, devient
aisément évitable dans une éducation systématique, qui subordonne toutes les études
préliminaires à des vues d’ensemble sur leur nature et leur destination. Un tel
inconvénient n’altérera point, même au début, la salutaire influence, autant
morale que mentale, propre au sentiment continu de cette inflexibilité extérieure,
sans laquelle rien ne pourrait contenir les discordances de notre orgueil et
les divagations de notre raison.
On doit quelquefois regretter que cet ordre immodifiable soit si imparfait. Mais aucun homme sage ne saurait souhaiter d’en être affranchi ; puisque notre conduite manquerait aussitôt de but comme de règle. Le vœu de cette vagabonde indépendance résulta toujours du délire de l’orgueil métaphysique. Nos propres imperfections de tous genres ne nous destinent qu’à modifier, dans ses dispositions secondaires, un ordre éxterieur dont les lois essentielles sont inaccessibles à notre intervention quelconque. Là même où nous pouvons le plus, l’initiative ne nous appartient jamais, et nos efforts ne deviennent efficaces qu’en s’adaptant à cette nécessité inflexible, qu’il faut d’abord connaître pour la respecter toujours. S’il nous était donné de construire librement l’ordre total, nous deviendrions aussitôt incapables d’aucune vraie discipline, personelle ou sociale.
On doit quelquefois regretter que cet ordre immodifiable soit si imparfait. Mais aucun homme sage ne saurait souhaiter d’en être affranchi ; puisque notre conduite manquerait aussitôt de but comme de règle. Le vœu de cette vagabonde indépendance résulta toujours du délire de l’orgueil métaphysique. Nos propres imperfections de tous genres ne nous destinent qu’à modifier, dans ses dispositions secondaires, un ordre éxterieur dont les lois essentielles sont inaccessibles à notre intervention quelconque. Là même où nous pouvons le plus, l’initiative ne nous appartient jamais, et nos efforts ne deviennent efficaces qu’en s’adaptant à cette nécessité inflexible, qu’il faut d’abord connaître pour la respecter toujours. S’il nous était donné de construire librement l’ordre total, nous deviendrions aussitôt incapables d’aucune vraie discipline, personelle ou sociale.
Mais, quelle que soit l’intime réalité d’une telle appréciation, elle est trop contraire à nos tendances primitives pour avoir jamais pu surgir assez, si tous les phénomènes, quoique réglés, eussent été vraiment modifiables. On sent aujourd’hui cette impossibilité par les grandes difficultés qu’éprouve l’admission des lois naturelles envers les événements, surtout sociaux, que leur complication nous permet de modifier beaucoup. Leur vraie notion ne peut prévaloir qu’en y appliquant convenablement la conviction préalable résultée des lois, plus simples et moins flexibles, relatives aux phénomènes plus généraux. Cette succession conduit, de proche en proche, à fonder le sentiment de l’ordre réel sur l’étude des événements qui ne comportent aucune modification volontaire. L’astronomie fournira donc toujours la première base objective de notre sagesse systématique” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 504-505).
Impossibilidade de separação entre fato e valor
A passagem abaixo é de uma
importância radical. Tratando ainda das considerações preliminares sobre a
Astronomia, Comte indica que toda observação (empírica) é necessariamente
pautada por uma série de considerações teóricas: as teorias guiam as observações
e estabelecem os vínculos, constituindo as hipóteses.
Essa idéia foi exposta com clareza
meridiana nos Opúsculos de
filosofia social (publicados
entre 1819 e 1828, com tradução brasileira de 1972, publicada pela USP e pela
editora Globo, de Porto Alegre) e também no Sistema
de filosofia positiva (1830-1842). Mas no cap. I do v. II do Sistema de política positiva,
publicado em 1852 e dedicado à teoria da religião, Comte reafirma essa idéia,
indicando que não é possível determinar as porções em que a subjetividade e a
objetividade combinam-se para a elaboração de qualquer idéia e para a
realização de qualquer investigação empírica: o que há é uma variação entre
objetividade e subjetividade, dependendo da atividade mental específica.
Na filosofia das ciências proposta
por A. Comte, aliás, a subjetividade que opera na produção de teorias e na
observação de fatos não é somente "intelectual"; ela também é afetiva
e moral. Em outras palavras, as variações entre objetividade e subjetividade
dizem respeito não apenas à formulação de hipóteses como à influência sofrida
pelos seres humanos pelos seus sentimentos e por seus valores ao elaborarem suas
afirmações quaisquer. Em outras palavras: para Comte não há "separação
radical entre fato e valor".
