22 julho 2019

Esclarecimento sobre a ausência de publicações em 231 (2019)

Caros leitores: 

Como o ano de 231 (2019) já se encontra avançado e até o momento a quantidade de publicações neste blogue Filosofia Social e Positivismo tem sido bastante reduzida, um pequeno esclarecimento faz-se necessário.

Em primeiro lugar, devemos notar que uma série de compromissos profissionais exigiram de nós uma atenção concentrada no primeiro semestre do ano, obrigando-nos a, lamentavelmente, deixar em segundo plano considerações mais amplas de caráter social.

Mas, em segundo lugar, desde a campanha eleitoral para Presidente da República no Brasil que teve curso em 2018 e a subseqüente eleição de Jair Bolsonaro para ocupar esse cargo, o país vem passando por um maremoto de notícias, concepções e mudanças de políticas públicas que conduzem a nação para a retrogradação. Estímulos ao militarismo, ao irracionalismo, à intolerância, ao servilismo internacional, à manipulação de estatísticas públicas, além de muitos outros problemas têm sido constantes desde outubro de 2018 e, ainda mais, a partir de janeiro de 2019. Isso gerou em nós um sobressalto constante, que virtualmente não teve fim desde o início do ano e que, portanto, dificulta sobremaneira a reflexão mais calma sobre a realidade nacional - que é, em última análise, um dos objetivos deste blogue.

Tal situação calamitosa confirma, a nosso ver, as profundas análises elaboradas por Augusto Comte no século XIX a respeito da dinâmica sociopolítica ocidental desde a Revolução Francesa e que foram sintetizadas na seguinte formulação: "enquanto o progresso for anárquico, a ordem será retrógrada". Os governos do PT, à frente dos autointitulados "progressistas", basearam-se em princípios equivocados, como as políticas identitárias, que consagram o mais brutal egoísmo grupal, corporativo e "étnico"; da mesma forma, foram incapazes de implementar um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social; também não se pode esquecer do saque sistemático de empresas públicas e da política também sistemática de divisão do país (na estratégia do "nós contra eles" e do "nunca antes neste país"), além do revanchismo político, do elogio a autoritarismos e totalitarismos de esquerda (que, por isso mesmo, seriam "progressistas") etc. 

Face a isso, os grupos "à direita" (isto é, conservadores, retrógrados, reacionários) obtiveram notável sucesso em campanhas de desinformação e de manipulação da opinião pública, baseando-se em mitos e nas mais baixas paixões políticos, nos mais odiosos preconceitos sociopolíticos. Deixando-se levar intelectualmente pelo ex-astrólogo cultor da desinformação Olavo de Carvalho (o que, por si só, já indica a indigência intelectual do atual governo) e baseando-se socialmente em seitas evangélicas ultraindividualistas, retrógradas e intolerantes; em grupos militaristas; em empresários contrários às garantias mínimas para populações desamparadas, o incompleto desenvolvimento intelectual (conforme ele mesmo admitiu) do atual Presidente da República dá livres asas à desorganização nacional.

Em outras palavras, aqueles que se denominam "progressistas" pautaram-se por princípios incapazes de levar adiante o efetivo progresso do país; contra isso, organizou-se com grande sucesso uma violenta reação que prega um conceito de ordem que, basicamente, é apenas o retorno a um passado mítico, intolerante, irracionalista e individualista.

Essas vistas de Augusto Comte foram expostas com grande clareza em sua obra política Apelo aos conservadores, de 1856. Nesse livro, o fundador do Positivismo evidencia e explica como é necessária e como é possível uma política que una de maneira profunda e duradoura a ordem ao progresso. Em outras palavas, é necessário unir esses dois termos, para transcender cada um deles tomados individualmente: trata-se de ordem E progresso, não apenas da ordem às custas do progresso, como querem os retrógrados (a "direita"), nem apenas do progresso contra qualquer ordem, como querem os ditos progressistas (a "esquerda").

Há uma tradução brasileira do Apelo, de 1899; ela é extremamente fiel à letra e ao espírito de Comte, mas, como é antiga, é de difícil acesso. Por outro lado, é possível ler em minha tese de doutorado ("O momento comtiano", defendida em 2010 e disponível aqui) uma exposição detalhada dos argumentos de Augusto Comte.

