Mostrando postagens com marcador Igreja Positivista do Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Igreja Positivista do Brasil. Mostrar todas as postagens

28 maio 2018

Artigo "Positivism in Brazil"

Artigo de minha autoria, recém-publicado no exterior:

- verbete "Positivism in Brazil", na Encyclopedia of Latin America Religions (editora Springer).

Ele também pode ser obtido por aqui. Infelizmente, para ter-se acesso a ele, ou paga-se à editora, ou tem-se acesso à Plataforma Periódicos Capes.

21 dezembro 2017

O "Secreto horror à realidade": exame da crítica de Sérgio Buarque aos positivistas

Na década de 1930, o agora famoso historiador Sérgio Buarque de Holanda redigiu um libelo contra a I República brasileira (1889-1930) que se tornou famoso, o livro Raízes do Brasil. Entre inúmeras outras críticas, Sérgio Buarque afirmou que os positivistas brasileiros tinham um "secreto horror à realidade". Já na década de 1970, esse historiador retomou as críticas aos positivistas, agora com muita mais ousadia e acidez: tendo o desplante de afirmar que os positivistas brasileiros não conheciam corretamente a obra de Augusto Comte (!), Sérgio Buarque atribuiu-lhes a origem do ativismo político dos militares brasileiros e, por extensão, a origem dos golpes militares de 1930, 1945 e 1964.

Desde então, todas essas fantásticas críticas foram aceitas como verdadeiras pelos intelectuais e universitários brasileiros; sem conhecimento de causa mas transbordando de "criticidade", os "pensadores" nacionais sempre referendaram os comentários de Sérgio Buarque de Holanda.

Pois bem: no artigo "O 'secreto horror à realidade': exame das críticas de Sérgio Buarque aos positivistas", faço um exame detido das acusações feitas pelo antigo professor da Universidade de São Paulo, indicando, ainda que brevemente, os vários erros teóricos e factuais que ele comete ao tratar do Positivismo brasileiro.

O artigo foi publicado pela revista Educare et Educere, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Cascavel. 

O artigo pode ser lido aqui. O resumo e as palavras-chave estão indicados abaixo.

*   *   *

http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/16768/12023

Resumo: O artigo examina criticamente as observações de Sérgio Buarque de Holanda a respeito do Positivismo no Brasil, em particular o vigente entre o fim do Império e a I República. Em um primeiro momento, são expostas as principais observações de Sérgio Buarque sobre o Positivismo, conforme aparecem em Raízes do Brasil e no v. 7 de História geral da civilização brasileira, com o objetivo de avaliarem-se os seus argumentos e seus recursos retóricos. Em seguida, avaliam-se as publicações do Apostolado e Igreja Positivista do Brasil de 1881 a 1917, em termos de quantidade e variedade temática. Os comentários finais são no sentido de que, bem ao contrário do que afirmava Sérgio Buarque, os positivistas não tinham nenhum “horror à realidade”, secreto ou não.

Palavras-chave: Sérgio Buarque de Holanda; positivistas ortodoxos; I República.

07 novembro 2017

Casa de Benjamin Constant: resenha do livro "Laicidade na I República"

Há cerca de um ano, o Museu Casa de Benjamin Constant publicou uma pequena resenha do meu livro Laicidade na I República brasileira: os positivistas ortodoxos (Curitiba: Appris, 2016), da autoria de Murilo Haither, aproveitando a efemérida da Proclamação da República.

Aproveito que estamos prestes a comemorar novamente essa importante data e reproduzo abaixo a resenha. O original pode ser lido aqui.

*   *   *

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Semana da República 2016: 15 a 19 de novembro

Estado e Igreja: um divórcio republicano 
Por Murilo Haither

Mais uma vez, como acontece anualmente, inicia-se mais uma Semana da República. Já vivemos, por 126 vezes, estes dias de efemérides. Não é só o 15 de novembro, dia da Proclamação da República que, em 1889, já era pensada e esperada por alguns. Foram criados também símbolos, como a Bandeira Nacional, celebrada no dia 19, as Armas Nacionais, o Hino Nacional e o Selo Nacional.

