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15 fevereiro 2021

Raimundo Teixeira Mendes: citações diversas

Apresentamos abaixo diversas citações de Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927, vice-Diretor da Igreja Positivista do Brasil e autor da bandeira nacional republicana), extraídas de um belo opúsculo publicado em 1899, mas reunindo publicações feitas originalmente em um jornal diário em 1881. Esse opúsculo intitula-se “Calendário positivista – precedido de indicações sumárias sobre a teoria positiva do calendário”.

 As citações escolhidas apresentam de maneira clara como é que o Positivismo, ou melhor, a Religião da Humanidade reúne em uma síntese poderosa a moralidade e a ciência, a preocupação social e as motivações individuais, o estímulo do altruísmo e a satisfação do egoísmo.

Para facilitar a leitura, inserimos pequenos títulos descritivos antes de cada citação. A grafia foi atualizada.




Mundo e homem, objetivo e subjetivo, cientificidade e moralidade

Seja qual for o problema que solicite a nossa atenção, podemos dispor em duas categorias o conjunto dos dados imprescindíveis à sua completa solução: de um lado, a série de considerações fornecidas pelo mundo; de outro lado, a soma de exigências resultantes dos interesses humanos. É isto que se exprime em linguagem filosófica, dizendo que todo problema tem condições objetivas, – referentes ao mundo, – e condições subjetivas – referentes ao homem. Por exemplo, quando se projeta uma estrada de ferro, não basta examinar as condições do terreno, os lucros pecuniários etc.; cumpre saber sobretudo se a sua realização não importa a ruína da população a cujo cargo estava antes o transporte das mercadorias. E, ao formular a solução, é imprescindível indicar os meios de prevenir semelhante cataclismo, sob pena de ser uma solução incompleta, cientificamente, e iníqua sob o ponto de vista social e moral.

p. 5-6

 

Subjetividade e moralidade da existência humana

É para o homem que o homem trabalha; e para o homem devem convergir todos os esforços humanos; fora deste círculo, tudo é imoralidade e anarquia, seja qual for o pretexto e o título com que o decorem.

Ora, o predomínio do ponto da vista humano significa a satisfação dos interesses coletivos, o bem estar de todos, e não as conveniências de um individuo, de uma cidade ou de uma nação. Toda a concepção da ordem social que não se mostrar compatível com a felicidade de todos os homens, seja qual for a sua condição e o seu grau de civilização, é um sistema imperfeito, incapaz de satisfazer ás inteligências e aos corações bem formados.

p. 6-7

 

Unidade e síntese humanas possíveis apenas com o amor e o altruísmo

Ora, é claro que os órgãos do egoísmo não podem ser escolhidos como devendo dominar para se alcançar que todos os homens tenham o mesmo sentimento; se cada um cuida de si, é forçoso que haja desunião e contenda. Só resta escolher para sentimento dominante o altruísmo, isto é, os órgãos menos intensos, para conseguir que os atos convirjam. Somos assim conduzidos a esta conclusão fatal: a vida social é impossível sem o predomínio do amor, isto é, da dedicação. E será isso possível? Seguramente que sim: – tal foi o resultado de toda a grandiosa elaboração de Augusto Comte. Com efeito, a satisfação dos instintos altruístas não exige o aniquilamento dos instintos egoístas; pelo contrario, a eficácia social dos sentimentos humanos se altera igualmente quando eles se tornam demasiado subtis ou demasiado grosseiros, na frase do nobre Pensador. A expansão altruísta é impossível sem uma certa dose de egoísmo: para amar é preciso viver. Somente, de acordo com uma profunda observação do fervoroso S. Paulo, o destino superior dos órgãos inferiores os enobrece e exalta. O ascetismo é condenado pela Religião da Humanidade, por tornar-nos incapazes de servir a outrem, isto é, de amar; porque melhor ama quem, melhor serve.

Tomemos um exemplo que esclareça o que porventura houver de obscuro nas considerações precedentes. Examinemos um operário em hora de trabalho. A vida social exige dele uma série de operações que constituem o sou ofício, e de cujo produto não tem o menor quinhão: trabalha realmente para outrem. No entanto, ó fácil de ver nele em jogo todos os instintos. O instinto conservador tem a justa satisfação, visto como a vida lhe é assegurada pelo salário, e demais ele tem de velar incessantemente para não ser vítima dos perigos que salteiam a pratica industrial. Os instintos construtor e destruidor funcionam simultaneamente, porque é da natureza da industria separar e reunir materiais. O orgulho encontra uma válvula no domínio da matéria bruta, pelo menos. A vaidade compraz-se na apreciação de seus companheiros. Isto pelo que respeita aos órgãos egoístas; vejamos os altruístas. A veneração se desenvolve na consideração de seus chefes e na lembrança dos grandes inventores. A bondade expande-se no trato dos aprendizes, na recordação dos filhos por quem trabalha, e na contemplação da posteridade, que virá a gozar dos seus labores e sacrifícios. O apego finalmente se exercita no culto de seus companheiros e até de seus instrumentos de oficina. Tome-se qualquer função social, e encontrar-se-ão todos os órgãos cerebrais em jogo.