*
* *
“Il
n’existe aucune séparation absolue entre observer et raisonner. Nulle
observation ne peut, ni ne doit, être purement objective. En tant que phénomène
humain, cette première opération mentale est en même temps subjective, dans un
cas quelconque, à un degré proportionnel à sa complication. L’observation
astronomique manifeste clairement cette nécessité générale. Toutes nos
spéculations, même géométriques, s’y rapportent à des phénomènes qui ne
sauraient être immédiatement explorés. On n’y peut proprement voir que des
directions, simultanées ou successives, d’après lesquelles l’esprit doit
construire la forme ou le mouvement que l’œil n’a pu embrasser. Le mélange nécessaire et
constant entre l’inspection et la prévision ne saurait ailleurs devenir aussi
intime ni aussi évident, puisqu’il affecte ici jusqu’aux opérations
élémentaires.
C’est de
là que résulte la seconde propriété logique de l’astronomie, son aptitude
spontanée à caractériser la saine institution des hypothèses scientifiques. En aucun
autre cas on ne peut aussi bien sentir à la fois le besoin et la nature de ce
puissant procédé, qui devra toujours être d’abord apprécié à cette source, afin
de devenir sagement applicable partout ailleurs. Dés le début, dogmatique ou
historique, de la véritable astronomie, la simple ébauche géométrique du
mouvement diurne resterait impossible sans une hipothèse abstraite que
l’on compare au spectacle concret, pour lier les positions célestes. L’esprit
sent là clairement, ce qui ailleurs demeure longtemps équivoque, que le domaine
normal de l’hipothèse coïncide essentiellement avec celui de l’observation,
dont elle est partout destinée à remplir les lacunes nécessaires. Aucune
discussion phillosophique ne devint jamais indispensable pour établir, en astronomie,
que les hypothèses légitimes, comme les observations elles-mêmes, concernent
seulement les faits et les lois, mais non les causes. Cette précieuse
conviction logique se développe spontanément pendant tout le cours des études
célestes, tant mécaniques que géométriques. Mais une telle sagesse ne témoigne
aucune supériorité philosophique chez les astronomes, qui furent presque
toujours dominés par les préjugés contemporains sur la vaine recherche des
causes. Elle est entièrement due aux difficultés spéciales qui ont concentré
leurs principaux efforts scientifiques vers l’appréciation des faits et des
lois, même quand leur esprit était le plus préocuppé de tentatives chimériques” (Comte, Système de politique positive,
v. I, p. 500-501).
07 janeiro 2013
Teoria inicial das hipóteses e das abstrações
Ainda ao tratar da Astronomia, Augusto Comte indica que é
essa ciência que ensina efetivamente ao ser humano a elaborar hipóteses e, portanto,
a abstrair (o que equivale a elaborar tipos ideais da realidade).
* * *
“L’abstraction est tellement facile, en géométrie,
qu’elle s’y accomplit spontanément, sans exiger aucun effort systématique qui
puisse assez caractériser ses conditions générales. Elle y respose sur la
double institution de l’espace universel et des types réguliers, que les
moindres intelligences ébauchent à leur insu. La difficulté augmente beaucoup,
en mécanique, au sujet de l’inertie et des lois phisiques que la supposent. Aussi
l’éducation systématique y pourra déjà placer un premier apprentissage de ce
grand procédé logique. Mais le développement astronomique en fut historiquement
très-antérieur, et ne cessera jamais de convenir le mieux à son appréciation
dogmatique.
Ici, l’abstraction
consiste surtout à écarter d’abord les irrégularités secondaires qui empêcheraient
de saisir la loi principale, à laquelle on s’efforce ensuite de rattacher les
moindres circonstances du phénomène. Ce besoin se manifeste dès le début des théories
astronomiques, au sujet des perturbations subjectives, dues à l’interposition
de notre milieu fluide ou à l’agitation inaperçue de notre observatoire
excentrique. L’impossibilité d’en tenir compte avec des instruments trop
grossiers conduisit involontairement les anciens à instituer sans effort cette
abstraction initiale. Mais, dans nos études dogmatiques, la réflexion
philosophique devient indispensable pour ne point y introduire trop tôt une précision
inopportune, qui empêcherait d’y saisir aucune loi. La règle élémentaire du
mouvement diurne deviendrait elle-même incompatible avec une exploration trop
précise, où elle se trouverait dissimulée par les modifications dues à la seule
réfraction. Une pareille nécessité s’est fait sentir aux modernes, pour la
fondation de la mécanique céleste. Car, sa loi fondamentale n’aurait jamais pu être
découverte, si Képler et Newton n’avaient point écarté d’abord les perturbations
objectives, que leurs sucesseurs ont rattachées aux gravitations secondaires. Dans
ce cas, c’est sciemment que l’abstraction fut instituée, à titre de condition logique ;
de manière à caractériser nettement ce précepte fondamental, destiné surtout aux
parties supérieures de la philosophie positive” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 501-502).
