15 fevereiro 2021

Raimundo Teixeira Mendes: citações diversas

Apresentamos abaixo diversas citações de Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927, vice-Diretor da Igreja Positivista do Brasil e autor da bandeira nacional republicana), extraídas de um belo opúsculo publicado em 1899, mas reunindo publicações feitas originalmente em um jornal diário em 1881. Esse opúsculo intitula-se “Calendário positivista – precedido de indicações sumárias sobre a teoria positiva do calendário”.

 As citações escolhidas apresentam de maneira clara como é que o Positivismo, ou melhor, a Religião da Humanidade reúne em uma síntese poderosa a moralidade e a ciência, a preocupação social e as motivações individuais, o estímulo do altruísmo e a satisfação do egoísmo.

Para facilitar a leitura, inserimos pequenos títulos descritivos antes de cada citação. A grafia foi atualizada.




Mundo e homem, objetivo e subjetivo, cientificidade e moralidade

Seja qual for o problema que solicite a nossa atenção, podemos dispor em duas categorias o conjunto dos dados imprescindíveis à sua completa solução: de um lado, a série de considerações fornecidas pelo mundo; de outro lado, a soma de exigências resultantes dos interesses humanos. É isto que se exprime em linguagem filosófica, dizendo que todo problema tem condições objetivas, – referentes ao mundo, – e condições subjetivas – referentes ao homem. Por exemplo, quando se projeta uma estrada de ferro, não basta examinar as condições do terreno, os lucros pecuniários etc.; cumpre saber sobretudo se a sua realização não importa a ruína da população a cujo cargo estava antes o transporte das mercadorias. E, ao formular a solução, é imprescindível indicar os meios de prevenir semelhante cataclismo, sob pena de ser uma solução incompleta, cientificamente, e iníqua sob o ponto de vista social e moral.

p. 5-6

 

Subjetividade e moralidade da existência humana

É para o homem que o homem trabalha; e para o homem devem convergir todos os esforços humanos; fora deste círculo, tudo é imoralidade e anarquia, seja qual for o pretexto e o título com que o decorem.

Ora, o predomínio do ponto da vista humano significa a satisfação dos interesses coletivos, o bem estar de todos, e não as conveniências de um individuo, de uma cidade ou de uma nação. Toda a concepção da ordem social que não se mostrar compatível com a felicidade de todos os homens, seja qual for a sua condição e o seu grau de civilização, é um sistema imperfeito, incapaz de satisfazer ás inteligências e aos corações bem formados.

p. 6-7

 

Unidade e síntese humanas possíveis apenas com o amor e o altruísmo

Ora, é claro que os órgãos do egoísmo não podem ser escolhidos como devendo dominar para se alcançar que todos os homens tenham o mesmo sentimento; se cada um cuida de si, é forçoso que haja desunião e contenda. Só resta escolher para sentimento dominante o altruísmo, isto é, os órgãos menos intensos, para conseguir que os atos convirjam. Somos assim conduzidos a esta conclusão fatal: a vida social é impossível sem o predomínio do amor, isto é, da dedicação. E será isso possível? Seguramente que sim: – tal foi o resultado de toda a grandiosa elaboração de Augusto Comte. Com efeito, a satisfação dos instintos altruístas não exige o aniquilamento dos instintos egoístas; pelo contrario, a eficácia social dos sentimentos humanos se altera igualmente quando eles se tornam demasiado subtis ou demasiado grosseiros, na frase do nobre Pensador. A expansão altruísta é impossível sem uma certa dose de egoísmo: para amar é preciso viver. Somente, de acordo com uma profunda observação do fervoroso S. Paulo, o destino superior dos órgãos inferiores os enobrece e exalta. O ascetismo é condenado pela Religião da Humanidade, por tornar-nos incapazes de servir a outrem, isto é, de amar; porque melhor ama quem, melhor serve.