Este exemplo basta para mostrar como é possível conciliar a satisfação de todos os instintos egoístas, com o imprescindível domínio dos órgãos altruístas; e portanto evidencia a possível solução do grande problema humano. Para assegurá-la basta fazer intervir uma lei biológica, conhecida de todo o mundo, e vem a ser que o exercício desenvolve a função e o órgão, e a falta de exercício os atropina. Não ha quem ignore que o meio de fazer qualquer cousa bem, é exercitar-se em fazê-la sempre que possível for.

p. 8-10

 

Sem o altruísmo e a moralidade não há solução dos problemas enfrentados pelo ser humano

Todo problema, portanto, em que se desprezar o aspecto moral; toda solução que não puder ser considerada como um meio de subordinar o egoísmo ao altruísmo, é um problema não resolvido, é uma solução inútil e até prejudicial. Porque não há meio termo: ou o egoísmo fica subordinado ou subordina.

p. 11

 

Noção positiva de progresso I

Hoje liga-se à palavra progresso a ideia de qualquer mudança no que existe; e por outro lado é geral a crença de que tudo quanto atualmente encontramos na sociedade, pode-se vir a mudar com o correr dos anos. Esta concepção da instabilidade das instituições humanas e de sua variabilidade indefinida constitui a mais seria ameaça à ordem publica, e está em flagrante contradicção com as indicações do método positivo nas ciências inferiores.

p. 12

 

Noção positiva de progresso II

Para ele [Augusto Comte] tudo quanto se tinha passado até então, se dera em virtude de leis naturais; e para descobri-las só havia um caminho a seguir: – ver como se tinham passados os fatos registrados pela história. Feito isto, o conhecimento das leis sociais e morais poderiam dirigir a intervenção humana no governo do homem, assim como as leis matemáticas, físicas e químicas a dirigem na construção de qualquer máquina.

Com estas disposições metódicas, que aprendera no cultivo das ciências conhecidas até si, desde a matemática até a biologia, Augusto Comte empreendeu o descobrimento das leis que regem a sociedade e o homem. Foi então que reconheceu que de fato as sociedades variavam com o tempo, o que já outros haviam também reparado antes dele; mas o que ninguém tinha feito e ele fez foi dizer como é que se opera semelhante variação. Foi assim que ele construiu a sociologia, demonstrando que o progresso consiste sempre:

1.° Sob o aspecto intelectual, em fazer a razão humana passar por três fases: teológica, metafísica e positiva.

2.° Sob o aspecto pratico, em fazer a atividade passar pelas três fases de ataque, defesa, e industria ou paz.

3.° Sob o aspecto moral, em fazer o sentimento passar elas três fases; Família, Pátria e Humanidade.

Em virtude da primeira lei, o homem tende cada vez a tornar-se mais sintético; em virtude da segunda a tornar-se mais sinérgico; em virtude da terceira a tornar-se mais simpático. E tudo isso se resume neste aforismo único: O homem torna-se cada vez mais religioso.

Assim, o positivista crê que a sociedade muda, mas não crê que mude ad libitum do primeiro que chega; o progresso para ele tem uma significação precisa.

p. 13-14

 

Noção positiva de ciência

Vejamos agora a importância que se deve atribuir à ciência, isto é, qual deve ser a posição da inteligência no conjunto da vida humana.

Em primeiro lugar observemos que o ascendente científico não exige que cada homem seja um sábio; se assim fosse, o positivismo não passava de quimera. Existe uma fé científica, como existem uma fé teológica e uma fé metafísica: crê-se por confiança e sem demonstração. Para evidenciá-lo basta reparar que a maioria do Ocidente acredita no movimento da Terra; e no entanto bem pequeno é o numero dos que estão nos casos de formular hoje semelhante teoria. Crê-se porque pessoas que se julgam competentes assim o afirmam.

Isto posto, é fácil de mostrar o caráter anárquico e corruptor da inteligência isolada. Basta reparar que a construção de qualquer máquina de guerra exige em nossos dias talvez maiores esforços intelectuais do que os instrumentos industriais. No ponto de vista objetivo o monitor Solimões é mais apto para revelar a força prodigiosa da ciência moderna do que as faluas que cruzam a nossa baía. Mas decida cada um por si em qual dos casos a inteligência teve melhor destino: se construindo um monstro de destruição numa época que deve aspirar à paz; se construindo um aparelho insignificante consagrado a estreitar as relações sociais.

