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24 janeiro 2024

Necessidades individuais satisfeitas pelas religiões

No dia 23 de Moisés de 170 (23.1.2024) iniciamos as atividades da Igreja Positivista Virtual no ano de 170 (2024). Nessa ocasião, demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua nona conferência, dedicada ao conjunto do regime.

Antes da leitura comentada, indicamos diversas atividades realizadas no período do recesso: 

- a comemoração da Festa da Humanidade (1º de Moisés/1º de janeiro);

- a celebração do nascimento de Augusto Comte e também a celebração de Rosália Boyer (19 de Moisés/19 de janeiro);

- a criação da coleção "Positivism" na biblioteca virtual Internet Archive.

Depois desses anúncios, lembrando que o Positivismo é uma religião cívica, lemos o manifesto intitulado "Pela república, a favor da sociocracia, contra o terrorismo fascista", lançado em 8 de Moisés de 170 (8.1.2024) (disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2024/01/manifesto-pela-republica-favor-da.html).

Na parte do sermão, comentamos as necessidades individuais satisfeitas pelas religiões. As anotações que serviram de base para essa exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (disponivel aqui: https://l1nq.com/psLt3) e Igreja Positivista Virtual (disponível aqui: https://acesse.one/uBHLP).

A leitura do manifesto iniciou-se aos 13 min 56 s.

A leitura comentada do Catecismo positivista começou aos 34 min 25 s.

O sermão começou em 1h 12 min 05 s.

*   *   *


-        Há algumas semanas tivemos uma observação, que é também uma espécie de dúvida, apresentada por um jovem que tem estudado o Positivismo:

o   Por vezes as teologias obtêm e mantêm seus aderentes devido à necessidade de muitos indivíduos de verem-se tutelados integralmente, o tempo todo, por entidades todo-poderosas

-        Em primeiro lugar, a percepção de que há teológicos que precisam desse tipo de tutela não pode conduzir-nos à ilusão, ou até ao preconceito, de que todos os teológicos buscam essa tutela

o   Em primeiro lugar, devemos lembrar que há diferentes tipos de teologia e que, portanto, elas geram ou estipulam diferentes tipos de comportamentos

§  A busca de tutela é mais própria ao monoteísmo – e, em particular, ao monoteísmo cristão – que ao politeísmo, em que os vários deuses têm comportamentos díspares mas que, com freqüência, não são exatamente tutelares (e as tutelas são particulares a grupos ou âmbitos específicos)

o   Mas, de qualquer maneira, mesmo no caso do monoteísmo cristão, diferentes tradições e diferentes indivíduos têm relações diferentes com a divindade

§  A relação de submissão solicitante mantém-se em geral, mas é claro que, por um lado, há indivíduos que requerem menos a tutela, assim como, por outro lado, há indivíduos que solicitam mais a tutela

-        A busca de uma divindade todo-poderosa que tutele o tempo todo os indivíduos é característica de naturezas mais frágeis, por vezes em termos objetivos (isto é, pessoas que vivem na pobreza ou na miséria), mas com freqüência em termos subjetivos

o   Em face disso, duas reflexões surgem:

§  (1) Pessoas mais frágeis precisam de mais apoio

·         Mas não devemos criticar essa necessidade em si mesma: isso é uma questão de respeito às características pessoais de cada um e mesmo às condições sociais em que vivem, além de isso evocar a regra do dever altruístico: a dedicação dos fortes pelos fracos

§  (2) Mas, por outro lado, em certas situações, essa busca de tutela tem de fato um aspecto de infantilidade, em que um adulto busca o apoio subjetivo de uma figura paterna (ou, mesmo, em termos mais amplos, de uma figura parental)

o   Ora, como indicamos antes, diferentes religiões estimulam diferentes sentimentos e, daí, conduzem a diferentes comportamentos: os monoteísmos efetivamente estimulam mais a busca de uma tutela absoluta:

§  As figuras patriarcais, tutelares e vingativas do judaísmo e do cristianismo, a divindade punitiva do Islã, mesmo as ambigüidades afetivas e apocalípticas da trindade cristã

§  Tudo isso, próprio a uma época que já se encerrou há muito e muito tempo, ainda hoje estimula bastante muitos comportamentos irresponsáveis, seja porque são “fanáticos”, seja porque são infantilizados

-        Feitos esses comentários, devemos ter cuidado com outra coisa: não devemos apenas criticar a situação dos monoteístas que buscam a tutela; devemos considerar que essa busca em si mesma corresponde a uma necessidade humana verdadeira e legítima, mas cuja solução teológica (em particular monoteísta), como de hábito, é inadequada

o   Antes de prosseguirmos, devemos lembrar que as divindades monoteicas – seja a do judaísmo, seja a do catolicismo, seja a islamismo – estão radicalmente separadas dos seres humanos, não precisam dos seres humanos para nada e, ante elas, os seres humanos estão solitários e desamparados