Tomemos um exemplo que esclareça o que porventura houver de obscuro nas considerações precedentes. Examinemos um operário em hora de trabalho. A vida social exige dele uma série de operações que constituem o sou ofício, e de cujo produto não tem o menor quinhão: trabalha realmente para outrem. No entanto, ó fácil de ver nele em jogo todos os instintos. O instinto conservador tem a justa satisfação, visto como a vida lhe é assegurada pelo salário, e demais ele tem de velar incessantemente para não ser vítima dos perigos que salteiam a pratica industrial. Os instintos construtor e destruidor funcionam simultaneamente, porque é da natureza da industria separar e reunir materiais. O orgulho encontra uma válvula no domínio da matéria bruta, pelo menos. A vaidade compraz-se na apreciação de seus companheiros. Isto pelo que respeita aos órgãos egoístas; vejamos os altruístas. A veneração se desenvolve na consideração de seus chefes e na lembrança dos grandes inventores. A bondade expande-se no trato dos aprendizes, na recordação dos filhos por quem trabalha, e na contemplação da posteridade, que virá a gozar dos seus labores e sacrifícios. O apego finalmente se exercita no culto de seus companheiros e até de seus instrumentos de oficina. Tome-se qualquer função social, e encontrar-se-ão todos os órgãos cerebrais em jogo.

Este exemplo basta para mostrar como é possível conciliar a satisfação de todos os instintos egoístas, com o imprescindível domínio dos órgãos altruístas; e portanto evidencia a possível solução do grande problema humano. Para assegurá-la basta fazer intervir uma lei biológica, conhecida de todo o mundo, e vem a ser que o exercício desenvolve a função e o órgão, e a falta de exercício os atropina. Não ha quem ignore que o meio de fazer qualquer cousa bem, é exercitar-se em fazê-la sempre que possível for.

p. 8-10

 

Sem o altruísmo e a moralidade não há solução dos problemas enfrentados pelo ser humano

Todo problema, portanto, em que se desprezar o aspecto moral; toda solução que não puder ser considerada como um meio de subordinar o egoísmo ao altruísmo, é um problema não resolvido, é uma solução inútil e até prejudicial. Porque não há meio termo: ou o egoísmo fica subordinado ou subordina.

p. 11

 

Noção positiva de progresso I

Hoje liga-se à palavra progresso a ideia de qualquer mudança no que existe; e por outro lado é geral a crença de que tudo quanto atualmente encontramos na sociedade, pode-se vir a mudar com o correr dos anos. Esta concepção da instabilidade das instituições humanas e de sua variabilidade indefinida constitui a mais seria ameaça à ordem publica, e está em flagrante contradicção com as indicações do método positivo nas ciências inferiores.

p. 12

 

Noção positiva de progresso II

Para ele [Augusto Comte] tudo quanto se tinha passado até então, se dera em virtude de leis naturais; e para descobri-las só havia um caminho a seguir: – ver como se tinham passados os fatos registrados pela história. Feito isto, o conhecimento das leis sociais e morais poderiam dirigir a intervenção humana no governo do homem, assim como as leis matemáticas, físicas e químicas a dirigem na construção de qualquer máquina.

Com estas disposições metódicas, que aprendera no cultivo das ciências conhecidas até si, desde a matemática até a biologia, Augusto Comte empreendeu o descobrimento das leis que regem a sociedade e o homem. Foi então que reconheceu que de fato as sociedades variavam com o tempo, o que já outros haviam também reparado antes dele; mas o que ninguém tinha feito e ele fez foi dizer como é que se opera semelhante variação. Foi assim que ele construiu a sociologia, demonstrando que o progresso consiste sempre:

1.° Sob o aspecto intelectual, em fazer a razão humana passar por três fases: teológica, metafísica e positiva.

2.° Sob o aspecto pratico, em fazer a atividade passar pelas três fases de ataque, defesa, e industria ou paz.

3.° Sob o aspecto moral, em fazer o sentimento passar elas três fases; Família, Pátria e Humanidade.

Em virtude da primeira lei, o homem tende cada vez a tornar-se mais sintético; em virtude da segunda a tornar-se mais sinérgico; em virtude da terceira a tornar-se mais simpático. E tudo isso se resume neste aforismo único: O homem torna-se cada vez mais religioso.

Assim, o positivista crê que a sociedade muda, mas não crê que mude ad libitum do primeiro que chega; o progresso para ele tem uma significação precisa.

p. 13-14

 

Noção positiva de ciência

Vejamos agora a importância que se deve atribuir à ciência, isto é, qual deve ser a posição da inteligência no conjunto da vida humana.

Em primeiro lugar observemos que o ascendente científico não exige que cada homem seja um sábio; se assim fosse, o positivismo não passava de quimera. Existe uma fé científica, como existem uma fé teológica e uma fé metafísica: crê-se por confiança e sem demonstração. Para evidenciá-lo basta reparar que a maioria do Ocidente acredita no movimento da Terra; e no entanto bem pequeno é o numero dos que estão nos casos de formular hoje semelhante teoria. Crê-se porque pessoas que se julgam competentes assim o afirmam.

