20 junho 2023

Sobre materialismo e espiritualismo/idealismo

No dia 3 de Carlos Magno de 169 (20.6.2023) realizamos nossa habitual prédica positiva. Após darmos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista (em sua sétima conferência, dedicada à filosofia das ciências naturais), realizamos nosso sermão, que abordou os vícios intelectuais opostos do materialismo e do espiritualismo/idealismo.

As anotações que serviram de base para a exposição oral estão reproduzidas abaixo.

Antes das atividades da prédica, lamentamos e criticamos dois acontecimentos recentes: (1) a tramitação acelerada do projeto de "Lei da Carteirada", que consolida os ocupantes de cargos públicos como uma casta no Brasil e degrada totalmente o caráter de responsabilização próprio à República, ao criminalizar as críticas feitas contra eles; (2) o mais recente episódio de assassinato perpretado por adolescentes ou jovens adultos em escolas públicas, agora ocorrido no interior do Paraná (em Cambé), no dia 19.6.2023.

A prédica foi transmitida, como de hábito, nos canais Positivismo (aqui: https://encr.pw/Itn9w) e Apostolado Positivista do Brasil (aqui: https://l1nk.dev/fLXgY). O sermão está disponível a partir de 54' 27".

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Sobre o materialismo e o espiritualismo/idealismo

 -        Quem começa a conhecer o Positivismo com freqüência lê (ou ouve) comentários gerais, muitas vezes de caráter depreciativo, com o fito de resumir em poucas palavras as suas características gerais

o   Entre essas supostas características gerais apresentam-se com freqüência duas, que têm conteúdos opostos: o materialismo e o espiritualismo/idealismo

o   Além de serem características que, mais que descrever o Positivismo, degradam-no e reduzem-no ao que ele não é, devemos também indicar que o Positivismo por si só tem muito o que dizer a respeito delas, no sentido de que o Positivismo define com clareza esses conceitos

-        Antes de mais nada, então, vale a pena sabermos como é que se pode atribuir ao Positivismo cada um desses conceitos

-        Atribui-se (erroneamente!) o materialismo à Religião da Humanidade, por um lado, devido à importância que a ciência tem no Positivismo, com os vários atributos reais ou imputados, bem ou mal, à ciência: empirismo, naturalismo etc.; por outro lado, devido à rejeição do sobrenaturalismo

o   A ultrapassagem da teologia, em particular, com a conseqüente rejeição do sobrenaturalismo, conduz com freqüência à concepção de que o Positivismo seria materialista – e, às vezes, seria materialista porque seria ateu

§  Claramente, os que afirmam que o Positivismo é “materialista” e/ou “ateu” são pensadores teológicos

§  Às vezes, autores materialistas atribuem ao Positivismo o caráter de materialismo - e, nesse caso, essa atribuição, ainda que errrada, é elogiosa

o   Se adotarmos uma concepção rasa e genérica de “materialismo” como consistindo na rejeição do sobrenaturalismo e na concomitante afirmação do naturalismo, então, de fato, o Positivismo seria “materialista”

o   No que se refere ao suposto ateísmo, a Religião da Humanidade pura e simplesmente não é atéia, podendo ser denominada, nesse sentido, de “agnóstica”

§  O ateísmo encontra-se no âmbito da metafísica, com seu caráter crítico, corrosivo, destruidor e sua ambição absolutista

§  Com enorme freqüência, devido à lógica interna do ateísmo, muitos ateus acabam rejeitando o humanismo e/ou adotando o individualismo egoístico

§  Como dizia Augusto Comte – criticando o ateísmo –, os ateus mantêm a pergunta ("quem criou o universo?") mas rejeitam a única resposta possível (a(s) divindade(s))

§  O Positivismo considera que o ateísmo, como a metafísica de modo geral, foi uma etapa histórica necessária, mas estritamente passageira e destinada a ser ultrapassada

§  O Positivismo afirma a Humanidade e o humanismo, a partir do estudo da realidade; assumimos como pressuposto que as concepções teológicas são, em si mesmas, fictícias e seguimos adiante com a já indicada afirmação do ser humano, do humanismo e da Humanidade

-        Atribui-se (erroneamente!) o espiritualismo ao Positivismo, por um lado, devido à afirmação do valor das idéias, das concepções morais, da subjetividade, da vida subjetiva e, por outro lado, devido à afirmação da Religião da Humanidade

o   Um sinônimo – na verdade, de uso até mais comum no que se refere ao Positivismo – para esse espiritualismo é “idealismo”

o   Quando afirmam que o Positivismo seria “idealista” ou “espiritualista” devido à Religião da Humanidade, o que está implícito é a afirmação (na verdade, acusação) de que no final das contas o Positivismo teria retrogradado para a teologia

o   Claramente, os que afirmam que o Positivismo é “espiritualista” ou “idealista” são pensadores cientificistas, sejam eles meramente cientistas, sejam eles marxistas, sejam ainda ateus militantes

-        Passemos, então, para os conceitos positivos de “materialismo” e “espiritualismo”:

o   Para o Positivismo, o materialismo e espiritualismo basicamente são vícios intelectuais – e são vícios simétricos

o   Embora basicamente sejam vícios intelectuais, eles apresentam conseqüências morais

