15 junho 2008

Sobre a “crítica” de Mauro Santayana à razão positiva

SOBRE A “CRÍTICA” DE MAURO SANTAYANA À RAZÃO POSITIVA

Quais são os critérios que fazem de alguém um jornalista respeitável? Ou melhor, quais os critérios que adotamos para considerar que alguém é um “jornalista respeitável” e “digno de crédito”? Confesso que até hoje nunca li muita coisa de Mauro Santayana. Ele é mineiro e escreve para um jornal fluminense (Jornal do Brasil), ao passo que eu sou curitibano e leio um jornal paulista (Folha de S. Paulo); assim, para mim, o nome de Mauro Santayana correspondia apenas ao de um “ilustre desconhecido” – uma dessas pessoas de quem ouvimos falar, mas nunca sabemos direito quem são ou o que fazem.
Pois bem: por indicação de alguns amigos meus, li o artigo que Santayana publicou no Jornal do Brasil no dia 17 de fevereiro último, “A oposição e a razão positiva” (cf. aqui). Li o texto e fiquei espantado em como alguém consegue torcer idéias, conceitos e acontecimentos para provar o que quiser – independentemente de se sua argumentação faz algum sentido ou é correta.
No artigo em questão, Santayana pretende demonstrar que a origem dos males da oposição que sofre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva radica no Positivismo de Augusto Comte. Para isso, consulta uma única e pequena obra de Comte (Discurso sobre o espírito positivo), dando preferência à interpretação que o prefaciador do livro (Julián Marías) faz dela. A partir disso, descamba para uma série de xingamentos e qualificações negativas – tiradas do fundo de sua cabeça – para afirmar que Comte “não escrevia bem” e que, tanto no que se refere à forma quanto no que diz respeito ao conteúdo, o hegeliano Marx era-lhe superior. Santayana vai além, ao afirmar que os militares que tomaram o poder em 1964 eram positivistas, seguidores da obra de Comte. É tanta bobagem e preconceito por centímetro quadrado que não consigo acreditar que alguém que escreva tudo isso seja considerado “respeitável”.
Em primeiro lugar, ninguém que pretenda fazer uma exegese mínima do pensamento de um autor pode basear-se na leitura de apenas uma única obra, pequena, por mais que o prefaciador dessa obra diga ser possível. Na verdade, Santayana adota a tradução espanhola do Discurso, deixando de lado a tradução brasileira. Pois bem: o prefaciador Julián Marías, que “autorizou” a olimpiana exegese de Santayana, é um conhecido liberal de origem católica, que, além de fazer renhida oposição ao Positivismo comtiano, foi professor e orientador de todos os intelectuais liberais de origem católica que deram seu apoio ao regime militar. Em outras palavras, Santayana – que foi exilado pelo regime de 1964 – consegue praticar a proeza de basear-se nos seus próprios inimigos para criticar seus desafetos do momento. Mais valeria Santayana ter lido a tradução brasileira, prefaciada pelo sociólogo francês Paulo Arbousse-Bastide, profundo conhecedor de Comte e autor de um prefácio efetivamente esclarecedor (cf. Augusto Comte, Discurso sobre o espírito positivo, Martins Fontes, 1990).
Na verdade, não apenas Santayana estabelece uma vergonhosa aliança com seus inimigos da véspera (amigos atuais, talvez?), como simplesmente ignora a formação ideológica dos militares que deram o golpe em 1964. Conviria Santayana ler um pouco mais de história do Brasil; sugiro-lhe o livro de José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e política no Brasil (Jorge Zahar, 2005). Nessa obra, Carvalho reúne uma série de artigos acadêmicos e de polêmica que escreveu nos últimos vários anos; para o que nos interessa, no longo capítulo 1, o autor indica com clareza que a influência do Positivismo entre os militares da Proclamação da República foi na direção da “civilização” dos militares, isto é, de ao mesmo tempo afastar esses militares qua militares da vida política e de torná-los mais civis, mais paisanos, que guerreiros. Carvalho segue na análise e indica que foi a geração dos “jovens turcos”, educada no ambiente militar alemão nos anos 1920, que resultou nas diversas levas de militares golpistas das décadas seguintes.
Além disso, Santayana deveria ler outras duas obras. Uma, de seu colega jornalista Elio Gaspari, o volume 4 da sua coleção sobre a ditadura (A ditadura encurralada, Companhia das Letras, 2004); o outro livro foi organizado por Renato Lemos e chama-se Justiça fardada (Bom Texto, 2004). Ambos – mas principalmente o segundo – apresentam a atuação do General Peri Bevilácqua à frente do Superior Tribunal Militar, entre 1965 e 1969. O Gal. Peri era positivista e neto do igualmente positivista Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães – o mesmo que fundou a República no Brasil e que orientava a formação de seus alunos militares no sentido da já comentada “civilização”. Pois bem: o Gal. Peri bateu-se no STM contra os abusos civis e militares praticados pelo regime militar – e, note-se, durante alguns dos mais duros e violentos momentos do período.
Santayana afirma que o Positivismo não é “democrático”. À primeira vista, pensamos que isso equivale a dizer que o Positivismo é autoritário e que apoiou, ou teria apoiado, todos os regimes autoritários do Brasil. Ele também sugere que o Positivismo é “de direita” – afinal, as propostas sociais do Positivismo consistiriam em oferecer casa e esmolas ao proletariado, mandando-o, em troca, manter-se longe da política, calar a boca e submeter-se às explorações feitas pela burguesia. Mas será isso mesmo?
A “democracia” não é um conceito unívoco, ou seja, há inúmeras formas de interpretá-la. Podemos considerar a democracia como um regime político em que as pessoas tenham liberdades políticas, sociais, civis; ou um regime em que as pessoas possam participar do governo e intervir nas políticas públicas; ou participar dos debates públicos, para opinar sobre o governo e apoiá-lo e criticá-lo quando julgarem adequado; ou exigir que os governos sejam legítimos e que só existam na medida em que forem legítimos. Mas também é possível considerar como democracia aquela sociedade em que, baseada no individualismo, todos, o tempo inteiro, estão governando diretamente a sociedade, além de exigirem a igualdade de todos e rejeitando as diferenças e as dissensões. São várias formas de considerar a “democracia” e não se pode considerar nenhuma mais “correta” que as outras. Se alguém preferir a sua própria versão de democracia, de modo que exclua outras possibilidades, será necessariamente “antidemocrático”, pois opõe-se a traços das outras “democracias” – e foi esse salto que Santayana deu para “demonstrar” o caráter antidemocrático do Positivismo. Antes de prosseguirmos, é importante dizer com clareza e com todas as letras: esse procedimento adotado por Santayana, do ponto de vista lógico, é um sofisma, cujo objetivo é enganar as pessoas.
Ora, se entendermos que o Positivismo é radicalmente a favor da atuação política do proletariado no espaço público; é radicalmente a favor da melhoria das condições de vida do proletariado (isso é o “progresso”, que se baseia na “ordem”); é radicalmente a favor das liberdades civis, políticas e sociais; é radicalmente a favor da sociedade pacífica que distribui os frutos de sua produção econômica, moral, artística, cultural e intelectual a todos os membros da sociedade; é radicalmente a favor da estabilidade institucional e “republicana”; é radicalmente a favor dos regimes legítimos; é radicalmente a favor da separação entre a Igreja e o Estado; é radicalmente a favor do respeito às culturas tradicionais (indígenas, quilombolas etc.); é radicalmente a favor da autodeterminação nacional e contrário às formas de colonialismo e intervencionismo; se entendermos que o Positivismo, em termos políticos, é tudo isso, não será possível afirmar que ele é “antidemocrático”.
Por outro lado, o Positivismo é contrário às formas políticas que afirmar sem possível que o “povo” governe tudo o tempo todo ou que não haja elites políticas; também é contrário à afirmação de que o objetivo básico das sociedades é a igualdade; também é contrário à afirmação de que a sociedade baseia-se em indivíduos; também é contrário às fórmulas políticas que reduzem a sociedade a um único grupo social. Para o Positivismo, essas características da “democracia” conduzem diretamente a regimes tirânicos, autoritários, liberticidas, em um argumento que foi depois repetido por Alexis de Tocqueville: assim, Augusto Comte era contra Rousseau – cujas idéias foram aplicadas por Maximilien Robespierre, durante a Revolução Francesa – e seria contrário a inúmeros aspectos da obra de Marx – cujas idéias foram aplicadas na Rússia soviética e em todos os países comunistas ou socialistas. Ora, não se pode duvidar das credenciais democráticas de Rousseau e Marx, Robespierre e Lênin – mas eu não gostaria de viver em tais democracias. Em suma: Santayana lê livros pequenos para apenas repetir e assumir preconceitos. Brilhante!
Santayana afirma a superioridade de Marx em relação a Comte, em particular em termos estilísticos. Isso parece intriguinha, futilidade – e é isso mesmo. Comte escrevia “longos parágrafos”, era “confuso” e suas idéias “decaíram” no que se refere à sua influência política e social. E daí? Jamais consegui ler os livros de Marx, pois seus parágrafos eram “longos”, “tortuosos” e extremamente “confusos” – eram “dialéticos”! (Minto: as obras jornalísticas de Marx são mais legíveis – mas ele tinha que conseguir vender pelo menos alguns de seus escritos, afinal de contas.) Claro que a prática política de Marx nunca foi “democrática”, em qualquer sentido que se possa tomar essa palavra: Santayana deveria ler Escritos contra Marx, de Bakunin (Imaginário, São Paulo, 2001).
As idéias de Comte “decaíram”? Mas o que isso significa? Que elas não tiveram influência no mundo? Ora, somente um ignorante e/ou preconceituoso poderia dizer uma tolice dessas: Inglaterra, Estados Unidos, França, a América Latina inteira, Índia, China, Japão, Turquia... a amplitude geográfica e civilizacional com que as idéias comtianas (políticas, sociais, religiosas, científicas) espraiaram-se é qualquer coisa menos uma “decadência”.
Mas, afinal de contas, o fundador do Positivismo não viu a decadência de suas idéias – o que quer que isso signifique – e o mero fato de elas terem “decaído” não prova que elas “não prestam”. Isso faz sentido, de alguma forma? Faz, se quem afirma essa pérola adota algum tipo de “darwinismo intelectual”. Por outro lado, as idéias de Marx também decaíram (e – oh, vida! – Marx não viu sua decadência!). O que isso significa? Não sei, mas, a julgar pelos seus próprios critérios, suponho que o filomarxista Santayana esteja quase 20 anos atrasado. Para terminarmos essas picuinhas: Marx seria superior a Comte, além de tudo, por ser hegeliano. Pois bem: Hegel foi um dos mais obscuros autores que já escreveu no mundo; além disso, Hegel fez o elogio dos estados autoritários (de orientação napoleônica) ou absolutista (de orientação prussiana), considerando-os a forma mais evoluída de Estado, ao afirmar a identidade do “Espírito” (entidade metafísica, por certo) com a própria instituição estatal e a sociedade civil e subsumir a sociedade civil no Estado. Não é difícil de perceber que nessa mistificação estão algumas das origens do totalitarismo do século XX. Enfatizo: em Hegel, não em Comte.
Seria possível continuar muito mais, mas é necessário concluir. Assim, duas observações gerais.
Em primeiro lugar, de súbito um jornalista resolve comentar a política do momento e “descobre” na origem de suas mazelas o Positivismo. Isso parece coisa de quem não tem o que fazer, mais ou menos com a seguinte linha de raciocínios: “quero criticar meus adversários políticos; como posso fazê-lo? Já sei: atribuirei a origem última de meus inimigos a alguma corrente política ou filosófica que não tem muitos aderentes hoje (e, portanto, não podem responder) e que recebe críticas. Hum... o Positivismo enquadra-se nisso. Oba!”. Afinal, por que, de repente, falar em Positivismo? Apenas um raciocínio disparatado justificaria atribuir os erros da oposição política que sofre o Presidente Lula ao Positivismo. Afinal de contas, em seu texto, Santayna apenas falou mal de Augusto Comte e do Positivismo, para em seguida – sem nenhuma relação lógica – afirmar que o Positivismo é o ancestral intelectual da oposição a Lula. Dá para acreditar?!
(Cá entre nós: seria mais sensato e correto atribuir a origem intelectual da oposição a Lula a outras correntes políticas, algumas bem distantes do Positivismo: catolicismo, marxismo, liberalismo católico e por aí vai. Eu gostaria que Santayana indicasse um político ou teórico de partido – tanto faz se de situação ou de oposição – que tenha relevo nacional, que conheça Comte e que seja capaz de usá-lo em suas reflexões. Se houver, serei o primeiro a fazer seu escrutínio político e filosófico.)
Essa atitude de Santayana não é nova no jornalismo brasileiro; possivelmente, deve ser comum em todos os países do mundo. O curioso é que o esquerdista Santayana recupera os mesmíssimos argumentos que o direitista Diogo Mainardi usou anos atrás (cf. aqui), na famigerada revista Veja: a diferença entre ambos é que um atribuiu ao Positivismo a origem da esquerda (de Lula, no caso) e outro, da direita (quem, não se sabe).
A segunda observação geral retoma as perguntas iniciais deste artigo. Afinal de contas, o que faz de alguém um jornalista “respeitável” e “digno de crédito”? Eu suponho que seja a originalidade do pensamento, a coragem de dizer o que pensa, a moralidade (em sentido amplo) do que pensa, a coerência de suas idéias e, claro, a correção (fática e teórica) do que escreve. Esses cinco elementos, possivelmente não exaustivos, estipulei-os agora, mas parece que são adequados para definirmos a “respeitabilidade” de um jornalista. A questão é que, se cada um, isoladamente, é condição necessária, não é suficiente: há que se ter todos os cinco juntos. Como vimos, Mauro Santayana não corresponde a nenhum deles. É isso o “jornalismo respeitável” do Brasil?