Astronomia fundando a arte da observação e, daí, a indução sistemática
Ao apreciar a Astronomia, Comte indica que ela apresenta uma
série de grandes qualidades intelectuais; ao comentar cada uma dessas
qualidades, apresenta elementos de sua epistemologia. As passagens abaixo
indicam que a Astronomia fundou a arte da observação e, com isso, as induções
sistemáticas; com isso, aliás, é possível combater-se os exageros metafísicos
dos geômetras a respeito das deduções. Embora a Matemática tenha estabelecido as bases da ciência com a teoria das leis (ou seja, das relações constantes de sucessão ou de coexistência), é a Astronomia que dá o impulso propriamente científico com as observações (ou seja, com as induções).
* * *
“Considérons d’abord l’astronomie, qui,
logiquement réductible à une sorte de mathématique concrète, mérite
scientifiquement de conserver toujours une place distincte dans le système general
des études préliminaires. [...]
[...] Des corps que
notre vision peut seule explorer de loin ne comporteront jamais d’études
vraiment positives qu’envers l’étendue et le mouvement, qui constituent, à
notre régard, leur unique existence réelle. Mais les difficultés radicales que
présente alors l’exacte appréciation d’une telle existence procurent à l’astronomie
une éminente aptitude logique. [...]
D’abord, on doit à
l’astronomie le premier essor systématique de l’art d’observer, et, par suite,
de la véritable induction. Ni l’un ni l’autre ne pouvaient être assez caractérisés
dans la géométrie abstraite, où des formes pleinement accessibles permettent
une exploration spontanée à la vue assistée du toucher. Les observations et les
inductions y sont si faciles que l’esprit quasi métaphysique de presque tous
les géomètres les y laisse inaperçues, en y exagérant la prépondérance
naturelle des déductions. En astronomie, la difficulté est trop prononcée pour
comporter ces illusions sophistiques. Non-seulement le besoin de l’observation
matérielle y devient irrécusable ; mais on y distingue aussi l’élaboration
intellectuelle qui l’accompagne toujours, et qui ailleurs ne saurait autant
ressortir” (Comte, Système de politique
positive, v. I, p. 498-500).
Quantidades e qualidades; rejeição da matematização das ciências
O trecho abaixo é notável em termos de Filosofia das Ciências. Com uma
clareza meridiana, Augusto Comte afirma o quanto as oposições
teórico-metodológicas entre “qualidade” e “quantidade” são metafísicas – e,
portanto, ilusórias. Em seguida, ele indica que todo fenômeno observável pode
ser medido, de alguma forma: com base nisso, a Geometria Analítica poderia ser
encarada como um método geral para o estudo desse fenômeno, correspondendo à
idéia de que as leis naturais têm (que ter) precisão matemática.
Tal observação parece corroborar o senso comum a respeito do
Positivismo, segundo o qual o estudo da realidade via leis naturais consiste na
matematização da realidade. Na seqüência, todavia, Comte esclarece que esse
ideal não corresponde à realidade, devido à extrema complicação de qualquer
fenômeno não-matemático, ou seja, de praticamente qualquer fenômeno.
A conclusão a que A. Comte chega é simples, direta e – para quem considera
que “positivismo” é sinônimo de “matematização” – contra-intuitiva: deve-se
renunciar ao uso da álgebra como um suposto repositório de métodos, deduções e
induções para o estudo da realidade.