A ciência isolada é até prejudicial; como todos os aspectos de nossa existência, ela tem de subordinar-se ao amor universal que nos impele a servir à Família, à Pátria, e à Humanidade.

p. 15-16

28 junho 2020

Ainda o relativismo histórico, o anti-racismo e as memórias históricas


Em postagem anterior, intitulada “Relativismo histórico, anti-racismo e memórias históricas”, indiquei vários motivos que justificam a preservação de estátuas comemorativas de personagens como Winston Churchill (no mundo inteiro) e a manutenção do nome de Woodrow Wilson na Escola de Relações Internacionais da Universidade Princeton (nos Estados Unidos). Embora essa postagem tenha sido extensa e tenha coberto uma ampla gama de temas, uma nova reflexão levou-me a perceber que eu não havia esgotado o tema e que há, portanto, outros aspectos que merecem ser apresentados. De maneira específica, quero comentar pelo menos mais dois aspectos: (1) o caráter metafísico e (2) o antiprogressivismo do combate às memórias históricas; o segundo aspecto é uma decorrência do primeiro, embora ambos sejam em si mesmos distintos um do outro.

No Positivismo, na Religião da Humanidade, o que se opõe ao “relativo” é o “absoluto”. O absoluto é a forma de encarar a realidade, o mundo, o ser humano, que pretende que tudo isso seja entendido de uma vez por todas, por todo o sempre; em oposição ao que é “relativo”, o absoluto rejeita relações, vínculos; assim, o absoluto permitiria a compreensão de tudo a partir de algum princípio externo ao que existe e que não dependeria de nada para existir e para permitir o entendimento. De maneira exemplar, a concepção de uma divindade, em particular no monoteísmo, representa(ria) a concepção do absoluto: supostamente o deus monoteísta existe em si e para si, independentemente de quem e do que quer que seja, mas, por outro lado, tudo o que existe, existiu e existirá depende dele e por ele seria explicado. As perguntas finalísticas – “de onde viemos?”, “para onde vamos”, “por que existimos?” – são as questões que dão origem à concepção teológica e suas respostas conduzem ao absoluto.

Ora, como vimos, o absoluto tem sua melhor representação na teologia, em particular no monoteísmo. Como Augusto Comte indicou desde o início de sua carreira, as idéias são históricas e alteram-se ao longo do tempo; essas alterações de cada concepção seguem uma evolução específica, que consiste na passagem da teologia para a sua concepção corrompida, que é a metafísica; da metafísica (que possui um caráter meramente transitório) passa-se à positividade, cuja grande característica é o relativismo. (Não é necessário insistir em que a transição do absolutismo teológico-metafísico para o relativismo positivo é uma verdadeira revolução mental e moral, com um caráter extremamente profundo e, por isso mesmo, de realização complicada.)

A metafísica, portanto, é absoluta; ela visa a responder de uma vez por todas as questões que considera. Mas, como indicamos, a metafísica também é mera transição entre a teologia e a positividade; essa transição em particular assume a característica de ser “crítica”, isto é, destruidora, corrosiva. Ainda mais: embora compartilhe com a teologia seu caráter absoluto, a metafísica opõe-se à teologia, em particular assumindo-se o título de “progressista” contra o “conservadorismo” imputado à teologia. Em face da metafísica, não há dúvida de que a teologia torna-se realmente conservadora; além disso, quando surge, a metafísica consiste na própria realização do progresso, na medida em que a decomposição da teologia em direção à positividade é a própria marcha do progresso.

O conservadorismo teológico e o progressivismo metafísico são ambos absolutos; eles afirmam seus princípios de uma vez por todas e rejeitando as concepções de vínculos, de relações, de limitações, de contextos. Quando a metafísica passa a atuar sobre e contra a teologia, logo se instala uma dinâmica (os marxistas e os hegelianos diriam uma “dialética”) que opõe a ordem e o progresso, comprometendo tanto a ordem quanto o progresso, em que a ordem torna-se reacionária e o progresso torna-se anárquico. O que está em questão nessa dinâmica, portanto, é o papel concedido à liberdade e, em decorrência disso, a forma como a sociedade organiza-se (se de maneira espontânea, se de maneira forçada; se com princípios compartilhados, se sem tais princípios).

Assim, embora ela inicialmente ela corresponda ao progresso e afirme-se como sendo a representante do progresso, entregue a si mesma a metafísica acaba agindo de tal maneira que combate exatamente aquilo que afirma defender. Entretanto, o problema vai mesmo além da dinâmica suicida entre a ordem retrógrada e o progresso anárquico: fiel ao seu caráter dissolvente, ou, para usar uma palavra que todos conhecem, empregam e mais ou menos entendem, fiel ao seu caráter crítico, a metafísica é incapaz de manter quaisquer instituições, quaisquer conquistas. Em outras palavras, por si mesma a metafísica acaba resultando no fim do mesmo progresso que ela supostamente representa e defende.