-        Para entender-se o caráter vicioso desses conceitos e seu aspecto simétrico, é necessário termos em mente a escala enciclopédica:

o   A escala enciclopédica estabelece que existem sete níveis de estudo da realidade; cada nível constitui-se de fenômenos irredutíveis aos graus anteriores e que servem de base para os graus subseqüentes; além disso, partindo do nível mais simples, mais geral (em termos objetivos) e mais grosseiro, a cada nível que se sobe há um aumento na complicação, há um decréscimo da generalidade (objetiva) e um aumento na nobreza do fenômeno estudado

o   Os sete níveis podem ser ajustados de diversas maneiras, reduzindo-se a escala para seis, cinco, quatro, três ou no mínimo dois graus

§  Esses dois graus correspondem à Cosmologia e à Moral

§  Essa oposição, por sua vez, corresponde à dualidade fundamental entre o mundo e o ser humano

§  Essa dualidade, por sua vez, pode ser entendida como os âmbitos da objetividade e da subjetividade (ou, ainda, do método objetivo e do método subjetivo)

o   Em relação aos sete degraus da escala enciclopédica, o Positivismo afirma a dignidade de cada nível de fenômenos

§  É importante repetirmos: a dignidade de cada degrau consiste no reconhecimento simultâneo de que cada nível congrega categorias gerais de fenômenos sui generis, que são irredutíveis aos fenômenos dos degraus inferiores; além disso, cada degrau constitui a base para o desenvolvimento dos fenômenos superiores

o   Assim, em outras palavras, a dignidade de cada nível é diferente:

§  (1) da subordinação dos fenômenos mais nobres aos mais grosseiros (estabelecida pelo método objetivo) e

§  (2) da avaliação teórica, metodológica e moral dos fenômenos mais grosseiros pelos mais nobres (realizada pelo método subjetivo)

-        Estabelecidos os degraus da escala enciclopédica, a dignidade de cada um deles e as relações que eles necessariamente mantêm entre si, podemos afinal passar diretamente para os conceitos de materialismo e espiritualismo:

o   O materialismo consiste na explicação de fenômenos superiores pelos inferiores, via redução

§  Os exemplos são numerosos: são os vícios do matematicismo (redução da realidade aos números, como ocorre com freqüência com a Estatística), do astronomismo (com a astrologia), do fisicalismo (com o mecanicismo), do biologicismo (em que a sociedade e os indivíduos são reduzidos a animais e/ou a genes), do economicismo (em que a sociedade e os indivíduos são reduzidos aos interesses de classe) etc.

o   O espiritualismo consiste na afirmação dos fenômenos superiores desconsiderando (isto é, rejeitando, ou fingindo que não existem) os fenômenos inferiores

§  As concepções idealistas geralmente são espiritualistas, no sentido indicado, em que o que move as sociedades são “espíritos” e/ou “idéias” abstratas e em que não há relação nenhuma do ser humano com a realidade cósmica

§  Em outras palavras, o espiritualismo/idealismo considera que o ser humano flutua no vazio

·         Exemplo: a oposição de negação mútua, estabelecida pela metafísica idealista alemã, entre Kultur e Zivilitation

o   Augusto Comte observa que, até a constituição definitiva do Positivismo e da Religião da Humanidade, o método objetivo e o método subjetivo estiveram em lados opostos; embora o método subjetivo afirme a perspectiva humana, ele só pôde ser reafirmado após o método objetivo alcançar as ciências superiores e, assim, regenerar as doutrinas específicas das ciências superiores

§  O choque multimilenar entre os métodos objetivo e subjetivo corresponde à disputa entre materialismo e espiritualismo/idealismo

§  Esse choque, essa disputa só pôde e só pode ser solucionada – e é temos que afirmar que é necessário ter uma solução para isso – com o Positivismo e a Religião da Humanidade

o   Ambos os vícios são absolutos:

§  O materialismo é sempre metafísico

§  O espiritualismo pode ser teológico ou metafísico

-        Do ponto de vista moral, os motivos que, supostamente, justificariam os defeitos de materialismo e espiritualismo/idealismo são os seguintes:

o   No que se refere ao materialismo, ele justificar-se-ia pela importância histórica e pela eficiência explicativa do método objetivo – que, de fato, tendia a aplicar um procedimento materialista em cada degrau da escala enciclopédica antes de reconhecer a limitação desse procedimento e passar para o degrau seguinte

§  De um ponto de vista epistemológico, a eficiência do método objetivo baseia-se nos princípios (1) segundo o qual os fenômenos mais nobres subordinam-se aos mais grosseiros e (2) segundo o qual quanto mais grosseiro um fenômeno, mais geral ele é

o   No que se refere ao espiritualismo/idealismo, ele justificar-se-ia pela importância universal e eterna da moralidade humana, presidindo, então, o método subjetivo

§  Entretanto, a afirmação da moralidade humana com freqüência foi confundida com a afirmação dos dogmas teológicos e, de qualquer maneira, com a negação da realidade cosmológica

§  A dignidade humana seria dada, então e de maneira altamente contraditória, pela afirmação da divindade e/ou por puras idéias desencarnadas

o   É importante lembrarmos que há confusões reiteradas, intencionais ou ingênuas, de que o materialismo é isento de moralidade (portanto, seria “objetivo” e/ou amoral) e de que, inversamente, somente o espiritualismo/idealismo permitiria a avaliação moral