03 abril 2008

Família real e república

Família real e república1

Gustavo Biscaia de Lacerda

I. INTRODUÇÃO

O bicentenário da transferência da família real portuguesa e de sua corte ao Brasil sugerem algumas reflexões para um observador que se considere “republicano” ou que leve em consideração os valores da “República”.

II. MONARQUIA E REPÚBLICA EM TERMOS CONCEITUAIS

II.1. Conceito de monarquia

O Brasil passou, ao longo de sua história, de uma colônia para um reino unido, em seguida para um “Império” e, finalmente, para uma república. Embora a historiografia e a Ciência Política nacionais já tenham indicado faz tempo, numerosas análises e pesquisas apresentadas nos últimos meses realçam o fato de que a mudança do estatuto colonial para o de reino unido entre 1808 e 1810 foi um passo importante na consolidação do Brasil como um país – alguns talvez exijam maior precisão: “como um Estado-nação” – e para a subseqüente independência, ocorrida pouco mais de uma década depois, pelo próprio herdeiro da família real portuguesa2. Como na época o Brasil era propriedade da família real, não se distinguia essa família da política nacional e as virtudes dessa família (ou sua falta) eram as virtudes do país e do sistema político (ou sua falta). Essa confusão, de origem medieval, tinha as curiosas mas naturais conseqüências de que não havia cidadãos, mas súditos; a crítica à família real era o mesmo que criticar o país (ou, mais precisamente, o Estado), o que corresponderia aos crimes correlatos e iguais de lesa-majestade e lesa-pátria: alta traição! Além disso, um costume também de origem medieval (mas da Baixa Idade Média) atrelava a Igreja ao Estado: ser um súdito era o mesmo que professar obrigatoriamente uma determinada fé.

Modernamente, distinguimos a figura do governante da do Estado: quem governa o país não é seu proprietário, mas o “primeiro funcionário do Estado”, estando a serviço da nação. Consideramos que a impessoalidade do cargo, ainda que formal, é um requisito necessário para o bom funcionamento da estrutura governativa, separando o patrimônio pessoal do governante do patrimônio público e do patrimônio dos cidadãos; separando a crítica ao governante da crítica ao Estado; separando a crítica ao governante e ao Estado da alta traição; separando a Igreja do Estado; separando a fé do governante das fés dos cidadãos.

Embora essas duas situações sócio-políticas sejam teorizadas há séculos, no Brasil elas passaram a valer a partir de 1889, com a proclamação da República. Assim, a República no Brasil não inaugurou apenas um novo regime, com uma nova legalidade e toda uma nova forma de sociabilidade (ainda que em projeto), mas constituiu-se na afirmação de um novo princípio de legitimidade, especificamente moderno, racional, aberto às discussões, em contraposição ao princípio antigo, de origem medieval, absoluto, indiscutível e potencialmente intolerante.

Pode parecer ingenuidade, mas convém definirmos do princípio alguns conceitos. A comemoração da transferência da família real portuguesa para o Brasil exige sua contextualização. Mas “contextualizar” uma discussão histórica pode significar duas coisas: 1) inserir a discussão que se faz no período em que ela é feita ou 2) inserir os temas da discussão no contexto de que esses temas faziam parte. Pois bem: ao comemorarmos a transferência da família real portuguesa ao Brasil devemos contextualizar esse fato no segundo sentido, mas devemos contextualizar a própria comemoração no primeiro sentido. Em outras palavras, a transferência da família real integrou o seu próprio momento histórico, assim como a comemoração atual integra o nosso atual momento histórico.

Por que é importante distinguir os dois conceitos de “contextualização”? Porque há alguns autores, editoras e movimentos sociais que, propositalmente ou não, confundem-nos, fazendo da comemoração de uma importante efeméride a afirmação para os dias atuais dos valores políticos e sociais prevalecentes à época da efeméride. Em outras palavras: querendo aplicar para os dias de hoje os valores daquela época, sem maiores considerações – e essa aplicação automática, mecânica, dos valores e das questões de uma época mais ou menos remota para outra, mais ou menos recente (ou atual), é que se chama de “anacronismo”.

Assim, vê-se com notável facilidade, no bojo das comemorações, a afirmação de que a monarquia, na forma de um reino ou de um império brasileiro, é superior à república no que se refere às virtudes políticas e sociais: estabilidade do regime, liberdades públicas, tratamento e solução das diversas questões sociais, desenvolvimento econômico e assim por diante. A questão é que, tanto no que se refere aos projetos de “monarquia” e de “república” quanto no que diz respeito à história política do Brasil independente, a monarquia não é superior à república.

II.2. Conceitos de república

Como vimos anteriormente, em termos conceituais a monarquia é um projeto de origem medieval que subordina o público ao particular do rei, que é o ungido por deus para governar os homens. Todos são sua propriedade e a fé do rei é a fé de seus súditos; sua verdade é única e indiscutível verdade, seja no que se refere às consciências individuais, seja no que se refere aos assuntos públicos; mesmo que o poder do rei seja limitado (pelos costumes e/ou pelas leis), seus súditos continuam sendo “súditos” e sujeitos à vontade mais ou menos arbitrária do rei3. A república é um projeto moderno, que dissocia abstratamente a figura concreta do governante da sua função governativa; separam-se a Igreja e o Estado, a crítica à política em suas diversas facetas da alta traição, e, acima de tudo, vige o Estado de Direito.

A palavra “república”, na verdade, não é unívoca: é possível determinar diversos sentidos para ela. Um primeiro sentido é o imediato, dado pela etimologia: “república” vem do latim “res publica”, que é a “coisa pública”. Adotar um comportamento republicano, assim, é o mesmo que respeitar as instituições, preocupar-se com o desenvolvimento de um país e assim por diante. Esse sentido é fraco, pois não confere identidade própria à república, sendo possível com ele viver-se republicanamente em monarquias: é o que afirmavam Jean Bodin e o barão de Montesquieu (mas ambos esses autores, vivendo antes da Revolução Francesa, a despeito de outras contribuições seminais para a Teoria Política, são pré-modernos no que se refere aos regimes políticos e sociais).