§  A solidariedade terrena é certamente estimulada pelo altruísmo inato ao ser humano, mas, do ponto de vista dogmático, tal solidariedade é apenas uma forma de aumentar o exército de indivíduos isolados (e interesseiros) perante a divindade que não tem nenhum interesse real em nós

-        A noção de “Humanidade” tem, e tem que ter, um aspecto de conforto, de apoio; esse elemento é tanto objetivo quanto subjetivo

o   Antes de mais nada, devemos ter clareza de que o apoio fornecido pela Humanidade é de caráter relativo e não absoluto, ou seja, não é todo-poderoso e em larga medida depende das ações dos seres humanos

o   Augusto Comte referia-se por vezes à Humanidade como a nossa “providência real”: esse aspecto de “providência” já deixa claro que é ela, a Humanidade, que nos cria e que, em última análise, fornece-nos tudo aquilo de que precisamos

§  A imagem que representa a Humanidade (a mulher com cerca de 30 anos, segurando em seu colo um bebê) sugere diretamente o apoio, o carinho, o afeto, o conforto que a Humanidade provê e inspira-nos

o   Mas a Humanidade é relativa e é composta; como dizia Augusto Comte a partir de Dante, ela é “filha de seu filho”: a Humanidade tem vários âmbitos de atuação

-        Por um lado, a Humanidade é um ser composto: seus mínimos elementos são as famílias e as mátrias; nas famílias e nas mátrias – e também, cada vez mais, no que se chama atualmente de “sociedade internacional” – buscamos e obtemos os apoios de que necessitamos

o   O centro moral de cada família é a mulher, seja como esposa, seja como mãe: assim, o conforto moral que ela provê é uma prefiguração da deusa positiva

o   Além disso, em parte generalizando o apoio doméstico, em parte solucionando as dificuldades que, concretamente, todos podemos enfrentar na obtenção de apoio e amparo doméstico, Augusto Comte elaborou a concepção dos “anjos da guarda”

§  Os anjos da guarda consistem precisamente naquelas figuras que nos ampara(ra)m afetivamente e que, por isso, são merecedoras da nossa idealização pessoal

§  Essas idealizações são esforços conscientes da nossa parte de homenagear essas figuras, estabelecendo-as como importantes e poderosos apoios subjetivos em nossas vidas, o que resulta, além disso, em estímulos contínuos para o nosso desenvolvimento e aperfeiçoamento moral, intelectual e prático

-        Por outro lado, a ação da Humanidade é tanto objetiva quanto subjetiva:

o   Citamos há pouco as famílias e as mátrias (e até a sociedade internacional): elas têm um caráter objetivo, ao fornecer-nos o amparo material em nossas vidas

o   Mas as famílias, as mátrias e a Humanidade, evidentemente, também atuam de maneira subjetiva, ao estimular, alimentar e regular nossos sentimentos e nossas idéias

§  Aliás, é exatamente dessa forma e a partir dela – isto é, da característica subjetiva – que cada um de nós pode ter o apoio e o amparo da Humanidade:

·         Seja por meio da inspiração da figura abstrata da Humanidade, seja por meio da ação mais direta e concreta das nossas mães, das nossas esposas, das nossas irmãs, a Humanidade acolhe-nos e conforta-nos

·         Por outro lado, as famílias, as mátrias, a Humanidade inspiram-nos a noção de dever, isto é, de responsabilidades de todos para com todos, em particular dos fortes para com os fracos

o   O resultado dos aspectos objetivos e subjetivos é que a Humanidade:

§  Conforta-nos ativa e passivamente, direta e indiretamente

§  Cria, mantém e desenvolve as condições para esse conforto

§  Esse conforto não é só subjetivo, mas é também objetivo, na medida em que a realidade humana não é a de um isolamento individual radical, mas é a de relações permanentes por todos os lados – relações que, aliás, não se limitam aos seres humanos, mas estendem-se aos animais domésticos e, por meio do fetichismo, também a muitos objetos, ao Sol, à Lua, ao fogo etc.