§  O “realismo” objetivista do materialismo despreza a moralidade ou redu-la sistematicamente aos egoísmos individual e/ou nacional; além disso, para essa concepção o ser humano não tem verdadeira liberdade nem é dotado de “agência”, isto é, de vontade própria: ele é apenas um títere de “forças externas” totalmente incontroláveis

§  Por outro lado, ao rejeitar a vinculação do ser humano ao mundo e, portanto, ao rejeitar a subordinação dos fenômenos mais nobres aos mais grosseiros, a concepção de moralidade do  espiritualismo/idealismo consiste na liberdade das divindades, que não se submete a nada nem se preocupa com ninguém; portanto, é caprichosa, voluntariosa, irresponsável e incontrolável; daí se segue que a pretensa moralidade defendida pelo espiritualismo/idealismo é totalmente imoral

-        Para concluir, vale a pena reafirmarmos algumas idéias expostas:

o   Apesar de numerosos comentadores (ou melhor, numerosos críticos) atribuírem ao Positivismo o materialismo ou o espiritualismo/idealismo, isso é errado

o   Os conceitos de materialismo e espiritualismo/idealismo devem ser (isto é, só podem ser) entendidos em função da escala enciclopédica

o   O Positivismo afirma a dignidade de cada nível da escala enciclopédica

o   O materialismo reduz os fenômenos superiores aos inferiores, o espiritualismo afirma os fenômenos superiores desprezando os inferiores

o   Embora materialismo e espiritualismo/idealismo pareçam justificar-se em função de propriedades fundamentais do método objetivo e do método subjetivo, é bastante claro que materialismo e espiritualismo/idealismo são vícios intelectuais e morais:

§  São sistematicamente incapazes de entender a realidade e as relações entre o homem e o mundo

§  O materialismo degrada o ser humano ao negar a realidade da sociedade e da moral

§  O espiritualismo/idealismo degrada o ser humano ao negar a subordinação humana ao mundo e validar a concepção caprichosa, ultravoluntarista e baseada na teologia de “liberdade”

o   A única solução possível para os vícios opostos de materialismo e espiritualismo/idealismo é aquela que respeita a dignidade humana e não nega a realidade; em outras palavras, a única solução possível é a combinação do método objetivo com o método subjetivo, realizado pela síntese positiva, a partir da simpatia altruísta, com vistas à sinergia prática, no âmbito da Religião da Humanidade

13 junho 2023

Concepção positiva da fé

No dia 24 de São Paulo de 169 (13.6.2023) realizamos nossa prédica positiva. Demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua sétima conferência, dedicada ao que podemos chamar de filosofia das ciências naturais. Na seqüência, expusemos algumas considerações sobre a noção positiva de fé, considerando, além disso, como se apresentam as dúvidas da fé na teologia, na metafísica e na positividade.

A prédica foi transmitida ao vivo nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Zr9Z6) e Apostolado Positivista do Brasil (aqui: https://acesse.one/w1vK5). O sermão sobre a fé pode ser visto a partir de 45' 05".

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Sobre a fé

 -        A fé integra plenamente a religião; como ela descreve o mundo, o ser humano e também o Grande Ser, muitas seitas consideram que a fé equivale à própria religião em seu conjunto

o   Embora muitas vezes seja até possível essa metonímia (a parte pelo todo), o fato é que a fé é apenas uma parte da religião – e nem ao menos é a principal

§  Assim, tomar a fé pela religião pode ser (1) metonímia (aceitável) ou (2) uma redução (inaceitável)

o   Essa postura de equivaler a religião à fé, todavia, é própria dos protestantismos e, mais do que isso, dos protestantismos evangélicos do século XIX para cá

o   O que interessa neste sermão é apresentar as características gerais da fé (em particular, claro, da fé positiva) e, como uma pequena aplicação prática, diferenciar a fé positiva do conceito cada vez mais absoluto e restrito que o monoteísmo faz da “fé”

-        A chamada “fé” na verdade é o dogma, isto é, a parte da religião que trata das idéias e dos valores; em outras palavras, é a parte que trata da inteligência

o   Como o dogma é a parte que trata da inteligência, ele sistematiza e organiza o entendimento da realidade (seja a cosmológica, seja a humana), para podermos relacionarmo-nos com ela

§  Da mesma forma, portanto, o dogma é a parte que sistematiza e explica o Grande Ser

o   Nos monoteísmos, a explicação da divindade assume o lugar central e, na prática, transforma o dogma em sinônimo da religião

§  Isso curiosamente torna extremamente intelectualistas essas religiões

§  Além disso, como sabemos, essas religiões cada vez mais recuam e limitam-se a defesas da pura “fé”, da pura crença, em que a crença torna-se importante por si só, contra tudo e a despeito de tudo

-        Antes de mais nada, devemos entender a fé do ponto de vista estático:

o   A concepção sintética e simpática da unidade humana estabelece que o culto precede o dogma

§  O culto eleva-nos à perspectiva adequada da Humanidade e, assim, prepara-nos para o dogma

o   A fé – ou melhor, o dogma – integra a religião de maneira complementar (e subordinada) com o amor

§  O amor compreende os sentimentos propriamente ditos e também as atividades práticas