Um sentido forte da “república” começa com os políticos latinos e avança para teóricos dos séculos XVIII, XIX e XX. A primeira república surgiu em meados século V a. c.4, quando os patrícios romanos cansaram-se da dominação estrangeira (etrusca, no caso) e acabaram com a monarquia alienígena. Para nomear o novo regime político, eles não encontraram nenhuma palavra, exceto aquela que designava suas aspirações: queriam um regime do bem comum (ROULAND, 1997). Dessa forma, a república surgiu em contraposição à monarquia. Saltemos na história mais de dois milênios, avançando rumo à modernidade: as repúblicas estadunidense (de 1776) e francesa (de 1792) – inspiradoras de todas as repúblicas modernas – foram proclamadas também pela rejeição às monarquias e aos seus já indicados fundamentos medievais (NICOLET, 1994). Aliás, os mecanismos previstos pelos autores republicanos visavam a evitar que a república virasse um regime despótico ou tirânico5:

  • no século XVIII os estadunidenses de O federalista previram na república o Estado de Direito e o mecanismo de checks and balances (“pesos e contrapesos”) (cf. LIMONGI, 2006);

  • no século XIX, o francês Augusto Comte teorizou a república como o regime sócio-político da afirmação das preocupações sociais, humanas e laicas, com amplas liberdades civis e políticas (COMTE, 1890; 1899);

  • no final do século XX e início deste século XXI, o irlandês naturalizado australiano e radicado nos Estados Unidos Phillip Pettit afirma que o característico da república é sua capacidade de assegurar a liberdade como ausência de arbitrariedade do governo na vida dos cidadãos e seu caráter contestatório, isto é, a possibilidade de todos os cidadãos criticarem no governo suas ações e opiniões consideradas erradas ou lesivas às liberdades públicas (PETTIT, 1997)6.

Em termos teóricos, a república é o regime político moderno por excelência (e não se pode aceitar as relativizações pós-modernas para desvalorizar esse fato). Mais que isso: há que se recuperar as filosofias da história que afirmavam que a república não é apenas mais um regime político, um regime “entre outros possíveis”, entre os quais está a monarquia: a república vem histórica e logicamente depois da monarquia e é melhor que ela. Da monarquia à república há um avanço, um progresso: os teóricos dos séculos XVIII e XIX, tanto europeus quanto estadunidenses (e brasileiros, convém notar), sabiam disso, pois viviam essa realidade. Urge recuperá-la.

III. MONARQUIA E REPÚBLICA NO BRASIL

Passemos agora à história do Brasil e às comemorações da transferência da família real portuguesa para a América.

Após a corte atravessar o Atlântico, lançaram-se as sementes do Estado moderno no Brasil, da autonomia econômica nacional e da vida artística e intelectual propriamente brasileira. Não há dúvida de que a passagem da condição de Reino Unido para Império Brasileiro em 1822, por ato de d. Pedro I e organização e inspiração de José Bonifácio, permitiram a transição pacífica de um estatuto para o outro, o que não pode nunca ser desvalorizado. Entretanto, embora d. Pedro fosse, naturalmente, pelo poder do Imperador e pelo absolutismo, José Bonifácio aceitou a solução monárquica como a possibilidade que o momento oferecia para a independência do país; da mesma forma, José Bonifácio previa uma ambiciosa agenda de modernização do Brasil, que incluía a criação de diversas escolas superiores, o fim da escravidão e a industrialização. As suas dificuldades políticas, em que se incluía um elemento autoritário, puseram um fim a essas propostas (cf. CARNEIRO, 1977; ANDRADA E SILVA, 2000).

A monarquia brasileira, criada como um “império” de orientação absolutista, logo se viu frente a inúmeros desafios, a começar pela rejeição dos princípios absolutistas e da falta de liberdades civis e políticas. O I Reinado em grande consistiu, assim, nos enfrentamentos dos grupos favoráveis e contrários ao poder imperial – bem entendido, poder absoluto – e encerrou-se quando Pedro I cansou-se desses embates e renunciou ao poder7 em benefício de seu filho, abrindo caminho para o interregno regencial (curiosamente, uma experiência republicana de facto). O período da Regência caracterizou-se igualmente pela instabilidade política em torno do nome do regente e das regras que regeriam a regência, agravada pelas disputas entre o poder central e os poderes locais (ou seja, em torno do federalismo). As turbulências cessaram quando a regência trina tornou-se una, com a afirmação do poder central sobre o local, por obra do padre Feijó.

Com o golpe político da maioridade, Pedro II assumiu a coroa, mas incapaz de reinar, devido à sua pouca idade (15 anos). Pouco mais que uma criança, por um bom tempo ele foi um joguete nas mãos de seus áulicos. O II Reinado também se caracterizou pelas rebeliões provinciais, por uma violenta e demorada guerra no Cone Sul8 e pelo imobilismo político geral. Alguns historiadores destacaram a sabedoria política de Pedro II, em particular a respeito de seu “liberalismo”, de seu “amor pela ciência e pelas artes”, do tratamento das questões sociais e da manutenção da unidade nacional. Pois bem: enquanto é verdade que ele tolerava críticas a si e a seu regime e que soube manter a integridade nacional, não deixa de ser verdade que:

  • a tolerância às críticas era uma generosidade pessoal do imperador, não um traço constitutivo do regime;

  • as questões sociais não foram de modo algum resolvidas, mas adiadas para sempre mais tarde – o maior e mais importante exemplo é o da abolição da escravatura – ;

  • nem o regime nem o Imperador nunca estimularam nem a indústria (pense-se no seu desdém pelas iniciativas do Visconde de Mauá), nem o comércio, nem a agricultura nacionais;

  • nem o regime nem o Imperador cuidaram da educação nacional, nem criaram um sistema de escolas primárias, secundárias ou superiores no Brasil, mas apenas algumas poucas (escolas de Direito de São Paulo e do Recife, da escola de Medicina do Rio de Janeiro e das escolas de minas em Minas Gerais), ainda por cima restritas às elites aristocráticas;

  • mantinha, ainda que precariamente e de modo algo caricato, a divisão social própria ao Ancien Regime medieval, separando a nobreza, o clero e o “povo” (sem dúvida: era a esse sistema arcaico que ele devia seu poder);

  • mantinha os privilégios pedagógicos e de consciência da Igreja Católica, instituído o catolicismo como religião oficial do Estado;

  • era indiferente ao mérito dos servidores públicos, ao mesmo tempo que favorecia a corrupção e o clientelismo (como no caso emblemático do fundador da República, Benjamin Constant, que obteve sucessivos primeiros lugares em diversos concursos públicos para professor mas foi preterido em todos eles em benefício dos clientes da nobreza; a título de compensação, Pedro II ofereceu um emprego clientelístico para Benjamin Constant, que este rejeitou como degradante para a moral pública e humilhante pessoalmente).

Em outras palavras, a sabedoria de Pedro II resumiu-se tão-somente à manutenção da unidade nacional, tão bem analisada por José Murilo de Carvalho (2003).

O leitor talvez se pergunte, a esta altura do artigo, qual o objetivo em fazer esse balanço político e social do Império Brasileiro. A resposta é muito simples: porque os defensores da monarquia no Brasil idealizam esse período como tendo sido de avanço político, social e cultural, tendo à frente um príncipe ilustrado e liberal. Esses mesmos monarquistas habituaram-se a criticar o regime republicano iniciado em 1889 e todas as suas fases subseqüentes (1930, 1946, 1964, 1985) tendo por base essa visão idealizada – esquecendo, ignorando ou desprezando os fatos de que, por um lado, o Império não foi em momento algum um período calmo e tranqüilo nem de progresso social e de que, por outro lado, a república herdou todos os problemas do Império, que a solução desses problemas estiveram nos programas de todos os republicanos e que o Brasil tornou-se um país moderno apenas na e com a república, enfrentando todos os problemas e desafios tanto de sua modernização quanto de sua época.

Voltamos agora ao início do texto. As comemorações do bicentenário da transferência da família real portuguesa para o Brasil têm sido utilizadas por alguns grupos e movimentos sociais para denegrir a república (tanto no que se refere ao seu conceito quanto no que se refere à história republicana do Brasil) e exaltar a monarquia, chegando mesmo a propor uma reacionária9, ultra-romântica e anacrônica volta do regime monarquista ao país como solução para os problemas nacionais. Ora, como se viu, tanto o conceito de república é superior ao de monarquia quanto a monarquia no Brasil não teve uma boa história. Os defensores desse projeto alucinado são os descendentes de Pedro II, que afirmam ser os “herdeiros da casa real brasileira” – como se, na inverossímil hipótese de o Brasil retornar 120 anos em sua história, devessem ser eles os escolhidos para reinar no país10.

Uma outra manifestação de apologia à monarquia e de desrespeito às instituições republicanas foi a reportagem, com chamada de capa, que a revista Veja publicou em sua edição n. 2.034, precisamente na véspera da comemoração da Proclamação da República, em 14 de novembro de 2007 (Gryzinski, 2007). Há bem mais de uma década essa revista lidera uma campanha de oposição jornalística à esquerda em geral e ao Partido dos Trabalhadores em particular – campanha que se acentuou a partir de 2002, com a eleição e, depois, a reeleição como Presidente da República de Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, a capa apresentava uma montagem de Pedro II portando a faixa presidencial, símbolo do Presidente da República, com uma chamada no sentido que o segundo imperador do Brasil fora um governante superior a qualquer um dos presidentes da República e mais republicano que eles. A reportagem, escrita por Vânia Gryzinski, era cheia de lugares-comuns e afirmações inócuas a respeito de Pedro II, mais interessantes como anedotas e curiosidades pessoais. Sua importância, todavia, consistia no ataque indireto ao Presidente Lula, a partir da afirmação disparatada e inverídica de Pedro II teria sido mais republicano que os republicanos: com essa afirmação, a revista procurava sugerir que Lula é um mal Presidente e que descura do caráter republicano de seu governo. Todavia, enquanto o alvo procurado era indireto e consistia no Presidente Lula, o atingido direta e claramente foi a própria República, que teve toda a sua história desqualificada com um único golpe de caneta. Como vimos, nem Pedro II nem a monarquia tiveram outros méritos além da fundação eventual de algumas escolas superiores, da manutenção da unidade nacional, de uma guerra violentíssima no Cone Sul, na manutenção ativa da escravidão e na manutenção ativa do atraso e do subdesenvolvimento brasileiro; como a monarquia é um governo pessoal, a responsabilidade do Imperador por todas essas falhas foi pessoal: ele foi o culpado por elas.

