07 janeiro 2013

Quantidades e qualidades; rejeição da matematização das ciências


O trecho abaixo é notável em termos de Filosofia das Ciências. Com uma clareza meridiana, Augusto Comte afirma o quanto as oposições teórico-metodológicas entre “qualidade” e “quantidade” são metafísicas – e, portanto, ilusórias. Em seguida, ele indica que todo fenômeno observável pode ser medido, de alguma forma: com base nisso, a Geometria Analítica poderia ser encarada como um método geral para o estudo desse fenômeno, correspondendo à idéia de que as leis naturais têm (que ter) precisão matemática. 
Tal observação parece corroborar o senso comum a respeito do Positivismo, segundo o qual o estudo da realidade via leis naturais consiste na matematização da realidade. Na seqüência, todavia, Comte esclarece que esse ideal não corresponde à realidade, devido à extrema complicação de qualquer fenômeno não-matemático, ou seja, de praticamente qualquer fenômeno.
A conclusão a que A. Comte chega é simples, direta e – para quem considera que “positivismo” é sinônimo de “matematização” – contra-intuitiva: deve-se renunciar ao uso da álgebra como um suposto repositório de métodos, deduções e induções para o estudo da realidade.

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“Malgré les subtilités métaphysiques sur la qualité et la quantité, il n’y a de phénomènes, même très-compliqués, qui repoussent, en principe, une telle transformation, sauf la difficulté de l’y réaliser. Les idées géométriques, de forme ou de situation, ne sont pas naturellement plus semblables aux notions numériques que les autres conceptions réelles. C’est pourquoi la transformation accomplie à leur égard peut être légitimement conçue envers une science quelconque ; ce qui érigerait l’algèbre en une sorte de logique universelle, si les conditions de réalisation ne devaient pas restreindre beaucoup cette utopie mathématique. Tout phénomène, même social, aurait certainement son équation, comme une figure ou un mouvement, si sa loi pouvait nous être connue avec assez de précision. Une telle appréciation mathématique ne constitue, au fond, que le sens le plus rigoureux du dogme fondamental du positivisme sur l’invariabilité des relations naturelles. Le seul tort philosophique des géomètres à cet égard consiste à méconnaître les conditions réelles, tant objectives que subjetives, qui nous interdisent une pareille transformation envers tous les phénomènes qui ne sont pas extrêmement simples. Car, la conversion échoue également, soit quand les lois précises ou équations proprement dites se trouvent être trop compliquées, soit lorsque nous ne pouvons pas les découvrir. Envers la plupart des phénomènes, même inorganiques, ces deux motifs concourent à rendre nécessairement illusoire un tel perfectionnement logique, qui ne conviendra jamais qu’à nos moindres spéculations. Il faut donc renoncer finalement à concevoir l’algèbre comme un trésor universel de déductions et d’inductions accomplies d’avance pour tous les problèmes possibles. L’ensemble des tentatives modernes a confirmé la restriction essentielle d’une telle logique aux seules études géomètriques, suivant l’admirable pressentiment du grand philosophe qui l’y appliqua” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 481-482).

06 janeiro 2013

Reinaldo Azevedo e revista Veja contra a laicidade

Sabe-se que a revista Veja é particularmente oposicionista no Brasil. Ela é oposicionista no pior sentido da palavra; partindo de perspectivas de "direita" e liberais, ela segue a fórmula que se popularizou no mundo ibero-americano: "se hay gobierno, soy contra" - ou seja, seu comportamente é o mais virulento e daninho possível; lançando mão da liberdade de expressão, faz o que pode (o que inclui muitas coisas que não poderia, isto é, não deveria em hipótese alguma fazer) para minar a legitimidade do governo.

A revista Veja adota essa postura especificamente contra o Partido dos Trabalhadores e, de modo geral, contra qualquer coisa que se pareça ou lembre a "esquerda". Evidentemente, nem o PT nem a esquerda estão isentos de falhas; como se sabe, a chamada "esquerda" foi historicamente marcada pelos marxismos, que são correntes que acarretaram terríveis malefícios para as várias sociedades; além disso, até obter o governo federal, o PT caracterizou-se pelo mesmo estilo daninho de "oposição" e, uma vez no poder federal, notabilizou-se por um dos maiores esquemas de corrupção e hipocrisia que o Brasil já teve a infelicidade de testemunhar.

A revista Veja tem por linha editorial o combate sistemático ao governo federal e a uma concepção que tem da "esquerda". Essa linha é engajada; adota alguns princípios gerais e segue-os até o fim, independentemente de se são adequados ou não à realidade e, pior, independentemente de se a realidade corresponde ou não a eles. Desse modo, é uma linha editorial profundamente ideológica. Não há preocupação com a coletividade, com o bem comum; não há a menor preocupação com a república e com as instituições.