§  A fé compreende a inteligência

§  Assim, ser religioso é antes de mais nada sentir e agir em benefício da Humanidade; as crenças, ou a “fé”, atuam apenas como intermediárias (ao esclarecer-nos sobre o mundo e sobre os meios de modificá-lo)

o   Nas teologias a fé (o dogma) vem antes do amor (e do culto), pois, sendo imaginários os seus respectivos grandes seres, a sua definição, ou a sua busca, deve concentrar as maiores atenções

§  Na positividade o Grande Ser é real e, tomando-o como pressuposto, a atenção pode concentrar-se no que realmente importa, ou seja, no amor (e no culto)

o   A religião busca estabelecer a mais completa unidade humana

§  “Religião” vem de religare: ligar internamente pelo amor e externamente pela fé

o   A fé faz-nos reconhecer uma potência superior e exterior a nós a fim de regular nossos instintos individuais

o   A fé positiva apresenta várias características:

§  “O dogma fundamental da religião universal consiste, portanto, na existência constatada de uma ordem imutável a que estão sujeitos os acontecimentos de todo gênero. Esta ordem é ao mesmo tempo objetiva e subjetiva: por outras palavras, diz igualmente respeito ao objeto contemplado e ao sujeito contemplador” (Catecismo, 1ª Conf.)

§  A fé positiva exige a harmonia entre o sujeito que conhece (subjetivamente) e o objeto conhecido (objetivamente)

§  O conjunto da ordem universal em si mesmo é constatado e não explicado; ele fornece a base para as explicações variadas

o   Enquanto a fé teológica explica tudo por meio das vontades, a fé positiva explica os fenômenos particulares por meio das leis e reconhece para as vontades o seu âmbito específico, que é o da atividade intencional dos seres humanos

§  A submissão humana à regularidade das leis, permitindo a previsão e a intervenção, resulta em que a fé positiva pode efetivamente estender-se ao âmbito da atividade prática

§  Em contraposição, como a teologia pressupõe sempre as vontades arbitrárias, ela não indica regularidades nem permite, portanto, a atuação humana regular e racional

§  O máximo de previsibilidade que a teologia aceita são as “maldições” e/ou o destino cego, que representam respectivamente, por um lado, a vontade arbitrária e inflexível de uma pessoa concreta e, por outro lado, a vontade arbitrária e inflexível de um ser superior anônimo

-        Do ponto de vista dinâmico, a fé deve ser entendida da seguinte maneira:

o   O princípio fundamental que explica dinamicamente a fé é a lei intelectual dos três estados

§  As concepções teológicas são absolutas e necessariamente surgiram antes das concepções relativas

§  As explicações absolutas começaram fetíchicas, passaram para o politeísmo e então para o monoteísmo, degradando-se afinal na metafísica

o   Os seres superiores fictícios inspiravam sentimentos mais ou menos fortes, apesar de sua irracionalidade e de suas vontades caprichosas

o   Enquanto o dogma positivo limitou-se à cosmologia e até à biologia, ele foi incapaz de desenvolver qualquer concepção que estimulasse realmente os nossos sentimentos e regulasse nossas condutas, ao mesmo tempo em que se limitou à crítica (negativa e destruidora) dos seres supremos fictícios

o   Mas com a criação da Sociologia e da Moral, estudando de maneira positiva a ordem humana, foi afinal possível constituir-se e sistematizar-se a noção positiva do ser supremo, a Humanidade

-        As crenças absolutas – teológicas e metafísicas – são sempre incompatíveis entre si, especialmente no caso das teologias monoteístas

o   Uma das consequências dessa incompatibilidade mútua é que essas crenças promovem a intolerância sistemática umas em relação às demais

-        As crises de dúvidas que assomam todos os seres humanos, em vários momentos de suas vidas, são entendidas de diferentes maneiras para as religiões absolutistas – ou melhor, para os monoteísmos – e para a religião relativa e positiva

o   No caso dos politeísmos e até dos fetichismos, as dúvidas na fé podem ser solucionadas por meio da mudança de panteão ou de sistema filosófico (um fetichista reafirma o fetichismo; um politeísta muda de panteão ou volta para o fetichismo ou até sobe para o monoteísmo)

o   Para os monoteísmos, as dúvidas não apresentam alternativa: elas só podem ser solucionadas por meio da reafirmação das crenças (ocorrida mais ou menos em breve)

§  Às vezes, no monoteísmo considera-se que a dúvida faz parte da fé; entretanto, essa dúvida-que-integra-a-fé só pode integrar a fé quando a dúvida é solucionada, necessariamente, por meio da reafirmação da fé e pela rejeição das dúvidas

§  Na passagem do politeísmo para o monoteísmo, o dogma teológico torna-se cada vez mais concentrado, em princípios cada vez mais fechados e cada vez mais absolutos, do que resulta que a saída do monoteísmo é sempre entendida como heresia

§  Não apenas a simples dúvida como também a crítica é entendida como heresia, ou seja, como crime intelectual e social

o   Na metafísica a dúvida é congênita e transformada sistematicamente em crítica

§  A “heresia” na metafísica consiste na crença e não na dúvida

o   Na positividade, a dúvida é entendida como algo normal, isto é, como parte do processo de aprendizado