Trazendo essas reflexões filosóficas e sociológicas para o caso que consideramos anteriormente – as estátuas e as homenagens a tipos considerados atualmente como racistas –, o resultado é que a falta de relativismo histórico a respeito dessas personagens deve-se antes de mais nada a seu caráter metafísico, crítico, destruidor, absoluto. Deseja-se de uma vez por todas, de maneira radical, ou melhor, de maneira brutal avaliar todas as carreiras desses tipos, baseando-se em parâmetros estritamente atuais e desprezando-se as atuações dessas personagens nos momentos em que viveram e, de modo específico, pelas quais tornaram-se famosas. Não há dúvida de que é motivo do mais profundo pesar, do mais profundo lamento, que Churchill e Wilson – para ficarmos nas duas personagens que estou considerando de maneira particular – tenham sido racistas; esse traço constitui uma nódoa profunda na biografia de cada um: ainda assim, a despeito disso, nenhum dos dois é lembrado, celebrado, cultuado devido ao racismo, mas devido às suas decisivas ações políticas ao longo do século XX – ações aliás francamente progressistas e libertárias. Aparentemente, há bustos e estátuas de outras personagens cujas carreiras consistiram basicamente no comércio de escravos, na manutenção da escravidão: nesse caso, não há atenuantes, não há justificativas plausíveis para a celebração de suas memórias; mas, como argumentamos, são muito diferentes as situações de personagens como Churchill, Wilson e vários outros.

Doravante, quando nos referirmos ao ex-primeiro-ministro britânico e ao ex-presidente estadunidense (e a muitos, muitos outros), teremos que indicar claramente seus lamentáveis racismos, com bem mais que eventuais notas de rodapé: isso, entretanto, é muito diferente de desprezar suas importantes ações devido ao racismo; no final das contas, empregar o racismo como critério único para julgar a inteireza da vida de alguém não deixa de ser uma inesperada e lamentável vitória do próprio racismo sobre a liberdade, a fraternidade e a tolerância.

21 fevereiro 2020

Comparação entre Positivismo, direitas e esquerdas

Muito modestamente elaborei a tabela abaixo, em que apresento de maneira comparativa as vistas sócio-políticas do Positivismo e as concepções de direita e esquerda. 

Haja vista as confusões teóricas e práticas que reinam atualmente no Brasil - em que um governo de extrema-direita mantém o país em permanente estado de sobressalto, de polarização, de desrespeito sistemático à laicidade do Estado, à diversidade de opiniões, à liberdade de expressão e de pensamento, às minorias etc. -, o meu objetivo era esclarecer o que a "esquerda" e a "direita" consideram a respeito de vários conceitos sócio-políticos, aproveitando para expor as vistas positivistas (e demonstrar, por esse meio, que a oposição entre direita e esquerda é insatisfatória e insuficiente).

Mas é importante realçar um aspecto: esta tabela não é exaustiva nem cobre todas as possibilidades de política teórica e prática. Algumas amplas correntes e práticas foram deixadas de lado, como o populismo, o liberalismo e até o islamismo; por outro lado, no caso dos católicos, eles poderiam perfeitamente ser incluídos em outras categorias que não a centro-direita, indo desde a esquerda até a direita ou a extrema direita. O objetivo da tabela é apenas oferecer um quadro sinóptico para que se possa fazer algumas comparações básicas.

Após a tabela incluí referências bibliográficas sumárias, para quem tiver interesse e curiosidade.

*   *   *


Resumo das perspectivas do Positivismo em face das correntes político-intelectuais contemporâneas

Conceito
Positivismo
Extrema-esquerda (comunismo)
Esquerda
(socialismo)
Centro-esquerda (social-democracia)
Centro
Centro-direita (conservadores “britânicos”, católicos)
Direita (neoliberais, evangélicos)
Extrema-direita (nazismo, fascismo)
1) Ordem
Fundamento e garantia do progresso
Não tem valor por si só (deve ser mantida com vistas ao progresso)
Elementos comuns a todas as sociedades (família, propriedade, linguagem, religião, governo)
A ordem burguesa, como é opressora, deve ser destruída
A exploração econômica gera a dominação política
A ordem comunista é redentora da humanidade
A ordem burguesa, como é opressora, deve ser destruída
A exploração econômica gera a dominação política
O Estado exerce um papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
Supostamente há espaço para liberdades individuais