Seus articulistas caracterizam-se, então, pelo anti-esquerdismo, pelo ferrenho liberalismo e por tudo que tenha uma certa impressão de "antipetismo". Em alguns casos, os articulistas também se caracterizam pelo clericalismo, talvez mesmo pela carolice. No conjunto, o que a revista Veja consegue é ser mais que "liberal" ou de "direita": ela demonstra ser no mínimo conservadora, no máxima reacionária. Exemplo cabal dessa postura é Reinaldo Azevedo.

Na matéria "De vez em quando, o bom senso se lembra do Brasil: juíza mantém “Deus seja louvado” nas notas de real", publicada em 30.11.2012 (e disponível aqui), o articulista considera tolice a retirada da frase "Deus seja louvado" das cédulas do Real, pedida há alguns meses por um procurador do Ministério Público Federal atuante em São Paulo. Para Azevedo, seguindo a argumentação da juíza que indeferiu o pedido do MP, nenhuma instituição religiosa, atéia ou agnóstica posicionou-se contrariamente à frase nas cédulas; da mesma forma, tal frase não ofende nem os brasileiros em particular nem a moral pública de modo geral; também não é um problema de relações entre maiorias e minorias. E, para acabar, Azevedo considera o procurador público um "macho", um encrenqueiro que se aproveita de seu cargo.

As observações de Azevedo - bem como as da juíza - são especiosas, falaciosas e/ou falsas. Há muito, muito tempo inúmeras instituições, não apenas representativas de ateus, agnósticos, humanistas e/ou laicos, mas também de teológicos e místicos defendem a retirada dessa frase carola das cédulas brasileiras: se o procurador federal não consultou nenhuma delas é porque há já, faz tempo, uma demanda clara nesse sentido. Azevedo - e a juíza - preferem ignorá-la.

A frase "Deus seja louvado", inserta nas cédulas brasileiras desde 1986 por obra do grão-senhor do Maranhão e Amapá, então Presidente da República, José Sarney, é um problema de relações entre maioria e minoria. Mas, mais do que isso, é um problema de saúde das instituições públicas e das condições que permitem que as instituições permaneçam sadias.

A condição básica da República é a separação entre igreja e Estado. Isso tem um nome claro: laicidade; também tem uma dinâmica simples e clara: o Estado não tem doutrina oficial e nenhuma igreja pode lançar mão do poder do Estado para difundir-se. É isso que garante aos católicos não serem oprimidos pelos dogmas e cultos protestantes, assim como os ubandistas podem ficar livres da imposição dos ritos do catolicismo romano; é por isso que os católicos podem questionar a violência sofrida pela imagem da santa em 1995 e que os adventistas não são obrigados a trabalhar no sábado. É por isso que, ao contrário de outros países, não há no Brasil o crime de heresia.

Também é a laicidade que permite às pessoas manifestarem suas opiniões com liberdade. Em outras palavras, é graças à laicidade que Reinaldo Azevedo pode fazer suas péssimas diatribes no portal da revista Veja. Ele pode considerar que uma frase - uma simples frase - seja algo secundário, mas não é. Uma frase em uma cédula é uma idéia que goza do endosso público e oficial; ela representa uma visão de mundo e um valor, que ainda por cima tem circulação obrigatória.

Se uma frase fosse uma "simples frase", algo de importância secundária, poderíamos perfeitamente pensar em qual a utilidade de usarmos a palavra (falada, mas principalmente escrita). Se as palavras fossem secundárias, talvez os (longos) textos do próprio Azevedo fossem inúteis. Mas o sr. Azevedo escreve e polemiza: supostamente, para ele as palavras e as frases têm importância, supostamente porque mobilizam idéias e confirmam ou modificam comportamentos.

Além disso, convém notar que não apenas as mais importantes religiões do mundo atualmente são religiões dos livros, isto é, das palavras escritas: catolicismos, islamismos, budismos - mas também os comunismos e os liberalismos.

R. Azevedo é um liberal católico. Sua defesa da frase "Deus seja louvado" indica que ele prefere ser católico a ser liberal. Afinal de contas, supostamente os liberais são contrários à doutrinação oficial do Estado: essa posição é mais clara no que se refere ao comunismo, mas o fato é que alguns liberais brasileiros defenderam, pelo menos no início da República, a separação entre igreja e Estado: essa foi a postura de Rui Barbosa em 1889-1890 (que tomou para si o projeto elaborado pelos positivistas Demétrio Ribeiro e Benjamin Constant).

Já os católicos - com raríssimas exceções - sempre foram pela junção entre igreja e Estado. Ou melhor: pela subordinação do Estado à igreja. Isso ocorreu durante todo o Império e durante a I República; ocorreu com a chantagem feita por Sebastião Leme a Getúlio Vargas em 1931, na inauguração do Cristo Redentor e ao longo da Era Vargas; ocorreu na República Nova e na primeira metade do regime militar. Diminuiu na segunda metade do regime militar, mas na Nova República voltou - e foi sacralizado via acordo internacional com a concordata de 2009.