Isto posto, é fácil de mostrar o caráter anárquico e corruptor da inteligência isolada. Basta reparar que a construção de qualquer máquina de guerra exige em nossos dias talvez maiores esforços intelectuais do que os instrumentos industriais. No ponto de vista objetivo o monitor Solimões é mais apto para revelar a força prodigiosa da ciência moderna do que as faluas que cruzam a nossa baía. Mas decida cada um por si em qual dos casos a inteligência teve melhor destino: se construindo um monstro de destruição numa época que deve aspirar à paz; se construindo um aparelho insignificante consagrado a estreitar as relações sociais.

A ciência isolada é até prejudicial; como todos os aspectos de nossa existência, ela tem de subordinar-se ao amor universal que nos impele a servir à Família, à Pátria, e à Humanidade.

p. 15-16

14 fevereiro 2021

"Contra alguns mitos da 'reforma administrativa'"

O artigo abaixo foi publicado em 8.2.2020 no jornal Monitor Mercantil; o original pode ser lido aqui.

Da mesma forma, ele foi publicado em 14.2.2021 no jornal Gazeta do Povo; o original pode ser lido aqui

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Contra alguns mitos da “reforma administrativa”

A tragédia global e nacional que caracterizou o ano de 2020 deveria reverter-se em lições para a sociedade brasileira; entretanto, o início de 2021 já sinaliza que nós teimamos em não aprender com nossos erros e nossas tragédias. A nova retomada da proposta de “reforma administrativa” é exemplar nesse sentido. Essa “reforma” prevê a alteração radical de diversos dispositivos que regram a estrutura do Estado brasileiro, em particular na contratação e na manutenção de servidores. O principal advogado dessa “reforma” é o Ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor de um novo AI-5 e que não esconde desgostar dos servidores públicos – “parasitas” cuja sindicalização deve ser proibida e os sindicalizados, demitidos.

A reforma administrativa pressupõe que o Estado brasileiro é “grande demais”; mas, na verdade, em termos de quantidade de servidores ou de gastos com pessoal, o Brasil está longe de ser “grande”. O tamanho do Estado tem que ser medido pela quantidade e pela qualidade de serviços públicos prestados: mas a estrutura disponível para os serviços públicos é insuficiente para as necessidades nacionais. Os serviços mais evidentes já o ilustram: professores, médicos, enfermeiros, peritos previdenciários etc., sua quantidade está longe de ser suficiente. Os problemas suscitados pela pandemia de covid-19 estão escancarando essa insuficiência.

Os exemplos acima deveriam lembrar-nos de que as necessidades sociais brasileiras não são pequenas, não são de curto prazo nem são estritamente econômicas; inversamente, deveriam lembrar que o Estado brasileiro não pode ser meramente o “regulador neutro do ambiente de negócios”. Como representante prático e realizador concreto do “interesse nacional”, o Estado tem a obrigação de realizar mudanças necessárias na sociedade em conformidade com a opinião pública, além de orientar em grandes linhas a atividade econômica. Entretanto, desde a crise da dívida na década de 1980, progressivamente o Estado brasileiro abdicou dessas funções: a abertura econômica indiscriminada (a financeira em particular) é expressão disso. Assim, os servidores públicos têm um papel central na realização de algo que está meio fora de moda, mas que deveria voltar aos debates públicos: um “projeto de país”.

Passamos, então, à estabilidade dos servidores: simplesmente não se deveria pô-la em questão. A perseguição político-ideológica, realizada com freqüência de maneira raivosa, levada a cabo pelo governo Bolsonaro é a própria justificativa para a existência da estabilidade. Não se trata de um “privilégio” do funcionalismo público, que se erige em casta, contra a instabilidade do setor privado, mas a garantia de que os servidores públicos exercerão um serviço profissional e, ainda mais, que eles não estarão sujeitos aos humores dos governantes do momento.