A ordem é um equilíbrio entre a dinâmica social e a ação político-econômica estatal
A sociedade é capitalista (propriedade privada) e as liberdades são valorizadas
O Estado exerce um papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
Entendida como estabilidade política e social
Valor importante, mas não é sagrado: pode ser modificada, dependendo dos acertos políticos, na direção da direita ou da esquerda
Valor fundamental e central
A ordem é estabelecida pela tradição e, por isso, é sagrada
Tem um caráter histórico e, eventualmente, transcendental
É um valor sagrado
Evangélicos: é um arranjo divino e deve satisfazer imperativos teológicos (bíblicos)
Neoliberais: a economia deve ser entregue a si mesma; a política (e o Estado) atrapalha e corrompe a ordem
É um valor sagrado
O capitalismo e o comunismo são inimigos
A nação é o valor supremo
O Estado é o responsável pela criação e manutenção de uma ordem pura em termos raciais, sociais e políticos
Imigrantes, outras raças, outras ideologias devem ser combatidos e/ou dizimados
2) Progresso
Desenvolvimento da ordem fundamental
Baseia-se na ordem
Realização da harmonia humana (social e individual)
Desenvolvimento (harmônico) das forças humanas (individuais e sociais; afetivas, intelectuais e práticas)
Aprofundamento da igualdade
Fortalecimento das pátrias comunistas
Enfraquecimento e extinção das pátrias não-comunistas
Aprofundamento da igualdade
Valor central
Aprofundamento da igualdade
Valor central
Combate à dinâmica social própria ao capitalismo
Basicamente, indefinido
Desenvolvimento da ordem
Realizado conforme os desígnios do grupo no poder
Valor a ser combatido se for na direção da igualdade
Católicos: o progresso é real e legítimo se for a realização da ordem divina e tradicional
“Britânicos”: em pequenas doses, é aceitável (entendido como mudanças sócio-institucionais); de modo geral rejeita mudanças planejadas
Neoliberais: é um valor legítimo, se for o desenvolvimento da ordem capitalista (às vezes é a “destruição criadora”); vêem com grande desconfiança as mudanças planejadas
Evangélicos: é a realização da teocracia (em moldes calvinistas)
Afirmação da nação
Se o progresso for o conceito esquerdista, deve ser combatido ferozmente
3) Tradição
Não tem valor em si mesma
O mais das vezes, é uma concepção absoluta da historicidade e da ordem
Concepção positiva da tradição: legado moral e material do passado para o presente, que deve ser respeitado e, na medida do possível, preservado, mas que não é imodificável e que sofre alterações de acordo com as leis dos três estados
Obstáculo ao progresso
Ideologia burguesa ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
Obstáculo ao progresso
Ideologia burguesa ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
Basicamente, obstáculo ao progresso
Redes sociais tradicionais podem apoiar a ordem social-democrata
Em linhas gerais, é favorável à tradição
As relações políticas tradicionais são valorizadas
Em termos sócio-econômicos, depende do grupo que está no poder
Valor fundamental, quase indistinguível da ordem
Católicos: a tradição é o resultado da ação multissecular da igreja
“Britânicos”: é o resultado do “tribunal da história” e, por tentativa e erro, junta empiricamente o que é “bom” e “correto”
Neoliberais: a tradição de valores e estruturas sociais é inimiga do progresso capitalista
Neoliberais: as relações tradicionais de confiança são a base da sociedade e do progresso
Evangélicos: se referir-se à própria seita, é sempre sagrada; se referir-se a qualquer outra coisa, é detestável e deve ser combatida
É encarada de maneira romântica e saudosista
A tradição criada e idealizada é o fundamento ideológico da ordem social
4) Passado
Conjunto dos antecedentes sociais, morais, intelectuais e afetivos
O passado é a base e o guia para o futuro, mas o futuro não se resume nem se limita ao passado
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do comunismo
“Peso que oprime o cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos antecedentes próprios ao comunismo
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do socialismo
“Peso que oprime o cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos antecedentes próprios ao socialismo
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do Welfare
Conjunto dos antecedentes próprios ao Welfare
Conjunto da história social e individual
Mobilizável de acordo com o grupo que está no poder
É o fundamento da tradição
Neoliberais: conjunto das condições que conduzem ao capitalismo; fora isso, deve ser constantemente revolucionado
Evangélicos: se for da própria seita, é sempre glorioso; se for dos outros, é detestável
É romantizado e, assim, glorificado
Apresenta a história da nação, passando pelas quedas e pelas ascensões
5) Liberdade de pensamento
Fundamento inescapável da política positiva
A liberdade absoluta de pensamento é um conceito metafísico, que rejeita qualquer disciplina mental
Deve ocorrer a rigorosa separação entre igrejas e Estado
Não existe, exceto para o que o Estado permite
Nos países não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Católicos: é limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor sócio-político fundamental
Neoliberais: existe e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao nazismo)
Evangélicos: se referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento deve ser combatida ou convertida
Não existe, exceto para o que o Estado permite
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
6) Liberdade de expressão
Fundamento da política positiva e conseqüência da liberdade de pensamento
Deve-se garantir a liberdade de expressão a todas as concepções
Não existe, exceto para o que o Estado permite
Nos países não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
O Estado impõe o ateísmo
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Católicos: é limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor sócio-político fundamental
Neoliberais: existe e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao nazismo)
Evangélicos: se referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento deve ser combatida ou convertida
Não existe, exceto para o que o Estado permite
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
7) Família
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Deve ser consagrada para ser regulada pela pátria (associação prática) e pela Humanidade (associação intelectual)
Foco de conservadorismo, reacionarismo e tradicionalismo
Permanece sob estreita vigilância do Estado e da sua polícia política
Os laços familiares não são respeitados
Em determinadas conjunturas pode ser valorizada (formação de mão de obra)
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
As relações familiares constituem parte importante da sociabilidade política de centro (clientelismo, filhotismo, apadrinhamento)
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Eventualmente, tem que ser defendida da ação do Estado
Neoliberais: é a formadora de indivíduos, que são os “agentes econômicos” por definição
Evangélicos: é o âmbito social sagrado e inamovível, lugar da autoridade (“despótica”) do pai/marido sobre filhos/esposa