§  O relativismo próprio à positividade resulta em que a dúvida e o “erro” integram o processo de aprendizado

§  O entendimento positivo da realidade conduz a que as dúvidas sejam esclarecidas, explicadas e demonstradas; dessa forma, a fé é constituída pelo convencimento e não pela negação de toda racionalidade

-        Os protestantismos, especialmente os evangélicos e cada vez mais a partir do século XIX, afirmam a centralidade da fé

o   A centralidade da fé no protestantismo realça o seu caráter individualista, em que o crente individualmente se liga à divindade

§  A centralidade da fé – portanto, do dogma – ocorre às custas do amor

o   O avanço da positividade (e mesmo da metafísica) acua cada vez mais a teologia, tornando cada vez mais irracional, imoral e por assim dizer inócua a crença na divindade

o   Assim, cada vez mais a pura crença em algo torna-se um valor em si mesmo

§  Essa pura crença é cada vez mais um ato irracional, em que o conteúdo da crença acaba tornando-se secundário: “crer” é mais importante que “saber”, “conhecer” e até “amar”

o   É importante insistir: essa pura crença é:

§  Irracional: pois rejeita a reflexão e o relativismo

§  Imoral: pois afirma o egoísmo individualista, afirma uma espécie de intelectualismo, afasta o ser humano do altruísmo, nega a Humanidade e estimula as vontades caprichosas

§  “Inócua”: pois rejeita o conhecimento efetivo da realidade, preferindo os caprichos voluntariosos

§  Resultando na intolerância e no fanatismo

-        Para concluir, importa lembrarmos que: a verdadeira concepção da fé é aquela que (1) explica a realidade para o ser humano, (2) reconhece a submissão geral do dogma ao culto e ao regime, (3) permite a sábia e digna intervenção humana no mundo e (4) possibilita o desenvolvimento humano, principalmente moral, tendo por parâmetro a Humanidade

12 junho 2023

Entendendo a relevância atual da metafísica político-moral

No dia 13 de São Paulo de 169 (2.6.2023) redigi um pequeno texto em que apresento uma interpretação positiva da política contemporânea. 

Na verdade, esse texto foi redigido como uma pequena apresentação dos esforços realizados pelo Apostolado Positivista da Itália, que tem à sua frente nosso querido amigo, o Apóstolo Sebastiano Fontanari. Mas, para que essa apresentação não se limitasse ao mero elogio, pareceu-me melhor fazer uma pequena reflexão sobre as sociedades contemporâneas, resultando nessa interpretação em que indico o porquê de a metafísica ter tanta importância atualmente.

Tão logo Sebastiano verta para o italiano esse texto, ele será publicado neste blogue.

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O século XIX foi um período em que muitas utopias surgiram e, portanto, foi um período de esperanças. Surgiram utopias positivas – por definição, o Positivismo, ou melhor, a Religião da Humanidade –, assim como utopias metafísicas – a democracia rousseauniana revigorada, o marxismo, o anarquismo e tantas outras –; surgiram até mesmo utopias teológicas, na forma dos projetos retrógrados românticos. Ao mesmo tempo em que a teologia seguiu um caminho descendente, a positividade seguiu sua marcha ascendente, com a difusão do Positivismo no conjunto do Ocidente e mesmo além dele.

O século XX, por outro lado, pode ser dividido em duas grandes partes. A primeira delas caracterizou-se pelos estertores do regime católico-feudal: a II Guerra dos 30 Anos, ou seja, o tumultuado período que vai de 1914 a 1945 no fundo caracterizou-se pela mobilização, com enorme violência, das derradeiras forças militares próprias ao feudalismo; não é à toa que o mundo que surgiu após 1945 fosse “moderno”, isto é, em que já não se percebessem mais os hábitos herdados do mundo feudal.

Todavia, a II Guerra dos 30 Anos não pôs um fim apenas ao mundo feudal; ela também sacrificou a maior parte do movimento positivista que se desenvolvia, ramificava e frutificava no Ocidente. Tal sacrifício ocorreu principalmente durante a fase inicial dessa guerra, no período que se chama habitualmente de “I Guerra Mundial”, tanto pela morte dos positivistas e pela destruição das igrejas e dos clubes positivistas (durante o período 1914-1919) quanto pela disseminação de um espírito fortemente metafísico, em particular em suas vertentes niilista, comunista e nacionalista (após 1919). Dessa forma, após 1945 o mundo já era “moderno” – mas não era, como ainda não é, positivo; derrotada a teologia de origem feudal, dizimada a positividade, a metafísica surgiu vitoriosa, em meio à disputa de duas grandes metafísicas: o comunismo soviético e a democracia liberal estadunidense.