Também se afirma que os servidores públicos “ganham muito”, com o juízo implícito de que tais “grandes salários” seriam ultrajantes. O ultraje não está no “ganhar muito”, mas na comparação com o setor privado, cujos trabalhadores supostamente ganhariam bem menos. O problema é que essa comparação é superficial, tomando-se uma simples média aritmética dos gastos do setor público com alguma média do setor privado; comparam-se duas coisas que seriam homogêneas, quando, na verdade, elas são heterogêneas. Nos dois setores, quem está no início de carreira recebe bem menos que quem está no final; da mesma forma, quem exerce cargo de chefia recebe mais que quem está nas posições mais humildes. O setor público divide-se em três ou quatro poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público) e três níveis federativos (nacional, estadual e municipal): todos os estudos sérios indicam que a quantidade de servidores aumenta quando passamos do nível federal para o nível estadual e daí para o municipal, mas que os salários pagos diminuem nessa mesma direção. Além disso, o Judiciário e o Ministério Público têm salários muito maiores que o Legislativo e estes são maiores que os do Executivo. O poder Executivo, por sua vez, especialmente no âmbito federal, também é bastante heterogêneo: as Forças Armadas, o Itamaraty, a Receita Federal e mais algumas carreiras são regiamente pagas. Também vale lembrar que algumas áreas são sempre grandes – aquelas que lidam diretamente com a população: educação, saúde, previdência e assistência social, segurança pública –; além disso, há setores que são intrinsecamente caros e custosos, como as áreas de infraestrutura e as de pesquisa: tudo isso entra na conta do Executivo. Quando se fala em supersalários no setor público – e a “reforma administrativa” é defendida em parte para combaterem-se os “supersalários” –, eles ocorrem no Judiciário, no Ministério Público e na cúpula do Executivo; ainda assim, a reforma terá efeito apenas no Executivo civil federal, silenciando a respeito das Forças Armadas e dos outros três poderes.

O setor público tem uma dinâmica específica: a estabilidade no emprego permite que as carreiras desenvolvam-se de maneira efetiva, com ascensão profissional, a partir de cursos feitos pelos servidores. É claro que os servidores buscam subir na carreira porque isso se converte em salários maiores; mas, do ponto de vista da utilidade pública, isso significa que os servidores especializam-se e ampliam suas habilidades. Só de uma perspectiva meramente contábil e fiscalista essa maior qualificação é vista como correspondendo a “mais gastos”!

O setor privado tem outra dinâmica. Para começo de conversa, ele não investe de verdade na qualificação, mas espera que haja trabalhadores qualificados no “mercado” que possam ser contratados; quando há “qualificação”, elas são tópicas e de curto prazo. As qualificações de longo prazo, como são demoradas e caras, não são realizadas pelo setor privado. Aliás, a busca da “redução de custos” tem um efeito paradoxal, pois há trabalhadores superqualificados que, por isso mesmo, não encontram emprego, pois custariam muito! A idéia de lealdade das empresas para com os trabalhadores é algo que inexiste; como há apenas o “mercado” e a competição entre as empresas, os trabalhadores mais velhos e mais qualificados – mais caros – são mandados embora em benefício de trabalhadores mais novos, menos experientes e mais baratos (e não sindicalizados.) Assim, o setor privado ou privatiza a qualificação profissional mais exigente ou beneficia-se dos investimentos feitos pelo setor público: não é por acaso que os grandes programas de mestrado e doutorado no país são todos públicos (ou pesadamente financiados pelo setor público).

A ausência de projeto nacional a partir dos anos 1980 resultou em que estamos fortemente vinculados aos fluxos internacionais de capital especulativo e que o país progressivamente se desindustrializa. Daí termos cada vez menos investimento na economia real, que gera renda e empregos, e termos cada vez menos empregos, isto é, trabalhos com carteira assinada, salários dignos e benefícios efetivos. Inversamente, um vago setor de “serviços” ampliou-se dramaticamente nas últimas décadas, não porque tenhamos uma população altamente qualificada prestando serviços de complexidade média a alta, mas porque temos uma população que é pobre, ganha pouco, não consegue empregos e meramente realiza serviços ou “trabalhos”, ou melhor, faz “bicos”. O grande símbolo disso é o entregador de comida vendida por meio de aplicativos de celulares que vai de bicicleta entregar o produto: recebe uma miséria, não tem estabilidade, não tem benefício social nenhum e tem que usar os próprios recursos para o trabalho; é a “uberização” do trabalho erigida em ideal. Não falta engenhosidade, operosidade ou industriosidade à população: o que falta são políticas públicas que gerem emprego de verdade, um projeto de país que se afaste do capital especulativo e uma elite que valorize o país (e não seja nem autoritária nem seja cega para os “invisíveis”.)