É o âmbito social sagrado, lugar da autoridade (“despótica”) do pai/marido sobre filhos/esposa
É a relação social que existe logo abaixo da nação, isto é, do Estado
8) Pátria
Associação prática dos seres humanos
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Devem ser de tamanho reduzido, para que os vínculos morais desenvolvam-se
A soberania absoluta é uma ficção metafísica
Deve ser consagrada para ser regulada
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Sede da revolução comunista
Devem ser abolidas quando o comunismo triunfar no mundo todo
Em países não-comunistas: grau máximo de associação humana e entendidas como sede da xenofobia, do imperialismo e do nacionalismo
Realidade política básica; nela o Estado exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Eventualmente, podem ser abolidas quando o socialismo triunfar no mundo todo
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Católicos: o poder político deve submeter-se ao poder (espiritual, quando não material) da igreja e do papa
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Neoliberais: o Estado é um estorvo, um mal tristemente necessário
Evangélicos: o poder político deve submeter-se ao poder da igreja
Valor supremo
O internacionalismo e o multilateralismo são vistos como crimes de lesa-pátria e como conspirações dos “inimigos”
9) Humanidade
Resumo da Religião da Humanidade
Como sinônimo de igreja: associação de caráter intelectual, de âmbito mundial
Conjunto dos seres humanos convergentes, passados, futuros e presentes
Concepção resultante de uma longa evolução histórica
Concepção relativa, altruísta e includente
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, após a revolução comunista e a extinção (física e social) da burguesia
Associação de indivíduos atomizados, sem a existência de pátrias nem de igrejas
Fora do âmbito do comunismo: ideologia burguesa e/ou concepção nefelibata
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades (e das classes)
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades (e das classes)
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Neoliberais: conjunto de agentes econômicos
Evangélicos: conjunto de crentes e de pessoas a serem convertidas
Refere-se exclusivamente à população do próprio país
10)         Religião
Conjunto de concepções e práticas que visam a regular a vida humana, com vistas à harmonia social e individual
Como qualquer concepção humana, passa pelos três estágios (teológico, metafísico e positivo)
A Religião da Humanidade é uma religião positiva
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio do povo” (Marx)
Deve ser combatida
A prevalência de religiões em países é justificativa para guerras com esses países
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio do povo” (Marx)
Em princípio, deve-se respeitar as crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Pode resultar, devido a questões institucionais e dogmáticas, em conflitos entre o Estado e a(s) igreja(s)
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Deve-se respeitar as crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Acomodação com as igrejas
É importante apenas como fundamento do Welfare (e, portanto, submete-se a considerações utilitário-político-econômicas)
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Acomodação com as igrejas
Dependendo da relação com quem está no poder: apoio às igrejas e suas doutrinas

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“Britânicos”: acomodação com as igrejas; aceitação de religião de Estado
Católicos: igreja separada do mas superior ao Estado

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Acomodação com as igrejas
Estímulo à “teologia da prosperidade”
Evangélicos: valor sagrado e supremo