A frase "Deus seja louvado" é uma profissão de fé e é um apoio do Estado ao cristianismo. Em outras palavras, é um atentado violento à moralidade pública. É um ato de lesa-República.

Há muitas pessoas para defenderem a intromissão do Estado nas consciências privadas, ou melhor, a instrumentalização do Estado para imposição de suas crenças. Mas há bem poucas para defender a República e suas instituições fundamentais. Reinaldo Azevedo, a revista Veja e a juíza favorável ao "deus seja louvado" são contrários à laicidade: quem temos a favor dela?

Necessidade de vistas gerais e históricas para o estudo de qualquer ciência


Na passagem abaixo, Comte evidencia que não se pode estudar uma ciência por ela mesma: é necessário que esse estudo esteja vinculado à visão de conjunto, ou seja, às ciências anteriores e, principalmente, às ciências finais (Sociologia e Moral).
Ora, a relação de cada ciência com as demais e com a Sociologia e a Moral, além de conferir pleno sentido (ou, simplesmente, sentido efetivo) às concepções de cada ciência, tem duas outras conseqüências importantes. Por um lado, a relação com a Moral indica os limites de cada ciência, evitando o cientificismo e o academicismo, em que a ciência vale por si própria, sem qualquer outra consideração; em outras palavras, evita-se a absolutização da ciência.
Por outro lado, a referência à Sociologia indica o caráter histórico de cada ciência, esclarecendo não apenas a marcha do pensamento para cada concepção específica, mas também a do conjunto da ciência.
Essas observações, por fim, têm uma outra importante conseqüência:  nenhuma concepção isolada faz sentido se não se considerar o conjunto das especulações (científicas e filosóficas) e nenhum ramo da disciplina científica História faz sentido se não se relacionar à História geral da Humanidade.

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“En achevant d’apprécier une telle restriction systématique de chaque science préliminaire à l’essor nécessaire pour constituer la suivante, on reconnait aisément la profonde rationalité de cette discipline. Car, l’étude directe d’une science quelconque ne peut jamais être que provisoire, même enver ses propres conceptions. Leur principale appréciation résulte toujours, et surtout en mathématique, de leurs rélations essentielles avec les théories supérieures, puisque les sciences ne s’unissent que par leurs grandes faces. Il faut donc hâter le plus possible ces indispensables préparations, pour s’établir au seul poste d’où l’on puisse embrasser réellement tous les aspects thériques. Ainsi, la discipline sociologique doit être aussi invoquée au nom même de la vraie dignité scientifique. C’est seulement en statique sociale que l’on commence à sentir la véritable grandeur des diverses théories préliminaires d’après leurs relations mutuelles, qui ne pouvaient assez surgir auparavant. Mais cette appréciation ne devient même complète que dans la sociologie dynamique, qui les caractérise mieux par leur filiation historique. Aucune science ne peut être dignement comprise sans son histoire essentielle, et aucune véritable histoire spéciale n’est possible que d’après l’histoire générale. De vrais sociologistes sont donc seuls capables de bien connaître la mathématique, dont les meilleurs géomètres n’ont pu concevoir l’ensemble. Lagrange en a mieux approché qu’aucun autre, parce que ses principales méditations ont été aussi profondément historiques que son temps le permettait. Pour sentir l’intime réalité d’une telle maxime philosophique, il suffit de reconnaître qu’aucun astronome n’a jamais pu s’expliquer pourquoi Hipparque ne découvrit point les lois de Kepler. Quelque simple que paraisse une telle question, la sociologie peute seule y répondre, parce qu’elle dépend de la marche réelle de l’évolution humaine, tant sociale que mentale” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 475).

Justificativa positivista da ciência – contra o cientificismo e o academicismo


Uma das observações mais impressionantes de Augusto Comte é relativa à justificativa social da ciência. Muito longe de defender um “cientificismo”, isto é, uma prática da ciência pela ciência, para ele a ciência justifica-se por seus serviços intelectuais e práticos – ou seja, antes de mais nada, por fornecer uma visão realista e relativa da realidade e, depois, devido às suas aplicações tecnológicas. Convém lembrar que, na economia geral do ser humano proposta por A. Comte, a inteligência tem um caráter instrumental (embora não servil) em relação aos sentimentos e à atividade prática.
Uma outra conseqüência importante da justificativa apresentada por A. Comte para a ciência é de especial importância contemporânea: como a ciência não se justifica por si mesma, devendo ter utilidades específicas, o produtivismo acadêmico (literário, científico, tecnológico) não se justifica: para o Positivismo, a prática do produtivismo conduz apenas a uma acumulação infinita – e inútil e injustificável – de fatos e verdades, da mesma forma que a produção econômica encarada como um fim em si mesmo conduz a uma acumulação infinita (e igualmente inútil e injustificável) de riquezas.
É fácil ver que, com tais idéias, Comte não é, não pode ser, um autor “academicista” – e que, mais do que isso, ele torna-se um inimigo de todos os cultores do academicismo.