A Bandeira Nacional, um dos símbolos da República - versão em arte contemporânea.
Os Positivistas talvez tenham sido o grupo que mais prezou pelos cultos cívicos da República. Os arquivos de Benjamin Constant e de sua família estão recheados de cartas, telegramas e bilhetes que, a cada 15 de novembro, eram enviados parabenizando Benjamin por sua atuação em 1889. Entretanto, para que esses símbolos fossem incorporados à vida dos novos cidadãos, não bastava serem celebrados no círculo fechado dos positivistas ou republicanos declarados. Fez-se necessário criar verdadeiros movimentos cívicos e populares e símbolo algum parece ter recebido maior ênfase que a Bandeira Nacional. Entretanto, a República abriu as portas para algumas discussões que, nas tradições e celebrações, foram deixadas em segundo plano, mas que hoje se mostram centrais e mesmo urgentes. Na 127ª Semana da República, daremos destaque à separação entre a Igreja e o Estado, conhecida também como a laicidade da República. O tema foi tratado pelo sociólogo Gustavo Biscaia de Lacerda, professor da Universidade Federal do Paraná, da perspectiva da ortodoxia positivista, e aproveitamos a semana da República e o recente lançamento de seu livro, Laicidade na I República Brasileira: Os positivistas ortodoxos, para oferecer uma resenha aos nossos leitores.

O autor analisa parte da teoria política do filósofo francês, Augusto Comte, desenvolvida na obra Sistema de política positivista (1851 – 1854). Neste conjunto de livros, o elaborador do Positivismo analisa os cinco aspectos característicos, em sua concepção, de todas as sociedades: família, propriedade, linguagem, governo e religião. Para sua pesquisa, Gustavo Lacerda se detém apenas nos dois últimos termos, governo e religião – essenciais para o que Comte identifica como o processo necessário para o desenvolvimento civilizatório: a separação entre o Poder Espiritual e o Poder Temporal. O autor francês, segundo Lacerda, identifica o Poder Espiritual como permanente, teórico, geral, subjetivo e atemporal. Por outro lado, o Poder Temporal seria constituído por uma transitoriedade, praticidade, localidade e especialidade. Nesse sentido, podemos correlacionar o último Poder com as instituições que regulamentam e dão alicerce para a sociedade – como o Congresso ou Tribunais, por exemplo -, e o primeiro com a mentalidade – cabe notar que o Poder Espiritual não é limitado apenas ao Catolicismo, Protestantismo ou demais religiões, mas também à Metafísica, abrangendo, portanto, outras ideologias políticas. Ainda aqui, Lacerda reconhece que ambos os poderes sempre foram distintos – lembra-se das divisões na sociedade feudal entre os guerreiros e sacerdotes – e que, portanto, quando concentrados compõem um “corpo doutrinário que faz valer-se pela violência física” (p. 42). Deste modo, a separação do Poder Espiritual e do Poder Temporal constitui um processo de transição para a sociocracia de Augusto Comte, ou seja, transição para o Estado de tipo ideal, passando, portanto, de um absolutismo ideológico para um relativismo ideológico, como coloca Lacerda. Ainda em Comte, Lacerda observa a necessidade de não se ocorrer, na sociedade, um sistema hipócrita, onde uma religião oficial do Estado obriga os políticos e demais cidadãos a professarem uma determinada fé, sendo que “(...) o Positivismo não deve constituir um monopólio espiritual opressivo” e, portanto, “... não busca extinguir as crenças teológicas” (p. 57).

A capa do recém lançado livro de Gustavo Biscaia de Lacerda:
"Laicidade na I República Brasileira: Os positivistas ortodoxos"

Dois pontos abordados pelo autor, que nos ajudam a compreender a atuação dos positivistas na transição do Império para a Primeira República, bem como a complexidade dos conflitos ligados à questão da laicidade no Brasil, são o processo de secularização dos cemitérios e a questão dos símbolos religiosos nos estabelecimentos do Estado.