A reforma administrativa não resolverá nenhum desses problemas; na verdade, por opção das elites brasileiras, aumentará os existentes e criará outros, ao desestruturar um serviço público importante e qualificado mas insuficiente para as necessidades nacionais. No fundo, essa é uma contra-reforma, ou anti-reforma: carecemos de uma verdadeira reforma, a partir de um projeto nacional efetivo.

 

Gustavo Biscaia de Lacerda é sociólogo da UFPR e Doutor em Sociologia Política.

23 janeiro 2021

The Guardian entrevista o apóstolo positivista Érlon Jacques, além de humanistas, seculares, ateus e céticos

O jornal londrino The Guardian publicou no dia 23 de janeiro de 2021 a matéria abaixo, sobre humanistas, secularistas, ateus e céticos mundo afora - e para nossa imensa felicidade, o Positivismo foi considerado aí, na figura do Apóstolo da Humanidade Érlon Jacques, da Igreja Positivista do Rio Grande do Sul. Aliás, a foto de capa da matéria é de Érlon e ele ganhou a oportunidade de ter uma segunda foto, mais abaixo, dando-nos grande destaque.

Todavia, importa notar que o título da matéria foi extremamente ruim, de mau gosto e, acima de tudo, equivocado: nenhum, ou, no máximo, um dos entrevistados considera que si mesmo é a única deidade existente. No caso do Positivismo, esse violento individualismo egoísta é radicalmente rejeitado e não corresponde, de maneira nenhuma, às nossas concepções. É triste ver que a jornalista tenha empregado um título apelativo para vender a sua reportagem, pois, no final, embora ela mesma (e seu jornal) vendam bastante, quem sai prejudicado são as pessoas que, de boa fé, concederam as entrevistas. (Não é por acaso que a Inglaterra é a pátria dos tablóides sensacionalistas.)

O original da matéria está disponível aqui.

 

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‘I only know one god – and that’s me’: non-believers on the meaning of life


Erlon Jacques: ‘It’s hard to find people with a free mind.’ Photograph: Aubrey Wade

Around the world, growing numbers of people are rejecting traditional faiths and choosing their own spiritual path. Eight atheists and agnostics open up


Harriet Sherwood Photographs and interviews: Aubrey Wade

@harrietsherwood

Sat 23 Jan 2021 10.00 GMT

Religion may once have been the opium of the people, but in large swaths of the world the masses have kicked the habit. In countries once dominated by churches characterised by patriarchy, ritual and hierarchy, the pews have emptied and people have found other sources of solace, spirituality and morality.

In the US, those who say they are atheist, agnostic or “nothing in particular” is up from 17% in 2009 to 26% last year. In Britain, according to the most recent data, more than half the population proclaimed no faith in 2018, a figure that rose from 43% to 52% in a decade.

But there are many different ways of being an unbeliever – among them labels such as atheist, agnostic, humanist, free thinker, sceptic, secular and spiritual-but-not-religious. According to Understanding Unbelief, an academic research project based at the University of Canterbury in Kent, “unbelief in God doesn’t necessarily entail unbelief in other supernatural phenomena… Another common supposition – that of the purposeless unbeliever, lacking anything to ascribe ultimate meaning to the universe – also does not bear scrutiny”.


Wade, who describes himself as “an atheistic agnostic”, says he was struck by “how many ways there are of making sense of life’s big questions, with and without a concept of God or gods. For some people, unbelief and religiosity don’t go together at all, while for others they are comfortable bedfellows.” In Japan, for instance, “the distinction isn’t even relevant for most people”.Who are the unbelievers, and what principles guide their lives? Over the course of a year (and pre-pandemic), the British photographer 
Aubrey Wade met more than 30 people from five countries (the UK, US, Brazil, Japan and Norway) to find out. “Belief is a word we use all the time, often without being able to explain precisely what it means,” he says. “In practice, most people hold at least some conflicting beliefs about the world.”

“The pandemic has given us all reasons to reflect on what gives our lives meaning,” he adds. “I’ve learned that atheist individuals and cultures of unbelief are as diverse as religious ones. What unites them is the drive to seek meaning and purpose in life.”