A República no Brasil não foi e não é um regime perfeito; mantêm-se vários problemas sociais, políticos e econômicos e sua história não é propriamente um exemplo de estabilidade: mas isso está longe de igualá-la ou torná-la inferior ao Império. Na verdade, é possível indicarmos uma série de presidentes da República que foram superiores a Pedro II: Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Afonso Pena, Juscelino Kubitschek, o segundo Getúlio Vargas (1951-1954)... sob certos aspectos, poderíamos incluir aí também José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

O alvo da revista Veja era o Presidente Lula, mas o atingido foi a República. Talvez o periódico tenha querido causar impacto e, quem sabe, provocar alguma reflexão a partir do choque que uma comparação inusitada – mas inverídica do ponto de vista histórico e enganosa em termos conceituais – produz.

Essas são interpretações generosas que concedem o benefício da dúvida à revista – uma revista que, diga-se de passagem, não costuma ser nem generosa nem conceder esse tipo de benefício. Ao contrário: as matérias relativas às chamadas de capa da revista são tudo, menos sutis; suas afirmações são taxativas e devem ser entendidas literalmente. Dessa forma, o que a revista Veja acintosamente fez foi homenagear um monarca na Semana da República; valorizou a monarquia, desqualificou ou desprezou a experiência histórica republicana do Brasil e ignorou as particularidades conceituais e políticas da República. Em suma, estou chocado: não sabia que Veja é monarquista!

blica, que teve toda a sua histte Lula, quem foi atingido a afirmaçartir da afirmaç

IV. SAUDADES ROMÂNTICAS DA MONARQUIA

A monarquia é objeto de sentimentos nostálgicos, devidos por um lado à mistificação da realidade histórica e, por outro lado, devido ao apelo romântico que a idéia de “rei” traz ao imaginário popular. Como já comentamos as distorções da história nacional, é importante comentar o efeito da palavra “rei” no imaginário popular.

IV.1. Das ficções à realidade

Em primeiro lugar, ao falarmos em rei pensamos em épocas áureas da história da humanidade, com cavaleiros lutando em batalhas longínquas em nome de ideais elevados, por vezes a fé católica, por vezes o amor de uma donzela, por vezes a integridade nacional. Além disso, o título nobiliárquico de “rei” (e todos os demais: príncipe, duque, marquês, barão, conde, visconde, cavalheiro) indica uma posição social diferenciada, superior, por direito de sangue. Todo esse imaginário integra as narrativas dos contos de fada, dos livros e filmes de capa-e-espada; por definição, são a-históricos, no sentido de que só se pode pensar neles se se abstrair da realidade presente, qualquer que ela seja. Mas assim como essas histórias são válidas como ficcionais, também o são as histórias de terror, de detetives, as histórias fantásticas, as narrativas mitológicas e assim por diante. Assim, a valorização da monarquia – ou, sendo mais precisos: dos títulos nobiliárquicos – corresponde a um traço característico das obras ficcionais, isto é, sua a-historicidade.

Esse caráter a-histórico torna-se anti-histórico e simplesmente confuso quando se mistura a ficção do conto de fadas ou da história de cavalaria com as realidades social e política atuais. O romantismo é o mesmo, mas a aplicação de valores a esferas radicalmente distintas é de um pernicioso anacronismo: o seu melhor exemplo são as revistas que tratam das “personalidades” e as “colunas sociais”, em que se esmiúçam as futilidades do dia-a-dia das pessoas que vivem sob holofotes. Esse anacronismo é pernicioso, mas tem uma origem romântica – na medida em que idealiza para as camadas baixas da sociedade a existência das camadas “superiores” da sociedade (superiores em termos de renda e de poder político e “superiores” como moralmente melhores): esse romantismo é sua desculpa e sua justificativa.

Uma forma de anacronismo anti-histórico que não possui desculpa alguma e que, por isso mesmo, é mais pernicioso, é o hábito que jornalistas e redatores de revistas têm de usar os títulos nobiliárquicos para referirem-se aos descendentes da antiga nobreza, em particular dos de Pedro II. Lê-se em jornais de “centro” e de “direita” referências a “sua alteza, o Príncipe fulano de tal”, ou a “sua alteza, a herdeira do trono imperial do Brasil, beltrana de tal” – e por aí vai. Os jornais e revistas periódicos têm a pretensão de serem informativos; ao usarem esses títulos supostamente descrevem a realidade. O problema é que essa não é a realidade: como o Brasil é uma república, não há títulos nobiliárquicos, nem eles implicam nenhum direito social, político ou civil como implicavam até a madrugada de 15 de novembro de 1889. Os jornalistas e editorialistas que adotam essas expressões rendem-se abjetamente ao romantismo da Idade Média, negando na prática o conceito de cidadania – exclusivamente republicano – da igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

Nesse caso, poder-se-ia objetar que os títulos nobiliárquicos são “apenas palavras”. O problema aqui é que as palavras exprimem idéias e conceitos e, mais importante, como argumentaram com propriedade Augusto Comte e os filósofos analíticos, as palavras que utilizamos influenciam em nossa percepção da realidade, sendo parcialmente responsáveis pela “constituição do real”. Dessa forma, os jornalistas e editorialistas que usam os títulos nobiliárquicos, com um único golpe, negam os conceitos correlatos de república e de cidadania e “constroem” uma realidade monarquista no Brasil. Se lembrarmos o chavão segundo o qual a imprensa é o “quarto poder”, perceberemos que essas alterações semânticas não são pouca coisa.

IV.2. Superioridade moral dos “valores nobiliárquicos”

A segunda forma que legitima a palavra “rei” no imaginário popular é a que afirma que a monarquia, ou melhor, a nobreza é possuidora de valores superiores aos da burguesia; por extensão, afirma-se que o feudalismo é superior ao que se chama capitalismo. Embora alguns teóricos revelem ou sugiram essa percepção – o caso paradigmático é, talvez, o do francês oitocentista Alexis de Tocqueville –, as telas do cinema apresentaram nos últimos anos uma versão acabada desse tipo de crítica, no filme O último samurai (The Last Samurai), protagonizado pelo astro Tom Cruise. A história do filme é a seguinte: um coronel do exército estadunidense é convicto da correção dos valores militares de honra e abnegação, mas após presenciar e perpetrar horrores durante a Guerra da Secessão, desilude-se com sua carreira e entrega-se a exibições circenses de suas habilidades bélicas e marciais. Eis que surge a oportunidade de treinar um novo e moderno exército imperial para o Japão. Quem organiza esse novo exército – cuja lógica baseia-se na racionalidade, na eficiência, na hierarquia – são capitalistas, que desejam industrializar o país, explorar as massas camponesas proletarizadas e fazer a guerra no exterior para aumentar seus lucros, a massa de trabalhadores explorados e os mercados consumidores. É claro que esses capitalistas japoneses são como quaisquer outros capitalistas: sedentos de lucro, vis e sem honra, embora polidos, bem trajados, gordos e risonhos. Opõem-se à modernidade sem honra e capitalista os samurais remanescentes do Japão feudal, que lutam pela honra e pelo estilo de vida japonês tradicional. (O filme narra a lenta recuperação do sentido de honra pelo coronel estadunidense e sua adesão aos “verdadeiros” valores, que são os da nobreza japonesa. O filme termina de maneira trágica, com o massacre de todos os samurais – exceto um (daí o título da obra), evidentemente o estadunidense – e a vitória militar, política e social da burguesia.)

Esse tipo de raciocínio é mais virulento contra o que se chama de capitalismo que contra a república em si, mas a facilidade (e a banalidade) das críticas ao capitalismo respingam na república. Vários autores dos séculos XVIII e XIX indicaram que as sociedades antigas (Grécia, Roma, Idade Média) eram sociedades de guerreiros, que viviam (e morriam) pela honra; as sociedades modernas buscam a paz e o conforto material, em civilizações que se baseiam na produção industrial secundada pelo conhecimento científico: essas são as opiniões que vão de Robert Fergusson a Augusto Comte, Tocqueville e Durkheim, passando pelo barão de Montesquieu. Ora, não é difícil passar das “sociedades industriais” para o “capitalismo”, nem do “conforto pacífico” para a vida desalmada, vil e sem honra. A crítica ao capitalismo encontra aí o elogio à e a saudade da Idade Média11: nada mais enganoso, nada mais perigoso.

Enganoso porque, mais uma vez, há uma idealização da Idade Média, sem que haja a percepção de que se trata de algo idealizado e não da realidade histórica. O que se vê no filme e nesse gênero de críticas é a afirmação, explícita ou sugerida, de que a vida pela honra é mais harmoniosa e completa que a vida que não seja pela honra; além disso, afirma-se ou sugere-se que as “sociedades da honra” são mais justas e estáveis que as sociedades do conforto e da indústria. Ora, como é possível que uma vida pautada pela guerra seja propriamente harmoniosa, completa, justa ou estável? Com a possível exceção de sua completude por assim dizer vital, as sociedades guerreiras não costumam ser nem harmoniosas, nem justas, nem estáveis, pelo simples motivo de que estão em constante movimento contra outras sociedades, de caracteres semelhantes ou não. Embora as virtudes cavalheirescas de moderação e autocontrole sejam possíveis, igualmente é possível – na verdade, é mais possível ainda – que vijam as virtudes guerreiras da força e da beligerância. O cavalheirismo, diga-se de passagem, só se torna um valor difundido se ocorre a ação temperante de um poder Espiritual, que subordina a violência guerreira a objetivos outros que não a conquista e a morte de outros e a honra de grupos particulares.

Se pensarmos na constituição da Idade Média européia, essas sociedades da honra constituíram-se a partir do momento em que uma civilização que começou da honra mas que passou a do conforto desagregou-se e deixou de existir: em outras palavras, a honra medieval só foi possível porque os grupos “bárbaros” ajudaram a demolir o Império romano – e, mesmo assim, renderam homenagens à civilização romana.

Por outro lado, a sociedade da honra medieval constituiu-se após longos séculos de desordem civil e moral na Idade Média. Até que se estabilizassem, essas sociedades da honra não seriam eventualmente tomadas como exemplares, como dignas de respeito, admiração e imitação, mas, ao contrário, como exemplos a serem repudiados, rejeitados, evitados e, se possível, destruídos (pela sua morte, pela sua conversão ou pela sua incorporação aos hábitos “civilizados”). Se se concedem, ainda que sub-repticiamente, generosidade secular às sociedades da honra, por que não se concede a mesma generosidade às sociedades do conforto? Por que umas puderam ter séculos de selvageria antes de tornarem-se modelares e as outras não gozam da mesma indulgência?