César Benjamin: "Amazônia: cuidado, frágil"

Nos últimos anos, o dono e editor da Editora Contraponto, César Benjamin, por estímulo da Fundação João Mangabeira, tem publicado uma série de estudos temáticos (ou melhor, "setoriais"), em que se dedica a refletir sobre aspectos da realidade nacional. O objetivo desses estudos é apresentar um panoramas dos setores estudados, com vistas a propor estratégias e planos de desenvolvimento nacional.

A seriedade e a profundidade com que são escritos, aliados à preocupação social e com o desenvolvimento do país, merecem que sejam difundidos e, acima de tudo, meditados e implementados.

O mais recente desses estudos intitula-se "Amazônia: cuidado, frágil" e foi publicado em abril de 2019. A sua leitura rapidamente evidencia o quanto esse tema em particular envolve o conjunto da nação e a necessidade de atenção aprofundada a seu respeito.

Todos os estudos de C. Benjamin publicados pela Fundação João Mangabeira evidenciam a possibilidade e a necessidade de que se reflita a respeito do desenvolvimento do Brasil, isto é, que se tenha de fato um projeto positivo de desenvolvimento e que se retome um certo otimismo sobre o futuro do país - otimismo que há anos, quando não décadas, não existe mais. Esse desenvolvimento, claro está, deve ser social e ambientalmente responsável e inclusivo, conjugando os esforços do Estado, da sociedade civil e também dos empresários. Em outras palavras, são propostas claramente alinhadas ao Positivismo.

Assim, para quem tiver interesse - e exortamos todos a que tenham interesse! -, ele está disponível aqui.


11 julho 2019

Agência Brasil: "Bolsonaro diz que indicará evangélico para STF"

O atual Presidente da República, como é amplamente sabido, é uma pessoa reacionária, grosseira, mesquinha e vingativa; entre as inúmeras demonstrações de sua incivilidade e de seu anti-republicanismo, podemos lembrar que nunca escondeu sua defesa da tortura como "política social".

Dito isso, a declaração indicada na matéria abaixo, em que o Presidente da República reitera uma observação feita diversas vezes antes, indica o quanto ele não entende (e não quer entender) os princípios da República e em particular o da laicidade, a despeito de ele presidir essa mesma República.

A República é laica e essa laicidade é a condição de todas as liberdades de que gozamos e de que queremos gozar. Não importa se um brasileiro em particular é candoblecista, satanista, católico, evangélico, ateu, muçulmano, agnóstico ou positivista: a laicidade há que ser preservada como um valor fundamental.

Além de cometer esse erro - esse crime, na verdade -, o Presidente da República evidencia que não entende (e não quer entender) que a obrigação fundamental dos ministros do Supremo Tribunal Federal é respeitar e aplicar a Constituição da República Federativa do Brasil atualmente em vigor, promulgada em 5 de outubro de 1988. A filiação religiosa dos ministros é completamente secundária nesse sentido; o respeito à Constituição obriga os ministros, como magistrados da República, a pôr em segundo plano suas convicções religiosas em benefício da Constituição caso haja conflito entre ambas.

(Apesar disso, é importante notar que tanto o Presidente da República quanto muitos dos seus mais fervorosos apoiadores evangélicos primam por desrespeitar essa regra elementar da cidadania republicana, isto é, da cidadania.)

A notícia abaixo foi originalmente publicada pela Agência Brasil em 10.7.2019 aqui; não reproduzi toda a notícia porque há trechos, especialmente no final, que não dizem respeito ao tema da laicidade.

*   *  *



Bolsonaro diz que indicará evangélico para Supremo Tribunal Federal

Presidente participou de culto na Câmara dos Deputados


Publicado em 10/07/2019 - 10:32
Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil  Brasília