‘People see you as a traitor’


Lola Tinubu: ‘Science can also guide one in making moral decisions.’ Photograph: Aubrey Wade

Lola Tinubu, 53, is an atheist and a humanist who lives in London. She is the co-founder of the Association of Black Humanists, a group for people, particularly from the African diaspora, who are free thinkers, nonbelievers, atheists and humanists.

I grew up in a Seventh-Day Adventist family. I had a happy childhood and felt safe, but we were also taught that the outside world was evil. I grew up with a segregated view of the world and a fear of others. My father encouraged me to watch science documentaries with him. After one, he said, “Science is fact, but our faith is the truth.” That was probably the moment the penny dropped.

It took me nearly three decades to leave the church. When I became non-religious, the first thing I did was look for other black people who had had that experience. People see you as a traitor. They say, “Atheism is not African: it’s a European ideology.” A lot of people feel they can’t tell their friends. They can’t tell anybody. That’s why we formed our organisation.

The way to understand the world is through investigation, science and research. Science can also guide one in making moral decisions. For example, understanding the environment is now a moral issue. Science has shown that all human beings belong to the same species, so we should respect each other.

I don’t believe in the supernatural. Everything is within nature. Humanism also includes a kind of philosophy and moral guidance. If there’s no ultimate meaning of life, that doesn’t mean our existence needs to be meaningless; we can determine for ourselves what is meaningful.

For somebody who rates thinking highly, I nevertheless define myself by the way I feel. My life. My work. I am my feelings. So perhaps that’s the meaning of life for me: feeling it.

‘We get called devil worshippers, but there’s no worship’


Adam Cardone: ‘Satanists are born. You can’t become one.’ Photograph: Aubrey Wade

 Adam Cardone, 47, is a stage magician and a reverend in the Church of Satan, New York City. He is an atheistic agnostic: someone who doesn’t believe in a deity, while holding that a deity’s existence is unknowable.

As a child, I wanted to learn magic tricks. I was a natural performer. When I read the Satanic Bible, I thought, “Wow, it’s describing me.” Satanism is an atheistic philosophy that incorporates ritual and magic. It looks like a religious movement in its trappings, but it’s more of a lifestyle philosophy. Satanists are born. You can’t become one.

Our founder, Anton LaVey [author of the Satanic Bible], recognised that humans like ritual; they pine for it. They like symbolism, whether that be superheroes or religion. Religion has been using ritual and symbolism since caveman times. LaVey got rid of the theism and left all the good parts.

We have no formal meeting place. No rules. We get called devil worshippers, but there’s no worship. I only know one god – and that’s me. I am responsible for my own destiny. We don’t believe in the Abrahamic conceptions of Satan. He is not my god whom I pray to. He is a reflection of me, of who I am. He is a mirror in which I see myself.

LaVey split magic into two categories: lesser and greater magic. Lesser magic is day-to-day psychology, and how you conduct yourself so that people listen.

Greater magic is what people imagine Satanism to be: lighting candles and incense and ringing gongs and chanting. Ritual transforms you. It’s like a magic show designed for yourself. I’m my own performance and audience member.

LaVey rode on this grey line of fantasy and reality, which is what, to me, Satanism is. Fantasy is where we’re able to explore uncomfortable things, new ideas, to map out our psyche in an exaggerated fashion. I think it’s healthy to do this – it’s like play. Adults lose this, and that’s not healthy.

‘God is just another character in the stories’


Robert Freudenthal: ‘Social action can be seen as a form of religious activity.’ Photograph: Aubrey Wade

Robert Freudenthal, 34, is a member of a liberal synagogue in London. He describes himself as Jewish but not God-centred. When he got married a few years ago, he decided to explore different ways to think about God.

Although I identify as not believing in God in a religious sense, I am relaxed about the language of God in services or rituals. In Jewish practice, it’s quite common to have that sort of dissonance. For me, it’s completely OK to be 100% atheist and still go to religious services. I imagine quite a few members of the synagogue feel the same.

Religious scriptures can help us understand ourselves, the relationships we form, and the world around us. I see God in that situation as just another character in the story, like Moses, or the Pharaohs, or whoever else.

For me, it’s really important to have a sense of connection with the world around us, whether that’s seasonal changes, the natural world, or our history in terms of migration and movement of people. The Jewish calendar and the rituals provide anchor points to reflect on life. Observing them locates me within a community, strengthens my relationships, and encourages me to think about how I can contribute to making the world a better place.