§  Mas temos que insistir neste ponto: o conforto objetivo e subjetivo provido pela Humanidade estimula e, na verdade, exige a noção de dever, isto é, de responsabilidade de todos para com todos

-        Como uma decorrência do aspecto anterior (objetividade/subjetividade), a ação da Humanidade dá-se tanto no presente quanto, ainda mais, no passado e no futuro:

o   A distinção entre passado/futuro e presente conduz-nos à distinção entre a vida objetiva e a vida subjetiva de uma forma mais precisa, ao indicar que na vida subjetiva estão todos os seres humanos convergentes que já morreram, além de aqueles todos que ainda não nasceram; na vida objetiva estão os servidores da Humanidade, os seus agentes concretos, que são todos os indivíduos que atuam em prol dos seres humanos e das coletividades

§  Não existem indivíduos por si sós; o que há são integrantes de famílias e de mátrias, que também colaboram para a Humanidade

o   Por um lado, os indivíduos, ou melhor, os agentes concretos da Humanidade são os titulares de deveres

§  Esses deveres, aliás, mudam de acordo com os grupos sociais que se considera; quanto mais recursos tiverem os grupos sociais, maiores são seus deveres e, portanto, maiores são as cobranças que devem ser feitas sobre eles

§  De qualquer maneira, como já indicamos algumas vezes: entre os deveres que cabem a todos estão os de atuarem em prol dos demais (é o objetivo concreto do “viver para outrem”) e, portanto, o de atuarem objetivamente como a providência que é a Humanidade

o   Por outro lado, os agentes concretos da Humanidade são confortados, inspirados, alimentados e orientados pela Humanidade em suas ações

§  A lei do dever, isto é, o “viver para outrem”, é também um ideal, um objetivo geral que orienta a vida de cada um de nós

§  Assim, sob a inspiração da Humanidade, colaboramos ativamente para o melhoramento e o enriquecimento da vida de todos como, em termos “puramente” individuais, temos sempre objetivos de vida: não ficamos nunca sozinhos no universo nem ficamos desorientados em nossas vidas

-        Para concluir:

o   Como dissemos antes, diferentes religiões estimulam diferentes traços da natureza humana

o   Os monoteísmos estimulam com freqüência – e talvez de maneira particular – a busca do tutelamento individual, ou melhor, a busca de uma tutela infantilizante

o   Mas se a tutela infantilizante é uma solução que, no final das contas, é degradante, ainda assim podemos considerar que ela baseia-se por vezes em necessidades legítimas – de apoio, de amparo, até mesmo de orientação na vida

o   A respeito de todos esses aspectos, a noção e a realidade da Humanidade satisfazem mais e melhor os seres humanos:

§  Os vários níveis concretos da Humanidade apóiam-nos e amparam-nos de verdade

§  A noção abstrata de Humanidade estabelece a lei do dever, que permite o apoio e o amparo e que dá sentido à vida de cada um de nós

§  Essas diversas concepções podem parecer muito abstratas à primeira vista, mas elas são radicalmente concretas: nossas mães são nossos amparos; cada família, cada mátria, cada indivíduo, cada animal, cada fetiche atua para melhorar nossas vidas: é assim, e é só assim, que age a Humanidade e que é possível termos apoio e amparo

·         Inversamente, cada ser humano que atua de maneira egoística e/ou destrutiva age contra a lei do dever e contra a Humanidade


20 janeiro 2024

Celebração de Augusto Comte e de Rosália Boyer

No dia 19 de Moisés de 170 (19.1.2024) realizamos a celebração do nascimento de Augusto Comte;  além disso, seguindo a tradição estabelecida pela Igreja Positivista do Brasil, na mesma data realizamos a celebração da mãe de Augusto Comte, Rosália Boyer. A Igreja Positivista do Rio Grande do Sul associou-se a nós nessa celebração.

Ambas as celebrações foram transmitidas no canal Positivismo e estão disponíveis aqui: https://l1nq.com/GzhjG.

A honra da celebração do próprio Comte coube ao nosso amigo e correligionário Hernani Gomes da Costa. A sua participação começa aos 39 min 53 s.

A celebração de Rosália coube a nós mesmos. As anotações que serviram de base para a nossa exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

*   *   *


Celebração de Rosália Boyer 

No dia 19 de Moisés (19 de janeiro) celebra-se o nascimento de Augusto Comte; conforme o belo calendário estabelecido para os cultos públicos da Igreja Positivista do Brasil, também nessa data se celebra Rosália Boyer, mãe de nosso mestre e um de seus anjos da guarda. (Da mesma forma, no dia 5 de setembro celebra-se a transformação de nosso mestre – e Sofia Bliaux.)

Apesar da importância de Rosália, é notável que haja pouquíssimas indicações de sua vida. As biografias de Augusto Comte escritas pelo dr. Robinet (Notícia sobre a vida e a obra de Augusto Comte) e por José Longchampt (Epítome da vida e dos escritos de Augusto Comte) apresentam apenas indicações gerais sobre ela, de modo geral relativas ao episódio da crise cerebral de 1826-1827. A biografia que apresenta mais dados sobre Rosália é a de Mary Pickering (Auguste Comte, An Intellectual Biography, v. 1), a despeito do desprezo da autora por Augusto Comte e pelo positivismo e do seu desejo de contradizer tudo o que a tradição positivista (e mesmo a não positivista, a exemplo de Henri Gouhier) disse sobre a vida de Augusto Comte[1]. Também nos valemos do belo volume cultual de Teixeira Mendes, Comte et Clotilde.