Até então tomado como espaços de domínio da Igreja Católica, os cemitérios foram tema de debate entre os republicanos e positivistas já na década de 1870. Os pontos levantados questionavam o privilégio dado aos católicos em detrimento de adeptos de outras religiões. Também questionava o privilégio dado pela Igreja Católica – única administradora oficial de cemitérios públicos na época - tornando os cemitérios civis como uma solução que pudesse dar respeito à pluralidade religiosa do país, ainda que os católicos fossem a maioria da população.

O filósofo francês, Augusto Comte.

O segundo aspecto tomado por Lacerda – sobre os símbolos religiosos em estabelecimentos do Estado - nos coloca ante situações apontadas por Teixeira Mendes, então vice-diretor da Igreja Positivista do Brasil, relacionadas ao uso de símbolos religiosos em instituições do Estado republicano. Um dos casos abordados por Teixeira Mendes e que, aos nossos olhos, talvez possa nos dar um panorama da disputa pela laicidade do espaço público, é o caso de Domingos Eleodoro Pereira que, em 25 de março de 1892, arrancou um crucifixo que estava pendurado em um Tribunal de Júri na cidade do Rio de Janeiro.

Estes dois aspectos trabalhados nos folhetos da Igreja Positivista e analisados na obra de Lacerda nos mostram que a laicidade fazia parte de um projeto positivista que, ao garantir a liberdade religiosa somada a outros fatores, pudesse criar alicerces para o Estado ideal, ou sociocracia, na concepção comtiana, que garantiria a pluralidade religiosa e ideológica, alimentada pela fraternidade e altruísmo entre os homens. Tal Estado impediria abusos que resultariam da combinação entre o Poder Espiritual e Poder Temporal

O diretor da Igreja Positivista, Raimundo Teixeira Mendes.
Nota-se, ainda aqui, a importância dada pelos positivistas à memória dos mortos, pela valorização dos cemitérios como espaços de culto cívico, onde as pessoas pudessem lembrar-se dos feitos de outros cidadãos e relembrar os ideais defendidos pelos mesmos, sejam católicos, protestantes, judeus, ou de outras religiões. Mostram-nos também que o processo de laicização da República, mesmo com a Constituição de 1891 garantindo a separação entre Igreja e Estado, não foi realizado por completo e de imediato, sofrendo conflitos entre diversos setores da sociedade. Lacerda ressalta esse último ponto como um processo que, desde a Proclamação da República, sofreu avanços e retrocessos, encontrando-se ainda incompleto: observa que, por exemplo, a primeira Constituição republicana retirou o Ensino Religioso do currículo escolar público, sendo retomado na Constituição de 1934. Isso nos mostra que o Estado é um espaço de disputa entre os agentes da sociedade, onde, se em dado momento, algumas pautas avançam em detrimento das demais, em outro momento podemos observar a aspiração de outras demandas e o esforço para a retomada de velhas formas de organização social.

Gustavo Lacerda, em seu livro, permite-nos refletir sobre os problemas que enfrentamos na Primeira República referentes à Laicidade. Mas, em tempos em que vemos o avanço religioso sobre as instituições do Estado Republicano, também nos dá ferramentas para podermos pensar as fronteiras dessa questão tão cara para a sociedade ocidental em nossa contemporaneidade.

07 outubro 2017

Foto de Miguel Lemos

Reproduzimos abaixo uma foto de Miguel Lemos (1854-1917), fundador da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil e seu primeiro Diretor.

Infelizmente, não temos informação de quando é essa foto, nem por quem ela foi tirada. O original foi-me gentilmente cedido pelo meu amigo Hernani Gomes da Costa.



06 outubro 2016

Livro "Laicidade na I República Brasileira: Os Positivistas Ortodoxos"

Está à venda o livro "Laicidade na I República Brasileira: Os Positivistas Ortodoxos", de minha autoria e publicado pela editora Appris.

O livro aborda a atuação dos positivistas ortodoxos brasileiros - Raimundo Teixeira Mendes em particular - em favor da separação entre igreja e Estado no Brasil, ou seja, em favor da laicidade.

