Súmula
Sociologia Estática II: teoria da família;
os indivíduos
Roteiro
-
Família:
o
É a instituição social que, ao mesmo tempo, mais
sofre com as aberrações metafísicas e a que menos foi compreendida até hoje
(“hoje”: até o advento do Positivismo)
§ É
a menor unidade social a que a sociedade pode ser reduzida; assim, é a
verdadeira “célula social”
o
Tem duas funções principais: moral e política
§ Função
moral: desenvolve diretamente os sentimentos altruístas
§ Função
política: prepara os cidadãos para a vida em sociedade (ou seja, prepara cidadãos)
o
A família tem uma origem egoísta – o impulso
sexual –, mas é um erro reduzi-la a isso
§ O
impulso sexual tem força mais inicial que permanente
§ A
força do impulso sexual é maior no homem que na mulher
§ Após
a ação do impulso sexual, outros instintos entram em ação, tanto egoístas
quanto altruístas; a permanência do vínculo familiar desenvolve, estimula e
reforça os instintos altruístas
·
Acessoriamente, isso também esclarece que o
altruísmo não é a negação do egoísmo, mas a
orientação em favor dos demais
o
A família pode ser reduzida ao casal elementar,
mas é claro – ou melhor, deveria ser
claro – que ela é muito mais ampla que isso, pois compreende os filhos, os
avós, os agregados
§ Essas
diversas relações desenvolvem e estimulam sentimentos altruístas:
·
Marido ßà mulher, irmãos ßà
irmãos: apego
·
Filhos à pais: veneração
·
Pais à filhos: bondade
o
Em relação ao casal nuclear, a função da família
é o aperfeiçoamento mútuo, muito mais que a reprodução humana
§ A
teologia, como rejeita a existência natural do altruísmo, considera que a
família serve apenas fins egoístas, notadamente a reprodução humana
§ Também
vale notar que a teologia com freqüência considera que a família (esposa e
filhos) é propriedade dos homens
§ A
metafísica não se afasta muito disso, vendo na família pouco mais que um
contrato com fins sexuais e/ou uma instituição de violência sistemática do
homem contra a mulher
§ Há
um gênero legalista de metafísica, para quem a família deve ser paulatinamente
substituída pelo Estado
o
Como a existência humana é muito mais subjetiva
que objetiva e como a função do casamento é o aperfeiçoamento mútuo, o
Positivismo afirma a monogamia e a viuvez eterna (as segundas núpcias são uma
forma disfarçada de poligamia)
o
Como os sentimentos altruístas são desenvolvidos
e aperfeiçoados na família, ela é absolutamente central para a vida em
sociedade (e, claro, também para os indivíduos)
§ O
estímulo, o desenvolvimento e a manutenção do altruísmo, no âmbito familiar,
cabe naturalmente às mulheres
§ Isso,
evidentemente, corresponde à necessidade imperiosa de dignificar-se a atuação
da mulheres e não as condenar a escravas dos homens
§ Somente
a destruição metafísica, com seus fortes preconceitos antialtruísmo e
antifamiliares, consegue ver na afirmação do papel doméstico e moral das
mulheres uma forma de exploração, degradação e violência contra as mulheres
o
O papel político, ou melhor, cívico das famílias
corresponde à sua preparação afetiva, o que inclui não somente os três
instintos simpáticos (apego, veneração e bondade), mas também os instintos
práticos (coragem, prudência e perseverança)
§ É
importante notar que, embora a família seja a base da sociedade, ela tem que se
submeter à polis
§ Essa
submissão à polis é necessária para
evitar os desvios da família, em particular dois:
·
Possibilidade de educação afetiva egoísta
·
Possibilidade de desenvolvimento de um egoísmo coletivo familista
·
A submissão à polis altera ordinariamente as famílias, corrigindo (ou evitando)
esses dois desvios; mas é claro que a própria polis tem que se orientar altruisticamente e não pelas guerras
-
Papel dos indivíduos:
o
Os indivíduos isolados e/ou como fundadores da
sociedade não existem; só é possível falar em indivíduos quando se faz
referência prévia às sociedades em que eles surgiram
§ Os
indivíduos como célula social são uma abstração nociva e imoral
o
Mas a religião visa a regrar e a religar, ou
seja, a estabelecer a unidade e a harmonia individual
e coletiva: evidentemente há um amplo espaço para os indivíduos no Positivismo
§ Em
última análise, todas as ações – mesmo as ações da Humanidade – realizam-se por
meio de indivíduos, isto é, de agentes individuais
o
Todo ser humano tem uma vida dupla, isto é, uma
objetiva e outra subjetiva
§ A
vida objetiva ocorre no presente; a Humanidade tem em cada ser humano um “ser” concreto, de carne e osso
§ A
vida subjetiva ocorre no passado e no futuro; a Humanidade tem em cada ser
humano um “agente”
o
A Humanidade tem um caráter composto; isso
acarreta sua capacidade de ação mas também sérias dificuldades, pois é sempre necessário combinar a independência
individual com o concurso coletivo
§ A
independência individual, no estado normal, requer de ordinário a plena liberdade, o que, por sua vez, rejeita a opressão
§ Essa
plena liberdade implica as liberdades de pensamento (ou de consciência), de
expressão e de associação
§ Além
disso, a plena liberdade também é necessária para a submissão livre e digna
§ A
liberdade individual necessária para o livre concurso coletivo implica a confiança; esta, por sua vez, implica
sempre a responsabilidade (e a
responsabilização)