* * *
“Malgré les
subtilités métaphysiques sur la qualité et la quantité, il n’y a de phénomènes,
même très-compliqués, qui repoussent, en principe, une telle transformation,
sauf la difficulté de l’y réaliser. Les idées géométriques, de forme ou de
situation, ne sont pas naturellement plus semblables aux notions numériques que
les autres conceptions réelles. C’est pourquoi la transformation accomplie à
leur égard peut être légitimement conçue envers une science quelconque ;
ce qui érigerait l’algèbre en une sorte de logique universelle, si les
conditions de réalisation ne devaient pas restreindre beaucoup cette utopie
mathématique. Tout phénomène, même social, aurait certainement son équation,
comme une figure ou un mouvement, si sa loi pouvait nous être connue avec assez
de précision. Une telle appréciation mathématique ne constitue, au fond, que le
sens le plus rigoureux du dogme fondamental du positivisme sur l’invariabilité
des relations naturelles. Le seul tort philosophique des géomètres à cet égard
consiste à méconnaître les conditions réelles, tant objectives que subjetives,
qui nous interdisent une pareille transformation envers tous les phénomènes qui
ne sont pas extrêmement simples. Car, la conversion échoue également, soit
quand les lois précises ou équations proprement dites se trouvent être trop
compliquées, soit lorsque nous ne pouvons pas les découvrir. Envers la plupart
des phénomènes, même inorganiques, ces deux motifs concourent à rendre nécessairement
illusoire un tel perfectionnement logique, qui ne conviendra jamais qu’à nos
moindres spéculations. Il faut donc renoncer finalement à concevoir l’algèbre comme
un trésor universel de déductions et d’inductions accomplies d’avance pour tous
les problèmes possibles. L’ensemble des tentatives modernes a confirmé la
restriction essentielle d’une telle logique aux seules études géomètriques,
suivant l’admirable pressentiment du grand philosophe qui l’y appliqua” (Comte,
Système de politique positive, v. I,
p. 481-482).
06 janeiro 2013
Comte pela integração das ciências humanas e naturais, contra o materialismo
Afirma-se amiúde que o “positivismo” (e, por extensão,
Augusto Comte) teria reduzido a Sociologia (e, de modo mais amplo, as Ciências
Humanas) às Ciências Naturais; o nome inicialmente dado à Sociologia – “Física
Social” – seria uma prova cabal disso.
Nada mais errado. Embora essa redução sistemática de uma
ciência à outra seja observada com todas as letras em um dos principais autores
do chamado Círculo de Viena – Rudolf Carnap disse-o claramente no artigo
“Fundamentos lógicos da unidade da ciência” (http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/roman_0048-8593_1978_num_8_21_5208)
–, Augusto Comte repudiava com todas as forças tal postura, chamando-a de
“materialista” e “usurpadora da dignidade de cada ciência”.
Para Comte, cada ciência tem seu objeto específico. Sua escala enciclopédica indica que, da Matemática à Moral, há um crescimento de complexidade e uma diminuição de simplicidade e de generalidade; ou seja: na escala que compreende, nesta ordem, Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral, os objetos são cada vez mais complicados, mais específicos – e mais humanos. Essa escala, sem dúvida, é uma elaboração ideal e abstrata, que permite a compreensão das relações entre as influências naturais e humanas. Cada ciência sofre as influências das ciências anteriores, mas tem seus próprios objetos, “irredutíveis” aos anteriores.
Comte denomina a tendência a reduzir uma ciência superior a uma inferior – ou seja, a explicar os fenômenos superiores exclusivamente pelos inferiores – de “materialismo”. Inversamente, explicar um fenômeno inferior por um superior é “espiritualismo”. Exemplos fáceis de cada uma dessas posturas: explicar o funcionamento das sociedades humanas pela biologia é uma forma de materialismo (como feito, por exemplo, pela sociobiologia de Edward Wilson e pela “memética” de Richard Dawkins); ou explicar a cultura e as idéias pelos fatores econômicos ou “infra-estruturais”, como feito por Marx. Exemplo do espiritualismo: afirmar que a dilatação anômala da água (em que ela contrai-se à medida que diminui a temperatura, mas entre 4° C e 0° C ela expande-se, em vez de contrair-se), que permite a vida em climas frios, ocorre para que o ser humano viva; é fácil de perceber o quanto essa postura é própria às teologias (para quem “deus criou o mundo para o homem”).
As universidades, embora devessem estimular o pensamento “crítico”, muitas vezes são poços de preconceitos e de repetições de senso comum. Assim, em textos de apresentação à Sociologia e às Ciências Sociais, escolhidos ao acaso e com orientações teóricas variadas, o “positivismo” é caracterizado como redutor da Sociologia às Ciências Naturais, pela aplicação de métodos e raciocínios da Física (e da Matemática, da Astronomia, da Química e da Biologia) à Sociologia, além de propor uma indefinida “unidade da ciência”. Dois exemplos variados são estes: Ignácio Cano, “Nas trincheiras do método” (http://www.scielo.br/pdf/soc/v14n31/05.pdf); Anthony Giddens, “Sociologia” (http://www.grupoa.com.br/site/humanas/3/138/0/5557/5558/0/sociologia.aspx). (É digno de nota que I. Cano repete o erro, mesmo advogando a validade, principalmente metodológica, do que chama de “positivismo”.)