O presidente Jair Bolsonaro afirmou que indicará um ministro evangélico para o Supremo Tribunal Federal (STF), pois, para ele, a busca pelo “resgate dos valores familiares” deve estar presente em todos os poderes do país. “Entre as duas vagas que terei para indicar para o Supremo um deles será terrivelmente evangélico”, disse, durante sua participação em um culto da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, na manhã de hoje (10).
No mês passado, ao criticar a decisão do STF de criminalizar a homofobia como forma de racismo, Bolsonaro já havia sugerido a indicação de um evangélico para a Corte. Até 2022, o presidente da República poderá indicar nomes para pelo menos duas vagas, que serão aberta com a aposentadoria compulsória dos ministros Marco Aurélio e Celso de Mello.
Hoje, Bolsonaro elogiou a atuação dos parlamentares evangélicos nos últimos anos. “Vocês sabem o quanto a família sofreu nos últimos governos. Vocês foram decisivos na busca da inflexão do resgate dos valores familiares”, disse. “Quantos tentam nos deixar de lado dizendo que o Estado é laico. O Estado é laico mas nós somos cristãos. Ou para plagiar a minha querida Damares, nós somos terrivelmente cristãos”, disse, em referência à declaração da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
[...]

16 janeiro 2019

Comemorações de 231 (2019)


Comemorações de 231 (2019)

N.
NOME
VIDA
Comemoração
CALENDÁRIO
J.-G.
1.              
1547-1619
400 anos de morte
9.Frederico
13.nov.
2.              
1619-1683
400 anos de nascimento
18.Frederico
22.nov.
3.              
1519-1572
500 anos de nascimento
8.Frederico
12.nov.
4.              
1519-1579
500 anos de nascimento
2.Gutenberg
14.ago.
5.              
1569-1631
450 anos de nascimento
2.Shakespeare
11.set.
6.              
765 ac-681 ac
2700 anos de morte
25.Moisés
25.jan.
7.              
1758-1819
200 anos de morte
20.Moisés
20.jan.
8.              
1452-1519
500 anos de morte
8.Dante
25.jul.
9.              
1618-1669
350 anos de morte
2.Shakespeare
11.set.
10.            
1606-1669
350 anos de morte
10.Dante
27.jul.
11.            
971 ac-931 ac
2950 anos de morte
24.Moisés
24.jan.
12.            
1736-1819
200 anos de morte
21.Gutenberg
2.set.

13.            
1804-1869
150 anos de morte
7.São Paulo
27.maio
14.            
1869-?
150 anos de nascimento
4.Dante
21.jul.
15.            
1819-1908
200 anos de nascimento
22.Gutenberg
3.set.
16.            
1856-1919
100 anos de morte
?
?
17.            
1869-1946
150 anos de nascimento
5.Dante
22.jul.

FONTE: Wikipédia; “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos; Comité des travaux historiques et scientifiques (http://cths.fr/)

NOTAS:

1.     As datas de vida foram pesquisadas na internet (basicamente na wikipédia), considerando que esse procedimento permitiria obter o que há de mais atualizado a respeito das diversas biografias; além disso, cotejaram-se essas datas com as disponíveis no “Apêndice” do Apelo aos conservadores.

2.     Letras maiúsculas em negrito: nomes de meses.

3.     Letras maiúsculas simples: chefes de semanas.

4.     Letras em itálico: tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.

5.     Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (espanhol, francês, inglês).

05 setembro 2018

Livro sobre o Positivismo: "Comtianas brasileiras: Ciências Sociais, Brasil e cidadania"

Foi publicado o livro Comtianas brasileiras: Ciências Sociais, Brasil e cidadania, pela editora Appris, de Curitiba.

O livro pode ser comprado com a editora (aqui) ou diretamente comigo.





Eis o sumário do livro:


Parte I – Sobre os métodos das Ciências Sociais


1. Aplicando Comte atualmente, ou sobre a relevância contemporânea do Positivismo
2. Explicação vs. compreensão: respostas comtianas às críticas do interpretativismo
3. Sobre comparações interpretativas nas Ciências Sociais, ou sobre a possibilidade de uma ciência social que não seja comparativista e subjetivista
4. Vontades e leis naturais: liberdade e determinismo no positivismo comtiano

Parte II – Brasil e cidadania

5. A “teoria do Brasil” dos positivistas ortodoxos brasileiros: composição étnica e independência nacional
6. O “secreto horror à realidade” dos positivistas: discutindo uma hipótese de Sérgio Buarque
7. Laicidade na I República brasileira: os positivistas ortodoxos
8. Cidadania e desigualdade em Augusto Comte
9. Entrevista sobre o Positivismo: maçonaria, política, pseudociência, Brasil, mérito

Referências bibliográficas