Modestamente, é uma das mais importantes contribuições para a história da laicidade e para a história do Positivismo no Brasil.


Raimundo Teixeira Mendes

29 agosto 2016

Opúsculos da Igreja Positivista disponíveis na internet

A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp - tem uma biblioteca digital. No acervo dessa biblioteca há diversas publicações da Igreja Positivista do Brasil, que indico abaixo, juntamente com os vínculos para acesso aos documentos.

Essa relação apresenta livros de Augusto Comte e também de Raimundo Teixeira Mendes; além deles, há uma obra de Condorcet ("Meios de aprender a contar") e de Clotilde de Vaux (correspondência e obra literária).

Entre os livros de Comte, estão o "Sistema de filosofia positiva" (indicado abaixo como "Cours de philosophie positive"), o "Discurso sobre o conjunto do Positivismo" e o "Discurso sobre o espírito positivo".

Já entre as obras de Teixeira Mendes estão disponíveis os dois volumes da imponente e importante biografia de Benjamin Constant Botelho de Magalhães, fundador da República brasileira.

Comte, Augusto & Vaux, Clotilde. 1916. Clotilde de Vaux, née Marie, et Auguste Comte. Le positivisme, esquisse d'un tableau de la fondation de la religion de l'humanité. Rio de Janeiro: Temple de l'Humanité. Disponível aqui.

Comte, Augusto & Vaux, Clotilde. 1916. Clotilde et Comte, très saints fondateurs de la religion de l'Humanité. Rio de Janeiro: Temple de l'Humanité. Disponível aqui.

Comte, Augusto. 1877. Cours de Philosophie Positive. Paris: J.-R. Baillière. Disponível aqui.

Comte, Augusto. 1896. Testament d’Auguste Comte. Paris: Fonds Typographique. Disponível aqui.

Comte, Augusto. 1907. Discours sur l’ensemble du positivisme. Paris: Société Positiviste Internationale. Disponível aqui.

Comte, Augusto. 1923. Discours sur l'esprit positif. Paris: Société Positiviste Internationale. Disponível aqui.

Condorcet, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat. 1903. Moyens d'apprendre à compter sûrement et avec facilité. Rio de Janeiro: Apostolat Positiviste du Brésil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1894. Benjamin Constant: esboço de uma apreciação sintetica da vida e da obra do fundador da República Brasileira. V. 1. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1899. Uma visitas aos lugares santos do positivismo. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1903. O culto católico. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1907. Christianisme, théisme et positivisme. Rio de Janeiro: Église Positiviste du Brésil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1907. L'Esprit et la lettre chez Auguste Comte. Rio de Janeiro: Église Positiviste du Brésil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1913. Benjamin Constant: esboço de uma apreciação sintetica da vida e da obra do fundador da República Brasileira. V. 2. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1913. Évolution originale d'Auguste Comte. Rio de Janeiro: Apostolat Positiviste du Brésil. Disponível aqui.

Teixeira Mendes, Raimundo. 1914. Pour l'humanité! Rio de Janeiro: Temple de l'Humanité. Disponível aqui.


Teixeira Mendes, Raimundo. 1916. Le positivisme: esquisse d'un tableau de la fondation de la religion de l'humanité. Rio de Janeiro: Église Positiviste du Brésil. Disponível aqui.

16 novembro 2015

Folha de S. Paulo: matéria sobre Igreja Positivista de Porto Alegre

No dia 15 de novembro de 2015 tivemos uma dupla boa notícia: por um lado, comemorou-se a Proclamação da República (1889); por outro lado, a Folha de S. Paulo estampou uma bela matéria sobre a Igreja Positivista de Porto Alegre (cujo original pode ser lido aqui).

Adicionalmente, é motivo de alegria o fato de que a matéria evitou lugares-comuns, não caiu no recurso fácil da ironia e foi fiel às corretas observações de Guardião Érlon Jacques. A única exceção a isso foi o comentário presente logo no título - comentário aliás tolo, desnecessário e incorreto - de que a Religião da Humanidade é uma "religião da ciência".