V. COMENTÁRIOS FINAIS

Como vimos ao longo deste texto, podemos fazer uma série de considerações a respeito do bicentenário da transferência da família real portuguesa para o Brasil. A comemoração em si não implica negação da república ou afirmação dos valores sociais e políticos próprios seja à monarquia, seja à Idade Média. Todavia, não apenas é fácil e simples deslizar da comemoração para as críticas e os elogios anti-republicanos, como devemos aproveitar a efeméride para, além de pensarmos na importância histórica que teve o evento, lembrarmo-nos, refletirmos e reafirmarmos o conceito de república no Brasil. Caso contrário, essa comemoração será destituída de sentido ou poderá mesmo ser daninha para a república, isto é, para a cidadania.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CARNEIRO, D. 1977. A vida gloriosa de José Bonifácio de Andrada e Silva e sua atuação na independência do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

CARVALHO, J. M. 2003. A construção da ordem – teatro das sombras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

COLOMBO, S. 2007a. “O Brasil não existiria”, afirma Carvalho. Folha de S. Paulo, 25.nov., caderno “Mais!”.

_____. 2007b. “Isso é armação de carioca”, diz Cabral de Mello. Folha de S. Paulo, 25.nov., caderno “Mais!.

COMTE, A. 1890. Système de politique positive ou traité de Sociologie instituant la Religion de l’Humanité. 3ème ed. 4 v. Paris: Larousse.

COMTE, A. 1899. Apelos aos conservadores. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil.

CROUZET, M. (org.). 1995. História geral das civilizações. V. 3: Roma e seu império. O Ocidente e a formação da unidade mediterrânea. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil.

GRYZINSKI, V. 2007. O rei e nós. Veja, São Paulo, n. 2034, 14.nov. Disponível em: http://veja.abril.com.br/141107/p_108.shtml. Acesso em: 30.nov.2007.

LIMONGI, F. 2006. “O federalista”: remédios republicanos para males republicanos. In: WEFFORT, F. (org.). Os clássicos da política. V. 2. 14ª ed. São Paulo: Ática.

MAQUIAVEL, N. 2005. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. 2ª ed. Brasília: UNB.

MARX, K. & ENGELS, F. s/d. Manifesto do Partido Comunista. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/img/obras/bibliomarx.asp. Acesso em: 23.jul.2006.

NEMO, P. 2005. Que é o Ocidente? São Paulo: M. Fontes.

NICOLET, C. 1994. L’idée républicaine en France (1789-1924). 2e ed. Paris: Gallimard.

PETTIT, P. 1997. Republicanism: A Theory of Freedom and Government. Oxford: Oxford University.

PETTIT, P. 2007. Resposta. Mensagem eletrônica enviada a Gustavo Biscaia de Lacerda em 24.jun.

ROULAND, N. 1997. Roma – democracia impossível? Brasília: UNB.

SANDEL, M. 1982. Liberalism and the Limits of Justice. Cambridge: University of Cambridge.


1 Gostaria de agradecer ao amigo Tiago Losso pelo incentivo na redação deste artigo.

2 Essa continuidade entre o “antigo regime”, colonial ou de reino unido, e o “novo regime”, de país independente, integra uma das mais ásperas polêmicas que se tem visto na historiografia brasileira. De um lado estão os historiadores das regiões Norte-Nordeste favoráveis à descontinuidade ou aos possíveis benefícios que a descontinuidade política traria então ao Brasil, a começar pela república e pelo pluralismo político e “ideológico”: o pernambucano Evaldo Cabral de Mello é o melhor representante dessa corrente. Por outro lado, estão autores do Sudeste e do Sul, mais próximos ao Rio de Janeiro e que valorizam a unidade nacional e o lançamento dos fundamentos do Estado nacional brasileiro: o mais famoso autor dessa corrente é o mineiro radicado no Rio de Janeiro, José Murilo de Carvalho (cf. COLOMBO, 2007a; 2007b).

3 A língua inglesa permite um interessante esclarecimento do estatuto jurídico dos súditos. A palavra “subject” significa ao mesmo tempo “súdito” e “sujeito” (no sentido de “subordinado”), revelando uma coincidência não fortuita entre as idéias de “ser súdito” e “estar sujeito” à vontade real.

4 A coincidência de datas é reveladora de diferenças substantivas: ao mesmo tempo que Roma iniciava sua república, Atenas vivia o esplendor de sua democracia. Mas, face ao seu valor contemporâneo, convém não idealizarmos favoravelmente demais a democracia ateniense em detrimento da república romana: afinal de contas, Atenas, como a Grécia antiga de modo geral, era uma cidade profundamente xenófoba e com preconceitos de sangue (“étnicos”, poderíamos dizer), em que participavam da vida política apenas os homens, excluindo aí os estrangeiros, as mulheres e, claro, a gigantesca massa de escravos (considerados bárbaros e inumanos). Essas características jamais mudaram ao longo da história grega (e, em particular, ateniense). Roma, ao contrário, ampliou gradativamente a franquia política, incluindo os cidadãos das classes baixas, os estrangeiros e os escravos libertos; além disso, enquanto de Atenas não se houve falar das mulheres dos políticos, a respeito de Roma são numerosas as referências a filhas, esposas, mães etc. dos políticos que tinham importância política (ainda que a titularidade política fosse exclusiva do gênero masculino). Finalmente: o Estado de Direito e o due rule of law, embora não existissem com esses nomes nem fossem teorizados como se faz hoje em dia, foram invenções romanas, a que se contrapõe a onipotente, ilimitada e “desvairada” democracia ateniense (CROUZET, 1995, cap. 5; NEMO, 2005, cap. 2).

5 A bem do rigor histórico, houve repúblicas antes das provenientes da “época das revoluções”: pensamos nas repúblicas italianas, elogiadas por Maquiavel. Essas experiências deram origem, nos dias atuais, a uma tradição teórica que enfatiza a participação virtuosa dos cidadãos na vida política: é o chamado “humanismo cívico” (MAQUIAVEL, 2005), a que se associa a teorização das virtudes políticas do apego às comunidades locais, o “comunitarismo” (cf. SANDEL, 1982). São tradições sérias e respeitáveis, que, sem negar os postulados teóricos que apresentamos aqui, também não concorrem exatamente para apoiá-los – daí não os tratarmos no corpo do texto.

6 A obra de Pettit, a despeito de seus grandes méritos na teorização da política, padece de certo formalismo, ao aceitar o sentido fraco do conceito de república para poder aplicar a sua própria definição aos mais variados países. Assim, para ele, não existe um “regime republicano”, mas apenas “liberdades e práticas republicanas” (cf. PETTIT, 2007).

7 Foi uma ironia histórica o fato de que Pedro I renunciou ao poder absoluto no Brasil para disputar o poder em Portugal (como Pedro IV), não em nome do absolutismo, mas contra ele e seu irmão Miguel: de perseguidor dos liberais brasileiros, Pedro de Alcântara passou a campeão dos liberais lusos.

8 Não deixa de ser sintomático que essa guerra criou um ambiente político e intelectual cujos resultados incluíram a criação do Partido Republicano e na proclamação da República, décadas depois.

9 Talvez alguns considerem o adjetivo “reacionário” um exagero, mas não é. À parte o fato de que o retorno à monarquia seria, em si, reacionário, alguns dos descendentes de Pedro II são porta-vozes de uma das alas mais conservadoras e antimodernas da medieval Igreja Católica – a organização chamada Tradição, Família e Propriedade, a famigerada TFP.

10 Essa idéia deriva-se do conceito de “legitimidade”. Mas, de fato, por que essa família e não outra qualquer deveria assumir esse trono? Afirmar que eles constituiriam uma dinastia diz pouco, na medida em que as dinastias reais e imperiais, ao longo da história, sucederam-se ao sabor das conjunturas e dos momentos. Mesmo na pátria do conceito de “legitimidade real”, por exemplo, isso ocorreu: na França de 1871 havia nada menos que três “casas reais” disputando o trono em um eventual retorno à monarquia. A subordinação da legitimidade real aos sabores dos momentos ocorre da mesmíssima forma em monarquias atualmente existentes e consideradas “sólidas”, como a inglesa, a espanhola, a monegasca e a holandesa.

11 A despeito de suas críticas ao capitalismo, Marx era favorável à modernidade e não fez coro aos elogios saudosistas da Idade Média, característicos de algumas formas de socialismo, como se pode ver em O manifesto do Partido Comunista (MARX & ENGELS, s/d).

20 março 2008

Sobre o livro "Breve história da ciência moderna", v. 4

O texto abaixo corresponde a uma carta que escrevi aos autores da coleção "Breve história da ciência moderna", referente aos comentários que eles fizeram no volume 4 dessa coleção, intitulado "A belle-époque da ciência (século XIX)".

* * *
Caros Marco Braga, Andréia Guerra e José Cláudio Reis:

Li o seu recém-lançado livro sobre a história da ciência, volume 4, correspondente ao século XIX. O que me interessou nele foi a referência a Augusto Comte e ao Positivismo.

Considerando que a coleção que vocês escrevem é didática e de introdução à ciência e à história da ciência, não faz muito sentido dedicar páginas demais a cada escola ou corrente; além disso, o resumo que vocês fizeram da obra de Comte foi correto, embora bastante tradicional.

Todavia, tenho algumas observações sobre seus comentários no último parágrafo do capítulo dedicado ao Positivismo, em que vocês afirmam que o ideal de estudar cada ciência a partir dos mais recentes avanços é comtiano, desprezando, assim, a história da(s) ciência(s) em nome de alguma coisa como uma "pureza" científica e antimetafísica:

1. pura e simplesmente, Augusto Comte foi o fundador não somente da Sociologia (pelo que ele é mais conhecido), como, principalmente para o presente objetivo, da História das Ciências. TODA a obra de Comte é uma afirmação da inalienável importância do estudo da história das ciências para a compreensão de cada ciência em particular e das formas de pensamento humano em geral.

1.1. Na verdade, pode-se ler logo no início de uma das poucas obras comtianas vertidas para o português a afirmação segundo a qual "só se entende verdadeiramente um conceito se se conhece a história desse conceito".