Ambas as utopias metafísicas que se enfrentaram na segunda parte do século XX consistem em sistematizações de concepções opostas, confusas e parciais sobre a natureza humana, seja coletiva, seja individual; além disso, essas duas metafísicas são materialistas e democráticas, isto é, ambas apelam para a vontade todo-poderosa e voluntariosa do “povo”. Acuada pelo comunismo, a dupla metafísica democrático-liberal respeitou as liberdades individuais e procurou prover condições mínimas de existência para o proletariado dentro dos países centrais (negando esses fatores nos países periféricos); por seu turno, o comunismo limita ou rejeita as liberdades individuais, impõe uma doutrina oficial de Estado em nome da liberdade material coletiva e obriga as populações a ele submetidas a graves provações materiais e morais (tanto no antigo país-mãe do comunismo como em todos os demais países comunistas): assim, enquanto as repressões comunistas acabaram resultando na falência dessa metafísica, uma situação conjuntural – a pressão comunista – permitiu ao proletariado ocidental liberdades e elevação do padrão de vida. A falência comunista encerrou a Guerra Fria e, assim, a metafísica democrático-liberal deixou de sofrer o constrangimento externo que a moderava e evitava seus maiores desregramentos. Durante a Guerra Fria, as metafísicas mantiveram seu caráter belicista; acima de tudo, a chamada doutrina da “destruição mútua assegurada” (mutual assured destruction – MAD) impediu o conflito direto entre as duas potências-líderes dos blocos metafísicos: por outro lado, felizmente a Europa Ocidental pôde afinal deixar de lado os hábitos militaristas, em particular na forma dos nacionalismos estreitos, e assumiu a paz como ideal civilizacional, em vez de ser mera interrupção de conflitos.

Os desvios próprios à metafísica democrático-liberal conduziu, mal, o mundo após 1989-1991, primeiro na forma do triunfalismo do ultraliberalismo e, depois, na forma do militarismo estadunidense, que conjugava (como conjuga) a metafísica democrática com a concepção protestante do excepcionalismo norte-americano. Absolutista, a metafísica democrático-liberal (agravada pelo excepcionalismo protestante dos EUA) é incapaz de reconhecer as várias concepções de mundo e de, com relativismo, lidar com elas; em particular, essa metafísica é incapaz de reconhecer que a harmonia social exige não apenas liberdades individuais, mas também, e antes, o bem-estar coletivo, que inclui aspectos morais e intelectuais e não somente materiais. Em outras palavras, a metafísica da vontade do povo é incapaz de perceber que (1) a vontade curva-se ante as leis naturais e (2) que o povo estadunidense não corresponde aos povos dos demais países do mundo. Daí a incapacidade de os Estados Unidos constituírem, por meio de sua liderança, uma ordem internacional estável e progressista; daí a superficialidade da implantação da “democracia” ao redor do mundo – embora, como se saiba, muitos países regridam a concepções cripto-teológicas, ainda que profundamente marcadas pela metafísica da vontade popular, com os “tradicionalismos”, o comunismo e, de modo geral, os nacionalismos xenofóbicos renovados.

Tal angustioso cenário é contraposto, por outro lado, pela feliz constatação de que o ser humano, em meio às variações históricas de sua realidade, obedece afinal de contas a leis naturais – e que tais leis indicam o rumo a tomar: paz universal, relativismo, noção de Humanidade, com o abandono decisivo dos hábitos militares, das concepções absolutas e das noções sociais estreitas. A positividade – na forma da simpatia, da síntese e da sinergia, com a prevalência da continuidade sobre a solidariedade humana – prevalecerá, revelando-se como a única solução para esses problemas; mas podemos – e, portanto, devemos – acelerar na medida do possível, na medida das nossas forças, essa transição, ao difundirmos a positividade sistematizada[1].

Assim, é com muita alegria, muita satisfação e, principalmente, com muita esperança que apresento e dou as boas-vindas ao Apostolado Positivista da Itália, em particular na figura de seu Diretor, o Apóstolo Sebastiano. Sua dedicação ao Positivismo, à difusão da positividade já rende frutos, retomando a tradição positivista européia, cerca de um século após seu abrupto fim em decorrência da I Guerra Mundial.

Salut et Fraternité – ou, na versão em português: Saúde e Fraternidade!



[1] Comentário do meu amigo Hernani Gomes da Costa: sem a ação sistemática do Positivismo, o resultado da política mundial e nos vários países será a manutenção da terrível e cansativa oscilação entre o progresso anárquico e a ordem retrógrada.

07 junho 2023

Sobre as celebrações empíricas

No dia 17 de São Paulo de 169 (6.6.2023) realizamos a nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em particular em sua sétima conferência, dedicada ao que podemos chamar de "filosofia das ciências naturais".

Após a leitura comentada, no sermão expusemos algumas considerações sobre as celebrações sociais empíricas, especialmente as que têm sido propostas a partir do século XX. As anotações que elaboramos a exposição oral estão reproduzidas abaixo.

A prédica foi transmitida pelos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/RmHP2) e Apostolado Positivista do Brasil (aqui: https://l1nk.dev/Zb6mq). A exposição sobre as celebrações empíricas pode ser vista a partir de 58'.

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Sobre as celebrações empíricas 

-        Toda sociedade celebra seus valores coletivos

o   Como sabemos, a celebração dos valores integra o culto, na medida em que a “celebração dos valores” implica a mobilização e o estímulo dos sentimentos

-        Quando falamos que “toda sociedade celebra seus valores”, temos que ter clareza que a expressão “sociedade” não é unívoca

o   Embora no dia-a-dia ela denote “sociedade nacional”, isto é, a pátria, o fato é que a ela corresponde vários níveis sucessivos e complementares entre si

o   Augusto Comte distingue de maneira elementar três níveis, de acordo com seus fundamentos e sua amplidão: a família, a pátria e a Humanidade (embora haja evidentemente graus intermediários, como, por exemplo, o que chamamos atualmente de “civilização”)

§  Cada um desses níveis celebra seus valores coletivos, das mais variadas maneiras:

·         As famílias realizam encontros gastronômicos, festas de aniversário, celebrações civil-religiosas etc.