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“Cet état normal de la culture scientifique sera solidement fondé sur le système complet d’éducation universelle, déjà indique au discours préliminaire. Il fait preceder et diriger l’initiation théorique par un essor affectif et une évolution esthétique dont l’irrésistible ascendant y rappellera toujours la raison au service ou du sentiment ou de l’activité. La culture scientifique n’est moralement justifiable que par sa nécessité théorique et pratique” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 474). 

Comte pela integração das ciências humanas e naturais, contra o materialismo


Afirma-se amiúde que o “positivismo” (e, por extensão, Augusto Comte) teria reduzido a Sociologia (e, de modo mais amplo, as Ciências Humanas) às Ciências Naturais; o nome inicialmente dado à Sociologia – “Física Social” – seria uma prova cabal disso.

Nada mais errado. Embora essa redução sistemática de uma ciência à outra seja observada com todas as letras em um dos principais autores do chamado Círculo de Viena – Rudolf Carnap disse-o claramente no artigo “Fundamentos lógicos da unidade da ciência” (http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/roman_0048-8593_1978_num_8_21_5208) –, Augusto Comte repudiava com todas as forças tal postura, chamando-a de “materialista” e “usurpadora da dignidade de cada ciência”.

Para Comte, cada ciência tem seu objeto específico. Sua escala enciclopédica indica que, da Matemática à Moral, há um crescimento de complexidade e uma diminuição de simplicidade e de generalidade; ou seja: na escala que compreende, nesta ordem, Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral, os objetos são cada vez mais complicados, mais específicos – e mais humanos. Essa escala, sem dúvida, é uma elaboração ideal e abstrata, que permite a compreensão das relações entre as influências naturais e humanas. Cada ciência sofre as influências das ciências anteriores, mas tem seus próprios objetos, “irredutíveis” aos anteriores.

Comte denomina a tendência a reduzir uma ciência superior a uma inferior – ou seja, a explicar os fenômenos superiores exclusivamente pelos inferiores – de “materialismo”. Inversamente, explicar um fenômeno inferior por um superior é “espiritualismo”. Exemplos fáceis de cada uma dessas posturas: explicar o funcionamento das sociedades humanas pela biologia é uma forma de materialismo (como feito, por exemplo, pela sociobiologia de Edward Wilson e pela “memética” de Richard Dawkins); ou explicar a cultura e as idéias pelos fatores econômicos ou “infra-estruturais”, como feito por Marx. Exemplo do espiritualismo: afirmar que a dilatação anômala da água (em que ela contrai-se à medida que diminui a temperatura, mas entre 4° C e 0° C ela expande-se, em vez de contrair-se), que permite a vida em climas frios, ocorre para que o ser humano viva; é fácil de perceber o quanto essa postura é própria às teologias (para quem “deus criou o mundo para o homem”).

As universidades, embora devessem estimular o pensamento “crítico”, muitas vezes são poços de preconceitos e de repetições de senso comum. Assim, em textos de apresentação à Sociologia e às Ciências Sociais, escolhidos ao acaso e com orientações teóricas variadas, o “positivismo” é caracterizado como redutor da Sociologia às Ciências Naturais, pela aplicação de métodos e raciocínios da Física (e da Matemática, da Astronomia, da Química e da Biologia) à Sociologia, além de propor uma indefinida “unidade da ciência”. Dois exemplos variados são estes: Ignácio Cano, “Nas trincheiras do método” (http://www.scielo.br/pdf/soc/v14n31/05.pdf); Anthony Giddens, “Sociologia” (http://www.grupoa.com.br/site/humanas/3/138/0/5557/5558/0/sociologia.aspx). (É digno de nota que I. Cano repete o erro, mesmo advogando a validade, principalmente metodológica, do que chama de “positivismo”.)

Pois bem: não apenas A. Comte critica o materialismo na Sociologia como critica qualquer outra forma de materialismo, incluindo aqueles sofridos pelas ciências inferiores; inversamente, também critica os espiritualismos. Os trechos abaixo evidenciam-no de maneira cristalina.