1.2. Afirmando a importância da história das ciências, ele propôs ao governo francês, no início da década de 1830, a criação de tal disciplina na Sorbonne ou no Collège de France - proposta que foi rejeitada por Guizot, sob a justificativa de que seria inoportuno politicamente - isto é, poderia esclarecer o povo e causar transtornos.

1.3. O curso de História das Ciências só foi aceito e reconhecido na III República, proclamada em 1870.

1.3.1. A III República teve grande influência do Positivismo comtiano, como se pode perceber na ação de Léon Gambetta e de Jules Ferry, além dos republicanos dreyfusistas.

1.3.2. A cadeira de História das Ciências foi criada em 1892 e ocupada pelo discípulo direto de Comte, Pierre Laffitte, de acordo com o planejamento comtiano (cf. http://www.college-de-france.fr/media/lis_prf/UPL45507_LISTE_DES_PROFESSEURS.pdf).

1.4. Durante mais de 25 anos Comte ministrou um curso popular, gratuito, de Astronomia. Esse curso era sem dúvida teórico, mas fortemente histórico.

1.5. Na relação de livros que Augusto Comte recomendava aos positivistas do século XIX para terem uma instrução moral, política, científica e artística, ele incluía, por exemplo, a "História da Astronomia", de Adam Smith, como tendo um caráter exemplar para o estudo da humanidade.

2. Face ao exposto acima - facilmente comprovável em qualquer obra de Augusto Comte -, eu não sei de onde vocês tiraram uma tal afirmação.

2.1. Essa afirmação parece ser o tipo de repetição de outras fontes, que repetem outras fontes, que repetem outras fontes - e assim sucessivamente, sem que se determine a referência original. Nada menos científico; nada mais imbuído de preconceitos.

2.1.1. A referência primeira desse preconceito, evidentemente, estava ou está imbuída de má-fé; os seus repetidores, idem.

2.2. Comte afirmava com todas as letras que a melhor maneira de combater a metafísica - e, claro, antes disso, também a teologia - era precisamente estudar as ciências e suas histórias.

3. Os positivistas jamais foram favoráveis a "manuais", no sentido das atuais apostilas, para o ensino das ciências.

3.1. A proposta de ensino das ciências por meio de apostilas, como se isso fosse suficiente para entender a ciência, se foi devida a algum "positivismo", deve ser procurada nos adeptos do Círculo de Viena, não em Comte.

3.1.1. Como vocês são historiadores da ciência, não parece necessário reafirmar que não há relações entre Comte e o Círculo de Viena, exceto no que se refere à rejeição da metafísica.

3.2. É de esperar-se que não haverá nenhuma referência desse tipo no volume 5 da coleção.

4. O estudo histórico e teórico das ciências, para Comte, era uma forma de humanização do ser humano, no duplo sentido de 1) afastar-se tanto da teologia quanto da metafísica e aproximar-se da positividade e 2) de tornar-se mais "positivo", conforme definido no "Apelos aos conservadores" (real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático).

4.1. Em outras palavras, estudar a história das ciências integrava o projeto religioso de Comte.

5. Uma das coisas que mais espanta nessa afirmação é o fato de vocês serem cariocas.

5.1. No Rio de Janeiro há a Igreja Positivista do Brasil e numerosos positivistas, que poderiam elucidar, comentar e explicar o ponto em questão.

5.2. Vocês são professores do Colégio D. Pedro II. Pois bem: foi professor de Química nesse colégio, com orgulho e por muitas e muitas décadas, o sr. Rubem Descartes de Garcia Paula. O sr. Rubem Descartes era um dos mais ativos positivistas. O comentário em questão não faz justiça nem a ele nem à escola em que vocês lecionam.

06 março 2008

Colômbia, Venezuela e guerra na América Latina

Devido à seriedade da situação política por que atravessa a América do Sul, desvio o objetivo básico deste blogue para tratar desse tema.

Gustavo.

* * *

Colômbia, Venezuela e guerra na América Latina

Ricardo Costa Oliveira e Gustavo Biscaia de Lacerda

A crise deflagrada entre a Colômbia e o Equador no último domingo, dia 2 de março, devido às suas inesperadas repercussões e à efetiva possibilidade de deflagração geral, exige algumas reflexões.

No dia 2 de março o exército colombiano invadiu o território equatoriano, em busca de membros da guerrilha narcotraficante Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, que há mais de quatro décadas mantém a Colômbia em guerra civil e há mais de dez anos pratica diversos crimes e violações dos direitos humanos para manter-se intocável; a excursão colombiana no Equador teve sucesso, com a morte do suposto vice-líder e porta-voz das FARC, Raúl Reyes. Por outro lado, um terceiro país – a Venezuela – sentiu-se ofendido pela ação colombiana e, acusando a Colômbia de cumprir ordens dos Estados Unidos, cortou imediatamente relações diplomáticas com a Colômbia e está prestes a entrar em guerra, que envolverá o Brasil e, possivelmente, outros países sul-americanos.

Pois bem: nesse cenário, vários comentaristas têm afirmado que a responsabilidade pela crise e pela possível conflagração é da Colômbia, silenciando a respeito de outros aspectos. Em primeiro lugar, afirma-se que, com o apoio dos Estados Unidos ao combate ao narcotráfico, via Plano Colômbia, iniciou-se uma corrida armamentista na região e, além disso, a Colômbia seria uma espécie de quinta-coluna na América do Sul. Ora, se a Colômbia tivesse iniciado uma corrida armamentista, haveria um aumento generalizado nos gastos militares na região desde o início do apoio dos Estados Unidos ao combate ao narcotráfico, há mais de uma década – mas isso não ocorre. O que vemos é um aumento 1) unilateral do armamento venezuelano 2) desde há uns quatro ou cinco anos: como, então, "corrida armamentista" "causada pela Colômbia"?

O editorial do jornal O Estado de S. Paulo de 4 de março informa algo importante para a compreensão do problema: logo após a morte de Raúl Reyes, o próprio Presidente colombiano Álvaro Uribe telefonou para o Presidente equatoriano Rafael Correa, informando em primeira mão o Equador do incidente e – note-se – da existência das FARC no território do Equador. A reação de Correa, relata o jornal, foi tranqüila, agradecendo a informação e a comunicação de alto nível. O curioso é que, em seguida, Rafael Correa recebeu um telefonema do Presidente da Venezuela, o Coronel Hugo Chávez – o mesmo que não tem nada a ver com o problema mas que decidiu dever declarar guerra à Colômbia. Após esse telefonema, indica ainda O Estado de S. Paulo, a postura de Correa mudou drasticamente, tornando-se beligerante. Iniciou-se aí a atual crise.

Mas vejamos a situação de cada um dos atores envolvidos.

A Colômbia entrou em território equatoriano, sem aviso prévio e sem autorização das autoridades locais. Isso foi, sem dúvida, uma violação da soberania do outro país. A Colômbia, portanto, errou ao violar a soberania do Equador, o que é reconhecido por todos e foi discutido na seção emergencial da Organização dos Estados Americanos, a OEA, convocada para tratar da questão. O problema é o significado e o estatuto das FARC na região e a passagem deste grupo para os países fronteiriços à Colômbia. Há indícios de que as FARC mantêm contatos com os governos desses países, em particular a Venezuela; por outro lado, essa organização tornou-se produtora de cocaína e adota práticas terroristas para financiar-se e manter-se intocável.

Em 1991 as FARC atacaram o Brasil e mataram soldados brasileiros no Rio Traíra. Em 1999 a Colômbia violou momentaneamente a soberania brasileira, em Mutu, e foi advertida. Não estamos mais na Guerra Fria, em 1967. O governo brasileiro e todas as democracias da América do Sul têm que se posicionar a respeito do estatuto político das FARC. A União Européia classifica o grupo como terrorista e serve como indicador disso as relações das FARC com gente como Fernandinho Beira-Mar. O Brasil não admite a presença armada das FARC em seu território e se detectados, como em 1991, serão imediatamente exterminados. O governo brasileiro vendeu os aviões Super Tucano para a Colômbia, equipamento utilizado no combate às FARC, o que é positivo e legal.

Entrando no cerne da questão, quem pode incendiar o continente é Chávez, um caudilho irresponsável que iniciou uma corrida armamentista. Sua popularidade tem declinado – foi derrotado em um recente e importante plebiscito –, devido a problemas políticos e econômicos: acusações de restrições à liberdade de opinião e de imprensa, poderes ditatoriais, aumento da inflação. A confusa ideologia chavista é o bolivarianismo, respaldada no universo simbólico e farsesco do caudilhismo hispânico, tradicional inimigo histórico do Brasil. (Lembremo-nos de Artigas, Oribe, Rosas, Aguirre, Solano Lopez. O Brasil teve que cuidar de cada um deles com carinho, ao longo da nossa história política.) Assim, a ação de Chávez tem todos os indícios da tradicionalíssima tática de criar uma guerra (externa) para acalmar os ânimos internos.

Não há como não suspeitar das negociações diretas de Chávez com as FARC, que, além de tudo, desrespeitam a soberania colombiana ao ignorar solenemente as instituições legítimas desse país. Mais: os constantes ataques de Chávez às instituições dos outros países, aí incluído o Brasil, são atentados à soberania desses outros países? Será salutar a compra maciça de papéis das dívidas externas de inúmeros países latino-americanos pela Venezuela? Será que só é "imperialismo" se for "ianque" ou "tupiniquim"? (A despeito de sua inflamada retórica contrária aos Estados Unidos, a Venezuela mantém-se como o mais importante fornecedor de petróleo latino-americano para a superpotência e os Estados Unidos são o mais importante mercado para a principal riqueza venezuelana.)

Quem é que atacou instalações da Petrobrás ultimamente, sob influência de quem? Os Estados Unidos apresentam visível declínio, o dólar está em queda livre mundial e estão atolados nas guerras do Iraque e o Afeganistão. Os Estados Unidos nunca foram tão importantes no Brasil como são no México, na América Central, na Europa Ocidental e no Japão, países que perderam guerras para os Estados Unidos ou que dependem deles para o comércio e para a defesa. O Brasil é diferente do México ou da Nicarágua. O Brasil deve analisar a conjuntura da América do Sul e não pensar em tigres de papel nesta altura do campeonato: a Bolívia está em rápida decomposição política e um cenário de guerra civil é possível a médio prazo. O Paraguai é outro vizinho que deve ser analisado cuidadosamente: o que seria a influência do bolivarianismo demagógico radical em um vizinho com o Tratado de Itaipu e a grande hidrelétrica, qual o papel dos brasiguaios, o comércio em Foz do Iguaçu?