Pois bem: não apenas A. Comte critica o materialismo na Sociologia como critica qualquer outra forma de materialismo, incluindo aqueles sofridos pelas ciências inferiores; inversamente, também critica os espiritualismos. Os trechos abaixo evidenciam-no de maneira cristalina.
* * *
“Chaque science inférieure ne doit être
préalablement cultivée qu’autant que l’esprit humain en a besoin pour s’élever
solidement à la science suivante, jusqu’à ce qu’il soit ainsi parvenu à l’étude
systématique de l’Humanité, sa seule station finale. Telle est la loi générale
du vrai régime préliminaire. Quoiqu’elle n’ait pu être démontrée que de nos
jours, elle fut constamment pressentie des véritables organes de cette grande
préparation, ainsi embellie d’un puissant attrait pour leur cœur comme pour
leur esprit. Ce noble instinct est très-sensible chez la plupart des savants si
dignement appréciés par Fontenelle, et même encore chez ceux que jugea
Condorcet. Les moindres d’entre eux s’honoraient de coopérer à la haute mission
que Descartes et Bacon avaient assignée à la science moderne pour préparer la saine
philosophie, base nécessaire de la vraie rénovation sociale” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 471).
“Depuis que cette préparation est
suffisante, que la construction philosophique a surgi, et que la situation
occidentale en réclame l’active consécration, toute tendance à dominer les
études supérieures par les inférieures doit être autant flétrie comme preuve
d’immoralité que comme signe d’incapacité.
Sous cet aspect décisif, l’abus du calcule n mathématique constitue réellement la première phase spécial du matérialisme systématique, assez caractérisé, en general, dans mons discours préliminaire. L’usurpation de la physique par les géomètres, de la chimie par les physiciens, et de la biologie par les chimistes, deviennnent ensuite de simples prolongements successifs d’un vicieux régime, dont le principe est toujours le même, et qui ne peut être radicalement rectifié qu’en son germe inaperçu. Il développe partout un pareil abus de la juste influence déductive que chaque science préliminaire exerce nécessairement sur la suivante, d’après son indépendance et sa généralité plus grandes.
Cette apréciation définitive caractérise à la fois l’extrême importance et la source normale de la rectification mathématique dont il s’agit ici. Ainsi liée aux plus hautes questions philosophiques, et même aux principaux besoins sociaux, elle ne peut émaner que de l’universelle discipline instituée par la religion sociologique. La science finale reposant sur l’ensemble des sciences préliminaires, toutes la menaçent d’usurpations analogues à celle que chacune d’elles subit de la précédente. Mais ici la résistance est spontanément assurée par la difficulté et l’importance des questions, trop évidemment supérieures à de telles vues déductives, quoiqu’elles puissent et doivent les utiliser beaucoup. La sociologie se trouve ainsi conduite, en reconnaissant le besoin des diverses études préparatoires, à se réserver toujours leur usage systématique, qu’elle seule peut apprécier. Par là, elle écarte irrévocablement un ténébreux matérialisme, sans recourrir à un vain spiritualisme. La fluctuation, logique et scientifique, de toute notre philosophie naturelle entre la rétrogradation et l’anarchie se résout alors par l’application convenable de ce principe universel : chaque science doit diriger l’emploi normal de la précédente pour sa propre constitution” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 472-473)
25 outubro 2012
Historicidade da lógica positiva (objetividade+subjetividade)
A passagem abaixo evidencia o quanto a lógica positiva, que
combina a objetividade com a subjetividade, é histórica. Mas “histórica” não no
sentido de ser passageira, fugaz: histórica no sentido de que exigiu uma série
de preparações intelectuais, morais e políticas para constituir-se. Por um
lado, foi necessário que a objetividade das ciências naturais conhecesse o
mundo e controlasse a subjetividade humana; por outro lado, a criação da
Sociologia permite que a subjetividade torne-se relativa e incorpore a
afetividade.
Assim, a historicidade da lógica positiva evidencia o quanto
o “historicismo radical” contemporâneo, que afirma que há apenas rupturas
históricas e que o ser humano é incapaz de acumular idéias e de transmitir
valores, é falho.