The struggles of previous generations can help us understand what’s happening now. The Pesach [Passover] seder, for example, is more about liberation from slavery and the ways in which we were and still are oppressed than about God. It’s an opportunity to talk about contemporary issues. This year we included a chilli pepper on the seder plate to represent the climate crisis.

In Judaism there’s the concept of repairing the world – tikkun olam. It’s the idea that social action, doing work in order to help people, can be seen as a form of religious activity. That speaks to me. Being part of a religious community offers music, spirituality and relationships. But more than that, it reminds me I’m on a journey to understand myself better and motivates me to help others.

‘I needed proof’


Hedda Frøland: ‘Now I believe in the good in people.’ Photograph: Aubrey Wade

When I was a child, I believed in God, but my belief faded. I needed proof. Now I believe in humanity and the good in people.Hedda Frøland, 18, is a member of the Humanist Youth Group in Sandnes, Norway. Both secular and Christian confirmation ceremonies remain culturally important in Norway. Wearing a nordlandsbunad, a traditional embroidered costume, Frøland took part in a humanist ceremony, the choice of around 18% of 15-year-olds.

My parents and older sister had Christian confirmations, but they wanted me to make an educated decision about my faith. I’m very grateful that I chose another way. A humanist confirmation involves weekly activities over several months, including a weekend role-play in which you experience what it’s like to live as a refugee for 24 hours. You learn about values and critical thinking, and about human rights. I began to feel that I, too, could make a difference.

The meaning of life, I think, is to make it the best experience you can, to spread love to those around you. It’s important to see the beauty in everything, especially in human beings. A lot of people think they’re not beautiful enough, and that breaks my heart. Your values and personality are the best sides of you.

‘Donald Trump brought a white Christian nationalism back into the frame’


Ron Millar: ‘I’d hoped we’d be a much better society by now.’ Photograph: Aubrey Wade

Ron Millar, 63, from Washington DC, runs the Freethought Equality Fund Political Action Committee, which helps candidates seeking election to public office who openly identify as humanist, atheist and agnostic. In 1988, he was the campaign manager for the first openly gay candidate running for the city council.

I grew up in a fundamentalist church in Pennsylvania. They believed the Bible was the word of God. It was conservative, but it wasn’t political – they were just a small religious community, and great people.

Now I run the Freethought Equality Fund, which is part of the American Humanist Association’s political arm. We endorse candidates, give them money, and try to get more candidates to run as atheists and humanists. We need reason, evidence and compassion in public policy; we can’t have it dictated by bronze age notions about how society should work.

In climate change, we have an imminent threat that, if we don’t do anything in the next 10 years, is going to change society dramatically and for the worse. In reproductive rights, we’ve been heading backwards for the past 30 years, and don’t know where that’s going to end. The backward trend that we’re doing on voting rights is scary, and we still need to get LGBTQ people included in the Civil Rights Act.

Donald Trump brought a white Christian nationalism back into the frame. The angry voices we heard in the 50s and 60s against civil rights were back, and legitimised by the president.

I’d hoped we’d be a much better society by the time I reached the age I am. That hasn’t happened; I blame the religious right, which uses the Old Testament, mostly, to perpetuate the patriarchy.

During the cold war, the narrative was that America was a Christian country and we were fighting the godless communists. Atheists and humanists were lumped into that camp. The stigma lingers, but it’s going away. In 1958, something like 18% said they would vote for a presidential candidate who was an atheist, and now we’re up to 60%. I describe myself as an atheist, but use the term humanist, too. Atheism is just, “There is no God”; humanism says we have a role to help one another. It’s more positive.

Beauty and tradition are my philosophy’


Yuko Atarashi: ‘We have just one chance in this life to meet each other.’ Photograph: Aubrey Wade

Yuko Atarashi, 46, is studying to be a Noh theatre actor in Tokyo. Noh is a form of classical Japanese musical drama that has been performed since the 14th century. The plays often feature a supernatural being, transformed into human form, narrating a story. Japan regularly ranks as one of the world’s most atheist countries, although many people still engage in Buddhist and Shinto rituals.

A key concept in Japanese culture is ichi-go ichi-e, which means to treasure the unrepeatable nature of every moment. Noh and traditional Japanese tea ceremonies are structured around this idea. Performing these reminds me that perhaps we have just one chance in this life to meet each other, so we have to appreciate every moment.