Rosália Boyer Comte nasceu Félicité-Rosalie Boyer em 28 de janeiro de 1764, na pequena comuna de Jonquières (no departamento do Hérault), e faleceu em 3 de março de 1837, em Montpellier (sede do Hérault) – portanto, com a idade de 73 anos.

A família de Rosália era de Jonquières; seu pai era mercador e vinha de uma conhecida família de doutores. Casou-se com 32 anos, em 1796, em Montpellier, e teve quatro filhos: Augusto (1798), Alice (1800), um logo falecido (em 1801) e Adolfo (1802). Na medida em que seu marido, Luís-Augusto Comte, passava a maior parte do tempo fora de casa, no trabalho, Rosália era a figura mais importante da casa; segundo a expressão de Augusto Comte em 1837, após a morte de sua mãe, ela também era a “figura mais apaixonada” da casa. Ainda segundo nosso mestre, fisicamente ele parecia-se com seu pai, mas suas características morais eram mais conforme sua mãe: seus sentimentos, sua inteligência, seu caráter. Apesar disso, as relações de Comte com sua mãe (e com seu pai) não eram muito próximas durante a infância de nosso mestre; os seus estudos foram realizados no liceu local, o que o afastava dos pais (e principalmente da mãe); mais tarde, com sua mudança para Paris, essa distância aumentou ainda mais, em particular devido às diferenças de opinião entre eles. Rosália era católica praticante e levava a sério as explicações teológicas da vida; além disso, ela compartilhava as opiniões monarquistas do seu marido.

Com a idade de 16 anos Augusto Comte foi admitido na Escola Politécnica, tendo obtido o primeiro lugar nos exames do Centro-Sul do país; a partir daí, apesar de uma temporada de retorno a Montpellier, Paris tornou-se a cidade do filósofo. Apesar disso, em Paris, as dificuldades financeiras, as opiniões políticas e filosóficas, as relações sociais (incluindo Saint-Simon) e, depois, também o casamento com Carolina Massin foram motivos de grande tensão entre Augusto Comte e seus pais.

A correspondência entre Augusto Comte e sua família (mãe, pai, irmã) indica reiterados pedidos de dinheiro da parte do filósofo, assim como cobranças da parte da família para que ele estabelecesse-se na vida, obtivesse um bom emprego, afastasse-se das más companhias, voltasse à religião católica etc. Isso gerou animosidade profunda de parte a parte, que só foi começou a ser revertida após a morte de Rosália, em 1837, e que só mudou efetivamente em 1855, com a reconciliação de Augusto Comte com seu pai.

Além dessa tensa e constante troca de cartas, o episódio mais importante da vida de Rosália para Augusto Comte já adulto foi o do acompanhamento da crise cerebral de 1826 e 1827.

Como se sabe, em 19.2.1825 Augusto Comte casou-se com Carolina Massin, contra a mais viva resistência dos pais. Um ano depois, em 2.4.1826, ele começou as aulas orais do “Curso de filosofia positiva”: entretanto, as enormes exigências intelectuais do curso, somadas ao comportamento reprovável de Carolina, bem como às dificuldades materiais do casal, conduziram Augusto Comte a uma crise nervosa após a terceira sessão do curso. Em 18.4.1826 Augusto Comte foi recolhido à clínica psiquiátrica do Esquirol, com o auxílio de Blainville. Mais tarde, no “Prefácio pessoal” do v. 6 do Sistema de filosofia positiva, de 1842, Augusto Comte observaria que essa crise por si só se resolveria naturalmente, caso o tratamento dispensado fosse o cuidado físico e a proteção moral; mas tanto o tratamento físico quanto os remédios aplicados por Esquirol e o ambiente alienado de sua clínica mantiveram e agravaram seu estado alterado.

Enfim, essa internação foi mantida em sigilo, para evitar prejudicar a reputação de Augusto Comte, de modo que nem a família Comte em Montpellier sabia do ocorrido. Mas o pai de Carolina escreveu uma carta à família Comte descrevendo o ocorrido; essa carta chegou em 17.5.1826: no dia seguinte Rosália partiu rumo a Paris, apesar da dureza e da duração da viagem e apesar de ter, à época, 62 anos e uma saúde mais ou menos frágil.

Sendo católica e detestando Carolina Massin, as primeiras ações de Rosália em Paris foram no sentido de tentar tirar Augusto Comte do Esquirol e ou levá-lo para Montpellier ou interná-lo em alguma instituição católica. Como ambas essas iniciativas falharam, ela tentou em seguida realizar uma “intervenção” judicial, em que Augusto Comte seria tutelado por seu pai e residiria em Montpellier: uma reunião para essa intervenção realmente ocorreu, em 15.6.1826, mas, em face do estado do doente, foi necessária uma nova reunião subseqüente, que foi obstada por Carolina. A participação de Carolina em ambos os episódios foi depois considerada por Augusto Comte como a única ação verdadeiramente digna da moça.