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“Chaque science inférieure ne doit être préalablement cultivée qu’autant que l’esprit humain en a besoin pour s’élever solidement à la science suivante, jusqu’à ce qu’il soit ainsi parvenu à l’étude systématique de l’Humanité, sa seule station finale. Telle est la loi générale du vrai régime préliminaire. Quoiqu’elle n’ait pu être démontrée que de nos jours, elle fut constamment pressentie des véritables organes de cette grande préparation, ainsi embellie d’un puissant attrait pour leur cœur comme pour leur esprit. Ce noble instinct est très-sensible chez la plupart des savants si dignement appréciés par Fontenelle, et même encore chez ceux que jugea Condorcet. Les moindres d’entre eux s’honoraient de coopérer à la haute mission que Descartes et Bacon avaient assignée à la science moderne pour préparer la saine philosophie, base nécessaire de la vraie rénovation sociale” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 471).

“Depuis que cette préparation est suffisante, que la construction philosophique a surgi, et que la situation occidentale en réclame l’active consécration, toute tendance à dominer les études supérieures par les inférieures doit être autant flétrie comme preuve d’immoralité que comme signe d’incapacité.

Sous cet aspect décisif, l’abus du calcule n mathématique constitue réellement la première phase spécial du matérialisme systématique, assez caractérisé, en general, dans mons discours préliminaire. L’usurpation de la physique par les géomètres, de la chimie par les physiciens, et de la biologie par les chimistes, deviennnent ensuite de simples prolongements successifs d’un vicieux régime, dont le principe est toujours le même, et qui ne peut être radicalement rectifié qu’en son germe inaperçu. Il développe partout un pareil abus de la juste influence déductive que chaque science préliminaire exerce nécessairement sur la suivante, d’après son indépendance et sa généralité plus grandes.

Cette apréciation définitive caractérise à la fois l’extrême importance et la source normale de la rectification mathématique dont il s’agit ici. Ainsi liée aux plus hautes questions philosophiques, et même aux principaux besoins sociaux, elle ne peut émaner que de l’universelle discipline instituée par la religion sociologique. La science finale reposant sur l’ensemble des sciences préliminaires, toutes la menaçent d’usurpations analogues à celle que chacune d’elles subit de la précédente. Mais ici la résistance est spontanément assurée par la difficulté et l’importance des questions, trop évidemment supérieures à de telles vues déductives, quoiqu’elles puissent et doivent les utiliser beaucoup. La sociologie se trouve ainsi conduite, en reconnaissant le besoin des diverses études préparatoires, à se réserver toujours leur usage systématique, qu’elle seule peut apprécier. Par là, elle écarte irrévocablement un ténébreux matérialisme, sans recourrir à un vain spiritualisme. La fluctuation, logique et scientifique, de toute notre philosophie naturelle entre la rétrogradation et l’anarchie se résout alors par l’application convenable de ce principe universel : chaque science doit diriger l’emploi normal de la précédente pour sa propre constitution” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 472-473)