O Brasil deve defender a democracia plural, as instituições democráticas, a rotatividade no poder, a liberdade de expressão e principalmente um cenário de entendimento e de diálogo internacional. Todavia, ao contrário disso, embora tenha feito importantes gestões para que a crise resolva-se de maneira multilateral, no âmbito da OEA, a diplomacia brasileira limitou-se até o momento a criticar pesadamente a Colômbia e omitiu a atuação das FARC em termos políticos e de direitos humanos e seu estatuto jurídico. Ao proceder assim, o Brasil apenas faz coro à gritaria geral. Alguns observadores notaram que a proximidade política e ideológica do Presidente Lula com Hugo Chávez prejudicou a legitimidade brasileira em uma possível atuação como mediador nessa crise, por não sermos considerados imparciais: não é à toa que a Colômbia procurou na Europa possíveis mediadores.

Ainda estamos assistindo ao desenrolar dos acontecimentos, mas, como argumentou o Profº Oliveiros Ferreira (http://www.oliveiros.com.br/), é possível desde já perceber que os grandes ganhadores dessa situação são as FARC e Hugo Chávez e que a grande perdedora é a Colômbia.

Ricardo Costa Oliveira (rco2000@uol.com.br) é Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e Professor de Ciência Política na UFPR.

Gustavo Biscaia de Lacerda (gblacerda@ufpr.br) é Doutorando em Sociologia Política pela UFSC e Sociólogo da UFPR.

13 fevereiro 2008

Calendário positivista para um ano qualquer ou quadro concreto da preparação humana

1º – Moisés

A teocracia inicial

Lunedia

1

Prometeu

Cadmo

1.jan.

Martedia

2

Hércules

Teseu

2

Mercuridia

3

Orfeu

Tirésias

3

Jovedia

4

Ulisses


4

Venerdia

5

Licurgo


5

Sábado

6

Rômulo


6

Domingo

7

Numa


7

Lunedia

8

Bei

Semiramis

8

Martedia

9

Sosôstris


9

Mercuridia

10

Manu


10

Jovedia

11

Ciro


11

Venerdia

12

Zoroastro


12

Sábado

13

Os druidas

Ossian

13

Domingo

14

Buda


14

Lunedia

15

Fo-hi


15

Martedia

16

Lao-tsé


16

Mercuridia

17

Meng-tsé


17

Jovedia

18

Os teocratas do Tibete


18

Venerdia

19

Os teocratas do Japão


19

Sábado

20

Manco Capac

Tamehameha

20

Domingo

21

Confúcio


21

Lunedia

22

Abraão

José

22

Martedia

23

Samuel


23

Mercuridia

24

Salomão


24

Jovedia

25

Isaías

Davi

25

Venerdia

26

São João Batista


26

Sábado

27

Arun-al-Rachid

Abdraman III

27

Domingo

28

Maomé


28


2º – Homero

A poesia antiga

Lunedia

1

Hesíodo


29.jan.

Martedia

2

Tirteu

Safo

30

Mercuridia

3

Anacreonte


31

Jovedia

4

Píndaro


1.fev.

Venerdia

5

Sófocles

Eurípedes

2

Sábado

6

Teócrito

Longo

3

Domingo

7

Ésquilo


4

Lunedia

8

Escopas


5

Martedia

9

Zeuxis


6

Mercuridia

10

Ictino


7

Jovedia

11

Praxíteles


8

Venerdia

12

Lisipo


9

Sábado

13

Apeles


10

Domingo

14

Fidias


11

Lunedia

15

Esopo

Pilpai

12

Martedia

16

Plauto


13

Mercuridia

17

Terêncio

Menandro

14

Jovedia

18

Fedro


15

Venerdia

19

Juvenal


16

Sábado

20

Luciano


17

Domingo

21

Aristófanes


18

Lunedia

22

Ênio


19

Martedia

23

Lucrécio


20

Mercuridia

24

Horácio


21

Jovedia

25

Tíbulo


22

Venerdia

26

Ovídio


23

Sábado

27

Lucano


24

Domingo

28

Virgílio


25


3º – Aristóteles

A filosofia antiga

Lunedia

1

Anaximandro


26.fev.

Martedia

2

Anaxímenes


27

Mercuridia

3

Heráclito


28

Jovedia

4

Anaxágoras


1.mar.

Venerdia

5

Demócrito

Leucipo

2

Sábado

6

Heródoto


3

Domingo

7

Tales


4

Lunedia

8

Sólon


5

Martedia

9

Xenófanes


6

Mercuridia

10

Empédocles


7

Jovedia

11

Tucídides


8

Venerdia

12

Arquitas

Filolau

9

Sábado

13

Apolônio de Tiana


10

Domingo

14

Pitágoras


11

Lunedia

15

Aristipo


12

Martedia

16

Antístenes


13

Mercuridia

17

Zeno


14

Jovedia

18

Cícero

Plínio, o Jovem

15

Venerdia

19

Epiteto

Arriano

16

Sábado

20

Tácito


17

Domingo

21

Sócrates


18

Lunedia

22

Xenócrates


19

Martedia

23

Filon de Alexandria


20

Mercuridia

24

S. João Evangelista


21

Jovedia

25

S. Justino

Sto. Irineu

22

Venerdia

26

S. Clemente de Alexandria


23

Sábado

27

Orígenes

Tertuliano

24

Domingo

28

PLATÃO


25


4º – Arquimedes

A ciência antiga

Lunedia

1

Teofrasto


26.mar.

Martedia

2

Herófilo


27

Mercuridia

3

Erasístrato


28

Jovedia

4

Celso


29

Venerdia

5

Galeno


30

Sábado

6

Avicena

Averróis

31

Domingo

7

HIPÓCRATES


1.abr.

Lunedia

8

Euclides


2

Martedia

9

Aristeu


3

Mercuridia

10

Teodósio de Bitina


4

Jovedia

11

Heron

Ctesíbio

5

Venerdia

12

Papus


6

Sábado

13

Diofante


7

Domingo

14

APOLÔNIO


8

Lunedia

15

Eudexo

Arato

9

Martedia

16

Píteas

Nearco

10

Mercuridia

17

Aristarco

Beroso

11

Jovedia

18

Eratóstenes

Sosígenes

12

Venerdia

19

Ptolomeu


13

Sábado

20

Albatênio

Nassir-Edin

14

Domingo

21

HIPARCO


15

Lunedia

22

Varrão


16

Martedia

23

Columela


17

Mercuridia

24

Vitrúvio


18

Jovedia

25

Estrabão


19

Venerdia

26

Frontino


20

Sábado

27

Plutarco


21

Domingo

28

PLÍNIO, O VELHO


22


5º – César

A civilização militar

Lunedia

1

Milcíades


23.abr.

Martedia

2

Leônidas


24

Mercuridia

3

Aristides


25

Jovedia

4

Címon


26

Venerdia

5

Xenofonte


27

Sábado

6

Fócion

Epaminondas

28

Domingo

7

TEMÍSTOCLES


29

Lunedia

8

Péricles


30

Martedia

9

Filipe


1.maio

Mercuridia

10

Demóstenes


2

Jovedia

11

Ptolomeu Lago


3

Venerdia

12

Filopêmen


4

Sábado

13

Políbio


5

Domingo

14

ALEXANDRE


6

Lunedia

15

Júnio Bruto


7

Martedia

16

Camilo

Cincinato

8

Mercuridia

17

Fabrício

Régulo

9

Jovedia

18

Aníbal


10

Venerdia

19

Paulo Emílio


11

Sábado

20

Mário

Os Gracos

12

Domingo

21

CIPIÃO


13

Lunedia

22

Augusto

Mecenas

14

Martedia

23

Vespasiano

Tito

15

Mercuridia

24

Adriano

Nerva

16

Jovedia

25

Antonino

Marco Aurélio

17

Venerdia

26

Papiniano

Ulpiano

18

Sábado

27

Alexandre Severo

Aécio

19

Domingo

28

TRAJANO


20


6º – São Paulo

O catolicismo

Lunedia

1

S. Lucas

S. Tiago

21.maio

Martedia

2

S. Cipriano


22

Mercuridia

3

Sto. Atanásio


23

Jovedia

4

S. Jerônimo


24

Venerdia

5

Sto. Ambrósio


25

Sábado

6

Sta. Mônica


26

Domingo

7

STO. AGOSTINHO


27

Lunedia

8

Constantino


28

Martedia

9

Teodósio


29

Mercuridia

10

S. Crisóstomo

S. Basílio

30

Jovedia

11

Sta. Pulquéria

Marciano

31

Venerdia

12

Sta. Genoveva de Paris


1.jun.

Sábado

13

S. Gregório Magno


2

Domingo

14

HILDEBRANDO


3

Lunedia

15

S. Bento

Sto. Antônio

4

Martedia

16

S. Bonifácio

Sto. Ausilau

5

Mercuridia

17

Sto. Isidoro de Sevilha

S. Bruno

6

Jovedia

18

Lanfranc

Sto. Anselmo

7

Venerdia

19

Heloísa

Beatriz

8

Sábado

20

Arquitetos da Idade Média

S. Benezet

9

Domingo

21

S. BERNARDO


10

Lunedia

22

S. Francisco Xavier

Inácio de Loyola

11

Martedia

23

S. Carlos Borromeu

Frederico Borromeu

12

Mercuridia

24

Sta. Teresa

Sta. Catarina de Siena

13

Jovedia

25

S. Vicente de Paula

Abade de l’Epée

14

Venerdia

26

Bourdaloue

Cláudio Fleury

15

Sábado

27

Guilherme Penn

Jorge Fox

16

Domingo

28

BOSSUET


17


7º – Carlos Magno

A civilização feudal

Lunedia

1

Teodorico Magno


18.jun.