A partir daí, Rosália e Carolina mais ou menos fizeram as pazes em prol do restabelecimento de Augusto Comte. Rosália só conseguiu autorização de Esquirol para ver o filho em 15.9.1826; em todo caso, Rosália ia à clínica todos os dias. Com a persistência do problema – e considerando os altos custos da clínica –, decidiu-se que seria melhor tirar Augusto Comte de lá, talvez para levá-lo a Montpellier; em 2.12.1826 ele voltou para o lar conjugal, onde, por insistência de Rosália e graças à intermediação do padre Lammenais, realizou-se imediatamente uma cerimônia católica de casamento, apesar de Augusto Comte não estar nas mínimas condições de participar dela. Após isso, Rosália partiu de Paris; reinstalado em sua casa, em um ambiente mais sadio, aos poucos ele recuperou sua normalidade. (Apesar disso, ao longo de 1827 ele manteve-se tenso e suscetível; assim, em abril desse ano ele tentou o suicídio no rio Seno, durante o dia. Salvo por um guarda real, envergonhado por sua ação, ele tomou a decisão de buscar ativamente o restabelecimento.)

Em agosto de 1828 Augusto Comte publicou o oitavo e último dos seus “opúsculos de juventude”, o exame do livro de Broussais sobre a irritação e a loucura. Por fim, em 4.1.1829, dois anos e meio após o início da primeira exposição oral do “Curso de filosofia positiva”, Augusto Comte reiniciou, desde a primeira lição, o curso.

Enfim: após a saída de Augusto Comte da clínica de Esquirol e a cerimônia católica de casamento, Rosália voltou a Montpellier; ela nunca mais veria o filho e este, desde 1825 (após o casamento com Carolina), nunca mais viu a mãe em condições de plena sanidade. Ainda assim, ao longo do primeiro semestre de 1827, ela enviou-lhe regularmente pequenas economias, para ajudar Augusto Comte.

Quando Rosália faleceu em 1837, Augusto Comte aproveitou as viagens que ele fazia pelo Centro-Sul da França como examinador da Escola Politécnica para ir a Montpellier e visitar a família, hospedando-se na casa dos pais. Foi então que afirmou a importância da mãe em sua infância e em seu caráter; da mesma forma, a partir daí reconheceu – e lamentou – a relativa pouca influência que ela teve sobre ele, devida em parte ao sistema educacional de que participou, em parte devido ao que ele desejava para sua vida.

As limitações nas relações com sua mãe foram parcialmente corrigidas, e acima de tudo foram valorizadas e cultuadas, durante a carreira religiosa de Augusto Comte:

1)      com o reconhecimento e com o lamento, no “prefácio” ao v. 1 do Sistema de política positiva, da sua falta de ternura para com sua mãe;

2)      no Catecismo positivista, com a instituição dos “anjos da guarda”, em particular com os três anjos particulares de Augusto Comte: Clotilde, Rosália e Sofia;

3)      com a previsão de dedicatória dos dois volumes da Moral positiva (volumes 2 e 3 da Síntese subjetiva, dedicados respectivamente à Moral Teórica e à Moral Prática) a Rosália;

4)      com as suas preces cotidianas sendo dirigidas principalmente a Clotilde, mas também a Rosália e a Sofia;

5)      com a sua planejada inumação entre seus três anjos da guarda.

No velório de Augusto Comte, de 5 para 8 de setembro de 1857, lia-se a seguinte inscrição no caixão: “À la digne mère d’Auguste Comte, Rosalie Boyer, née le 28 janvier 1764, à Jonquières (Hérault), et dècèdée le 3 mars 1837, à Montpellier”[2].

Rosália teve seus defeitos e, por vezes, agiu de maneira que não foi valorizada por Augusto Comte. Apesar disso – e essa restrição, o “apesar disso”, é central para nós –, ela foi uma pessoa que se preocupou, ao longo de toda a sua vida, com seus filhos e com sua família, mesmo que à distância; assim, literalmente, ela foi um anjo da guarda para Augusto Comte. Isso representa bem em que consiste a idealização proposta pelo Positivismo, ou melhor, pela Religião da Humanidade, especialmente no caso das mulheres: a dedicação com vistas ao aperfeiçoamento moral dos seres humanos.

 

Alto-relevo de Rosália no Cemitério Père-Lachaise, em Paris[3]

 

“Rosália Boyer, mãe de Augusto Comte, votando seu filho à regeneração social” (Eduardo de Sá, IPB, Rio de Janeiro)[4]

 

“Augusto Comte refletindo sob a inspiração de seus anjos da guarda” (Antônio Etex, 1853?)