O texto está reproduzido logo abaixo. A versão eletrônica, que é a que reproduzimos, difere da versão impressa pela disponibilidade de fotos e gráficos animados.

*   *   *

Porto Alegre tem único templo ativo de 'igreja da ciência'

Ouvir o texto
PUBLICIDADE
O único templo da Igreja Positivista em funcionamento no mundo abre suas portas de madeira pintadas de verde todos os domingos, das 10h às 13h, em Porto Alegre.
Um mestre guardião é responsável pelas chaves do lugar, que é mantido com o apoio de sete apóstolos e cerca de 30 confrades assíduos -os simpatizantes chegam a centenas, segundo ele.
A fama do lugar é internacional: o sociólogo Michel Maffesoli, conhecido por tratados sobre a pós-modernidade, esteve ali três vezes.
O prédio foi inaugurado em 1928 e tombado pelo patrimônio estadual em 2010. A planta arquitetônica segue o projeto do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), propagador do positivismo.
A doutrina inspirou movimentos políticos no mundo todo. No Brasil, a proclamação da República é seu principal fruto. A bandeira nacional sintetiza o positivismo com os dizeres "ordem e progresso". Na fachada do prédio gaúcho lê-se o lema original de Comte: "O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim".
No Rio de Janeiro há um templo mais antigo, fechado. Em Curitiba, positivistas se reúnem numa sala comercial.
O positivismo é uma filosofia, mas gerou uma religião elaborada por Comte: ele descreveu como seriam o templo, os ritos e os símbolos.
"Comte concluiu que toda filosofia e sociologia à disposição do homem não bastavam para mudar a sociedade, e viu que a religião tinha esse poder. É utópica a nossa doutrina", afirma Erlon Jacques de Oliveira, atual guardião.
Oliveira, que é músico e adotou o positivismo há 15 anos, assumiu o posto depois que o antigo guardião, o empresário Afrânio Capelli, se "transformou", em 2013.
"Os positivistas não usam a palavra morte. Usamos a palavra 'transformação'", diz Oliveira. Depois vem a "incorporação", um ritual póstumo realizado após sete anos em que as cinzas do positivista são jogadas no "bosque sagrado", uma incorporação simbólica à humanidade.
"O lugar fica atrás do templo. Avaliamos em uma cerimônia se a vida do confrade foi convergente ou divergente", diz Oliveira. Os convergentes tiveram vida exemplar, enquanto os divergentes podem ter cometido atos de corrupção, por exemplo, e não são incorporados.
Templo positivista
RITUAIS E SÍMBOLOS
Na infância, Oliveira passava diante do templo quando ia ao parque da Redenção, a poucos metros dali, com o pai. O portão de ferro com a inscrição "Os vivos são sempre e cada vez mais necessariamente governados pelos mortos" assustava o garoto.
"Pensava que era coisa de fantasma. Hoje entendo que serve até como filtro, para afastar místicos", afirma.
O positivismo tem como dogma a ciência e o conhecimento. Nada que não possa ser "comprovado", como espíritos, por exemplo, é propagado. "Comte criou uma religião com dogma sempre atualizado", diz o guardião.
Os degraus da escada do templo têm inscrições que simbolizam a evolução da humanidade, objetivo da doutrina. O altar é adornado com bustos de "grandes homens" que representam áreas do conhecimento, como Gutenberg (indústria) e Arquimedes (ciência antiga).
O positivismo tem calendário próprio, com 13 meses. O marco zero é o ano de 1789, ano da Revolução Francesa.
Em um culto do mês de Descartes do ano 226 do calendário positivista, ou seja, em outubro de 2015, Oliveira falou sobre o "poder da internet, tanto para a informação como para a alienação". Os temas são sempre debatidos em grupo e buscam divulgar o conhecimento "clássico".
Para o futuro, os planos são realizar os ritos estabelecidos por Comte. "Já realizamos o fúnebre, agora vamos celebrar casamentos e batizados", revela Oliveira. 
Ouvir o texto

Livraria da Folha

07 setembro 2015

Em documentário, jornalista português retrata origens da “Última Religião”

O original da matéria abaixo foi publicada - com a felicidade de ocorrer no dia da Proclamação da Independência do Brasil - no jornal Hoje Macau e o vínculo do original pode ser lido aqui.