Beauty and tradition are at the core of my philosophy. I believe in the unchangeable beauty of tradition. Japan has an ancient culture. If we understand the story of our past, we understand our culture now.

The purpose of life is to be present in the moment. Family is the most important thing for me, somewhere I can be completely myself. I live with my husband and his parents; we don’t have children of our own.

At death, we reach an end. We came from nothing and go back to nothing. We should give devotions [small offerings as a way of paying respect] to our ancestors, because it’s through them that we exist. But the devotion is delivered to the life they lived, not the dead person.

In Japan, we say there are more than 8 million kami [gods or spirits]. Anything that surrounds us can be a kami. I visit the Shinto shrine for little daily life rituals, to reflect on my emotions and to give my appreciation to something or someone. And for weddings. For funerals, I’d go to a Buddhist temple. I don’t deny the need for religion. It’s a concept that provides rules people can rely on, but I don’t feel I need to rely on anything.

‘Atheists make a big mistake when they lose respect for people who believe’


Erlon Jacques: ‘Our doctrine doesn’t offer miracles.’ Photograph: Aubrey Wade

Apostle Erlon Jacques, 47, leads the last practising congregation of positivists in the world, at the Temple of Humanity in Porto Alegre, Brazil. The secular religion was developed by Auguste Comte, the French philosopher, in the mid-1800s. It was adopted by key political figures in the establishment of the first Brazilian republic. Comte imagined a science-based positivist society in which religion would still be necessary, but would no longer require a god to have moral force. The primary tenets of the religion are altruism, order and progress.

I inherited a broken church, with no light or running water. I’m still at the beginning of rebuilding. The most important thing I do is to open the temple every Sunday and explain the religion to people. It’s my life’s mission now.

I have around 20 brothers and sisters attending. But it’s hard to find people with a free mind. Our doctrine doesn’t offer miracles. Reality is sad; there’s no justice, peace or harmony in the world. Many churches offer a fantasy.

The essence of our religion is human connection through altruism. Supernatural gods are not required, but we understand that people need symbols. We have faith in love, science and humanity. I have a deep respect for Christianity and other religions. Many atheists make a big mistake when they lose respect for people who believe.

Comte taught us to continuously update the dogma to reflect changing times. People think positivism is conservative, a thing from the past, but our religion is open-minded, avant garde even. For example, gay marriage is completely OK for us.

My daily practice is the positivist prayer. There is no need to say anything; you can do it in your mind. But we recommend the use of music, poetry, meditation, reflection, thinking about the cosmic order, to help generate pure intentions and promote feelings of fraternity. The essence of the positivist religion is to replace egoism with altruism. Being a positivist has taught me what’s important: family, love, work, friends. Not God, or priests. Before I converted, I was selfish and irresponsible, concerned with my personal pleasure. I didn’t value these things. Now they are what gives purpose to my life.

‘Reading about the lead singer in my favourite band, I knew I was an atheist’


Jake Vargas: ‘I certainly have values: I value justice, equality, reason.’ Photograph: Aubrey Wade

Jake Vargas, 25, a student in Lincoln, Nebraska, doesn’t “believe in the supernatural world at all”.

Having an understanding of the natural world and science – to my mind, the other side of theism – helps me understand transphobia. So many of the reactions people have are fear and disgust, which are primal emotions. Genetic diversity is necessary for any species to flourish, and diversity in humanity is a very natural, normal and necessary thing. Transgenderism, whatever its roots, is just another part of human diversity.

My parents were raised Roman Catholic. They didn’t raise me with any particular religious belief, but they would mention God occasionally: if I told a lie, my mother might say, “Well, God knows.” So I was raised with the assumption that God exists. But I didn’t go to church. I wasn’t baptised. I would say my parents were lapsed Catholics.

I actually remember the moment I knew I was an atheist. My favourite band is Muse, and I was on Wikipedia at midnight, as 14-year-olds often are, reading about the lead singer. It mentioned his religious beliefs, that he was an atheist. I remember a cold feeling washed through me, and I thought, do I have some sort of prejudice towards these people? Do I actually believe? And the answer was no.

I certainly have values: I value justice, equality, reason. You might say offshoots of that are compassion, empathy, activism through work and interpersonal relationships. Even something small like tact. But those things aren’t sacred to me. I don’t think they exist on a plane that is somehow beyond speculation. And I question my own values all the time.