17 dezembro 2012

Auguste Comte (for) today



It can be asked whether Auguste Comte (and Positivism) can be considered useful for today’s issues – political, philosophical, social. It’s a very interesting question, whose answer is manifold. First of all, it’s not clear at all what is “Positivism”; second, Comtean ideas are not known, so it’s quite difficult to argue if they are useful; third, there is the problem of how to “use” “ancient” philosophies today.
The first problem involves the fact that the word “Positivism” is a very misleading one, referring to individuals, groups, social and intellectual movements etc., some of them so different one to another that is hard to consider them having something in common other than the label “Positivism”. In a study published more than 30 years ago (Positivism and Sociology), Peter Halfpenny distinguished 12 different meanings to such expression.
For example, there is the philosophical – and religious – Positivism, which is the oeuvre of Comte, who initiate his thoughts in science and philosophy of sciences, then passed to the foundation of the social science – “Sociology” – and, then, founded a secular religion, the “Religion of Humanity”. There is also the Sociological Positivism, which owes very much to Comtean’s one, but is quite different from it: the works of Emile Durkheim and his French Sociological School is the best example of it.
But the most popular versions of Positivism, especially in the Angle-Saxon world, are those strictly related to the philosophy of science and to some very empiricist version of it. The ideas of the Vienna Circle, also known as Logical Empiricism, also known as Logical Positivism, also known as Neo-Positivism, are this third branch of “Positivism”. Developed during the 1920-1930’s by philosophers, physicists, mathematicians and other natural scientists like Otto Neurath, Rudolph Carnap etc., they intended to draw a clearcut line between science and metaphysics. According to them, every statement which cannot be reducible to a matter of fact cannot be considered meaningful, despite it can be considered an expression of feelings: what is reducible to matters of fact (and, so, meaningful) is scientific and acceptable; what’s not, is metaphysical and must be proscribed from the true philosophical reasoning.
Such order of reflexions reinforced some tendencies of Anglo-Saxon thoughts, especially in the USA – namely, some ultra-empiricist ways of research. Broader philosophical reasonings are frequently detached from matters of fact (because of their abstract nature) and, so, they’re considered metaphysical; conversely, the fact-gathering activity is among the supreme scientific ones: that’s how in the American academy “Positivism” has become synonym of empiricism, quantitativism – and, many times, also of anti-historicism, antiphilosophy and “methodologism”.
Studies concerning the relationships among Comtean ideas and the other varieties of “Positivism” are yet to be done (despite some researchers have done some, like Angèle Kremer-Marietti). But it’s important to note that Comte has developed a broader philosophy and he was against the ultra-empiricist approach of science – for he, science is above all the set of abstract laws; his philosophical concerns lead him to a constitution of a relativistic, humane religion, which criticized even the “scientifism”, i. e., the absolute tendencies of today’s (and XIX Century’s) science. So, many characteristics of the so-called Positivism are distant from Comtean Positivism, being considered by it absolute and metaphysical.
Despite the important differences among the many types of Positivism, the common label is an easy way to referring to them all; by metonym, some can think that they’re “all the same”, leading to a posture of avoiding a more (or a minimum) adequate knowledge of each one. As Comtean Positivism is as “Positivism” as Logical Positivism, with the problem of conducting to a mystic (religious) version of it, there is no need to read Comte’s works, which, above all, are extensive and manifold: that’s the usual way for not reading Comte and, at the same time, being capable of criticizing it. Or, as said in Portuguese: “não li e não gostei” (“I haven’t read it and haven’t liked it”).
A third sort of reasons for considering Comte inadequate for today is XIX Century rooting. For being “scientificist”, “empiricist”, “antimetaphysical”, “deterministic” etc. it would be outdated, outfashioned; his Religion of Humanity would be just another trait to reaffirm its inadequacy for today, revealing the crazy dreams of a madman. But those two orders of motives are just prejudicials, for not only the deep rooting of someone in his own time has never stopped the study of someone’s works, but also the (alleged) someone’s problematic state of mind has never stopped the study of someone’s work. Every day the ideas of philosophers and thinkers of different times are studied, not only in Philosophy and History of Ideas, but also as a means of comprehending today’s ideas and searching for new ideas and understandings: that’s why we study the books written by Plato onwards (and thinkers even more ancient) or the ideas of thinkers of other civilizations (as Anthropology does).
If the time distance is not a real problem, the (again: alleged) craziness of some thinker is even a minor problem. We could multiply the examples of thinkers, in all areas of human activities, who suffered of many mental illnesses, but only one name can end all discussions: Nietzsche was a perfect mental sickman, but not only no one tells his philosophy is not worthy of being studied, as his mental illness is no (moral, intellectual, logical) obstacle to study his philosophy.
As it concerns Comte, at the age of 30 he had a nervous breakdown, due to familiar troubles; he took two years to be healthy again, but that was his only episode of “mental illness”. What happens is that from 1848 on he developed his “Religion of Humanity”, against the main philosophical and scientific trends of his time; the very words he used, beginning with “Religion”, but also “cult”, “dogma”, “catechism”, “priest” etc., are proofs of the religious character of his late work, but none of them are proofs of dementia, craziness or anything similar. The question is that his religion was a general system of morality, ruling individual and collective behavior, based on secular, humane, relativistic basis. Of course, for Comte, “religion” and “theology” are not synonyms – and that’s one of the reasons for confusion. (Another source of confusion, not exactly innocent, is the reaffirmation of scientistic, absolute ethos, which is reaffirmed event today, even with the name of “Positivism”.)
We just examined three reasons why Comte is not studied today; all of them are based on prejudices and confusions, resulting in that his works are not even read. But what should we expect from that reading, after all?
Far from suggesting all the possibilities, we present below a non-exhaustive list of aspects Comtean thinking is very interesting for today.
1)      Affirmation of importance of a balanced development, taking care of the environment
2)      Autonomy of civil society vis-à-vis the State
3)      Complete and radical humanism; secular ethics
4)      Comprehensive, all-encompassing (“holistic”) perspective on society and the human being
5)      Conception of subjective immortality
6)      Concomitant affirmation of criteria of social justice and individual responsability
7)      Critics of individualism, in all its forms (methodological, theoretical and moral individualism, methodological, theoretical and moral egoism)
8)      Epistemology and Philosophy of Sciences
9)      Freedoms of thought, expression, reunion and so on
10)  Importance of ideas and values in social life
11)  Perspective that combines the universal and the particular
12)  Perspective that goes beyond traditional dichotomies: order-progress, materialism-idealism, agent-structure
13)  Reenchantment of the world
14)  Role of public opinion on public affairs
15)  Scientific perspective on reality
16)  Social utopia
17)  Valorization of subjectivity in the knowledge (scientific, artistic, philosophic ones)
All those aspects are presented in all Comte’s works, especially in his late career ones – precisely those of his religious phase: System of positive policy, Positivist catechism, Appeal to conservative, A general view of Positivism, and also his extensive, 8-volume correspondence.
In the last two decades or so, a number of academic researchers, mainly French, has explored many aspects of Comtean thought: Angèle Kremer-Marietti, Emmanuel Lazinier, Julliete Grange, Annie Petit, Michel Bourdeau, Laurent Fedi, Mike Gane, Mary Pickering, Olaf Simons, Sérgio Tiski, Gustavo Biscaia de Lacerda – and many more. In the internet, it’s possible to know something on Comte and Comtean Positivism in some sites: Maison d’Auguste Comte (http://www.augustecomte.org), Auguste Comte et le Positivisme (http://membres.multimania.fr/clotilde) and, more recently, Positivism (http://positivists.org/).