A matéria é bastante interessante e o jornalista entrevistado nota uma série de elementos interessantes e corretos do Positivismo - como a observação de Comte segundo a qual "todos somos positivistas em diferentes graus" (mencionada no final do texto).

Todavia, ele comete um erro importante ao afirmar que houve, ou há, igrejas da Humanidade apenas no Brasil (no caso, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre): além de haver também em Curitiba, há também em Paris (é a Capela da Humanidade, existente lá desde 1904) e houve inúmeras igrejas por toda a Europa (por exemplo, pelo menos três na Inglaterra).

*   *   *

Documentário | Jornalista português retrata origens da “Última Religião”

“Há ideias que fazem sentido”
   
Hugo Pinto, jornalista português radicado em Macau, esteve no Brasil para documentar a doutrina de Auguste Comte, que trabalha o conhecimento como uma religião
Ojornalista português Hugo Pinto retratou em documentário as origens, o culto e a minoria seguidora da “Última Religião” – a da Humanidade –, com marca em símbolos nacionais do Brasil onde figura, aliás, um último reduto. O documentário de estreia do jornalista radicado em Macau, de 35 anos, versa sobre Religião da Humanidade, sem Deus e dos Homens, concebida pelo filósofo francês Auguste Comte, no século XIX, que tem o único “templo” de portas abertas na cidade brasileira de Porto Alegre.
O jornalista Hugo Pinto, em frente a um busto de Comte.

“O tema congrega quase todas as minhas áreas de interesse: a Filosofia, a Religião, a Ciência e a História. Depois, sempre me fascinou o interesse que Auguste Comte tinha em criar uma ciência da organização da sociedade e a forma como pensou todos os seus elementos estruturantes”, explicou Hugo Pinto à agência Lusa. 
O documentário foi filmado no Brasil, onde Hugo Pinto esteve aproximadamente um mês para conhecer a influência de uma religião, em cujos princípios Hugo Pinto vê actualidade: “Há ideias que fazem sentido, que se mantêm muito oportunas, como o altruísmo, um termo que o próprio cunhou”.
A doutrina positivista de Comte influenciou inclusive a própria História do Brasil, onde tem hoje o último bastião. “Estiveram na Proclamação da República e até desenharam a bandeira nacional, no entanto, poucos conhecem a importância histórica dos positivistas”, ignorando, por exemplo, que “a ‘Ordem e Progresso’ é um lema do positivismo”.
“A doutrina, em voga na ala militar, cujo movimento levou à proclamação da República, teve em Miguel Lemos e em Raimundo Teixeira Mendes, dois intelectuais que foram estudar para Paris, então centro do mundo, os grandes promotores das ideias positivistas”, importadas, portanto, pelas elites para um Brasil carente de reformas e ávido de mudança.
“Quando regressaram, primeiro criaram o apostolado positivista, mais tarde, a igreja positivista do Brasil, e esse foi o grande centro difusor. Imprimiram centenas de panfletos, explicando as ideias e abordando diversos temas, como a importância da laicidade, do respeito pelas populações indígenas, (…), das leis trabalhistas. Todas estas são conquistas que reclamam como grandes legados deixados pelos positivistas”, observa.