[1] Vale notar que as opiniões da autora são expostas ao mesmo tempo em que ela cita – mas não reproduz! – centenas de documentos, muitos dos quais inéditos; assim, os leitores temos pura e simplesmente que confiar na autoridade da autora. Inversamente, postura bem diversa foi adotada pelos positivistas: Miguel Lemos e Teixeira Mendes citavam extensa e profusamente Augusto Comte, tanto em português quanto em francês; da mesma forma, o dr. Robinet incluía em seus livros centenas de páginas de “peças justificativas”: com isso, qualquer leitor podia, como pode, avaliar as opiniões dos autores e historiadores a partir do cotejo direto com as personalidades citadas. Isso é precisamente o que o historiador paranaense Denisson de Oliveira chama de “história hipertextual”.

[2] “À digna mãe de Augusto Comte, Rosália Boyer, nascida em 28 de janeiro de 1764, em Jonquières (Hérault), e falecida em 3 de março de 1837, em Montpellier”.

[3] Fonte: Amiset Passionnés du Père-Lachaise. Doação do positivista brasileiro, o Almirante Henrique Batista da Silva Oliveira.

[4] Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte et Clotilde.

04 janeiro 2024

Augusto Comte: "Teoria geral da religião" (SPP II, cap. 1)

Encontra-se digitalizada e disponível para consultar (e para baixar) a tradução do capítulo 1 do volume II do Sistema de política positiva, de Augusto Comte (originalmente publicado em 1852). A tradução foi feita em 2004 pelo positivista paranaense Pedro Bertomé de Mendonça e publicada em edição privada em 2005; ela apresenta uma série de anotações e documentos adicionais explicativos.




01 janeiro 2024

Celebração da Festa da Humanidade (170/2024)

No dia 1º de Moisés de 170 (1.1.2024) celebramos a Festa da Humanidade.

Tal celebração foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Jxnmz) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/60V4k).

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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Celebração da Festa da Humanidade – 170 (2024)[1] 

-        Ela é a mais importante festa do Positivismo, celebrando o verdadeiro ser supremo, a nossa verdadeira providência, o objeto contínuo de nossa devoção, nossos pensamentos e nossas ações

o   A celebração da Festa da Humanidade é ao mesmo tempo fácil e difícil

o   Há muito a ser falado em homenagem à nossa deusa – e, por isso mesmo, corremos o risco de sermos ingratos ao deixarmos de mencionar algum aspecto mais ou menos central, ou mesmo algum aspecto secundário

o   A data específica da Festa da Humanidade – dia 1º de Moisés, primeiro dia do ano – também é plena de referências e possibilidades:

§  Após a celebração da Festa Geral dos Mortos, na véspera, em que celebramos a subjetividade que vem antes de nós, celebramos hoje a grande continuidade humana

§  No calendário positivista concreto, o dia de hoje é consagrado a Prometeu, figura mitológica que, embora mitológica, integrando o panteão grego, aceitou sacrificar-se pelo bem da Humanidade

·         Com Prometeu temos o culto fetichista do fogo – culto que é espontaneamente rememorado todos os anos, com os fogos de artifício celebrando a esperança, a renovação e a permanência da vida, a busca de paz e prosperidade[2]

·         Além disso, cada vez mais o espetáculo dos fogos de artifício assumem um caráter mais de luzes e menos de barulho, indicando ao mesmo tempo a iluminação e o respeito aos nossos auxiliares animais e aos seres humanos mais frágeis (os autistas)

§  No calendário positivista abstrato, hoje se inicia o mês dedicado precisamente à Humanidade, com o vinculo mais universal possível, o religioso

o   Em face das inúmeras possibilidades, temos que nos resignar em falar de algumas coisas e em deixar algumas outras de lado

§  Aquilo que não citamos, não é citado por desleixo, mas por impossibilidade prática

-        Comecemos então nossa pequena celebração relembrando as palavras pronunciadas pelo apóstolo positivista inglês Richard Congreve na Igreja Positivista de Londres em todas as suas Festas da Humanidade – palavras repetidas por Miguel Lemos aqui no Brasil e, depois, também por Alfredo de Moraes Filho, de modo que nos orgulhamos de restabelecer e integrar uma tradição cultual que tem mais de 150 anos: 

Prece à Humanidade (Richard Congreve)

Com todos os centros de nossa fé onde quer que existam, com todos os seus discípulos esparsos, com os fiéis de todas as outras religiões ou crenças quaisquer, monoteístas, politeístas ou fetichistas, subordinando todas as distinções secundárias ao laço exclusivo de uma aspiração religiosa comum; com toda a raça humana, isto é, com o homem, onde quer que se ache e qualquer que seja a sua condição, subordinando também todas as distinções secundárias ao laço único de nossa comum Humanidade; com as raças animais que foram, durante a longa e trabalhosa ascensão humana, os nossos companheiros e auxiliares, como ainda o são; — estejamos hoje, nesta festa da Humanidade, unidos por uma consciente simpatia.