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Transformação do culto à pátria em um rival institucional e dogmático às igrejas tradicionais
11)         Propriedade
A propriedade privada é um dos fundamentos da ordem social
Para surtir seus efeitos, a riqueza deve ser concentrada até o limite da responsabilidade individual
A função da riqueza é alimentar o conjunto da sociedade
Os proletários devem ser “pobres” (isto é, não ricos); devem ter casa própria e ser capazes de alimentar esposa, filhos e avós
Os proletários devem ser donos dos instrumentos individuais de trabalho
Assim, a propriedade privada não é um conceito absoluto
Deve ser consagrada para ser regulada
A origem da propriedade é social e sua destinação tem que ser social
A riqueza é entendida como força social concentrada (o trabalho é a força dispersa)
A solução dos problemas da riqueza consiste em sua regulação social, não em sua destruição e/ou extinção
A propriedade privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
A via para tal mudança é violenta, pela força, de cima para baixo
As famílias podem ter objetos de uso pessoal
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
A propriedade privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
A via para tal mudança é pacífica e eleitoral
As empresas privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são altos
A propriedade privada é vista como relativa e submetida à regulação estatal
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
Muitos serviços e bens são fabricados e providos pelo Estado
A via para tal mudança é pacífica e eleitoral
As empresas privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são altos
A propriedade privada é vista como absoluta
Todavia, dependendo de quem está no poder, pode-se considerar a propriedade como relativa (em particular a propriedade alheia)
O nível de impostos varia de acordo com o grupo que está no poder
“Britânicos”: a propriedade privada é vista como absoluta e constituinte da natureza íntima de cada indivíduo (juntamente com a liberdade)
Católicos: a propriedade privada é vista como relativa, dependendo da ordem eclesiástica e do papa reinante; os bens da igreja são sagrados
Os impostos são os mais baixos possíveis
A propriedade privada é vista como absoluta
Evangélicos: a riqueza é a prova da eleição divina, no neocalvinismo da “teologia da prosperidade”
Neoliberais: a riqueza é um valor fundamental e deve ser perseguida (“vícios privados, virtudes públicas”)
Ambigüidade a respeito da propriedade e da riqueza: em princípio são absolutas, mas o Estado pode interferir e regulá-las, além de ter empresas estatais
A riqueza “capitalista” (ou comunista) é opressora; a riqueza “nacionalista” é libertadora
12)         Governo temporal
Gestor dos conflitos de classe
Responsável pela manutenção da ordem social, com vistas à realização do progresso
Deve abster-se rigorosamente de ser um governo espiritual
Deve garantir as liberdades públicas, especialmente as de pensamento, expressão e associação
Deve ser consagrado para ser regulado
Nos países capitalistas: mantenedor da dominação burguesa e da exploração do proletariado
Responsável pela realização e pela manutenção da revolução comunista
Gestor da propriedade coletiva
Quando a revolução comunista ocorrer em nível mundial, os estados devem ser extintos
Órgão do proletariado como classe (contra a burguesia)
Impõe o ateísmo como doutrina de Estado
Gestor dos conflitos de classe
Gestor de determinadas produções de bens e serviços
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Gestor de determinadas produções de bens e serviços
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
“Britânicos”: garantidor das liberdades e da propriedade; respeitador das tradições
Católicos: deve submeter-se moral e politicamente à igreja e ao papa
Neoliberais: provedor de bens e serviços mínimos (polícia, moeda, justiça, padrões de pesos e medidas; em casos de pobreza extrema: auxílio financeiro)
Evangélicos: órgão de promoção da crença de cada seita; promotor da censura e da polícia de costumes
Órgão por excelência da vontade nacional
Deve ser entendido como sendo, em si, uma instituição moral
O desrespeito ao Estado é um desrespeito à nação
A vontade do Estado está acima do comum dos indivíduos
13)         Governo espiritual
Responsável pela constituição e expressão da opinião pública
Organizado em igrejas, com sacerdócios
Regulador das idéias e dos valores
Responsável pela consagração e pela regulação das famílias, das pátrias, dos indivíduos, do poder político e da riqueza
Deve manter-se escrupulosamente separado do governo temporal
Sua importância em face do poder temporal dá a medida da moralidade, do altruísmo e do pacifismo de uma sociedade e, portanto, de seu progresso
Constituído em um sacerdócio transnacional
O primado político cabe ao poder Temporal, não ao Espiritual
Ambigüidade: por um lado, as crenças são derivações das relações de produção; por outro lado, são instrumentos de dominação (da burguesia) ou de afirmação (do proletariado)
Nos países capitalistas, as igrejas são os órgãos de manutenção da religião, que é o “ópio do povo” (ideologia da exploração e da dominação do proletariado)
Nos países comunistas, o governo espiritual confunde-se e realiza-se por meio do Estado e do partido comunista
Deve realizar-se por meio de professores e filósofos
As igrejas (teológicas) eventualmente podem ser obstáculos ao socialismo e, por isso, são combatidas politicamente
Pode apoiar o governo em termos políticos, sociais e morais
Com frequência baseia-se no poder Espiritual e/ou extrai dele seus quadros
Tem uma tradição de apoio, estímulo, submissão
Aceitam e promovem a religião de Estado
Católicos: o Estado deve submeter-se à igreja e ao papa; seu sacerdócio tem caráter transnacional
Neoliberais: não reconhecem poder Espiritual, na medida em que são rigorosamente materialistas; entretanto, é necessário haver valores de respeito, confiança mútua, individualismo
Evangélicos: o único poder Espiritual é o da própria seita; todos os demais devem ser combatidos e/ou convertidos; o Estado deve estar a serviço da seita