·         As pátrias realizam festas populares (feiras, quermesses, carnaval), comícios políticos, eventos esportivos etc. – e a decretação de dias especiais e feriados

·         A Humanidade de modo geral emprega os mesmos meios usados pelas pátrias, embora em geral com diferenças na forma de sua implantação: festas populares (feiras), comícios políticos, eventos esportivos etc. – e a decretação de dias especiais

-        Nas sociedades ocidentais, o aspecto cultual das celebrações coletivas torna-se cada vez menos evidente, embora nem por isso ele deixe de existir e de ser verdadeiro

o   Vale notar, de passagem, que a disciplina acadêmica chamada Antropologia estuda esses ritos em todas as sociedades e que, assim como o Positivismo, tem clareza de que mesmo as sociedades ocidentais possuem tais celebrações

-        É necessário termos clareza de que essas celebrações têm algumas particularidades:

o   Na medida em que, de diferentes maneiras, elas celebram efetivamente valores coletivos, elas mais ou menos sempre correspondem aos valores gerais da civilização em questão

o   Por outro lado, com freqüência, mas não sempre e não necessariamente, elas têm origem popular

o   Mas, correspondendo aos valores da civilização e tendo origem popular ou não, o fato é que é sempre o sacerdócio que sistematiza e sanciona tais celebrações

o   Mesmo que o poder Temporal referende tais celebrações, o fato é que elas integram plenamente o âmbito do poder Espiritual; prova disso é que não basta um governo estabelecer uma data comemorativa qualquer e/ou instituí-la como feriado: se não houver sentimentos populares e a sistematização sacerdotal, as datas serão apenas formalidades e/ou dias meramente caracterizados pelo ponto facultativo

o   Vale lembrar que os calendários têm uma dupla função, a que o sacerdócio está intimamente vinculado:

§  Por um lado eles regulam a passagem do tempo, em unidades maiores ou menores, de acordo com progressões cíclicas ou “lineares”: horas, minutos, segundos; dias, meses, anos, séculos etc.

§  Por outro lado, essa passagem do tempo, ou melhor, a contagem do tempo é sacramentada pelo sacerdócio:

·         Cada civilização tem sua contagem própria de anos, cujo início é (ou foi) estabelecido pelo sacerdócio

·         Os dias da semana, os meses e até os anos são dedicados a diferentes aspectos da vida coletiva: lunedia, martedia, mercuridia, jovedia, venerdia, sábado, domingo, segunda-feira, terça-feira etc.; ano do boi, do rato, do tigre, do dragão; mês do ramadã etc.

·         Além disso, no Ocidente, a partir da sistematização católica dos sentimentos populares, cada dia é dedicado a um ou mais santos

o   É devido a esses motivos que a Religião da Humanidade estabelece múltiplos e sistemáticos sistemas de comemoração: pessoais, familiares, nacionais e mundiais:

§  Cada mês do ano é dedicado a um aspecto abstrato da existência humana positiva (em número de 13) e a um aspecto histórico do desenvolvimento da Humanidade (também em número de 13)

§  Cada semana é dedicada a um aspecto abstrato específico (em número de quatro) e a um aspecto histórico específico (em número de quatro)

§  Cada dia é dedicado a uma figura histórica geral representativa da evolução humana (em número de sete) e também a uma ou mais figuras históricas específicas (em um total de cerca de 500)

o   Fora isso, temos que lembrar que a Religião da Humanidade consagra diversas festas cívicas

§  No Brasil, essas festas foram acatadas pelo governo republicano provisório em 14 de janeiro de 1890, por meio do Decreto n. 155-B (mas, a partir de 1930, substituídas pelas comemorações clericalistas católicas)

-        O declínio acentuado da teologia, como notamos acima, conduz o Ocidente a cada vez mais desconsiderar as festas sacramentadas pela teologia

o   Isso se dá de duas maneiras:

§  Por um lado, o ritmo geral da vida deixa de ser religioso e teológico para ser cada vez mais pragmático-utilitário e humano

§  Em conseqüência do aspecto anterior, as festas e as celebrações teológicas perdem cada vez maior a relevância e são lembradas cada vez menos; inversamente, cada vez mais elas são lembradas por seus aspectos humanos (o que, infelizmente, com freqüência se reduz aos seus aspectos comerciais)

-        Em face do evidente e necessário declínio da teologia no Ocidente, desde o final do século XVIII sistemas coletivos e mais ou menos sistemáticos de celebrações têm surgido:

o   Antes de mais nada, devemos reafirmar a centralidade do culto público positivista, que já recordamos em traços muito breves acima

o   Durante a Revolução Francesa, propuseram-se novas celebrações, algumas com caráter francamente metafísico (o culto ao Grande Ser), outras com um caráter mais positivo (a mudança de contagem do calendário e os novos nomes para os meses: Frutidor, Prairal, Brumário etc.)

o   As celebrações propostas pelos movimentos proletários (anarquistas, “socialistas utópicos”, as primeiras internacionais socialistas) e as celebrações criadas após a Revolução Russa