E não somente com os nossos contemporâneos que devemos hoje estar em comunhão simpática, mas também e sobretudo com essa parte preponderante de nossa espécie que representa o Passado. Comemoramos com reconhecimento os serviços de todas essas gerações que nos legaram o fruto de seus labores, desejando transmitir esta herança aumentada aos nossos sucessores. Nós aceitamos o jugo dos mortos.

Comemoramos também com gratidão todos os serviços de nossa Mãe comum, a Terra, o planeta que nos serve de morada, e com ela o orbe que forma o Sistema Solar, o nosso Mundo. Não separemos desta última comemoração a do meio em que colocamos esse sistema, o Espaço, que foi sempre tão propício ao homem, e que está destinado, mediante uma sábia aplicação, a prestar-lhe ainda maiores serviços, pois que ele se torna a sede reconhecida da abstração, a sede das leis superiores que coletivamente constituem o Destino do homem, e como tal introduzido em toda a nossa educação intelectual e moral.

Do presente e do passado estendamos as nossas simpatias ao porvir, às gerações futuras que com sorte mais feliz nos sucederão sobre a Terra; tenhamo-las sempre presentes ao nosso espírito a fim de completar a concepção da Humanidade, tal como nos foi revelada pelo Fundador de nossa Religião, pela plena aceitação da continuidade que constitui o seu mais nobre característico.

A memória, do maior dos servidores da Humanidade, Augusto Comte, e a dos seus três anjos – Rosália, Clotilde e Sofia – ocorre naturalmente nesta sua máxima festa, consagrada à glorificação de todos os que a têm servido.

Oh! O mais sábio e o mais nobre dos Mestres! Possamos nós, que nos proclamamos teus discípulos, animados pelo teu exemplo, sustentados pela tua doutrina, guiados pelas tuas teorias, vencer todos os obstáculos, que a indiferença ou a hostilidade semeia no nosso caminho; possamos nós no meio desta época revolucionária, sem nos deixar degradar por qualquer esperança de recompensa, nem nos desviar por qualquer insucesso dos nossos esforços, num espírito de submissa veneração, levar por diante a grande empresa a que consagraste a tua vida, a empresa da regeneração humana, por meio e no seio do culto sistemático da Humanidade.

 -        Como observou com grande simplicidade e correção o Almirante Moraes, “A concepção religiosa da Humanidade supõe duas noções fundamentais – a teoria dos entes coletivos e a personificação suprema da Humanidade no tipo materno, a fim de que o mesmo se torne um verdadeiro centro de nossa unidade moral e social”

o   A teoria dos entes coletivos indica que a Humanidade é um ser composto e que, como tal, ela desenvolveu-se ao longo do tempo

§  Os primeiros embriões da Humanidade aconteceram – como acontecem continuamente, todos os dias – nas famílias, que criaram as condições de existência dos seres humanos, proporcionando o abrigo material, intelectual e, acima de tudo, moral e afetivo

§  Com o aumento do tamanho das famílias e suas contínuas inter-relações, surgiram associações maiores, como as tribos e os clãs, passando afinal para as pátrias

§  As pátrias, por sua vez, têm por base a divisão do trabalho prático

§  À medida que as pátrias cresceram e desenvolveram-se, seus grandes pensadores sempre prenunciaram os vínculos universais, independentemente de tempo e espaço, de nacionalidade e de etnia

§  Depois dos tempos das guerras, em que as famílias e as pátrias bateram-se longamente, o tempo da paz universal, da cooperação e da convergência chegou há cerca de 170 anos, quando se afirmou afinal a plena universalidade humana, necessariamente pacífica

o   Por outro lado, embora a Humanidade seja verdadeiramente a única realidade para o ser humano, ela só pode existir e atuar por meio de agentes concretos, os seus servidores

§  Assim, a Humanidade é o conjunto dos seres humanos convergentes passados, futuros e presentes

§  A Humanidade atua e beneficia todos, mas nem todos os seres humanos integram-na efetivamente: aqueles que não são convergentes, aqueles que não cooperam de fato para o benefício coletivo não integram, ou melhor, não podem ter a esperança de um dia merecerem integrar a Humanidade

o   Um ser digno de veneração, de conhecimento, de atividade, de gratidão tem que ser, por si só, moralmente superior

§  Para o ser humano, a moralidade é maior e mais elevada nas mulheres, que, a esse respeito (como em muitos outros), são superiores aos homens