Ao mesmo tempo, a lógica positiva afirma que os
conhecimentos humanos devem ter um caráter sintético: não há “ciências
históricas” (ou “ciências do espírito”) em contraposição às “ciências naturais”;
há o conhecimento humano, que começa objetivo e analítico e, ao chegar à
Sociologia (ou melhor, à Biologia), passa a ser sintético e também claramente subjetivo.
Em vez de “duas culturas” (científica versus humanística) ou “três culturas” (científica versus humanístico-literária versus sociológica), há apenas uma
cultura: a síntese subjetiva.
* * *
“Malgré ces
divers indices de son aptitude immédiate, la vraie logique religieuse, à la
fois objective et subjetive, ne fait certainement que de la naître. Tout son
essor caractéristique appartient au prochain avenir. Son élément rationnel,
seul cultivé jusqu’ici, ne pouvait être dignement conçu, faute d’une
connaissance réelle des lois intellectuelles, seulement appréciables dans l’évolution
scientifique de l’humanité. Aussi cette élaboration méthaphysique n’a-t-elle
jamais abouti qu’à des préceptes vagues et stériles, même quand elle ne se préoccupait
plus de formalités puériles ou vicieuses. Mais la logique affective dut encore
moins avancer, puisque les phénomènes correspondants furent toujours regardés
comme soustraits à toute loi. Elle ne fut sérieusement cultivée que dans le
moyen âge, sous l’impulsion catholique, dont le déclin en suscita encore d’admirables
essais, chez les principaux mystiques. A ces premiers rudiments empiriques, le
positivisme peut seul faire succéder un vaste essor systématique, puisqu’il s’établit
surtout dans l’ancien domaine de la grâce, désormais ramenée à des lois appréciables,
sources nécessaires de prévision et d’action.
[...]
Cette double aptitude fondamental du régime final repose entièrement sur le caractère positif de la nouvelle méthode subjective. Par cela seul que l’ancienne était théologique, ou même métaphysique, elle restait inconciliable avec la méthode objective, qui dut toujours être positive, pour fournir des prévisions réelles, propres à guider une activité efficace. Tandis que la subjectivité poussait l’esprit à l’absolu, l’objectivité le ramenait au relatif. Ce tiraillement continu ne permettait aucun équilibre logique. La cohérence mentale éxigeait d’abord l’homogénéité des méthodes. Or, la pratique ne pouvant renoncer à la marche objective, il fallait bien que la théorie abondonnât la marche subjective, du moins tant que dura l’évolution préparatoire. Ce préambule, désormais complet, a conduit l’essor analytique jusqu’à fournir, par la fondation de la sociologie, la base d’une nouvelle synthèse. Dés lors, la méthode subjective, appuyée sur le sentiment direct du Grand-Être, devient aussi relative que la méthode objective, coordonée d’après la conception générale de l’ordre extérieur. Ainsi s’organise notre vrai régime intellectuel, en rapport avec notre véritable destinée sociale. La pleine harmonie mentale n’aurait pu surgir auparavant, que si la philosophie théologique était devenue réellement objective ; ce qui fut toujours impossible, même sous le polythéisme” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 451-452).
[...]
Cette double aptitude fondamental du régime final repose entièrement sur le caractère positif de la nouvelle méthode subjective. Par cela seul que l’ancienne était théologique, ou même métaphysique, elle restait inconciliable avec la méthode objective, qui dut toujours être positive, pour fournir des prévisions réelles, propres à guider une activité efficace. Tandis que la subjectivité poussait l’esprit à l’absolu, l’objectivité le ramenait au relatif. Ce tiraillement continu ne permettait aucun équilibre logique. La cohérence mentale éxigeait d’abord l’homogénéité des méthodes. Or, la pratique ne pouvant renoncer à la marche objective, il fallait bien que la théorie abondonnât la marche subjective, du moins tant que dura l’évolution préparatoire. Ce préambule, désormais complet, a conduit l’essor analytique jusqu’à fournir, par la fondation de la sociologie, la base d’une nouvelle synthèse. Dés lors, la méthode subjective, appuyée sur le sentiment direct du Grand-Être, devient aussi relative que la méthode objective, coordonée d’après la conception générale de l’ordre extérieur. Ainsi s’organise notre vrai régime intellectuel, en rapport avec notre véritable destinée sociale. La pleine harmonie mentale n’aurait pu surgir auparavant, que si la philosophie théologique était devenue réellement objective ; ce qui fut toujours impossible, même sous le polythéisme” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 451-452).
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