09 dezembro 2012

Comemorações de 225 (2013)


Comemorações do ano 225 (2013)
Tipo*
Vida
CALENDÁRIOS
Wikipédia**
Positivista
júlio-gregoriano
Bocácio
1313-1375
2.Dante
17.julho
Chardin
1643-1713
1.Gutenberg
13.agosto
Clairaut
1713-1765
10.Bichat
12.dezembro
Diderot
1713-1784
12.Descartes
19.outubro
Grétry
1741-1813
23.Shakespeare
2.outubro
Hildebrando
1013-1085
14.São Paulo
3.junho
Lacaille
1713-1782
5.Gutenberg
17.agosto
Lagrange
1736-1813
13.Bichat
15.dezembro
Sterne
1713-1768
18.Shakespeare
17.setembro
FONTE: “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos.
NOTAS:
  1. Os nomes em itálico indicam os tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.
  2. Os nomes em letras maiúsculas indicam chefes de semana ou de mês.
  3. As datas de vida reproduzem as indicadas por Miguel Lemos no “Apêndice” ao Apelo aos consevadores; algumas delas podem ter sofrido correção desde 1899, a partir de pesquisas historiográficas.
  4. Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (francês e inglês, mas também espanhol).

19 novembro 2012

Pequena homenagem ao Dia da Bandeira

Pequena homenagem prestada pelo amigo e jornalista João Carlos Silva Cardoso para o Dia da Bandeira, aproveitando a existência da Praia da Bandeira na Ilha do Governador, na cidade do Rio de Janeiro.

O original da notícia encontra-se aqui.

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Toponímia Insulana

Topônimo [Do grego top(o)- "lugar, localidade" + onoma - "nome"] S.m.: Nome próprio de lugar.
Assim, "toponímia" é o estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugar.
Nossa proposta é apresentar ao internauta (insulano ou não) o "quem é quem" (ou o "o quê é o quê")
nos nomes dos logradouros da Ilha do Governador.
Colaborações para: joaocarlossilvacardoso@uol.com.br

Categoria: Bairros e Cidades
Postado por J.C.Cardoso em 19/11/2012 05:04

Praia da Bandeira (Cocotá [oficialmente, Praia da Bandeira]) - CEP: 21910-380
A Bandeira Nacional foi elaborada em 19/11/1889, por Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), alguns dias após a proclamação da República (em 15/11 do mesmo ano).
Popularmente, o verde representa as matas, as florestas; ao passo que o amarelo, o ouro e as riquezas minerais. Por outro lado, considerando que a bandeira imperial foi feita após a Independência, em 1822, o retângulo verde representaria a casa monárquica dos Bragança (família paterna de D. Pedro I) e losango amarelo representaria a casa dos Habsburgo (da família da imperatriz dona Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I).
A esfera azul representa, é claro, o céu da noite em que ocorreu a mudança de regime, 15/11, não uma representação exata, mas apenas uma idealização.
O "Ordem e Progresso" é da autoria do filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), fundador do Positivismo. Essa frase, que na Bandeira deve ser em maiúsculas verdes, indica um projeto sociopolítico de garantir que condições fundamentais da sociedade sejam sempre respeitadas e daí obter o progresso. Embora comum, essa frase não é a versão resumida da fórmula positivista completa ("O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim"). Enquanto a frase completa resume um complexo programa religioso, a da Bandeira apresenta valores políticos, capazes de serem compartilhados por todos os cidadãos e nações. Assim, a Bandeira não é "só" um símbolo de cores e formas: ela também apresenta um projeto de cidadania.
Esquema oficial, segundo a Lei n.º 5.700, de 1º/09/1971.
1.Para cálculo das dimensões, tomar-se-á por base a largura desejada, dividindo-se esta em 14 partes iguais. Cada uma das partes será considerada uma medida ou módulo.
2.O comprimento será de 20 módulos.
3.A distância dos vértices do losango amarelo ao quadro externo será de um módulo e sete décimos.
4.O círculo azul no meio do losango amarelo terá o raio de 3,5 módulos.
5.O centro dos arcos da faixa branca estará dois módulos à esquerda do ponto do encontro do prolongamento do diâmetro vertical do círculo com a base do quadro externo.
6.O raio do arco inferior da faixa branca será de oito módulos; o raio do arco superior da faixa branca será de 8,5 módulos.
7.A largura da faixa branca será de meio módulo.
8.As letras da legenda Ordem e Progresso serão escritas em cor verde. Serão colocadas no meio da faixa branca, ficando, para cima e para baixo, um espaço igual em branco. A letra P ficará sobre o diâmetro vertical do círculo. As letras da palavra Ordem e da palavra Progresso terão 1/3 de módulo de altura. A largura dessas letras será de três décimos de módulo. A altura da letra da conjunção E será de três décimos de módulo. A largura dessa letra será de 1/4 de módulo.
9.As estrelas serão de cinco dimensões: de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta grandezas. Devem ser traçadas dentro de círculos cujos diâmetros são: de três décimos de módulo para as de primeira grandeza; de 1/4 de módulo para as de segunda grandeza; de 1/5 de módulo para as de terceira grandeza; de 1/7 de módulo para as de quarta grandeza; e de 1/10 de módulo para a de quinta.
As cores são: verde (RGB = 0/168/89 e CMYK = 100/0/100/0), amarelo (RGB = 255/204/41 e CMYK = 0/20/100/0), azul (RGB = 62/64/149 e CMYK = 100/100/0/0) e branco (RGB = 255/255/255 e CMYK = 0/0/0/0)