IMPRESSÕES E FASCÍNIOS

Um dos aspectos que surpreendeu o jornalista de Macau foi o facto de ideais como a laicidade terem penetrado num país maioritariamente católico que tem, aliás, o Cristo Redentor como um dos principais símbolos. “Foi outro dos motivos pelos quais esta história me fascinou, porque é, de facto, um terreno imensamente fértil para as religiões, até para a da Humanidade”.
Comte “acreditava que o mundo só poderia ser explicado pela ciência e que a Fé seria substituída pela Razão”, rejeitava um Deus sobrenatural, mas reconhecia na religião “um papel importante de união em torno de uma ideia comum e uma ordem moral contra a anarquia do egoísmo”.
“O tema congrega quase todas as minhas áreas de interesse: a Filosofia, a Religião, a Ciência e a História”
Contudo, ressalva Hugo Pinto, o filósofo francês imaginou que pelo mundo fora seriam erigidos Templos da Humanidade, mas isso só aconteceu no Brasil e em duas cidades: Rio de Janeiro e Porto Alegre. Hoje, apenas os pilares de um se encontram de pé, frequentado por poucas dezenas de “fiéis”.
“A Última Religião” dá a conhecer “as ideias e as pessoas que, hoje, ainda defendem e acreditam num mundo mais dominado pelo conhecimento e pelo altruísmo como formas de combater dois dos maiores problemas à escala global: o fundamentalismo religioso e os horizontes fechados do capitalismo”, disse.
Hugo Pinto prepara-se agora para lançar a produção independente, que contou com a realizadora portuguesa Luísa Sequeira, no circuito dos festivais, sem esconder a natural preferência por salas do Brasil, Europa e Ásia.
Questionado se acabou por se render à doutrina, o jornalista responde: “Comte diz que todos somos positivistas, mas em graus diferentes”.

05 setembro 2015

Inepac apoia candidatura da Igreja Positivista a programa da UNESCO

Notícia original: disponível aqui.

*   *   *

Órgãos de preservação do patrimônio histórico apoiam candidatura de acervo documental da Igreja Positivista a programa da UNESCO






Conjunto de bens indicado ao projeto Memória do Mundo reúne folhetos publicados pela instituição entre o final do Império e o início da República


    A Secretaria de Estado de Cultura, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e da Superintendência de Museus, em conjunto com o Museu Casa de Benjamin Constant, o Museu da República, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), a Igreja Positivista do Brasil e a Associação dos Amigos doTemplo da Humanidade, integram uma comissão para apoiar a candidatura do acervo documental daIgreja Positivista no programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura(UNESCO). Além do apoio à candidatura, a comissão também apoiará a preservação da memória e dos bens culturais do Templo da Humanidade, sede da igreja localizada na rua Benjamin Constant, 74, no bairro da Glória.


     O acervo documental é constituído por um conjunto de folhetos publicados entre 1881, no final do Império, e a primeira metade do século XXI pela Igreja Positivista do Brasil. Os temas abordados remetem a diversas questões de ordem moral e política, como a representatividade da mulher na sociedade, a defesa da laicidade do Estado e da liberdade religiosa, a crítica ao sistema de saúde pública, a importância dos direitos trabalhistas e assuntos de política internacional. Entre os membros da Igreja Positivista se destacaram Décio Villares e Eduardo de Sá, Benjamin Constant e Demétrio Nunes Ribeiro, o Marechal Cândido Rondon, Miguel Lemos, Teixeira Mendes e Euclides da Cunha.


     Entre as ações da comissão está o levantamento do acervo documental e a articulação institucional, com o objetivo de promover ações de preservação e salvaguarda desse relevante bem cultural tombado pelas esferas federal, estadual e municipal. 

31 agosto 2015

Igreja Positivista concorre a prêmio da Unesco

A nota abaixo foi informada pelo nosso correligionário Paulo Augusto Proença Rosa e foi publicada no jornal O Globo, de 31.8.2015. A nota original pode ser lida aqui.

Além da importância política, social e histórica, a participação em tal certame da Unesco tem um outro elemento: a própria Unesco teve como um de seus fundadores o positivista brasileiro Paulo Estevão Berredo Carneiro.

Um pequeno esclarecimento: o Inepac é o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, do Rio de Janeiro.

*   *   *


A história da República

O acervo da Igreja Positivista do Brasil, na Glória, concorre ao Prêmio Memória do Mundo da UNESCO.

Os documentos  assinados por nome como Benjamim Constant e Miguel Lemos,
contam a criação da República do Brasil.

O dossiê, catalogado pelo INEPAC, acaba de ser encaminhado a UNESCO  e o resultado sai até o fim do ano.


Nota publicada no jornal O Globo, de 31.8.2015.