-        Entrando, enfim, no tema específico deste sermão: por outro lado, desde o início do século XX inúmeras celebrações empíricas têm surgido e são cada vez mais comuns

o   Pela expressão “celebrações empíricas” eu penso principalmente nas celebrações públicas decretadas pelo governo, isto é, pelo poder Temporal, em homenagem às mais variadas questões

§  O poder Temporal, aqui, não se resume aos chefes políticos das pátrias (isto é, dos países), mas considera também as celebrações ditas “internacionais” ou “mundiais”, propostas pela Organização das Nações Unidas e suas instituições secundárias (Unesco, Unicef, OIT etc.)

o   Essas celebrações são “empíricas” porque correspondem apenas aos valores julgados importantes nos momentos históricos em que são instituídas

§  São celebrações não sistemáticas e, antes, não sancionadas por nenhum poder Espiritual

§  Em outras palavras, elas são “empíricas” porque, embora mais ou menos correspondam aos sentimentos populares, elas são feitas às cegas

o   O “empirismo” de tais celebrações e o seu caráter “às cegas” resulta em que há celebrações efetivamente importantes, assim como há muitas relevantes; mas há também celebrações de realidades humanas secundárias, quando não caricatas e, conforme o espírito do tempo em que são criadas, há muitas com maior ou menor particularismo

§  Duas belas datas são o 1º de janeiro (Dia Internacional da Fraternidade Universal) e o dia 5 de junho: “dia mundial do meio ambiente”

§  As celebrações que chamamos de “relevantes” são, por exemplo, as que homenageiam as profissões e as atividades práticas, além das que homenageiam os laços domésticos (mães, pais, avós etc.)

§  Uma data caricata é o dia 8 de junho: “dia do cunhado”

§  As datas particularistas são todas as propostas pelo clericalismo (católico ou evangélico) e/ou pelos identitarismos (de “raça”, de gênero)

o   Os problemas com o empirismo dessas datas são os seguintes:

§  Por um lado, elas são sujeitas às conjunturas políticas de cada momento, de modo que podem perder o seu caráter de festa coletiva e tornar-se apenas uma intromissão do poder Temporal no domínio espiritual

§  Por outro lado, mesmo quando as celebrações estabelecidas correspondem efetivamente a aspectos positivos da realidade humana, elas carecem de profundidade moral (ao abordarem apenas um aspecto da existência humana, com freqüência a realidade prática) e também carecem de integração sistemática (ou, se desejar-se, integração “sistêmica”) com o conjunto da vida humana

·         Em outras palavras, o empirismo dessas celebrações conduz a que lhes falta a amplitude e a profundidade que somente a concepção religiosa do Positivismo pode realizar

-        Para retomar alguns argumentos e, assim, concluir:

o   As atuais celebrações empíricas, em si mesmas, de modo geral são objeto de simpatia, na medida em que celebram aspectos da existência humana

o   Entretanto, o seu empirismo precisa com urgência cada vez maior ser corrigido pela sistematização religiosa desenvolvida pelo sacerdócio positivo

o   Tal sistematização corretora é necessária por vários motivos:

§  Muitas celebrações são estabelecidas apenas em função e como resultado das disputas políticas do momento

§  Muitas celebrações empíricas estimulam o egoísmo particularista, enquanto outras são meramente tolas

§  Além disso, mesmo no caso das celebrações corretas, elas são tanto superficiais quanto isoladas (quando não meramente presentistas), ou seja, elas falham quase totalmente em seus propósitos religiosos

05 junho 2023

400 mil visitas!

No dia de hoje, 16 de São Paulo de 169 (5.6.2023), este blogue atingiu uma importante marca: ultrapassou as 400 mil visitas!

Criado em 4 de janeiro de 2007, as marcas anteriores foram atingidas nas seguintes datas:

- 100.000 visitas: 8 de Dante de 161 (23.7.2015)

- 200.000 visitas: 27 de Aristóteles de 163 (24.3.2017)

- 300.000 visitas: 7 de Dante de 165 (22.7.2019)

Este blogue foi criado para apresentar notícias e reflexões baseadas no Positivismo, inspiradas por ele e/ou sobre ele, expondo a positividade e o espírito positivo, o pacifismo e as liberdades públicas e individuais, o relativismo e o altruísmo, contra o absolutismo teológico-metafísico, o autoritarismo e o militarismo. 

Neste blogue buscamos expor concepções reais e úteis, para esclarecer, orientar, aconselhar o público leitor; são informações, relatos, dados expostos gratuitamente, para a correta e necessária livre circulação de idéias. O objetivo, em última análise, é colaborar na constituição de um novo poder Espiritual e, com isso, auxiliar na constituição de uma opinião pública renovada conforme os parâmetros indicados (relativa, altruísta, orgânica).

Esse programa - "real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático" - vai contra o espírito de nossa época, que se caracteriza pelo absolutismo, pela crítica, pela visão fragmentária e de detalhe, pelo egoísmo disseminado; assim, o programa da Religião da Humanidade atualmente é de difícil difusão. Mesmo com essa dificuldade, ou mesmo devido a ela, é necessário persistir, tendo certeza de que, em meio às tormentas morais, intelectuais e políticas de nossa época e de nossa sociedade, a positividade triunfará.