O único poder Espiritual aceitável é o originário do Estado e por ele legitimado
Fontes independentes de poder Espiritual são vistas com desconfiança e como (potenciais) inimigos
14)         Paz
Resultado e condição da harmonia social e individual
Resultado da evolução histórica das sociedades
Internamente: os conflitos sociais devem ser evitados, controlados, dirigidos e aproveitados
Externamente: os conflitos entre países devem ser solucionados sempre via mediação
Os governos temporal e espiritual devem empenhar-se ativamente em manter e em obter a paz
O poder Espiritual deve ser o grande regulador e mediador dos conflitos sociais
A verdadeira paz só é possível quando o comunismo triunfar em nível mundial
Entre os países capitalistas, é sempre um equilíbrio temporário entre as potências imperialistas
Os países capitalistas querem sempre destruir os países comunistas
Fora do comunismo, todos os indivíduos e países são egoístas; apenas no comunismo existe um verdadeiro altruísmo
O multilateralismo e o internacionalismo são estratégias a serem empregadas se e enquanto forem úteis
A paz internacional é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do internacionalimso
A paz internacional é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do internacionalimso
Utiliza o equilíbrio de poder para obter a paz
“Britânicos”: utilizam o equilíbrio de poder para obter a paz; a paz é sempre instável, portanto
Católicos: a verdadeira paz é a instituída e regulada pela igreja e pelo papa
Neoliberais: a paz é uma conseqüência natural da diminuição radical do Estado e da substituição da política pela economia
Evangélicos: a única paz possível é a criada pela própria seita; em relação a todos os demais a postura é de confronto ou, pelo menos, reprovação e rejeição
A paz é sempre a morte do “espírito”; a nação revela-se e afirma-se por meio da guerra
O equilíbrio de poder é aceito apenas temporariamente; a única paz aceitável é a que subordina todas as demais nações à nação do político
O multilateralismo e o internacionalismo são recusados e vistos como defendidos por traidores e conspiradores
15)         Igualdade
Basicamente, um mito metafísico destinado a abolir estruturas sociais
Utilizada por juristas e propagandistas para obter o poder
Conceito que legitima os despotismos
O desenvolvimento social gera diferenças e desigualdades
Mas: do ponto de vista jurídico, deve ocorrer a igualdade perante a lei
Nas escolas, as classes sociais devem assistir em conjunto às aulas para terem a mesma formação e compartilharem valores e ideias (permitindo assim a fraternidade e a atuação do poder Espiritual)
É o objetivo maior do comunismo
Entendida em todos os sentidos possíveis: de classe, de status, de riqueza, de sucesso individual
Na busca da igualdade não se hesita em cometer crimes (expurgos, “revoluções culturais” etc.)
A despeito do discurso, estabelece uma distinção brutal entre governantes e governados
É o objetivo maior do socialismo
Entendida basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a lei
Igualdade na escola
É o objetivo maior do Welfare
Entendida basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a lei
Igualdade na escola
Eventualmente pode aceitar “ações afirmativas”
É indiferente às noções econômicas de igualdade; depende do grupo que está no poder
Igualdade perante a lei
“Britânicos”: não se incomodam com as diferenças de status, mas exigem a igualdade perante a lei
Católicos: em sua teologia, todos são iguais perante a divindade, mas na prática aceita as mais variadas desigualdades (poder, status, riqueza)
Neoliberais: rejeitam a igualdade econômica e exigem a igualdade perante a lei
Evangélicos: aceitam a igualdade nas próprias seitas e, reconhecendo a diferença em relação a todos os demais, desprezam-nos
Reconhecem as diferenças inarredáveis entre povos e nações
Na nação, todos são iguais; fora da nação, todos são diferentes e inferiores
16)         Indivíduos e individualidades
O individualismo é um erro intelectual, moralmente injustificável
O individualismo é a secularização e a transposição para a Sociologia da igualdade dos crentes perante a divindade protestante
O individualismo consagra o egoísmo, a secura afetiva, a esterilidade intelectual, o absolutismo filosófico, as concepções parciais
Mas: a Humanidade é um ser composto, cujos elementos são seres separados – em última instância, os indivíduos
Assim, da mesma forma que as famílias, as pátrias, o poder político e a riqueza, devem os indivíduos ser consagrados e regulados, ou seja, responsabilizados
Os indivíduos são os agentes da Humanidade e realizam o presente
As crenças individuais devem sempre ser respeitadas
Os indivíduos não existem, exceto os grandes líderes comunistas
Os indivíduos são uma elaboração ideológica burguesa
No comunismo, quem afirma-se como individualidade comete o crime de lesa-revolução
No comunismo ideal, na ausência de classes e de Estado, haverá apenas indivíduos; eles serão alegres diletantes de tudo e não haverá obrigações nem responsabilidades
A perspectiva social deve prevalecer, mas os indivíduos são largamente respeitados
A perspectiva social deve prevalecer, mas os indivíduos são respeitados
A lógica própria ao Welfare tende a desconsiderar as motivações individuais e a tirar a responsabilidade individual por suas ações
Basicamente o centro constitui-se de indivíduos e individualidades renomados
“Britânicos”: os indivíduos são o valor político por excelência; não há sociedade, embora a tradição confira um caráter social aos indivíduos
Católicos: na medida em que são católicos, os indivíduos são respeitados; suas diferenças são acomodadas nas diversas vocações e ordens eclesiásticas
Estimulam o individualismo e egoísmo (sejam hedonistas ou não)
Não há “sociedade”, apenas agregados de indivíduos
Neoliberais: juntamente com as empresas, os indivíduos são as únicas unidades existentes
Evangélicos: perante a divindade há apenas indivíduos e ambos comunicam-se direta e pessoalmente
Ambigüidade: perante a nação, os indivíduos não existem, exceto os grandes líderes; mas retoricamente há o respeito às individualidades

Referências bibliográficas sumárias

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