Martedia

2

Pelágio


19

Mercuridia

3

Óton, o Grande

Henrique, o Passarinheiro

20

Jovedia

4

Santo Henrique


21

Venerdia

5

Villiers

La Vallete

22

Sábado

6

D. João de Lepanto

João Sobieski

23

Domingo

7

ALFREDO


24

Lunedia

8

Carlos Martel


25

Martedia

9

O Cid

Tancredo

26

Mercuridia

10

Ricardo Coração de Leão

Saladino

27

Jovedia

11

Joana D’Arco

Marina

28

Venerdia

12

Albuquerque

Walter Raleigh

29

Sábado

13

Baiardo


30

Domingo

14

GODOFREDO


1.jul.

Lunedia

15

S. Leão, o Grande

Leão IV

2

Martedia

16

Gebert

Pedro Damião

3

Mercuridia

17

Pedro, o Eremita


4

Jovedia

18

Suger

Sto. Elói

5

Venerdia

19

Alexandre III

Tomás Becket

6

Sábado

20

S. Francisco de Assis

S. Domingos

7

Domingo

21

INOCÊNCIO III


8

Lunedia

22

Sta. Clotilde


9

Martedia

23

Sta. Batilde

Matilde de Toscana

10

Mercuridia

24

Sto. Estevão da Hungria


11

Jovedia

25

Sta. Isabel da Hungria

Mateus Corvino

12

Venerdia

26

Branca de Castela


13

Sábado

27

S. Fernando III

Afonso X

14

Domingo

28

S. LUÍS


15


8º – Dante

A epopéia moderna

Lunedia

1

Os trovadores


16.jul.

Martedia

2

Bocácio

Chaucer

17

Mercuridia

3

Rabelais

Swift

18

Jovedia

4

Cervantes


19

Venerdia

5

La Fontaine

Roberto Burns

20

Sábado

6

Defoe

Goldsmith

21

Domingo

7

ARIOSTO


22

Lunedia

8

Leonardo da Vinci

Ticiano

23

Martedia

9

Miguel Ângelo

Paulo Veronese

24

Mercuridia

10

Holnéia

Rembrandt

25

Jovedia

11

Paussin

Lesueuer

26

Venerdia

12

Velásquez

Murilo

27

Sábado

13

Teniers

Rubens

28

Domingo

14

RAFAEL


29

Lunedia

15

Froissart

Joinville

30

Martedia

16

Camões

Spencer

31

Mercuridia

17

Os romanceiros espanhóis


1.ago.

Jovedia

18

Chateaubriand


2

Venerdia

19

Walter Scott

Cooper

3

Sábado

20

Manzoni


4

Domingo

21

TASSO


5

Lunedia

22

Petrarca


6

Martedia

23

Tomás de Kempis

Luís de Granada

7

Mercuridia

24

Madame de Lafayette

Madame de Stäel

8

Jovedia

25

Fénélon

S. Francisco de Sales

9

Venerdia

26

Klopstock

Gessner

10

Sábado

27

Byron

Elisa Mercœur e Shelly

11

Domingo

28

MILTON


12


9º – Gutenberg

A indústria moderna

Lunedia

1

Marco Polo

Chardan

13.ago.

Martedia

2

Diogo Cœur

Gresham

14

Mercuridia

3

Gama

Magalhães

15

Jovedia

4

Napier

Briggs

16

Venerdia

5

Lacaille

Delambre

17

Sábado

6

Cook

Tasman

18

Domingo

7

COLOMBO


19

Lunedia

8

Benvenuto Cellini


20

Martedia

9

Amontonos

Wheatstone

21

Mercuridia

10

Harrison

Pedro Leroy

22

Jovedia

11

Dollond

Graham

23

Venerdia

12

Arkwright

Jacquart

24

Sábado

13

Conte


25

Domingo

14

VAUCANSON


26

Lunedia

15

Stevin

Torricelli

27

Martedia

16

Mariotte

Boyle

28

Mercuridia

17

Papin

Worcester

29

Jovedia

18

Black


30

Venerdia

19

Joutiroy

Fulton

31

Sábado

20

Danton

Thilorier

1.set.

Domingo

21

WATT


2

Lunedia

22

Bernardo de Palissy


3

Martedia

23

Guglielmini

Riquet

4

Mercuridia

24

Duhamel du Monceau

Bourgelat

5

Jovedia

25

Saussure

Bouguer

6

Venerdia

26

Coulomb

Borda

7

Sábado

27

Carnot

Vauban

8

Domingo

28

MONTGOLFIER


9


10º – Shakespeare

O drama moderno

Lunedia

1

Lope de Vega

Montalvan

10.set.

Martedia

2

Moreto

Guillem de Castro

11

Mercuridia

3

Rojas

Guevara

12

Jovedia

4

Otway


13

Venerdia

5

Lessing


14

Sábado

6

Goethe


15

Domingo

7

CALDERÓN


16

Lunedia

8

Tireo


17

Martedia

9

Vondel


18

Mercuridia

10

Racine


19

Jovedia

11

Voltaire


20

Venerdia

12

Alfieri

Metastásio

21

Sábado

13

Schiller


22

Domingo

14

CORNEILLE


23

Lunedia

15

Alarcón


24

Martedia

16

Mme. de Motteville

Mme. Roland

25

Mercuridia

17

Mme. de Sevigné

Lady Montague

26

Jovedia

18

Lesage

Sterne

27

Venerdia

19

Madame de Stäel

Miss Edgeworth

28

Sábado

20

Fielding

Richardson

29

Domingo

21

MOLIÈRE


30

Lunedia

22

Pergolese

Palestrina

1.out.

Martedia

23

Sacchini

Grétry

2

Mercuridia

24

Gluck

Lully

3

Jovedia

25

Beethoven

Hændel

4

Venerdia

26

Rossini

Weber

5

Sábado

27

Bellini

Donizetti

6

Domingo

28

MOZART


7


11º – Descartes

A filosofia moderna

Lunedia

1

Alberto, o Grande

João de Salisbury

8.out.

Martedia

2

Rogério Bacon

Raimundo Lúlio

9

Mercuridia

3

S. Boaventura

Joaquim

10

Jovedia

4

Ramus

Cardeal de Cusa

11

Venerdia

5

Montaigne

Erasmo

12

Sábado

6

Campanella

Morus

13

Domingo

7

S. TOMÁS DE AQUINO


14

Lunedia

8

Hobbes

Espinosa

15

Martedia

9

Pascal

Giordano Bruno

16

Mercuridia

10

Locke

Malebranche

17

Jovedia

11

Vauvenargues

Mme. de Lambert

18

Venerdia

12

Diderot

Duclos

19

Sábado

13

Cabanis

Jorge Leroy

20

Domingo

14

BACON


21

Lunedia

15

Grócio

Cujácio

22

Martedia

16

Fontenelle

Maupertuis

23

Mercuridia

17

Vico

Herder

24

Jovedia

18

Freret

Winckelmann

25

Venerdia

19

Montesquieu

D’Auguesseau

26

Sábado

20

Buffon

Oken

27

Domingo

21

LEIBNIZ


28

Lunedia

22

Robertson

Gibbon

29

Martedia

23

Adam Smith

Dunoyer

30

Mercuridia

24

Kant

Fichte

31

Jovedia

25

Condorcet

Fergusson

1.nov.

Venerdia

26

José De Maistre

De Bonald

2

Sábado

27

Hegel

Sofia Germain

3

Domingo

28

HUME


4


12º – Frederico

A política moderna

Lunedia

1

Maria de Molina


5.nov.

Martedia

2

Cosme de Médicis, o Velho


6

Mercuridia

3

Filipe de Comines

Guicciardini

7

Jovedia

4

Isabel de Castela


8

Venerdia

5

Carlos V

Sixto V

9

Sábado

6

Henrique IV


10

Domingo

7

LUÍS XI


11

Lunedia

8

Coligny

L’Hopital

12

Martedia

9

Barneveldt


13

Mercuridia

10

Gustavo Adolfo


14

Jovedia

11

Witt


15

Venerdia

12

Ruyter


16

Sábado

13

Guilherme III


17

Domingo

14

Guilherme, o Taciturno


18

Lunedia

15

Ximenes


19

Martedia

16

Sully

Oxenstiern

20

Mercuridia

17

Walpole

Mazarino

21

Jovedia

18

Colbert

Luís XIV

22

Venerdia

19

Aranda

Pombal

23

Sábado

20

Turgot

Campomanes

24

Domingo

21

RICHELIEU


25

Lunedia

22

Sidney

Lambert

26

Martedia

23

Franklin

Hampden

27

Mercuridia

24

Washington

Koscinsko

28

Jovedia

25

Jefferson

Madison

29

Venerdia

26

Bolívar

Toussaint Louverture

30

Sábado

27

Francia


1.dez.

Domingo

28

CROMWELL


2


13º – Bichat

A ciência moderna

Lunedia

1

Copérnico

Tycho Brahe

3.dez.

Martedia

2

Kepler

Halley

4

Mercuridia

3

Huyghens

Varignon

5

Jovedia

4

Jacques Bernouilli

Jean Bernouilli

6

Venerdia

5

Bradley

Römer

7

Sábado

6

Volta

Sauveur

8

Domingo

7

GALILEU


9

Lunedia

8

Viete

Harriott

10

Martedia

9

Wallis

Fermat

11

Mercuridia

10

Clairaut

Poinsot

12

Jovedia

11

Euler

Monge

13

Venerdia

12

D’Alembert

Bernouilli

14

Sábado

13

Lagrange

Fourier

15

Domingo

14

NEWTON


16

Lunedia

15

Bergmann

Scheele

17

Martedia

16

Priestley

Davy

18

Mercuridia

17

Cavendish


19

Jovedia

18

Guyton-Morveau

Geoffroy

20

Venerdia

19

Berthollet


21

Sábado

20

Berzélio

Ritter

22

Domingo

21

LAVOISIER


23

Lunedia

22

Harvey

Carlos Bell e Barthez

24

Martedia

23

Boërhaave

Stahl

25

Mercuridia

24

Lineu

Bernardo de Jussieu

26

Jovedia

25

Haller

Vicq-d’Azyr

27

Venerdia

26

Lamarck

Blainville

28

Sábado

27

Broussais

Morgagni

29

Domingo

28

GALL


30

Dia complementar – Festa universal dos Mortos

Dia bissexto – Festa geral das Santas Mulheres