Texto de Gustavo Biscaia de Lacerda, doutor em Sociologia Política (UFSC) e cientista político da UFPR, exclusivamente para o Toponímia Insulana.
Dados das cores: Wikipedia
Bandeira: Flags of the World
Foto: www.multimania.fr/clotilde/disciple/brasil/m_br.xml

12 novembro 2012

MPF pede retirada de "deus seja louvado" das cédulas


O original da notícia encontra-se aqui.

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12/11/2012 14h58 - Atualizado em 12/11/2012 15h15

MPF em SP pede retirada da frase 'Deus seja louvado' das notas de reais

Procuradoria pediu à Justiça que termine à União a retirada da expressão.
Ação pede prazo de 120 dias para que notas sejam impressas sem frase.

Do G1, em São Paulo
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Expressão 'Deus seja louvado' em nota de R$ 20 (Foto: Fábio Tito/G1)Expressão 'Deus seja louvado' em nota de R$ 20
(Foto: Fábio Tito/G1)
A Procuradoria da República no Estado de São Paulo pediu à Justiça Federal que determine a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas de reais.
A ação pede, em caráter liminar, que seja concedido à União o prazo de 120 dias para que as cédulas comecem a ser impressas sem a frase, anunciou nesta segunda-feira (12) a procuradoria. Dessa forma, a medida não gerará gastos aos cofres públicos, diz o Ministério Público Federal em São Paulo.
“O Estado brasileiro é laico e, portanto, deve estar completamente desvinculado de qualquer manifestação religiosa”, cita a procuradoria, como um dos principais argumentos da ação.
Uma das teses da ação é que a frase “Deus seja louvado” privilegia uma religião em detrimento das outras. Como argumento, o texto cita princípios como o da igualdade e o da não exclusão das minorias.
Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha', 'Deus Não existe"
Procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias
O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, reconhece que a maioria da população segue religiões de origem cristã (católicos e evangélicos), mas lembra que o país é um Estado laico. “Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha', 'Deus Não existe'”, argumenta.

A ação também pede à Justiça Federal que estipule multa diária de R$ 1,00 caso a União não cumpra a decisão. A multa teria caráter simbólico, “apenas para servir como uma espécie de contador do desrespeito que poderá ser demonstrado pela ré, não só pela decisão judicial, mas também pelas pessoas por ela beneficiadas”.

RepresentaçãoA procuradoria disse que recebeu, em 2011, uma representação questionando a frase nas notas. No inquérito, a Casa da Moeda informou ao órgão que cabe ao Banco Central a emissão e a “definição das características técnicas e artísticas das cédulas”.

A inclusão da expressão nas cédulas aconteceu em 1986, por determinação do então presidente José Sarney, de acordo com informações do Ministério da Fazenda passadas à procuradoria. Em 1994, com o Plano Real, a frase foi mantida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, supostamente por ser “tradição da cédula brasileira”, apesar de ter sido inserida há poucos anos, diz.
Ainda segundo a procuradoria, para o BC o fundamento legal para a existência da frase nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”.

O procurador Dias lembra, em nota, que não existe lei autorizando a inclusão da expressão religiosa nas cédulas brasileiras.

05 novembro 2012