§  A definição positiva de moralidade é o desenvolvimento da ternura, isto é, o desenvolvimento do altruísmo, do amor, e a pureza, ou seja, a compressão do egoísmo

§  Assim, a figura da Humanidade é necessariamente de uma mulher, o que equivale a dizer que o Grão Ser positivo é uma deusa

§  A Humanidade é uma mulher na faixa de 30 anos, carregando em seu colo um bebê, ou seja, o futuro

§  Com isso, todos temos uma figura amorosa facilmente reconhecível, capaz de organizar e orientar nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas atividades

-        Do que vimos rapidamente, a Humanidade é uma concepção intelectual e moral; ela é nossa verdadeira providência

o   A Humanidade é nossa verdadeira providência porque é ela que fornece tudo ao ser humano em todos os momentos de suas vidas: sentimentos, idéias, colaboração no tempo, colaboração no espaço, recursos variados

§  Os seres humanos individuais restituem à Humanidade muito pouco do que recebem ao longo de suas vidas – e só se pode falar de verdade em restituições se elas forem úteis

§  A Humanidade, então, é a verdadeira “filha de seu filho”: cada um de nós só existe devido a ela, mas, inversamente, ela precisa dos esforços (altruístas) de cada um de nós para existir, manter-se e desenvolver-se

o   A providência humana atua sempre cada vez mais ao longo do tempo, na continuidade, que meramente na colaboração simultânea da solidariedade

o   A providência humana é múltipla:

§  Acima de tudo, ela é moral, ao dar-nos valores, ao indicar-nos o que é bom e correto

§  Ela é afetiva, ao dar-nos os sentimentos que constituem o fundo de nossas existências e que tornam nossas vidas dignas de serem vividas

§  Ela é intelectual, ao fornecer-nos idéias e conceitos, conhecimentos e habilidades, a começar pelas línguas com que nos comunicamos e todas as concepções que permitem que entendamos o mundo e atuemos nele

§  Ela é artística, ao oferecer-nos as imagens e as idealizações que sugerem e indicam como e quanto o ser humano e o mundo podem e devem ser melhores

§  Ela é prática, ao oferecer-nos a infraestrutura de que desfrutamos, as técnicas que empregamos para melhorar o mundo

o   Assim, é à Humanidade que devemos todos nós ser gratos

§  Quem agradece às divindades temporárias exercita a gratidão, o que é um exercício moral importante em si mesmo

§  Mas quem atualmente agradece às divindades temporárias na prática comete o erro moral e intelectual da ingratidão, ao desconsiderar (ou desprezar) a verdadeira providência e valorizar seres fictícios, para quem, aliás, o ser humano de nada vale

-        Para concluir esta celebração da Festa da Humanidade, as invocações lidas na Igreja Positivista do Brasil são mais uma vez tão belas quanto oportunas: 

Em nome da Humanidade:

O amor por princípio, e a ordem por base; o progresso por fim.

Tens, Senhora, tão grande potestade,

Que quem a graça quer e a Ti não corre

Sem asas voar lhe quer a vontade.

A tua benignidade não socorre

A quem T’implora só; com caridade

Freqüentemente à súplica precorre.

Em Ti misericórdia;

Em Ti piedade;

Em Ti magnificência;

Em Ti concorre

Tudo quanto no mundo

Há de bondade.

Ó Virgem-mãe, filha do teu filho!

A Ti, mais do que a nós mesmos,

Amemos sem cessar;

E a nós somente

O puro amor de Ti

Nos faça amar.

Ergamos os nossos corações à Humanidade e lhe testemunhemos o reconhecimento de que nos sentimos repletos pelos ensinamentos que acabamos de receber. Que estes frutifiquem em nossas almas e que, ao deixarmos esta prédica, levemos a resolução feita de dedicar todos os nossos esforços a auxiliar em nós e nos outros a vitória final do altruísmo sobre o egoísmo.

Rendamos graças especiais ao nosso Mestre, Augusto Comte, e à sua imaculada inspiradora, Clotilde de Vaux, aos quais devemos a sistematização da Humanidade e de sua sublime doutrina.

Que a tua palavra de vida, ó santa Humanidade, seja não somente bem aceita e compreendida, mas antes de tudo aplicada com zelo a todos os atos de nossa vida privada e pública.

Assim seja.



[1] Algumas fontes consultadas para auxiliar na elaboração desta celebração:

- Richard Congreve: “Prece à Humanidade” (Rio, 1936).

- Augusto Comte: “A Humanidade – extratos do Catecismo positivista” (Rio, 1936).

- Alfredo de Moraes Filho: “Humanidade– a deusa do futuro” (Rio, 1982). A sugestão desse discurso foi feita por  meu amigo Hernani Gomes da Costa.

[2] A lembrança dos fogos de artifício como um culto espontâneo do fogo também foi feita por meu amigo Hernani.